A Falsa Namorada escrita por andysimple


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo. Espero que gostem! Vou atualizar sempre que puder!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/49815/chapter/1

   Moro numa cidade com um tempo inconstante, você nunca sabe se vai chover ou fazer sol, apenas tem uma vaga ideia se vai fazer frio ou calor, de acordo com a época do ano. Você acorda de manhã, pensa que vai chover o dia todo e quando chega a noite você se dá conta de que não caiu uma gota do céu. Então, você tem de sair preparado, com sombrinha na mochila, caso ocorra de alguma chuva te pegar de surpresa, também porque nem sempre dá pra vir de carro ou ônibus.   

   Então, hoje, me arrumei para ir à escola, colocando uma pequena sombrinha (que só dava pra mim) dentro da mochila. Fui de bicicleta, pensando no dia tedioso que vinha a seguir. Porque sim, era sempre, sempre, tedioso. Tarefas, provas, testes, trabalhos, simulados, matéria do tamanho de não sei o quê, etc. E eu não estou reclamando, é apenas a verdade. Sempre tirei boas notas, sempre fui de dar orgulho a meus pais, que diziam a seus amigos preocupados com seus adolescentes revoltados: "Ah, a minha filha é um amor de pessoa, muito boa. Nunca nos deu muito trabalho. Sempre bem responsável e inteligente." E, enquanto meus pais se inchavam de orgulho, seus amigos morriam de inveja pensando nos seus filhos fazendo coisas que só Deus sabe.

   Chego à escola, tudo na mesma, as pessoas morrendo de sono porque ficaram no MSN até mais tarde, enquanto eu dormi às 9h da noite. Essa sou eu, Amélia, com 16 anos completos sem beijar um garoto sequer (sim, eu assumo), inocente, nerd e excluída. Bem, pelo menos foi assim que a Alicia me descreveu. Ela e o Marcus são meus melhores amigos, nerds e excluídos como eu. Numa tarde na casa da Alicia, cada um descrevia seus melhores amigos, tendo senso crítico. E nós não podíamos ficar ofendidos porque era tudo verdade, então...

   Entro na sala e me sento numa fila encostada na parede. Meus amigos ao lado. Aí entra o Alex. Ele é o menino mais lindo dessa escola, uma das poucas coisas que não são tediosoas. Sempre muito simpático e bonito. Todas as garotas são loucas por ele. Apesar de achar que ele não é tão tedioso, não me amarro muito nele não. Tenho mais coisas para fazer do que ficar gritando o nome de um garoto que nem sabe que eu existo todas as vezes que ele aparece jogando futebol com os amigos ou lendo na biblioteca. Ele deve achar isso um inferno.

   Então, as aulas se seguem, demoradamente, e eu e meus amigos, como sempre, tentando levar no otimismo. Sempre fomos assim. Enfim, chega a hora do intervalo e vamos para um banco perto da cantina conversar. Marcus é muito simpático e engraçado, fica contando piadas para melhorar o aspecto tedioso da escola. Alicia o olha de um jeito estranho... Que será que tem na cabeça dela. Aposto que ela é a fim do Marcus. É só olhar um pouquinho pra ela que você percebe. Espero que quando eu me apaixone eu não seja assim tão óbvia (nunca gostei de ninguém).

   Enquanto eu pensava nessas coisas, senti um toquezinho no meu ombro do lado oposto de onde eu estava olhando. Virei. Na hora, senti os lábios de alguém nos meus! Não deu pra perceber logo quem era, mas senti que estavam todos me olhando. Empurrei a pessoa. Era Alex!

   - O que é isso?! - disse eu, envergonhada e indignada por alguém fazer isso comigo. - Só porque é bonito pensa que pode sair beijando qualquer uma, é?

   - Desculpe - ele disse. Parecia tão fofo se desculpando por ter roubado meu primeiro beijo. - É que eu preciso de um favor seu.

   Olhei em volta. Realmente todos estavam me olhando. As meninas loucas pelo Alex me fuzilando e esfaqueando com os olhos, Alicia chocada, Marcus sério, os amigos dele em volta, com uma cara estranha. Eu disse:

   - O que é?

   - Preciso que seja minha namorada...

   O quêêê? Que negócio é esse???

   - Pra quê? - eu disse, estranhando completamente, primeiro pelo fato de que um garoto popular falou com uma excluída como eu, segundo que o mesmo me pedia para namorar.

   Ele se aproximou, falando mais baixo:

   - Pra que a minha ex largue do meu pé...

   - Pensei que vocês ainda namoravam - eu disse, também em volume baixo, mais aliviada, mas de alguma forma confusa. - Era o que todos pensavam.

