Doce retorno escrita por Diana


Capítulo 1
Doce retorno


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente linda!

Trago aqui uma oneshot que fiz nesse feriado! Tipo, a ideia me veio e saiu isso!Espero que vocês gostem. Se passa meio que depois de O herói perdido, mas com essa pequena alteração: É Reyna quem vai parar no Camp Half Blood e não Jason.

#Pipeyna

No mais, boa leitura



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Doce retorno

"Te peguei pelos dedos
Pra dançar enquanto o sol demora"

(Milonga, Fresno)

– Você quer vê-la de novo, não quer? – A voz grave de Jason preencheu o ambiente, tirando a concentração de Reyna. Ou fazendo ela se focar em alguma coisa. A garota não sabia dizer.

– Do que você está falando? – Reyna encara o outro pretor seriamente.

– Do Acampamento grego. Você sente falta de lá, não? – O rapaz lhe sorri. Reyna apenas continua o encarando.

– É claro que não, Grace. Eu não pertenço àquele lugar. – Reyna responde, mas sente algo em seu interior discordar dela.

– Ao lugar talvez não. Mas, você sente falta de uma certa filha de Vênus, não? – Dessa vez, não há uma resposta imediata e Jason sabe que havia vencido. Reyna volta sua atenção aos papeis em cima da mesa.

O filho de Júpiter solta um suspiro e se dirige à amiga. Os cães Argentum e Aurum apenas o observaram. Ele se senta na cadeira de frente para Reyna.

– Por que você não escreve uma carta? Não tenta contatá-la de alguma forma?

– Por Marte, Jason! Por que eu faria isso? – Reyna diz tentando manter sua voz firme, mas Jason consegue pegar o momento de hesitação.

– Porque é o que você quer. – Os olhos azuis de Jason se chocaram contra os castanhos de Reyna. A garota crispou os lábios e o filho de Júpiter pôde perceber o receio percorrer o rosto bonito da amiga. – Juno meio que brincou com vocês, mas...

– O que Piper e eu tivemos foi uma farsa, Jason. – Jason pôde ver Reyna fechar os punhos, como se a simples menção do nome de Piper lhe causasse uma dor enorme. – Além do mais, romanos e gregos... – O rapaz pegou as mãos cerradas e as abriu, acolhendo-as entre as suas. Ele ofereceu a Reyna um sorriso leve.

– Ela gosta de você. E isso não tem nada a ver com seus ancestrais ou progenitores divinos. – Reyna retirou uma de suas mãos das de Jason e levou-a à cabeça. Jason reconheceu o sinal da luta interna que a pretora levava. – Dor de cabeça? – Ele perguntou e ela apenas assentiu.

– Ela achava que gostava de mim porque Juno manipulou a Névoa. – Reyna frisou a palavra ‘gostava’.

– Ainda assim: Vale a tentativa, não vale? – Jason a olhou inquisidoramente. Após uns segundos receosos, Reyna apenas assentiu.

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Reyna subia a colina até os templos. Ela foi até os templos. Sua intenção era ir até o templo de Belona, mas algo a atraíra para outro templo e Reyna só se deu conta disso quando estava disposta a frente da bela estátua de Vênus.

Reyna sentiu uma atração incontrolável e só foi se dar conta do que estava fazendo quando uma bela mulher surgiu de trás da estátua. Reyna se perguntou se ela estava sonhando.

– Você sabe? A ideia do púrpura ser uma cor para diferenciar os imperadores foi ideia de um dos meus filhos. – Reyna não precisava de nenhuma dica para perceber que estava diante da própria Vênus. A garota se ajoelhou, mas a deusa lhe sorriu. – Não, querida, erga-se.

Reyna fez conforme o pedido e continuou calada. Ela não tinha ideia do que estava fazendo ali ou o porque Vênus lhe aparecera. Quer dizer, ela não rezava a Vênus. Na verdade, ela não fazia ideia do que estivera fazendo pelos últimos meses.

Sua estadia no Acampamento Grego por vezes parecia uma ilusão, um sonho. Mas ela sabia que não, pois sempre algum Lar sussurrava ‘graecus’ perto dela. Como se para lembrá-la da desonra, do estigma vergonhoso.

– Minha querida, eu estou falando com você. Ah, essas crianças da guerra. – Vênus lhe olhava com curiosidade e ressentimento. Reyna achou melhor consertar aquilo. Não era bom manter uma deidade zangada.

