Potterlock - A Câmara Secreta escrita por Hamiko-san


Capítulo 6
A informação de Dobby




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Na enfermaria do colégio, cortinas rodeavam o leito de John Watson, que estava se preparando para passar uma boa noite internado até recuperar todos os ossos do braço. De todas as pessoas do mundo, Gilderoy Lockhart sem dúvida era a que ele tinha mais aversão. Mais até mesmo que de Snape e de Moriaty. A incompetência do professor deixou o aluno assim. Com uma espécie de luva de borracha colada ao tronco e precisando da ajuda de Sherlock para trocar de roupa.

— Eu só queria saber... — John dizia enquanto o amigo passava o braço mole pela manga do pijama — Como deixaram um imbecil daqueles ser professor?

— Ele não tinha concorrentes.

— Sério?

— Ninguém estava interessado. Tem uma lenda de que esse cargo é amaldiçoado — Explicava Sherlock abotoando-lhe a camisa — Nenhum professor dura mais do que um ano nele, então ninguém quer mais vir pra cá.

— Essa escola é cheia de lendas, não?

— E de segredos. Mycroft me disse que uma vez estava muito apertado pra fazer xixi e entrou numa sala cheia de penicos de prata. Só que depois que ele saiu nunca mais achou a sala. Pronto.

— Obrigado.

Sherlock saiu de trás das cortinas para que John pudesse trocar de calça. Madame Pomfrey vinha segurando um garrafão de uma coisa rotulada como “Esquelesce” e serviu o líquido num copo grande de boca larga e fumegante para John.

— Francamente, crescer ossos! É mais fácil remendá-los do que fazê-los crescer! - Ela resmungava - Devia ter me procurado primeiro.

— Era justamente o que eu queria. - Respondeu John entredentes enquanto acabava de trocar a calça.

— Agora beba isso. Vai demorar até todos os seus ossos crescerem.

O paciente bebeu um gole e teve uma experiência única. O líquido queimou a boca e a garganta do garoto e desceu de forma áspera, fazendo-o tossir.

— Estava pensando que era o que? Suco de abóbora? — Brigou a enfermeira — Agora engula — E saiu do recinto para pegar mais poções no estoque.

John se jogou na cama e murmurou num tom de lamento:

— Eu odeio muito esse professor, Sherlock.

— Pelo visto vai ser uma longa noite. – O corvino falou entretido enquanto descansava a mão na testa do amigo – Eu trago algo gostoso do refeitório pra tirar esse gosto ruim da boca.

 

~O~

 

A chuva caía torrencialmente sobre o castelo. A passos lentos, Sherlock subia as escadarias para a torre da Corvinal e repassava mentalmente tudo o que tinha acontecido no dia. Acordou, desceu com seus colegas de casa, tomou café no refeitório, assistiu ao jogo de quadribol, viu John ser alvo de um balaço errante... 

Foi no meio do caminho que viu uma multidão de alunos com o brasão da sua casa estacionada no meio de um corredor, bloqueando a passagem. Todos olhavam aterrorizados para cima.

La estava a Dama Cinzenta numa cena horripilante até mesmo para um fantasma. Flutuava imóvel na vertical. Ao invés de cinza e transparente, seu corpo estava preto e fumegante. Os olhos virados para trás e uma expressão aterrorizada na cara. Sherlock ficou subitamente interessado e se espremeu pelos alunos para ver melhor, mas não precisou de muito esforço. Assim que perceberam que era ele, se afastaram imediatamente, abrindo passagem, como se estivessem diante de algo contagioso.

Então ele percebeu que perto da Dama Cinzenta estava Sarah Saywer, dura, imóvel e com cara de pavor.

— Outro ataque. — Comentou Anthea Wilson, uma das poucas colegas, senão a única, que não o evitava.

Sherlock reparou que uma fileira de aranhas fugia apressadamente para qualquer lugar longe das vítimas.

Atraído pelo tumulto, o professor Flitwick subiu as escadas apressadamente, tomando cuidado pra não tropeçar nas vestes.

— O que está acontecendo aqui? — Ele cobriu a boca assim que olhou pra cena — Não! Outro ataque!

"O que fizeram com a gata do Filch foi só um aviso!"

"Vamos todos virar pedras?"

"A escola corre perigo!"

"Quem é filho de trouxas vai ter que sair da escola?"

O rebuliço da turma começava a incomodar Sherlock, e ficou pior quando alguns corajosos mandaram a discrição às favas e começaram a acusar o jovem Holmes alto e em bom som.

— A Saywer tava dando gelo no seu amigo, não é?

— Isso não vai ficar assim!

— Você sabia que o Watson é filho de trouxas? 

— Vai petrificar ele também?

Sherlock permaneceu impassível encarando seus colegas de casa, mas com a respiração sutilmente acelerada. 

— Agora chega! — Flitwick ordenou — Parem de acusar sem provas.

De repente uma conhecida mão enrugada repousou no ombro esquerdo do garoto. Dumbledore havia chegado e sua mera presença fez todos ficarem em silêncio. Seus olhos azuis brilhavam seriamente por trás dos óculos meia-lua, refletindo o estado deplorável das duas vítimas.

