Qual é a cor do amor? escrita por hollandttinson


Capítulo 8
Promessas.


Notas iniciais do capítulo

Quantos de vocês estão querendo me matar porque eu demorei muito pra escrever, e quantos de vocês estão tão felizes com o capítulo novo que nem pensam em mortes? E quantos de vocês já recomendaram a fic para os amigos?



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A semana foi passando rápido enquanto todos se empenhavam em reformar a casa do Hubermann, arranjar um emprego para Max e fazer com que a loja de Alex voltasse á ativa, mesmo que ninguém realmente lembrasse de quando ela foi uma loja com muitos clientes. Alguns já era o suficiente, se eles chegassem, e chegaram.

Max acabou arranjando um emprego de garçom num restaurante do outro lado da cidade, então ele sempre voltava muito tarde de casa, exausto, mesmo que não dissesse isso. Um dos motivos que o ajudou á conseguir o emprego foi o fato de ter sido um judeu sobrevivido ao Nazismo em um tempo tão dificil como aquele, talvez as pessoas acreditassem que se lhe dessem emprego, a dívida com os judeus mortos se dissiparia e eles teriam um lugar no céu novamente. Eles pensavam exatamente isso.

A novidade de um escola nova e reformada apenas para o Ensino Médio, em Molching também chamou a atenção das pessoas, que matricularam seus jovens ali, acreditando que os manteriam longe de perigo, já que parecia ter acontecido uma febre de jovens que queriam curtir a vida adoidado, agora que não tinham mais o nazismo para prendê-los.

A cidade estava relativamente lotada no primeiro dia de aula, principalmente a praça próxima ao rio Amper, onde Liesel e Rudy esperavam pelo sino que anunciaria o começo das aulas. Liesel tremia distraidamente, olhando ao redor, tantas garotas bonitas, extravagantes e sorridentes. De certo, aquelas eram pessoas que sempre tiveram a vida ganha e estavam ali apenas para conhecer algo novo, isso não enchia os olhos de Liesel, no entanto.

– Você não precisa ter medo, são adolescentes como nós, exatamente iguais.- Disse Rudy, tentando tranquilizar Liesel que parecia estar prestes á ter um ataque de nervos.

– Não tive amigos em Berlim, Rudy, não sei como fazer para que gostem de mim, ou ao menos suportem ficar no mesmo ambiente.- Ela disse, encolhendo-se.

Devia ser natural os adolescentes sentirem que eram menos do que realmente são, pelo que pude observar no passar dos tempos, isso normalmente acontecia com meninas que não tinham grandes expectativas de ser alguém muito grande quando maiores, ou quando elas não se sentiam encaixadas em nenhum grupo social, como no caso de Liesel.

– Não se preocupe em fazer com que as pessoas gostem de você, apenas seja você mesma. Eu gosto de você e você sempre foi o que é comigo.- Ele disse, dando de ombros. Ela sorriu de leve para ele. Não conseguia se imaginar forçando nenhum tipo de relação ou situação com Rudy, era tudo muito natural com o garoto.

– Não se sente incomodado com todas essas pessoas tão mais bonitas que nós, aparentemente? Quero dizer, olha só o cabelo daquela garota, impecável!- Liesel não apontou para a garota, mas Rudy soube de quem ela estava falando porque a garota em questão jogava o cabelo o tempo todo. Rudy fez uma careta.

– Ninguém aqui é "tão mais bonito que nós", ela é exibida demais para ter um cabelo tão bonito. Algumas pessoas simplesmente não merecem a vida que tem, isso se aplica á nós também, tenho certeza que em algum momento da minha vida eu mereci ser muito rico.- Rudy brincou, o que funcionou porque no minuto seguinte, Liesel estava rindo.

O riso dela morreu quando ouvir o ronco de uma motocicleta. Os dois viraram para ver um garoto que se aproximava, segurando o seu capacete. Alto, forte, jovem, olhos verdes, cabelos loiros não-platinados. Não tinha os cabelos da cor de limões de Rudy, nem seus olhos azuis safira, nem a doçura nas feições.