– Desculpe-me, senhora. Não estava prestando atenção.

– Juno te confundiu tanto assim? – A deusa a encarava com seus olhos belos. Olhos que lembravam os de Piper. – Ou será que foi minha filha?

A filha de Belona sentiu suas bochechas ruborizarem e abaixou os olhos. Mas sabia que era estupidez. Assim como era estupidez esconder sentimentos da deusa do amor.

– Ora, não fique assim. Me perguntei quanto tempo demoraria até você me pedir ajuda, mas... Parece que me enganei mais uma vez. Tive de guiá-la até aqui.

– A senhora me guiou? Por quê? – Reyna a olhou assustada. Já era suficientemente ruim estar recebendo ‘atenção’ de Juno. Ela não precisava ser a ‘campeã’ de outra deusa.

– Mesmo que Juno tenha ficado contra mim na Guerra de Tróia... – Vênus continuou seu discurso, ignorando Reyna. – Mas, veja bem, minha querida Vocês me lembram Helena e Alexandre.

– Eu... Eu não entendo. – Reyna diz, confusa.

– Eles eram meus favoritos. Roma foi fundada por um troiano, campeã de Juno. Quem sabe, após milênios de disputas, não haja um pouco de paz, através do amor?

– Sangue troiano corre em suas veias, Reyna Arellano. Assim como sangue grego corre nas veias de Piper. É hora de... Consertar as coisas, eu acho.

A deusa desapareceu da maneira como tinha aparecido, deixando Reyna sozinha no templo. A pretora decidiu sair dali antes que alguém a pegasse e começasse a espalhar rumores. Mas, antes, Reyna notou um pedaço de papel deixado no chão. Era os restos de um mapa. Havia apenas um local demarcado. Long Island.

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Reyna partiu assim que a primeira luz despontou. Ela avisou a Jason para não botar fogo no Acampamento Júpiter enquanto ela estava fora. Alguns Senadores e Lares reclamaram da decisão aparentemente tomada sem pensar, mas ela os ignorou. Ela só disse que era uma missão.

Enquanto embarcava no trem com destino a Nova York, Reyna fingia prestar atenção à paisagem. Seriam quase dois dias de viagem, quase 5 mil quilômetros, mas ela estava disposta a pagar o preço. Juno lhe dissera que ela tinha uma missão no Acampamento Meio-Sangue. A deusa havia mexido com suas memórias, as roubado. Mas, como prometido, aos poucos, ela estava retornando.

E, para o amargor de Reyna, Piper não fazia parte delas. Foi um truque sujo da deusa. Um truque sujo da Névoa. Reyna fechou os punhos com força. Ela havia sido enganada! Piper havia sido enganada! Certamente, a garota, em seu estado normal, jamais sentiria nada por ela. Talvez asco, que, até então, era a única coisa que havia entre romanos e gregos.

A pretora percorreu sua tatuagem com os dedos. Ela redesenhou, invisivelmente, os traços da espada e da tocha, bem como as iniciais S.P.Q.R.

Senatus Populusque Romanus – A garota sussurrou baixinho, como se para lembrar quem ela era. Uma romana. Uma pretora. Mas, mesmo assim, se sentia assustada como uma garotinha. E, toda vez que ela pensava em Piper, sua insegurança aumentava ainda mais. Às vezes, Reyna sentia que ia desabar. Mesmo que seus compatriotas a tenham ‘resgatado’ do acampamento grego, mesmo que eles (tanto gregos quanto romanos) tivessem descoberto a trama de Juno, e agora a ‘paz’ estivesse sendo trabalhada lentamente, ela se sentia... Frágil.

Ela se lembrou dos olhos de Piper. Os olhos que não tinham uma cor definida, mas eram cheios de cores. Ela se lembrou da voz da garota. Um aperto lhe corroeu. Um gosto de ácido lhe preencheu a boca. Piper, ela pensou. E ficou com raiva de si mesma por isso. Ela era uma guerreira, não uma garotinha apaixonada.

Já faziam doze horas de viagem. Ela estava presa naquele vagão há doze horas. Poucas vezes ela se mostrava interessada em sair ou comer. Sua maior preocupação estava em Long Island. Ela não sabia como acharia o tal Acampamento. Nem sabia se Piper estaria lá ou se a recepcionaria bem. Reyna se repreendeu e recostou-se ao banco do vagão. O sono lhe pesando os olhos.

