Dona Morte, esse é seu nome, não é?

Amiga dos desesperados e carrasco dos vivos

Não somos boas amigas?

Veio então me buscar, finalmente?

Vem tão lentamente, você não é nem um pouco educada

Senhorita Morte, então assim é morrer?

Coração doendo, só isso, mais nada

Agradeço, acho, já que meus pulsos devem estar doendo muito agora

Vem logo, Morte, abraça-me e acolhe-me

É tão frio, tão rápido, tão frágil, tão lindo

Que só um verdadeiro apreciador da Morte pode ver

O sangue escorre, dona Morte, já não sinto minhas pernas

Veja só, veja, veja! Com ela se foram os gritos da minha mãe, também.

Não ouço mais mamãe sempre gritar

E não me lembro mais de papai... Alguma vez eu o vi?

Minhas costas não doem com a pancada que o namorado de mamãe deu

Minhas pernas levaram tudo isso embora

Senhorita Morte, agora não sinto meus braços

Onde estão agora aquelas garotas?

Aquelas que me jogaram lixo no colégio e que me prenderam no banheiro

Onde está todo resto? Você viu, sabe onde está?

Minha cabeça tombou, e agora?

O sangue já está espalhado em uma boa quantidade, pelo que me lembro

Na verdade, é só o que me lembro

Senhorita Morte, eu esqueci tudo. Você me tirou minhas memórias, sua engraçadinha.

Tudo ficou escuro, e está tão silencioso

Escute, tum, tum, tum, meu coração viaja para as últimas batidas

Eu não sinto mais nada, nada mesmo

Que belo analgésico você é

Senhorita Morte, olá.

Dona Morte, pode me levar.

Agora, por favor, faça tudo apagar.