Potterlock - A Câmara Secreta escrita por Hamiko-san


Capítulo 8
Janine




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— Hagrid! — John ergueu os braços exaltado, andando de um lado pro outro no dormitório — Agora tudo faz sentido!

— Não, não faz. — Sherlock estava inquieto, folheando o diário, tentando achar algo além das muitas páginas em branco.

— Claro que faz! Sherlock, ele tentou criar um dragão ano passado e... E o Fofo? Você se esqueceu do Fofo? O Hagrid adora monstros! Se ele tivesse conseguido um modo de abrir a Câmara Secreta ele acharia triste um monstro ficar preso tanto tempo!

— O problema é justamente esse. Como ele conseguiu abrir a Câmara Secreta?

— Bem... Sabemos que ele não pode usar magia, não? Ele foi expulso.

— Sim, aquele guarda-chuva...

— E os ataques pararam depois que Hagrid foi expulso! Por isso Riddle ganhou um prêmio!

Sherlock ficou calado.

— Admita, Sherlock, uma coisa leva a outra.

— Sim, leva, mas isso não quer dizer que Hagrid seja o culpado. Afinal como ele teria aberto a Câmara?

— Bem...

— Além disso tem uma coisa que está me preocupando mais.

— O que é?

Sherlock fechou o diário e o mostrou a John:

— Por que alguém jogou isso no sanitário?

— Para não incriminar o Hagrid?

— É o guarda caças, John. Não é muito popular. E os professores não fariam algo tão amador quanto jogar na privada. Isso é coisa de um aluno. Um tão inexperiente quanto nós — Jogou o diário para o amigo — E foi jogado no banheiro da Murta. Ninguém além de nós frequenta aquele lugar.

— Você acha que alguém viu a poção polissuco?

—Se viu, não ligou. Eu enfeiticei o caldeirão pra cuspir o conteúdo na cara de quem mexesse nele além de mim e a poção nunca foi derramada. A pessoa que se livrou disso estava muito nervosa.

— Ta, mas e o monstro que estava com Hagrid? Ele não pode ser ignorado. Será que ele pode petrificar pessoas?

De repente, o corvino abriu os olhos e a boca, pasmo:

— Claro, o monstro... 

— O que você acha que é? 

Sherlock olhou para John como se tivesse acabado de vê-lo ali. Em seguida se aproximou rapidamente e o segurou pelos ombros:

— John, Slyterin era ofidioglota! Se ele fosse guardar um monstro, guardaria um tipo que ele pudesse controlar, não acha?

— Então você acha que Hagrid guardava uma cobra? Mas aquela coisa tinha patas!

— Exatamente! Não é uma cobra, o que significa que aquele não é o monstro da Câmara Secreta! O que era aquilo então? Temos duas possibilidades. Se o mascote escondido por Hagrid realmente matou alguém, então a Câmara nunca foi aberta. Ou, se a Câmara Secreta foi de fato aberta, o culpado não é o Hagrid!

John abriu a boca sem saber o que dizer.

— Não escreva mais coisas nesse diário, pode ser? – Sherlock o soltou e começou a juntar apressadamente as suas coisas – Boa noite, John!

 

~O~

 

Quando o novo período letivo começou, os professores quiseram compensar o pânico dos alunos com muitos deveres de casa. Os de Snape chegavam a deixar qualquer um sem tempo para uma vida social decente, o que era uma maravilha para Sherlock. John, por sua vez, sentia-se psicologicamente torturado, pois Harry voltara de casa com as notícias de que os pais estavam alarmados com a amizade dele com o tal Holmes e tirariam o filho da escola se fosse pra poupar sua vida.

Cada vez que John pensava nisso, algo corroía dentro de si.

Sherlock pareceu ler seus pensamentos e pousou a mão suja de terra em seu ombro esquerdo quando a aula de Herbologia fora pausada forçadamente em razão de uma visita inútil de Lockhart.

— Está bem? — O tom de Sherlock era sincero e ameno.

— Meus pais estão preocupados e querem me tirar de Hogwarts. — Confessou John sem tirar os olhos do vaso que acabara de adubar. Esperava que o amigo não fosse pedir os detalhes.

A professora Sprout bateu com a varinha numa mesa e pediu atenção:

— Escutem, meninos. Estão vendo as mandrágoras? Quando desaparecer a acne delas, estarão prontas para serem reenvasadas. Depois disso, iremos cortá-las e cozinhá-las. Num instante a senhorita Sawyer, a gata de Argo e até a Dama Cinzenta estarão de volta.