Todos os pelos do pescoço de Rudy se eriçaram ao olhar para ele, talvez ele sentisse o perigo se aproximando enquanto Evan Lawrence observava o local, misteriosamente encantado com as garotas. A maior parte delas suspirava, perguntando-se de onde aquele deus grego tinha surgido, não sei se estou certa, mas não me lembro de história onde deus gregos são assassinos natos. Afinal, o que Evan estava fazendo aqui?

Sangue novo. Talvez ele tivesse cansado de ter sempre as mesmas mulheres, nunca um desafio, nunca algo pelo que lutar. Era tudo fácil demais, ele queria um jogo e o seu novo jogo incluía em primeiro lugar garotas virgens, de mente e corpo puros, não aquelas pervertidas que estavam suspirando e já esperando que ele as chamasse para sair, era fácil demais. Ele queria o difícil, acho que todo mundo já sabe quem seria a pessoa perfeita para ele.

– Todas as garotas parecem estar malucas pelo garoto.- Disse Rudy quando eles entraram na sala de aula, depois que passarem por garotas que davam risadinhas enquanto olhavam Evan ainda observar á procura da tal garota nova. Liesel jogou suas coisas em cima da carteira e olhou para Rudy.

– Elas só estão eufóricas com ele porque nunca viram nada parecido, não é como se você devesse ficar com ciume porque elas não estão olhando para você também.- Liesel entendeu mal o que Rudy falou. Ele olhou para ela incrédulo. Não se importava com o que as meninas pensavam ou quem elas olhavam, com tanto que aquele garoto não se aproximasse de Liesel.

– Eu não me importo com essas garotas, eu só queria saber se você também acha que ele é a melhor coisa que já apareceu por aqui, sua Saumensch grossa!- Ele tinha se irritado com as acusações dela, que deu de ombros.

– Ah, com certeza ele é uma das coisas mais bonitas que apareceu por aqui.- Ela disse, claramente não percebendo que Rudy tinha ficado vermelho fogo por causa da raiva que sentiu.

– Porque você não vai atrás dele? Tenho certeza que ele adoraria sair como alguém com você.- Disse Rudy, irritando-se ao extremo. Liesel ergueu uma sobrancelha para ele.

– Você está me ofendendo.- Na mente dela, ele tinha chegado longe demais. Na mente dele, ela estava sendo mesmo uma saumensch.

– É mesmo? Não vejo o porquê.

– Não vou gastar o meu tempo com um saukerl como você.- Ela disse, pegando as suas coisas e organizando em cima da mesa. Rudy bufou.

– Você adoraria gastar seu tempo com aquele...- Rudy não conseguiu encontrar xingamento que servisse para o garoto. Liesel balançou a cabeça.

– Talvez ele seja menos imbecil.- Ela disse, mas Rudy não pôde responder porque a sala começou á encher e a professora estava na sala, exibindo o maior sorriso que pôde, mesmo que estivesse super insatisfeita com a situação atual.

– Bom dia, monstrinhos.- Ela falou, dando inicio á mais um dia que Rudy colocaria em sua lista de "dias mais longos da minha vida". Todos eles, ele passou longe de Liesel. Acabara descobrindo que era muito pior estar perto fisicamente e tão distante no relacionamento.

Na hora do almoço, Rudy acabou deixando o orgulho de lado e se sentou ao lado de Liesel alguns minutos depois de ela sentar-se, sozinha numa mesa vazia num canto.

– Acho que eu decidi que não vou brigar com você por causa dele, ele é mesmo um idiota.- Disse Rudy, que observara Evan o dia todo, já que o garoto, por ironia do destino ou não, estava na mesma classe que Rudy e Liesel. Afinal de contas, Evan era apenas mais um enobezinho e não valia á pena gastar nenhum momento de suas vidas pensando em alguém tão idiota.

– Finalmente caiu em si. Realmente pensou que eu fosse querer alguma coisa com alguém como ele? Olhe bem, ele e um abutre por mais que tente esconder.- Disse Liesel, olhando para o garoto de relance. Ele não mais parecia tão bonito agora. Agradeci quem pudesse por isso, mesmo que já soubesse do destino de minha garota.