   - Mas a gente não tava dando certo, aí rompi com ela. Só que ela não aceita e ainda fica na minha cola. Ela não entende que eu não quero mais.

   - E você quer que eu finja ser sua namorada pra que ela perceba que você já partiu pra outra...

   - Isso.

   Fiquei chocada. Eu é que não queria ser namorada daquele menino. A ex dele só estava tentando voltar, porque ainda gostava dele, e ele tinha que ser insensível daquele jeito com ela, mentindo que tinha arranjado outra pra que ela desistisse. Que sacanagem!

   - Não. - eu disse, ainda baixo. - Você está sendo insensível com ela. Ela ainda gosta de você. Dá mais uma chance pra ela.

   - Mas eu não gosto mais dela... Por favor Amélia!!

   Hã?! Como ele sabia meu nome? Um cara popular que sabe o nome de uma excluída, ainda mais nerd?! Coisa estranha.

   - Não. - fui imparcial. - Não quero me meter nisso. - Me levantei do banco e fui ao banheiro, tentando inutilmente ignorar os olhares fuzilantes. Não havia ninguém lá, o que era estranho. Me olhei no espelho. Uma garota de cabelos negros e lisos cortados na altura dos ombros, me encarava através de seus óculos de aro arredondado preto. "Aceite", ela me dizia. "É sua chance de ser popular e ser notada, mesmo que seja apenas mentira". "É tarde demais", eu respondia. "Já recusei." Mas ela insistia: "Nunca é tarde demais. Vá lá e diga que mudou de ideia, ele ficará feliz! Lembra como ele estava desesperado?" "Não!" respondi, imparcial. Mas é claro que essa conversa foi apenas na minha mente, não pense que fiquei falando sozinha no banheiro.

   A campa do intervalo tocou; eu não saí de lá. Poxa, ele tinha que fazer isso na hora do intervalo? Podia ter feito na hora da saída. Pensei em gazetar, mas tinha deixado meu material na sala. Droga, pensei. Finalmente eu saí. Na porta encontrei meus amigos. Eles tinham ouvido tudo, mesmo quando falamos baixo.

   - E aí? - perguntou Alicia. - Não vai aceitar mesmo?

   - Não. - disse eu. - Quero ficar fora disso.

   - Tá bom. Vamos logo que a aula já vai começar.

   Eu amo meus amigos. Mesmo que eles não achem que a minha decisão foi a correta, eles respeitam e apenas dão conselhos. Adoro-os.

   Na hora da saída, eu e meus amigos conversávamos sobre o seminário de Geografia. Como sempre, faríamos os três juntos. Alex me viu. Eu tentei evitá-lo:

   - Vamos logo pra casa?

   - Vamos - disseram eles. Pegamos nossas bicicletas, mas antes de partirmos, Alex nos alcançou.

   - Pode esperar um pouco? - pediu ele. - Precisamos conversar.

   - Claro - eu disse, disfarçando que estava tentando evitá-lo. - Alicia, Marcus, vão na frente. Amanhã a gente se fala.

   - Tá, se cuida! - disse Marcus, indo. Alicia se despediu. Quando já estavam longe, respirei fundo, aliviando minha parcial falta de ar.

   - Tem certeza da sua recusa? - ele perguntou. - Conheço um bando de garotas que topariam. Por que você não quer?

   Aí deu um estalo na minha cabeça. Exatamente: havia um número incontável de garotas na nossa escola que topariam ser suas "namoradas". Por que eu? E como ele sabia meu nome?

   - Por causa do que você mesmo disse: muitas garotas topariam! Por que veio procurar logo a mim? E como você sabe meu nome? Isso parece trote, sabia? O que está tramando? - eu estava realmente irritada e assustada com tudo aquilo.

    - Não estou tramando nada. E como eu poderia não saber seu nome?

   - Você é popular! Eu sou nerd! Populares não estão nem aí pro nome dos nerds!

   - Então você acha que nós populares somos todos iguais?! Isso não é verdade!

   - É sim! Vocês nos acham um bando de fracassados, só porque estudamos e nos dedicamos mais! E quer saber? Fracassados são vocês, porque quando nós crescermos teremos sucesso e vocês vão ficar puxando carroça! - Pausa. - E sim, tenho certeza de que não topo!

   Peguei minha bicicleta e fui embora. Pude ouvi-lo gritando meu nome, me pedindo pra esperar. Eu não queria saber. Mas acho que fui dura demais. Acabei dizendo para ele o que eu queria dizer a todos os populares. Descarreguei tudo, tudo em cima dele.

   Me senti extremamente culpada por ter agido desse modo com Alex.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!