— Ah, sim! E acho que não vai haver mais problemas. — Disse Lockhart dando uma piscadela (Sprout revirou os olhos). — Não tivemos mais nenhum ataque, então talvez a Câmara tenha sido fechada para sempre! O culpado deve ter sentido que era apenas uma questão de tempo até que eu o liquidasse, afinal eu sei onde a Câmara fica e já enfrentei o monstro uma vez. Agora vamos deixar isso pra trás! A escola precisa de alegria e tenho a ocasião perfeita!

O professor saiu cantarolando e arrancando olhares de admiração de meninas como Sally. Lestrade olhou para Sherlock e abriu a boca, fingindo colocar o dedo na goela para vomitar. Isso fez John rir.

A professora Sprout voltou a pedir atenção para a continuação da aula inconvenientemente interrompida pelo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.

 

~O~

 

No decorrer dos dias, Sherlock tentou se aproximar de Hagrid para conversar, mas a quantidade de deveres lhe tirou qualquer tempo que tivesse para falar com o guarda-caças. Por fim resolveu deixar Hagrid de lado e trabalhar outras possibilidades, mesmo porque a hipótese de um meio-gigante desengonçado e beberrão acessar um esconderijo que nem os fantasmas do castelo sabiam onde era não estava no topo de sua lista de suspeitas.

E ainda tinha a questão do monstro.

Na manhã do dia 14 de fevereiro, Sherlock já estava acordado nos primeiros raios de Sol depois de passar a noite em claro na poltrona do salão comunal da Corvinal lendo o Livro Monstruoso dos Monstros que pegara na biblioteca.

— Holmes? — Sebastian Wilkes, um segundanista riquinho, com aqueles cortes de cabelo que só poderiam ter sido encomendado pela mãe, o chamou enquanto carregava uma escova de dentes — Não foi dormir?

— Eu estava sem sono.

O rapaz o olhou desconfiado e seguiu para o banheiro, junto com os demais alunos. Todos com aquela cara de quem está temendo um próximo ataque.

Quando todos os corvinos desceram para o desjejum no salão principal, Sherlock teve quase certeza de que passaram pela porta errada. O refeitório estava muito magenta. As paredes estavam cobertas com grandes flores rosa-berrante e do teto caía uma chuva de feitiços de coraçõezinhos. Sherlock fez a mesma cara de espanto que a maioria dos bruxos da sua turma, e, pela primeira vez, se sentiu uma pessoa comum. Estava tão sem palavras quanto o resto dos colegas.

Na mesa dos professores, Lockhart usava vestes rosa-berrante para combinar com a decoração. Os demais professores estavam completamente envergonhados e não viam a hora de sair dali. Menos Snape, que parecia elencar as possibilidades de enfiar toda aquela decoração na goela do bruxo bonitão.

— Feliz Dia dos Namorados! — Exclamou Lockhart. — E será que posso agradecer às quarenta e seis pessoas que me mandaram cartões até o momento? Claro, tomei a liberdade de fazer essa surpresinha para vocês, e ela não acaba aqui!

Lockhart bateu palmas e, pela porta que abria para o saguão de entrada, entraram onze duendes de cara amarrada. Mas não eram duendes quaisquer. Eles estavam usando asas douradas, fraldas e traziam harpas.

Sherlock bateu na própria cara. John tinha razão. O professor era mais do que patético.

— Os meus cupidos, entregadores de cartões! — Sorriu Lockhart. — Eles vão circular pela escola durante o dia de hoje entregando os cartões dos namorados. E a brincadeira não termina aí! Tenho certeza de que os meus colegas vão querer entrar no espírito festivo da data! Por que não pedir ao Professor Snape para lhes ensinar a preparar uma Poção de Amor? E por falar nisso, o Prof. Flitwick conhece mais Feitiços de Fascinação do que qualquer outro mago!

O Prof. Flitwick escondeu o rosto nas mãos. Snape fez cara de quem obrigaria a beber veneno o primeiro aluno que lhe pedisse uma poção do amor.

John estava na mesa da Grifinória, nauseado demais para conseguir comer. Henry estava com cara de que ainda achava que aquilo era uma espécie de pesadelo e Sally ria sonhadora.

Em todas as horas do dia, os benditos duendes de Lockhart perturbavam um aluno com declarações de amor no mínimo hilárias, tornando cada alvo da paixão alheia um motivo de chacota. Além disso, invadiam as salas de aula para entregar cartões, o que testava a paciência dos professores.

— Eu já nem tenho mais insultos pra fazer pra esse cara... – John murmurava enquanto caminhava pelo corredor cheio de cortinas rosa berrante com Sherlock – Ele já acabou com todo meu estoque.

— Essa decoração nem me deixa pensar. É por isso que as pessoas nunca devem se apaixonar.