– Um abutre?- Rudy ergueu uma sobrancelha, divertido com a forma que Liesel classificara o novo garoto da cidade. Liesel concordou com a cabeça, rodando o dedo no copo descartável da cantina.

É o tipo de alma que sempre atrapalha á todos, não está apenas interessado no seu negócio, já que parecem estar incansavelmente empenhados em acabar com o dos outros, que passam pela vida puxando os outros para baixo com suas próprias necessidades e hábitos egoístas. Esses eram os abutres humanos, de acordo com Liesel Meminger, e nunca concordei tanto com ela quanto agora. Principalmente encaixando isso á Evan.

– É isso que você pensa dele?- Perguntou Rudy, tentando encontrar algo que parecesse com ele na descrição dela. Não gostava do garoto nem de longe, mas não podia afirmar com certeza que ele era a pessoa terrível que Liesel mencionara.

– Ou você realmente acha que ele está incomodado com a atenção que está recebendo? Ele está acreditando que elas estão cegas, que não conseguem ver o que ele está tentando fazer, porque elas realmente não estão. Então as ataca. Não imagino que armas usa, mas eu posso apostar que aquele corpo não é só pra fazer sucesso com as garotas.- Liesel analisava o garoto agora, e a cada segundo que se passava, ela tinha mais certeza do que falava.

– São maravilhosos argumentos, vou aceitar a sua afirmação.- Disse Rudy, se concentrando em comer porque era uma das coisas que ele mais gostava de fazer, é claro.

– Você acha que vai ter algum campeonato de corrida para você participar?- Perguntou Liesel, mudando de assunto e deixando a sua voz ficar animada. Rudy fez uma careta.

– Eu sinceramente acho melhor não me meter em nada disso por enquanto, da ultima vez, meu pai foi levado para a guerra.

– E foi isso que o salvou, não vou? A guerra acabou, não há nada á temer.- Liesel colocou a mão no seu ombro, mostrando que estava ao seu lado. Rudy suspirou, por mais que soubesse que o que Liesel dizia era a mais pura verdade, algo dentro dele dizia que na verdade ele tinha muito o que temer.

– Mesmo assim, prefiro ficar onde eu estou.- Ele disse. Liesel suspirou, sabendo que por amis que ela tentasse, não conseguiria tirar isso da cabeça de Rudy, ele tinha um pequeno trauma que se tornara enorme. Ela nunca mais veria Jesse Owens em ação, pensou triste.

– O que foi?- Rudy perguntou, vendo a névoa triste no olhar de Liesel. Ela balançou a cabeça.

– Eu só gostava de vê-lo correr, porque parecia ser a única coisa em que era excepcionalmente magnífico e isso o deixava feliz, na época. Quero dizer, você era o Jesse Owens para mim, você podia vencer tudo se tivesse alguns metros á sua frente e um cronometro. Era bonito. Nunca mais vou ver Jesse Owens...- Ela deixou a sua voz morrer. Rudy sorriu sem dentes.

– Você está enganada... Não fui capaz de vencer todas as corridas, perdi uma para você quando nos conhecemos.- Disse Rudy, lembrando-a. Liesel mordeu o lábio inferior.

– Bem, não de verdade. Eu realmente roubei naquele dia, não tinha sido um empate. Mas eu não beijaria você enquanto nós vivêssemos, eu tinha prometido.- Disse Liesel, se sentindo um pouco culpada por aquela promessa. Metade dos seus problemas estariam resolvidos se ela simplesmente tivesse beijado Rudy.

– Você está me dizendo que eu podia ter ganhado o meu mais merecido beijo á anos atrás, mas não ganhei porque você simplesmente decidiu que não?- Ele perguntou, só fingindo indignação. No fundo, isso tudo era hilário.

– Bem, é a minha boca, não é? Sou eu quem decido quem a beija ou não, não achei que você fosse tão merecedor de um beijo meu quando fala.- Disse Liesel, dando de ombros. Virou o rosto para o preto, percebendo que ele estava cheio apenas pela metade. Não lembrava-se de ter comido nada daquilo e sorriu ao perceber que conversar com Rudy a deixava nas nuvens, literalmente.

