Minha luz escrita por Larissa das Neves


Capítulo 13
Required


Notas iniciais do capítulo

Gente, desculpe a demora pra postar! Não atirem flautas em mim! Semana de provas foi puxada demais. Prometo voltar com tudo :) Espero que gostem. Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/498491/chapter/13

Cadu havia recebido uma ligação de Nando, naquela tarde. Estava no Bistrô, trabalhando, e prometeu ao amigo que iria até o escritório dele assim que pudesse. O movimento do espaço era tão intenso que o chef temia que seus funcionários não dessem conta na sua ausência. Mas quando sentiu certa urgência na voz do amigo, chegou a conclusão que algumas horas longe não atrapalharia. Pegou o carro, o único bem de seu casamento que ficou consigo, e rumou para o centro do Rio de Janeiro. Estacionou ao chegar lá e rumou para o trabalho do amigo.

Ao adentrar no escritório, foi logo recebido pelo secretário de Nando, que estava avisado sobre a chegada do chef e logo o pediu para entrar.

– Porque toda essa urgência para me chamar aqui, amigo? – Falou Cadu, sentando na cadeira, de frente para Nando.

– Tenho uma notícia para você. – Anunciou, sem cerimônias.

– Se você me chamou aqui é porque tem a ver com a Clara, certo? – Suspirou.

– O advogado dela acabou de me entregar o pedido de divórcio oficial dela.

A notícia caiu como uma bomba. Ele se recostou na cadeira e se permitiu processar aquela informação por algum tempo. Fernando não o interrompeu, havia passado por aquilo e sabia o quando o processo de divórcio era doloroso.

– Então ela pediu mesmo... – Disse por fim, com a voz baixa e melancólica.

– Sim. – Nando se ajeitou na cadeira e olhou para o amigo. – Cadu, nós sabíamos que mais cedo ou mais tarde isso ia acontecer. Você tem que pensar que é melhor assim do que você tentar segurá-la num casamento sem amor.

– Eu sei. Mas eu achei que isso ainda ia demorar.

– E você ia querer que ela continuasse com você ficando com a outra?

– Não! Apenas achei que se ela continuasse comigo ela ia prolongar um pouco isso de querer ficar com àquela lá. – Suspirou.

– Não, Cadu, vamos ser racionais. – Falou, folheando algumas folhas que estavam juntas, que mais pareciam um contrato. – Agora tem um outro porém: sobre o Ivan..

– Nando, eu quero lutar pela guarda do Ivan!

– Cadu, não! Por favor, me escuta! – Disse, vendo que o amigo estava pronto para começar um discurso. – Você é um homem que está passando por tratamento médico pra um problema sério e ainda tem o Bistrô para administrar. Eu vou ser realista: você não tem condições de cuidar do Ivan. Deixe o seu orgulho de lado pelo seu filho. Você trabalha o dia inteiro no Bistrô. Se antes você mal conseguia ir às reuniões de escola dele, imagina agora. Estou te dizendo isso como amigo e seu advogado, não faça o garoto passar por um processo desses. É desgastante e muito sofrível. Não quero te desanimar, amigo, mas se você tivesse alguma chance eu te ajudaria. Mas juiz algum te daria a guarda dada as atuais circunstâncias. Sinto muito.

O choque de realidade o atingiu em cheio e ele ouviu tudo calado. Nando estava certo. Naquele pensamento de querer a guarda do filho ele estava mais preocupado em “se vingar” de Clara do que com a vida de seu filho. Por mais que doesse que ele poderia vir a ser criado pela fotógrafa, ele sabia que seria melhor para Ivan ficar com a mãe. Sentiu os olhos marejarem ao perceber como as coisas seriam a partir dali e se sentiu cansado. Procurou disfarçar para que o amigo não percebesse.

– Entendi.

– Você está bem, Cadu? – Perguntou, preocupado com a aparência abalada dele.

– Sim. – Desconversou. – O que você ia falar sobre o Ivan?

– Bom, ela apresentou um tipo de acordo. Você poderá visitar o Ivan três vezes por semana e os finais de semana serão alternados, ora seu ora dela.