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Ela não teve tantas dificuldades para achar o Acampamento Meio Sangue. Afinal de contas, ela havia estado lá há pouco tempo atrás. Fora que, no caminho até Long Island, ela havia encontrado um fauno levando dois novos campistas. Ela os seguiu. Seria uma troca mútua. Os monstros estavam perseguindo os três há dias, e Reyna estava descansada além de ser uma boa guerreira.

Quando cruzou o pinheiro que demarcava as barreiras protetoras do Acampamento, Reyna sentiu algo estranho. Algo lhe dizendo para voltar. Que ela não era dali. Alguns campistas que faziam a patrulha foram receber os recém-chegados, mas alguns ostentavam certo receio ao ver a pretora.

– Reyna. – Uma voz se fez valer. Era a filha de Marte/Ares, Clarisse. – O que faz aqui?

– Missão. – Reyna disse simplesmente e torceu para Clarisse não captar sua mentira. Felizmente, os filhos de Ares não eram tão perspicazes em ler emoções.

– Reporte-se a Quíron. – Clarisse disse simplesmente e deu de ombros. Alguns campistas a olharam confusos. – Os romanos não são inimigos. Não mais.

Reyna apenas assentiu e foi até a Casa Grande. Ela se lembrou da primeira vez que havia conhecido o Acampamento Meio Sangue. Ela havia caído num lago, numa biga dourada guiada por pégasos. Uma filha de Afrodite lhe guiara pelo local. Ela pôde ver o ciúme estampar o rosto de Piper.

– Usando essa camiseta numa propriedade grega? – Reyna se assustou e levou a mão à cintura, onde sua gládio descansava. Mas relaxou ao ver uma garota de cabelos loiros e olhos cinzentos.

– Annabeth. – Reyna assente. Só então notara que ela vestia a camiseta roxa do Acampamento Júpiter. Não era de se admirar que os campistas gregos a hostilizassem. Ela, sem querer, havia cometido uma ofensa.

– Em outros tempos, lhe aconselharia a retirar essa camiseta, mas... Temos de nos lembrar que por enquanto não somos inimigos ou amigos. O que faz aqui? – A pretora sabia que não teria como mentir para Annabeth. Mesmo assim, ela não podia simplesmente sair entrando em território grego sem se reportar a algum superior.

– Vim ver Piper. – Reyna admitiu para a loira, que pareceu sorrir-lhe gentil. – Mas acho que deveria me reportar a Quíron primeiro e...

– Piper está treinando arco e flecha. – Annabeth a cortou. – Vou avisar Quíron que está aqui.

– Obrigada. – Reyna diz simplesmente e se retira com seu coração aos pulos.

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Quando viu Piper, seu corpo pareceu estar sob a uma pressão insuportável. Reyna descobriu que suas mãos estavam suadas. Ela observou, encantada, a garota endireitar uma flecha à corda. Ela notou a postura concentrada. Ela contou junto com Piper, sentindo a corda se tensionar e relaxar à medida que o projétil lhe abandonava, quase acertando o centro do alvo. Ela viu Piper pegar outra flecha do estoque.

Ela se aproximou tentando fazer o menor barulho possível, até ficar por trás de Piper. Gentilmente ela pousou as mãos no ombro da garota e sentiu ela se tensionar. Reyna não sabia, totalmente, o que ela estava fazendo. Não era de seu feitio se aproximar assim das pessoas. Mas aquela era Piper, e ela não estava tão disposta assim a lutar contra isso.

– Tensione menos a corda. – Reyna sussurrou contra o ouvido de Piper e sentiu a garota estremecer.

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Piper estremeceu ao ouvir a voz de Reyna. Fazia quase um mês que a pretora havia sido praticamente arrastada do Acampamento Meio Sangue por campistas romanos. Piper não gostou nem um pouco deles. Eles chegaram acusando os gregos de terem levado Reyna.

Só após uma longa conversa, com direito à aparição de deuses e muitas ameaças de uma nova guerra civil, eles haviam se convencido de que Reyna realmente estava lá voluntariamente. Quer dizer, não tão voluntariamente assim. Mas, ainda assim.