John refletiu sobre as palavras do amigo mais do que gostaria. Sem saber exatamente o porquê, acabou perguntando:

— Então... Você acha... Que nunca vai ter uma namorada?

— Acho.

— Ah. – Fez uma breve pausa – E um namorado?

Sherlock olhou para o grifinório levemente surpreso e John rapidamente olhou para qualquer lugar no chão. Só gostaria de ter sido mais discreto ao fazer isso.

— Você sabe – John encolhia os ombros tentando parecer natural – É normal.

— Eu sei que é.

Eles continuaram andando até chegarem a outro corredor, mais espaçoso e com mais gente. O loiro mordeu o lábio inferior certo de que não conseguiria simplesmente ficar calado ou mudar de assunto.

— Então? – John retomou a pergunta – Você pensa em arranjar um namorado no futuro?

— Claro que não. Olhe essa decoração! Deve ser assim que o cérebro das pessoas fica quando namoram. Os alunos que mandaram cartões e serenatas perderam completamente a noção do ridículo.

De repente um duende surgiu no meio de uma aglomeração de alunos da Lufa Lufa que caminhava em sentido contrário:

— HOLMES! SHERLOCK HOLMES! - Gritava para todos ouvirem.

— O-ou.

A reação de Sherlock foi tão abrupta que ele acabou escolhendo a rota de fuga errada e colidiu com John, fazendo a pasta e todos os livros do loiro caírem no chão. Isso chamou a atenção dos lufanos e até dos terceiranistas da Sonserina, que viram o corvino fugindo desesperado de um duende gritando seu nome.

— HOLMES! SHERLOCK HOLMES!

— ME DEIXE EM PAZ!

— ESPERE, SHERLOCK HOOOOOLMES!

E num pulo, o duende se agarrou às pernas do garoto, fazendo-o tombar com a cara no chão. Os outros cupidos correram até o bruxo e começaram a cantar carrancudos e desafinadamente:

Meu coraçããããão

Não sei por queeeeee

Bate feliiiiiiiiiiz

Quando te vêêêê

E os meus oooolhos ficam sorriiiiindo

E pelas ruuuuuas vão te seguiiiindo

Mas mesmo assiiiiiiiim

Foge de miiiiiim

As bochechas de Sherlock ficaram mais vermelhas que o brasão da Grifinória, enquanto os lufanos e os sonserinos que assistiram à cena caíam na gargalhada. Até mesmo John estava se contorcendo de tanto rir. 

— Eu acho que essa música é trouxa. – John se aproximava e limpava as lágrimas enquanto fechava a pasta.

Sherlock ainda estava em estado de choque. A única pessoa oriunda de trouxas que conhecia e que tinha sentimentos por ele era Molly Hooper (que por sinal saiu correndo por entre os alunos), mas ela não teria tanta falta de senso.

— Tá aqui o cartão, bonitão. – Um dos duendes lhe entregou um envelope. Em seguida fez sinal para os outros irem embora consigo.

— Você é bem popular, não? — Ainda se recuperando do ataque de risos, John bisbilhotou a carta por cima do ombro do amigo.

"Não tem como não sorrir toda vez que me lembro de você"

"Será que somos almas gêmeas?"

“JM

— Moriaty. — Revelou Sherlock.

— Peraí, foi Moriaty que mandou essa declaração? – John fez uma careta enojada.

— Eu sabia. Ele ainda está jogando. — Guardou o cartão. — Vamos logo para a aula de Feitiços. — Saiu andando, ainda desconcertado pelo mico que acabara de passar.

 

~O~

 

A "brilhante" ideia de Lockhart custou a Sherlock uma semana e meia de gracinhas de todo o pessoal da Corvinal. Agora começava a ter saudades de quando o evitavam por acharem que ele estava por trás dos ataques. O único lugar em que conseguia ter algum sossego era a biblioteca, a qual ele passou a frequentar em todas as horas de folga (isso porque Madame Pince retalhava qualquer um que ousasse perturbar a paz entre os livros).

Naquele dia o garoto estava renovando o empréstimo do Monstruoso livro de Monstros.

— Isso virou sua leitura de cabeceira, Holmes? — Indagou a bibliotecária enquanto registrava a locação novamente.

— Não dá pra terminar um livro desses em alguns dias.

— Sua sorte é que não tem ninguém na fila. Pronto. Aqui está.

Sherlock guardou o livro e saiu para assistir à aula de Transfiguração. Ainda ouvia algumas risadinhas aqui ou acolá de algumas pessoas que souberam pela rede de boataria da sua abordagem pelos duendes. 

Quando Sherlock entrou na sala de aula, se dirigiu imediatamente ao espaço vago ao lado de John.

— Isso é alguma espécie de bíblia pra você? - A voz do Watson lhe tirou da análise.