Cadu suspirou. Passou as mãos pelos cabelos e quis chorar. Vendo que agora possuía acordo para visitar seu filho e ficar com ele fim de semana sim, outro não, era o fim do poço.

– Cadu.. – Chamou-lhe a atenção. – Eu sinto muito por isso. Por terminar assim.

– Tudo bem, amigo. – Forçou um sorriso.

– Então, a audiência para vocês assinarem o divórcio será na semana que vem.

Cadu suspirou. – Certo. – Levantou. Sentiu que precisava sair dali. – Obrigada, Nando.

Saiu do escritório e dirigiu até o Leblon. Durante todo o trajeto foi se lembrando da vida que construíra com Clara. Quando se conheceram, ainda jovens. O início do namoro. O começo da convivência com a família dela, que o aceitaram muitíssimo bem. O casamento que, embora simples, foi o dia mais feliz deles. Ou dele, agora. A notícia de que ela estava grávida do Ivan e a felicidade que foi contar para os parentes dela. O nascimento do filho. As dificuldades financeiras que passaram para criar o menino. Mas apesar de tudo, eram felizes. Mas toda aquela felicidade ficou para trás. Sentiu que precisava recomeçar.

Estacionou o carro próximo ao meio fio, em frente a escola de judô do filho. Pensou em fazer uma surpresa, levá-lo para tomar um sorvete ou comer alguma besteira. Mas a cena que viu a frente o surpreendeu. Marina e Clara saindo da escola de seu filho, de mãos dadas com o mesmo, rindo de alguma coisa que o menino havia falado. Pensou em ligar o carro e sair dali, mas lembrou do pouco tempo que passaria com o filho dali em diante. Saiu do carro e parou na frente dos três. Ivan viu o pai e logo seu rosto se iluminou.

– Pai! – Gritou o menino, se soltando das duas e correndo em direção a Cadu, que abaixou para abraçar o filho.

Clara e Marina permaneceram paradas observando a cena, e muito apreensivas com a presença surpresa de Cadu ali. O chef suspirou, apertando o filho contra seu corpo e sorriu ao saber que Ivan havia gostado da surpresa. Soltou ele e levantou, se dirigindo para Clara e ignorando completamente a presença de Marina.

– O Nando falou comigo hoje sobre o pedido de divórcio. – Falou, com certa amargura na voz e ainda ignorando o olhar da fotógrafa que foi lançado em sua direção. – Vamos discutir sobre o acordo na semana que vem e ele só começará a valer a partir do momento que os papeis forem assinados. Então eu quero que o Ivan vá hoje comigo para casa.

– Hoje o Ivan vai comigo para casa. – Clara alertou.

– Ele vai começar a viver com você a partir de agora. Não quero ter dias definidos para ver meu filho. Sou pai dele e quero fazer isso como bem entender! – Falou, exaltado, deixando Ivan assustado.

– Cadu, eu não vou discutir com você! Você fica com ele outro dia mas hoje ele vai pra casa comigo!

– Não vou deixar você impor a presença dela no nosso filho! Eu permito que você cuide do nosso filho se continuar morando no seu apartamento. Mas se você for morar com ela... – Apontou para Marina. – Eu vou entrar na justiça pela guarda dele. Não importa o qual difícil seja esse processo.

– Cadu, não vale a pena fazer o Ivan passar por isso.. - Marina falou mas logo se arrependeu.

– Eu não estou falando com você! Não se meta nisso! – Gritou, fazendo menção de avançar, que foi impedido por Ivan.

– Pai, não fala assim com a Marina!

A atitude do menino em defender a fotógrafa deixou Cadu perplexo.

– Filho, porque você ta defendendo ela? É por culpa dela que eu e sua mãe estamos nos separando!

– Pai, para! A mamãe e a Marina se gostam, pare de culpar a Marina! Você não lembra como a mamãe estava triste por não trabalhar mais no estúdio?

– Triste? Ela estava triste? Você estava infeliz, Clara? – Falou, se dirigindo à Clara, com a dor estampada nos olhos.

– Cadu, aqui não é lugar para falar sobre isso...

– Clara.. – Marina cochichou para a amada. – Deixe o Ivan ir com ele. Vai ser bom para os dois...

A dona de casa suspirou.

– Tudo bem, Cadu. O Ivan pode ir com você.