– Vou ignorar a parte que você diz que eu não era merecedor de um beijo, porque algo me diz que eu quase morri de hipotermia pra pegar uma porcaria de um livro num rio congelado, mas isso não vem ao caso, não gosto de passar as coisas na cara das pessoas.

– Nem um pouco.- Liesel respondeu em tom de ironia, que Rudy decidiu ignorar também.

– Acho que estou enganado quando acredito ter ouvido você falar que prometeu que nunca me beijaria enquanto vivêssemos, foi isso ou eu estou ficando maluco?- Ele perguntou, mais chocado com a ideia de provavelmente nunca poder beijar Liesel, do que com a ideia de ela não querer beijá-lo.

– Eu disse isso, prometi mesmo. E cumpri.- Ela disse, orgulhosa de si mesma. Rudy concordou com a cabeça e virou o corpo totalmente para ela, ignorando qualquer ideia de voltar á comer.

– E essa promessa ainda vale até os dias de hoje? Quer dizer, éramos crianças, não deve mais contar como válida.- Ele torceu para que a resposta fosse favorável á sua situação.

– Onde você quer chegar com isso?- Ela perguntou, estreitando os olhos.

– Bem, eu ainda não desisti de ganhar um beijo seu, Saumensch.- Ele admitiu. Ela ficou vermelha instantaneamente com a sinceridade do garoto, e chocada com o efeito que elas fizeram no seu estômago. Finalmente ele sabia o que era aquelas malditas borboletas que todos falam por aí.

– O que você disse?- Rudy ignorou sua pergunta, voltando o corpo para a posição normal.

– Mas já que estamos falando de promessas, devo lembrar que eu disse que um dia você me pediria para beijá-la. Algo como "um dia, Liesel, um dia você ainda vai querer me beijar".- Disse Rudy, lembrando-se claramente do momento. Eu e Liesel o acompanhamos naquela passagem de tempo.

– E?

– E que eu não sei se a sua promessa ainda vale, mas a minha vale. Não vou te pedir um beijo novamente, você vai ter de querer me beijar para ganhá-lo.- Liesel sentiu o gosto do desafio na ponta da sua língua, estalou-a.

– O tempo deixou-o maluco? O que o faz pensar que eu vá querer beijar você?- Ela perguntou, fingindo que aquilo tudo não a estava deixando maluca. Rudy sorriu.

– Não sei o que você acha que tem no livro que me deu, mas existem coisas ali muito interessantes.- Disse Rudy, lembrando-se claramente de um trecho onde Liesel dizia que tinha sim vontade de beijar Rudy, apenas faltava-lhe a coragem. Liesel engoliu em seco, lembrando-se do trecho. Eu ri pelo nariz, começando á achar isso mais hilário do que deveria.

– Rudy, eu não sei o que você leu, mas eu era uma criança...- Rudy deu de ombros diante ás palavras de Liesel.

– Acha mesmo que eu me importo com quantos anos você tinha e quantos tem agora? Só estou ansioso para o dia em que você vai achar que eu sou "merecedor" do seu tão grandioso beijo, para falar a verdade, espero por isso á tempo demais para deixar que você espere até que a sua promessa seja concluída.- Disse Rudy, levantando-se com o prato vazio e indo em direção ao lixo, jogou tudo fora e voltou. Apoiando o corpo com uma mão na mesa e a outra nas costas da cadeira de Liesel, Rudy aproximou o rosto do dela.- Á propósito: eu ainda me leinda me lembro da emoção de roubar, imagine o quanto magnífico seria roubar de você. Sei que sabe do que estou falando.- Deu um beijo estalado na bochecha dela.

– Rudy...- Ela tentou argumentar, mas estava chocada com o deslize que tinha dado em relação ao livro e a tudo que estava acontecendo agora. Afinal de contas, ela era, é e sempre será apaixonada por Rudy Steiner.


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Notas finais do capítulo

O conceito de abutre que a Liesel usou para classificar Evan, foi tirado do livro "Desastre Iminente", segundo da trilogia de "Belo Desastre", quem não leu nenhum, leiam, é incrível! Pelo menos eu gostei e muito!