No último capítulo: Riko aceita o convite de Hyuuga e vai conversar com ele na esquina. Lá, o capitão pede desculpas por toda a confusão e eles esclarecem as coisas. Riko decide também ir conversar com Teppei, então foge no meio da noite até a casa dele. Acompanhe agora a continuação.

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Só posso agradecer a Riko por ter sido tão legal comigo ontem. Fiquei nervoso a conversa inteira, e acho que ela aceitou meu pedido de desculpas.

Antes de mais nada, devo dizer que isso é tudo culpa do maldito do Kiyoshi, tá? Eu é que planejava me declarar pra ela! Quer pegar o bonde andando e sentar na janelinha! Aquele filho da puta.

Detalhes a parte, Riko foi bem compreensiva e eu gostei do rumo que a conversa tomou. Gosto tanto dela que chega até a doer.

Isso não é bom sinal.

Principalmente por causa das coisas implícitas que ela deixou no ar. Merda.

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Não estou nervosa; muito pelo contrário. Nunca estive mais calma e focada em toda minha vida.

O dia hoje foi meio imparcial; nem bom, nem ruim. Os meninos estavam agitados como sempre na hora do intervalo, e eu passei toda a aula de Redação pensando no que e como falar tudo o que fiquei remoendo na noite de ontem.

Não sei como - nem quando, nem onde - farei isso, mas cheguei a uma decisão. Quase não dormi tentando tomar um partido, e consegui.

Consegui me decidir entre eles.

Agora a questão é como explicar para eles sem que mágoas ocorram. Complicado.

Fecho meu armário e encaro-o por algum tempo. Há literalmente um milhão de coisas que quero dizer, mas sinto que não vou conseguir me expressar direito. Bom, não custa tentar, né?

Aperto a prancheta contra o peito e sigo pelos corredores vazios até o jardim do colégio, e, depois, até o ginásio do outro lado da rua. Todos os meninos já me esperam lá.

Hyuuga-kun puxa o aquecimento, e todos estão alongando os braços quando chego. Sinto na hora o olhar de todos sobre mim, mas mantenho o queixo erguido. Não é hora de voltar atrás, nem de me fazer de fraca.

–Muito bem, pessoal. Podem dar dez voltas em torno da quadra enquanto passo o novo treino de vocês na lousa.

Eles concordam e saem trotando. Pego a caneta e começo a escrever, mas me distraio observando os meninos. Koga-kun e Mitobe-kun ainda não voltaram a se falar, pelo visto, e não sei qual o motivo disso (mas eles que se resolvam. Eu hein, parecem um casal de velhos). Kuroko-kun e Kagami-kun correm lado a lado conversando baixinho e se calam ao perceber que cerro meus olhos na direção deles.

Mas o que mais me surpreende é Hyuuga-kun e Teppei correndo lado a lado pela quadra, ambos de cabeça erguida e completamente quietos.

Mesmo estando longe, consigo sentir a pressão. Parece que eles sabem que cheguei a uma conclusão, e o orgulho masculino deles está sendo posto a prova. Nenhum dos dois vai ceder, imagino. Nenhum dos dois está pronto para receber um não. Acho que eles não imaginam quem seja. Talvez seja melhor assim.

Os meninos terminam de correr, e nós começamos o treino.

O clima está estranho, mas faço força para não reparar e tentar deixar tudo o mais normal possível.

Hyuuga-kun vem pegar uma bola laranja no cesto ao meu lado, e eu o chamo.

–Já sei, Riko.

E vai embora.

Quando tentei chamar Teppei, ele respondeu a mesma coisa - ok, talvez não tão sério.

Ah. Então eles sabem... Bom, a hora ia chegar um dia, não? Não posso prolongar isso por muito mais tempo. Ninguém está contente com a atual situação. Suspiro. Melhor resolver tudo de uma vez, eu mesma estou ficando de saco cheio.

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Teppei e Hyuuga-kun estão olhando para mim com a mesma expressão, e estou perdendo a coragem.

–Pode falar, Riko. - Teppei diz gentilmente e até sorri um pouco.

–Bom, gente...

O vento do lado de fora faz a porta do ginásio bater. O barulho ecoa pela quadra vazia. Todos foram embora faz tempo, e só estamos nós aqui na quadra agora.

Não me sinto confortável.

–Eu... Eu decidi uma coisa.

Ambos respiram fundo e erguem ainda mais os queixos.

–Quando... Quando você, Teppei, falou que gostava de mim aqui nesta mesma quadra, eu... Eu acho que fiquei feliz. Fiquei feliz porque ninguém (que eu sabia na época) já tinha gostado de mim, e eu estava curtindo a nova experiência. Sabe, sentir que você é desejada é uma sensação muito boa. E acho que gostei primeiramente disso em relação a você, Teppei.

–O que você gostava era que eu gostava de você. - ele resume, virando o rosto.

–Exato. Mas não entenda errado, Teppei. Depois de um tempo, eu realmente passei a gostar de ti; a gostar da sua pessoa.

Engulo em seco. Hyuuga-kun parece um pouco irritado.