— Hn? O que disse?

— Esse livro. Eu vejo você com ele desde que interagimos com o diário.

— É que é mais fácil de pegar ele na biblioteca do que o Animais Fantásticos e Onde Habitam. Maioria das pessoas não gostam de pesquisar por esse aqui por ser muito... Hm... Agressivo.

A porta se abriu e a professora Minerva entrou com os braços cheios de pergaminhos que ela começou a distribuir.

— O que é isso? — Perguntou John ao receber o seu.

— Lista das matérias que vão querer cursar no terceiro ano, senhor Watson. — Respondeu a professora, passando um pergaminho para Sherlock — Como vice diretora do colégio resolvi usar esta aula para que vocês discutam entre si as opções.

— E tem como eu desistir de Defesa Contra as Artes das Trevas?

Minerva conteve o riso:

— Receio que não. As disciplinas que estão tendo continuam sendo obrigatórias.

— Droga.

Quando a professora se afastou para continuar distribuindo, John deu uma espiada no pergaminho de Sherlock:

— O que vai escol... — Sua pergunta morreu quando ele viu todas as opções sendo marcadas — Que!? Vai fazer todas!?

— Só assim vou poder saber o que é útil e o que não é. Por que não faz o mesmo?

— Tá maluco? — Voltou a enfiar o nariz na própria lista — Por que eu me matricularia em Estudo dos Trouxas? Eu sou de família trouxa. Hm... Runas também parece chato. Oh! Adivinhação! Sério? Vamos poder ver nosso futuro?

— Só se tivermos o dom. Mamãe disse que o dom da vidência é mais comum em centauros, mas alguns bruxos nascem com essa habilidade.

— Parece interessante. Ah, Trato das Criaturas Mágicas. Esse sim parece bom.

De repente, um grito estridente de Pirraça ecoou pelos corredores parecendo uma sirene.

"OUTRO ATAQUE! OUTRO ATAQUE! NINGUÉM ESTÁ SEGURO! TODOS ESTÃO PERDIDOS!"

— ... Como? — A professora Minerva falou para si e se dirigiu à porta.

Todos os alunos fizeram o mesmo apressadamente. Todos muito curiosos para ver o que estava acontecendo do lado de fora.

Pequenas multidões se aglomeravam nas portas das salas, mas deixavam o caminho aberto, como se uma alegoria fosse passar por ali. O professor Flitwick vinha andando de costas, usando a varinha para levitar uma aluna de pedra.

John a reconheceu na hora:

— Mas é a Janine! É da minha casa, lembra? A que pediu seu autógrafo!

Depois veio chegando o professor Snape, fazendo companhia a uma garota da Sonserina muito aturdida.

— Severo, o que houve? — Perguntou Minerva depois de ver a estátua passar.

— A senhorita Mary Morstan disse que a encontrou desse jeito.

John olhou para a aluna que acompanhava o professor. Era bonita. Loira, de cabelos curtos e bochechas rosadas feito garotas de comercial de iogurte.

— Janine tinha saído da sala do professor Flitwick porque tinha esquecido o espelho dela. — Contava a menina atordoada — Achei que ela estava demorando demais e entrei para saber o porquê. Então eu a vi... Assim.

Minerva suspirou:

— Pelo visto vamos ter que falar com Alvo. Continue levando Morstan, Severo. — Em seguida se virou para os segundanistas — Os alunos estão dispensados.

Ela foi embora, deixando os burburinhos dos segundanistas para trás. Henry e Sally cochichavam algo, olhando para John de vez enquanto. O loiro tinha quase certeza que estavam associando o ataque ao fato de Sherlock ter chegado um pouco tarde na aula.

Sherlock o tirou dos pensamentos:

— Quer contar o que aconteceu ao seu amigo Tom Riddle?

O grifinório sorriu amarelo e coçou a cabeça:

— Na verdade eu... Perdi o diário.

— Heim?

— Pois é.

— Perdeu? Como perdeu?

— Não sei. Abri a minha pasta e não estava mais lá. Acho que eu o deixei cair. — Mordeu o lábio inferior preocupado — Espero que Tom não conte sobre Hagrid a mais ninguém.

Ficaram calados por um instante.

— Que tal visitarmos Hagrid hoje a noite? — Sherlock convidou.

— Eu temia que você dissesse isso. Ok. Hm... Hoje, não? Você me pega? Pra usarmos sua capa da invisibilidade, sabe?

Sherlock assentiu. Já planejava fazer isso com ou sem John, mas era muito melhor quando estava por perto do amigo.

Continua


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Notas finais do capítulo

Yay. Mais um capítulo. É bom que dessa vez estou postando num intervalo razoável.

Bem, espero que curtam.

Abraços!