– Mas mãe, e as trufas que a Marina comprou pra mim?

– Elas vão ficar guardadas na geladeira, esperando você! – Sorriu para o filho.

– Tudo bem, então! – Correu para a mãe e deu um beijo de despedida. Fez o mesmo com Marina, que ficou receosa por Cadu estar ali vendo tudo, que virou o rosto para não ver aquela demonstração de carinho por parte de seu filho com a fotógrafa. – Tchau mãe, tchau Marina! Vejo vocês amanhã. – Entrou no carro junto com o pai e acenou para as duas.

~.~

Em vez de voltarem para o apartamento da dona de casa, decidiram seguir para a mansão da fotógrafa em Santa Teresa. Foram para o estúdio organizar alguns arquivos e lá Clara colocou a fotógrafa a par de tudo que havia acontecido na última semana que mal se falaram. Explicou porque não ligou para a amada nos últimos dias, que passou todos aqueles dias na casa dos parentes, da irmã e da mãe, colocando a família a par de sua separação com Cadu.

– Clara, como sua mãe reagiu a isso? – Perguntou Marina, sentada no chão mexendo no notebook, com Clara ao seu lado, organizando algumas fotos.

– Ela ficou transtornada. Disse que estávamos nos precipitando muito e que deveríamos tentar concertar as coisas e não terminar.

– Ela sabe sobre mim? – Falou, olhando para a dona de casa.

– Não. Apenas a Leninha e, consequentemente, o Virgílio, que ela deve ter contado. E a Luiza e a tia Juliana, pra quem eu perguntava sobre desejos lésb... – Parou bruscamente ao perceber o que ia falar. Sentiu o rosto esquentar quase que instantaneamente.

Na hora Marina desviou sua atenção do notebook para a mulher a sua frente que a cor começava a se assemelhar a de um tomate.

– Desejos “o que”, Clara? – Perguntou, com uma expressão divertida no rosto, como forma de provocação.

– E..eu.. – Gaguejou mais ainda ao perceber que Marina já sabia do que se tratava aquela dúvida sobre seus “desejos”.

– Diga, Clara. – Se aproximou, mudando a tonicidade em sua voz ao se aproximar da amada.

– Quando eu ... – Começou, e mais uma vez perdeu a voz ao sentir a mão gelada e curiosa de Marina lhe acariciar a barriga por debaixo da blusa. – Quando te conheci e estava em dúvida sobre meus sentimentos eu cheguei a perguntar pra Luiza e minha tia Juliana se elas já tinham sido cantadas por alguma mulher.

Marina riu baixo daquela confissão enquanto subia a mão gelada pelo corpo quente da sua assistente. Deslizou a mão para dentro do sutiã e apertou o seio pequeno, ouvindo um gemido baixo escapar da boca de Clara.

– Então você tinha desejos por mim, Clarinha? – Perguntou, com a voz sedutoramente baixa, próximo ao ouvido da dona de casa.

– Eu tenho desejos por você todo santo dia.. E tenho mais um monte de sentimentos por você que borbulham dentro de mim. – Puxou os cabelos de Marina para frente para que seus lábios encontrassem os da fotógrafa, iniciando um beijo sôfrego.

Permaneceram ali, naquela troca de sensações, e quando Clara sentiu que seria capaz de chegar ao orgasmo apenas com aquele beijo, ambas ouviram passos em direção ao estúdio e se separam, completamente sem fôlego.

– Boa tarde! – Anunciou Vanessa, entrando animadamente no estúdio. Se deparou com Clara e Marina sentadas próximas e deduziu que havia atrapalhado algo. – Cheguei na hora errada?

– Não, Vanessa. – Marina riu, enquanto se ajeitava no chão e arrumava o cabelo.

– Tudo bem, porque eu tenho uma novidade para você! Vamos para Londres!

– Londres? – Clara perguntou, confusa.

– Vamos? – Marina falou, ainda mais confusa.

– Sim, vamos! Consegui uma exposição pra você lá! Não é o máximo? – Vanessa estava feliz em apresentar aquela proposta para sua chefe e não percebeu que Clara havia ficado transtornada com a notícia.