–Com o Hyuuga-kun foi um pouquinho diferente. Nós somos amigos desde pequenos, e sempre fazemos tudo juntos. Acho que atrevo a dizer que sempre fizemos coisas que namorados fariam: sair para fazer compras, comer no McDonald's, estudar um na casa do outro, ir no fliperama, conversar até tarde da noite, etc.

Reparo que as bochechas de Hyuuga-kun coram levemente. Minhas orelhas começam a ficar quentes, e eu faço força para não gaguejar.

–Então, Hyuuga-kun, pra gostar de você foi simples. Mal percebi, na verdade. Quando me dei conta, eu já gostava de você, da mesma intensidade com que eu gostava do Teppei. E deixa eu falar uma coisa importante. - olho nos olhos verdes de Hyuuga-kun e aperto as mãos nas costas - Desculpe nunca ter percebido que você gostava de mim.

Ele parece meio bobo, mas apressa-se logo em dizer:

–R-Relaxa, Riko. Eu que nunca tive coragem pra fazer as coisas direito, sabe como é. Não sou tão direto quanto o Kiyoshi.

–E-Eu também tenho que me desculpar, Riko - Teppei se pronuncia e sorri sem graça - Por ter te beijado sem permissão...

Ok, agora minhas bochechas estão definitivamente pegando fogo.

–T-Tudo bem...

–Como assim? - Hyuuga-kun vira para Teppei parecendo fulo da vida - Sem permissão?

–Bom, (hehe) é que...

–Nada, nada. - interrompo rapidamente e limpo a garganta - 'Tá tudo bem, gente.

Eles sorriem para mim e eu abaixo o olhar.

–Olha, pra ser sincera... Todo esse rolo me deixou muito estressada. Ninguém ficou feliz, vocês dois quase saíram no tapa, meu quarto foi invadido por um mini helicóptero e eu fugi de casa às onze da noite de um domingo.

"Eu só queria que vocês soubessem que eu gostei muito dos dois. A Momoi me ajudou a entender um pouco do que eu estava sentindo, e eu cito o que ela disse sobre isso tudo: com o Teppei é empolgante porque é novo, e com o Hyuuga-kun é natural porque estamos sempre juntos. E essa é a mais pura verdade. Nunca quis enganar nenhum de vocês dois, nem ficar com dois ao mesmo tempo, é só que... Que eu gostava tanto de vocês. Eu não queria ter que escolher. Por isso eu não escolhi.

Retomo o fôlego perdido. Não tenho coragem de olhar para nenhum deles.

"Falem alguma coisa. Falem alguma coisa".

Mas tudo fica em silêncio.

Posso ouvir perfeitamente o vento lá fora, alguma torneira pingando dentro do vestiário, minha respiração, meu coração praticamente ecoando pelo ginásio.

Olho para cima. As expressões deles estão indecifráveis. Meu peito dói um pouquinho.

Por que eles não estão falando nada?!

–N-Não me levem a mal, tá? Eu não poderia fazer isso com nenhum de vocês. Ambos são importantes para mim. - meu olhar vai de Teppei a a Hyuuga-kun e volta - O time está desestabilizado, vocês sabem disso. E a minha prioridade é o time de basquete do colégio Seirin. Vocês disseram que iriam ganhar a Winter Cup, temos um jogo importante depois de amanhã e eu realmente não conseguia ver como iríamos fazer boas partidas com o time no estado em que se encontra!

S-Será que eu buguei os dois? Eles não respondem, porém parecem tristes de dar dó. Ai, meu Deus. Eu estraguei tudo.

–D-Desculpa! - não sei mais o que falar. Só quero sair daqui logo.

–R-Riko, eu... - Teppei começa a falar, mas parece não ter o que dizer.

–Eu não queria ter que fazer isso. Dói-me ter que agir desse jeito, e tomar uma decisão assim. Mas eu... Na verdade, nós. Nós temos outras prioridades agora, temos o colégio, e temos o time... Temos que vencer a Winter Cup, temos que nos concentrar em outras coisas.

A expressão no rosto de Hyuuga-kun só piora, e isso me faz querer dizer para esquecerem que eu disse tudo aquilo. Ou simplesmente fugir pro México e mudar meu nome pra Pepito. Soa simples também.

–E-Eu pensei muito sobre tudo isso, eu garanto. Escolhendo alguma de vocês, o outro ficaria desestabilizado. Vocês sabem que ambos são peças importantes para o time, e eu não podia arriscar perder a potência justo nessa época do ano, não com a Winter Cup batendo na nossa porta desse jeito. Por isso decidi não escolher ninguém. Não posso arriscar perder tudo desse jeito, meninos. Eu só peço que me desculpem.

Teppei não consegue olhar para mim. Hyuuga-kun olha para os próprios pés, ainda quieto.

–E-Eu só pensei no bem maior. Desculpe se isso soa tão ruim.

Não tenho mais o que falar.

Hyuuga-kun anda até mim e para ao meu lado, sem olhar no meu rosto, e afaga minha cabeça levemente. Ele continua andando e para um pouco longe de mim.