— Vamos levar a senhorita Saywer para a enfermaria. — Sibilou o diretor — Afastem-se todos, por favor.

O aglomerado se desfez gradativamente. Sherlock respirou fundo e apressou o passo para se afastar do local.

 

~O~

 

John praguejava Lockhart todas as vezes que sentia a dor dos ossos crescendo enquanto tomava esquelesce. Aquilo, sem dúvida, era pior do que ter um braço quebrado.

Levou um susto quando algo estalou à sua frente e surgiu em cima das pernas dele.

— ARH!

Era o elfo de olhos grandes e vermelhos, fronha imunda e marcas de tortura no corpo. Ele olhava para o paciente diretamente nos olhos, mas estava amuado e um tanto trêmulo.

—. Você? — O menino tentou se sentar apoiando-se no braço bom,

— Meu senhor... Dobby veio vê-lo. Dobby veio retribuir o bruxo que tratou Dobby bem.

— Retribuir? Não, não precisa. Moriaty não ia gostar, certo?

As mãos de Dobby começaram a tremer e seus olhos a ficar muito abertos. John logo se adiantou:

— Por favor, não quebre a cabeça em nenhuma cama, ok?

— É que o senhor corre perigo por ser filho de trouxas, senhor. Dobby veio avisar que o bruxo bom precisa ir embora. Dobby esperava que viciando o balaço o senhor poderia ficar incapacitado o suficiente pra voltar pra casa, mas...

— Peraí, foi você!?

— Dobby já se puniu por isso, senhor. Dobby teve que passar ferro nos dedos.

John ficou furioso, mas o elfo parecia tão patético assoando o nariz numa ponta da fronha imunda que o menino não teve coragem de gritar com ele.

— Dobby, eu podia ter morrido!

— Não, senhor! Não morreria! Dobby só queria mandá-lo para casa seriamente machucado.

— Só isso? — John respirava fundo e tentava se conter — Tá legal, por que eu deveria ir pra casa aos pedaços?

— Porque coisas terríveis vão acontecer em Hogwarts com pessoas como o senhor. Talvez já estejam acontecendo. Dobby não quis que o senhor ficasse aqui agora que a história vai se repetir. Agora que a Câmara Secreta foi reaber...

Dobby se calou, cobrindo a boca com as mãos finas.

— Peraí! — John esticou o braço bom e segurou o elfo pela fronha — Então tem mesmo uma Câmara Secreta? E ela já foi aberta antes?

Mas Dobby se desvencilhou dele e começou a bater a cabeça no ferro da cama:

— DOBBY MAU! DOBBY MAU!

— Dobby, pare!

— DOBBY MAU! DOBBY MAU!

— PARE COM ISSO! — John tentava alcançá-lo.

Mas Dobby paralisou e suas orelhas de morcego estremeceram.

— Dobby tem que ir.

— Não! Espe...

Houve outro estalo e o elfo não estava mais ali.

John encarava o espaço vazio boquiaberto.

Ouviu-se o ranger de dobradiças. A porta foi aberta. Dumbledore entrou de costas no dormitório, abrindo espaço para alguma coisa levitada pelo Professor Flitwick. Parecia uma estátua. Madame Pomfrey se apressou em se juntar a eles e ajudá-los a depositar a tal coisa numa cama. 

John conseguiu ver entre as brechas das cortinas de sua cama a aluna Sarah Saywer, petrificada.

— Meu Deus...

 

~O~

 

A notícia de que Sarah Saywer e a Dama Cinzenta foram atacadas espalhou-se pela escola inteira e a atmosfera carregou-se de boatos e suspeitas. Os jogos de quadribol foram cancelados, os professores viviam de vigília e os alunos do primeiro ano agora andavam pelo castelo em grupos unidos, como se tivessem medo de serem atacados caso se aventurassem a andar sozinhos. As suspeitas sobre Sherlock Holmes apenas aumentavam e, depois do ocorrido com Sarah Sawyer, John Watson foi promovido de mero acompanhante ingênuo para parceiro do crime.

Por esse motivo, na segunda semana de Dezembro, quando a Professora McGonagall começou a anotar os nomes dos alunos que continuariam na escola durante as festas de Natal, mais da metade deles foram pra casa. Sherlock optou por ficar e John fez o mesmo. Havia contado a Sherlock tudo o que Dobby lhe dissera, alimentando ainda mais as suspeitas sobre Moriaty:

— O elfo é dele, então se ele sabe sobre a Câmara Secreta é porque Moriaty sabe. – O jovem Holmes pesava o pó de asfóleo na aula de poções.

— Então você acha que existe mesmo uma Câmara Secreta?

— Existe algo. Os inimigos do herdeiro de Slyterin são todos os trouxas e Sarah Saywer é um deles. É coincidência demais.

Snape andava pelo vapor e era certo que ele iria implicar com John por sua poção ter ficado parecendo um mingau.

— Eu deveria fazer você tomar isso pra ver o que acontece, Watson.

John engoliu em seco. Não achava que um professor poderia matar um aluno, mas Snape não era confiável. Tampouco sua própria poção.