– Mas Vanessa, isso é ótimo! Incrível! – Marina levantou e foi abraçar a amiga. – Obrigada, mesmo. Mas quando eu tenho que dar a resposta se aceito ou não?

– Como assim, se aceita ou não? Tem chance de você não ir? Qual é, Marina. Uma proposta assim não aparece toda hora.

– Eu sei que não, mas preciso pensar. Essa é uma exposição de grande porte, preciso pensar e analisar com calma.

Naquele exato momento Vanessa entendeu. O que Marina precisava pensar era se aceitava ou não por causa de Clara. Pelo visto estava certo que a fotógrafa só aceitaria se a dona de casa fosse também. Bufou.

– Tudo bem, pense. Mas você tem uma semana para dar essa resposta. – Encerrou, saindo do estúdio.

A partir dali, o clima ficou estranho. Marina tinha total noção que só toparia expor fora do Brasil se Clara aceitasse acompanhá-la, mas ela não sabia que sua assistente já possuía resposta para seu pedido. Não tocaram no assunto pelo resto da noite. Conversaram sobre outras coisas durante o jantar, que não teve a companhia de Vanessa que decidiu jantar fora com Flavinha e Giselle.

Foram para o quarto da fotógrafa, tomaram banho e deitaram juntas na cama, com Clara repousando a cabeça no ombro da amada enquanto Marina lhe acariciava o topo da cabeça com o nariz, mantendo os olhos fechados, aproveitando o momento que tinha ao lado dela depois de tantos dias.

Por mais que Marina achasse o silêncio reconfortante, Clara o achava sufocante. Decidiu quebrar o gelo.

– Acho que você deveria aceitar essa exposição.

– Só vou se você for comigo. – Respondeu, ainda se mantendo de olhos fechados.

– Eu não posso ser um empecilho pra você, Marina. Essa exposição vai te ajudar, você tem que aceitar.

– Essa sua resposta foi um “não” ao meu convite? – Perguntou, agora abrindo os olhos para encarar a amada.

– Marina, eu tenho o Ivan. Não posso deixa-lo aqui e viajar pra fora do país. Não agora.

– Ora, ele pode ir com a gente. Somos uma família. Vamos como numa viagem em família.

– Por Deus, Marina, não posso. – Falou, com pesar. Queria muito poder acompanhar a amada. – O Ivan está em aula, e ainda tem o Cadu que pode arrumar um escândalo por querermos viajar com ele agora e pra fora do país.

– Agora é você que está impondo empecilhos e mais empecilhos para não ir comigo. – Sentou na cama e ficou de frente para Clara, magoada.

– Não, Marina. Eu estou dizendo que você pode ir. Na verdade, você deve ir, porque eu sei que essa exposição vai ajudar nas finanças aqui do estúdio.

– Mas eu quero você comigo. – Segurou a mão de Clara e trouxe até os lábios, dando um beijo delicado. – Quero apresentar você para as pessoas. Te apresentar como minha namorada.

Clara sentiu seu coração acelerar com as palavras da amada e um sorriso se formou em seu rosto. Ouvir Marina lhe chamar de “namorada” era o que ela precisava para que sua vida finalmente pudesse voltar a caminhar. Afinal, era hora de começar uma vida nova.

– Namorada? Estamos namorando? – Perguntou, sem esconder a felicidade que seu sorriso transmitia e notou que a fotógrafa nem tinha reparado no que havia dito e quando percebeu, se emocionou com a forma natural que as palavras saíram dos lábios da amada.

– Eu amo você, Clara. Desde o dia que nossos olhares se cruzaram. Quero você aqui, do meu lado, até o fim. – Declarou, sem desviar o olhar dela.

Ajoelhou-se na cama, mas como Clara estava sentada, ficaram da mesma altura.

– Quero que o mundo conheça a mulher que conquistou meu coração. A mulher que foi capaz de me fazer mudar. – Aproximou-se, encostando a testa na dela. – A mulher pra quem eu embrulharia o sol e a lua e daria de presente. Eu quero te dar o mundo, Clara.

Ela sorriu, com lágrimas que insistiam em descer por seu rosto. Segurou o rosto da fotógrafa e a beijou longamente, como uma resposta ao seu pedido.

– Eu amo você, Marina.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? ;)