Teppei olha na minha direção, sorrindo tristemente. Ele chega perto também e coloca as duas mãos nos meus ombros, dizendo:

–Riko, eu não te culpo. Sendo a técnica, eu vejo que não tinha mesmo como você sair dessa sem prejudicar o time. - ele afaga minha cabeça também.

–Só não queria que vocês ficassem muito tristes... - digo.

–Relaxa, sua idiota - o tom de voz firme de Hyuuga-kun soa atrás de mim - É claro que estamos tristes, mas sua explicação faz sentido. Por essa mesma causa, vamos vencer essa merda de Winter Cup.

–Você tomou uma boa decisão baseada no que te é mais importante, Riko - Teppei fala num tom reconfortante. Lágrimas chegam aos meus olhos - Entendo que sua prioridade é o time.

–V-Valeu.

Então nós pegamos nossas mochilas e deixamos o ginásio.

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Eu, Hyuuga-kun e Teppei caminhamos juntos na direção de nossas casas. Algumas coisas ainda me perturbam, porém.

–E como a gente vai fazer agora? - pergunto, meio receosa de ouvir a resposta.

–Vamos voltar ao normal, acho. - Hyuuga-kun dá de ombros e mantém o olhar fixo a sua frente.

"Vai ser difícil, provavelmente".

–É. E temos que colocar ordem no time também. Todo mundo 'tá muito avoado e nós temos jogo na quarta. - Teppei completa.

Andando com os dois assim, cada um de um lado, sinto-me muito estranha. A conversa não foi das melhores, mas acho que eles entenderam meus motivos.

Quer dizer, eu espero.

Teppei se despede e segue virando a rua. Eu e Hyuuga-kun vamos reto, em silêncio, e paramos na porta da minha casa.

Ele me olha e eu olho para ele.

–Bom, eu... - começo a falar, mas sou interrompida.

–Riko, obrigado. E desculpe.

Ergo as sobrancelhas, e Hyuuga-kun coça a nunca rapidamente.

–Desculpe por, sabe... Tudo... E obrigado por ter pensado no time antes de mais nada.

–A-Ah...

–Além do mais, eu me sinto melhor sabendo que você não escolheu ninguém. - as bochechas dele ficam um pouco vermelhas.

Dou de ombros rapidamente.

–Temos que nos focar em outras coisas no momento. - respondo.

–...Claro. Bom... Então, até amanhã?

–Claro, Hyuuga-kun. Não vá se atrasar hein?

–Pode deixar.

A gente se despede e eu entro em casa. Papai ainda deve estar na academia. Subo para o meu quarto e coloco a mochila na cadeira. Pego meu celular.

Uma há mensagem de Teppei.

"Riko, desculpe por tudo que aconteceu. Não queria que houvesse tanta briga, mas acho que foi inevitável"

"Tá tudo bem, Teppei. Isso tudo é passado agora. Temos que nos focar em ganhar os jogos"

"Tem razão. Eu só queria dizer que, mesmo depois de tudo isso, eu ainda gosto muito de você, Riko"

Meu coração dispara no peito de novo. Meu celular apita de novo. Outra mensagem, dessa vez de Hyuuga-kun.

"Ei, Riko, só queria dizer que estava aqui pensando e cheguei a conclusão de que você tomou uma boa decisão sobre isso tudo. Realmente temos que nos concentrar em outras coisas agora"

"Ainda bem, Hyuuga-kun. Obrigada por entender."

O celular apita. Teppei mandava mais uma mensagem.

"Só quero que você saiba que não planejo desistir tão facilmente, Riko."

E Hyuuga-kun manda quase a mesma coisa.

"Mas, olha, eu vou continuar tentando. Você sabe que eu sou duro na queda, Riko."

Sinto-me estranhamente feliz. Esses dois idiotas...

"Ah, além disso", manda Teppei, "sei que agora não é um bom momento, mas depois da Winter Cup é outra história. Não vou desistir de você, Riko. Você poderia me dar uma chance depois que tudo isso passar?"

Respiro bem fundo. O celular apita de novo enquanto solto o ar.

"Então... Eu só queria saber se tudo bem se a gente tentar retomar as coisas logo depois da Winter Cup. A gente podia continuar tentando. Eu vou continuar tentando. Espero que você esteja de acordo com isso."

A porta de casa abre; deve ser papai chegando. Ouço-o assoviar uma música qualquer. Da minha janela, posso ver que Hyuuga-kun não está no seu quarto. O dia lá fora está meio ensolarado, apesar de fazer muito frio.

Meus dedos estão gelados. É difícil de tocar a tela do celular. Releio as mensagens e sorrio.

–Riko-taaaan! Eu trouxe pizza! - papai grita lá de baixo, e meu estômago ronca.

Olho para o meu celular feito boba. Esses meninos causaram uma confusão danada, e por minha causa. E agora eles vêm pedindo outra chance. Só consigo rir da situação. Mas, bem, fazer o quê?

Mesmo com dificuldade para digitar, respondo a mesma coisa aos dois idiotas do time masculino de basquete de Seirin, os mesmos que quase causaram uma guerra nuclear na escola:

"A gente lida com o futuro quando estivermos lá".