O professor virou-se para Sherlock.

— Percebi que sumiram alguns ingredientes do meu estoque particular, Holmes.

John arregalou os olhos.

— Sério? — Indagou o corvino apático — E o senhor descobriu quem foi?

A sineta de saída tocou e a vontade dos alunos saírem logo da sala fez com que Snape não tivesse paciência para interrogar Sherlock.

No corredor, John andava apressado atrás do amigo.

— Foi você?!

— John, sabia que você é um péssimo ator?

— Quando você fez isso?

— Ontem a noite. Capa da invisibilidade, alohomora... Muito fácil. Eu seria um ótimo gatuno. Ai!

Sherlock tombou com a barriga de Hagrid, que estava com um galo morto na mão e a barba espessa cheia de neve.

— Hei! Hagrid! — John cumprimentou. — Quanto tempo!

— Oi, meninos. Viram Dumbledore por ai?

— Posso ficar com isso? — Sherlock apontou para o galo morto.

— Nada de experiências, Holmes. Preciso mostrar isso ao diretor. Esse é o terceiro só essa semana. — Bateu na própria barba para tirar a neve — E então, meninos? Vão ficar aqui pro Natal? A maioria quer ir embora o quanto antes.

— Não é o meu caso. — John encolheu os ombros, amuado — Harry com certeza vai fazer minha caveira pro papai e pra mamãe. Não vai ter clima nenhum passar o Natal em casa. De repente eu nem volto mais.

Hagrid riu e descansou a mão no ombro de John, mas a mão do guarda-caças era tão pesada que o loiro quase deslocou um osso.

— Seus pais não lhe proibiriam de vir pra cá, John. Dumbledore não iria deixar. Agora licença. Preciso falar com ele. Não posso mais ficar perdendo galos assim.

— Ah... Claro... - John massageava o ombro doído. E era justamente o lado que havia sido desossado. — Ai...

— Vamos. — Sherlock o cutucou e voltou a andar.

— Aonde estamos indo?

— Ao banheiro da Murta.

— De novo? Por que?

— Porque eu quero lhe mostrar uma coisa.

Chegando ao banheiro, Sherlock guiou John para dentro de um boxe enquanto Murta lamuriava em outro. Lá dentro tinha um velho caldeirão encarapitado em cima do vaso sanitário, e vários estalos informavam que havia fogo dentro da latrina. Certamente Sherlock conseguira conjurar fogo à prova de água.

— Oh! — John exclamou. — Essa é a poção que você falou?

— Poção polissuco. Sim. — Respondeu o outro mexendo o caldeirão —- Vou usá-la para espiar Moriaty e descobrir do que Dobby estava falando.

— E em quem pretende se transformar?

— Ainda estou decidindo.

John olhou desconfiado para o caldeirão. Só de imaginar Sherlock errando a receita e bebendo uma poção que o virava do avesso ou fazia crescer tentáculos em sua cabeça fazia seu sangue gelar.

— Tem muita poção aí, não acha? — Inquiriu o loiro.

— Sim. Por acaso quer ir comigo?

— Oh, Deus, sim.

John fechou a porta do box e assistiu ao amigo continuar os preparativos.

 

~O~

 

Enfim o período letivo terminou, e um silêncio profundo como a neve desceu sobre o castelo. Sally e Henry decidiram passar o feriado com a família, o que fez John se sentir um pouco sozinho por ser o único aluno que ocupava o dormitório masculino do segundo ano.

Em compensação, conseguia passar bastante tempo com Sherlock, o que foi produtivo. O corvino ensinava feitiços para o amigo e as vezes treinava duelo com ele. John inclusive conseguiu aprender magias como expelliarmus e everte statum. Em outros momentos, John o incentivava a vestir a capa da invisibilidade e entrar escondido no dormitório a noite para ajudá-lo a recolher as informações de todos os livros que ele pegara na biblioteca. Quando Sherlock se cansava, tocava violino até de madrugada e o amigo acabava caindo no sono. No primeiro ano John descobrira que Sherlock tocava violino muito bem, sem sequer precisar de magia, e recentemente ele lhe confessara que a música o ajudava a raciocinar.

— “Ofidioglota” – John lia em voz alta o termo em Hogwarts, uma história — O que significa?

— Poder de falar com as cobras — Sherlock respondeu parando de tocar e olhando fixamente para a janela.

— Aqui diz que Salazar Slyterin era ofidioglota. Será que o símbolo da Sonserina é uma cobra porque ele podia conversar com elas?

— Acertou, mas também porque é uma habilidade rara. Tão rara que qualquer ofidioglota pode ser considerado herdeiro de Slyterin.

— Você acha que tem ofidioglotas na família de Moriaty?

Sherlock não respondeu. Por um instante, ficou compenetrado. Em seguida guardou o violino no estojo e, com a varinha, recolheu os livros.

— É melhor eu ir. Feliz Natal, John.

Depois cobriu-se com a capa da invisibilidade.

 

Continua

 


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Notas finais do capítulo

Foi mais rápido do que o esperado (pra compensar o mega atraso anterior). Espero que tenham gostado.