Ela permitiu a outra garota a lhe ajudar com o manejo do arco. Ela sentiu suas costas baterem contra o peito de Reyna. Piper se permitiu fechar os olhos para se concentrar. Ela podia distinguir as batidas do coração da pretora. E estavam cada vez mais rápidas.

– Assim. – Reyna lhe disse calmamente, sem desgrudar os lábios dos ouvidos da garota. – Agora solte.

Piper fez como lhe foi ordenado e soltou a flecha, vendo ela atingir seu propósito tão facilmente. Ela se virou e acolheu o olhar de Reyna com o seu próprio. A filha de Afrodite se permitiu sorrir e, após um momento receoso, viu Reyna lhe sorrir de volta.

– Olá, romana. – Piper diz.

– Olá, filha de Vênus. – Reyna lhe responde, sem desgrudar os olhos dos de Piper.

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O resto do dia se resume a um passeio em torno do Acampamento. A olhares tímidos e receosos e a pensamentos confusos. Hera havia plantado aquelas lembranças tão profundamente que era difícil Piper acreditar que seu relacionamento com Reyna era apenas uma ilusão. Era tão difícil que chegava a doer quando ela olhava para a pretora e via a bagunça que ela estava por dentro.

As garotas estavam sentadas em frente ao Punho de Zeus. Elas tinham suas costas voltadas contra a rocha. Uma suave brisa cortava a terra. Piper se arriscou a olhar para Reyna. A romana tinha os olhos fechados e uma expressão tranquila.

– Então... – A garota chama a atenção da filha de Belona. Reyna a encara com os belos olhos castanhos. Piper pôde distinguir medo neles. – Você ainda não me disse o motivo de sua visita. – Reyna se silenciou e Piper se reprimiu. Péssima coisa a dizer.

– Eu vim... – Após um tempo, Reyna decide falar. – Eu vim te ver. – A garota diz e parece que uma tonelada lhe cai dos ombros. Piper sente seu coração querer sair do peito.

– Me ver? – A filha de Afrodite arregala os belos olhos, se sentindo incapaz de pronunciar algo a mais. Ela não sabia o que dizer. Seu peito parecia querer explodir. Sua mãe lhe dissera para ser paciente, e parecia que agora ela entendia o por quê.

– Eu... Me desculpe, eu não... – Reyna se embolou com as palavras. Talvez, Piper tivesse caído na real e desistido do falso relacionamento delas. – Eu sei que foi culpa da Névoa, mas...

A pretora se embolava cada vez mais com as palavras, mas Piper sabia o que estava prestes a sair dali. Sem pensar, ela segura o rosto de Reyna entre as mãos e cola seus lábios.

De início, Reyna se assusta com a reação de Piper, mas depois se sente aliviada. Ela segura a cintura da outra e a traz mais perto. O corpo de Piper parecia se encaixar tão perfeitamente contra o seu. Ela podia sentir as batidas do coração da outra quase tão furiosas quanto a de seu próprio.

As garotas se beijam por incontáveis minutos. Eram beijos tímidos e, por vezes, desengonçados, mas que acalmavam seus pensamentos dos últimos meses. Reyna tinha tanto medo de Piper lhe rejeitar, da garota se sentir com raiva por ter sido enganada por Juno, que apertava a garota cada vez mais em seu abraço. Como uma garantia para Piper não fugir. Por ser filha de Afrodite, Piper podia notar as entrelinhas nas ações quase desesperas de Reyna.

– Calma, pretora. Eu não vou a lugar algum. – Piper lhe diz após se libertar dos lábios exigentes. Reyna solta um suspiro de alívio e recosta sua testa na de Piper. Ela tentava ler tudo que percorria aqueles olhos que mais pareciam um caleidoscópio. Mas ela sabia que ela não era tão boa assim com emoções.

Ela agradeceu silenciosamente a Vênus antes de beijar os lábios de Piper mais uma vez, tentando distinguir todos os sabores que havia na boca da garota. A filha de Afrodite se reclina cada vez mais até ter seu corpo deitado contra a grama. Reyna a segue. Como um soldado obediente, ela a segue.

Porque, no fim das contas, era tudo que ela era. Uma guerreira apaixonada. E nem mesmo os deuses sabem o que um coração com propósito é capaz de fazer. Talvez a deusa do amor tivesse uma pista, mas talvez, até mesmo para Vênus, o coração de uma filha de Belona ainda era uma caixinha de surpresas.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Aguardo os reviews!
Beijos!