Corações Convergentes escrita por Anníssima, Willie Mellark


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, não vamos esconder que estamos super ansiosas com esta fic.

Como havíamos dito em Divergente - por Tobias Eaton, postaríamos um final alternativo para Convergente e aqui estamos com o prólogo.

Estamos nos esforçando para fazer algo que vcs apreciem e acompanhem...

Por favor, comentem e nos passem suas impressões sobre a estória.
Beijos cintilantes!!! ;D



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O cheiro de especiarias, ferrugem e sangue que escorre em um fio vermelho, escuro e denso impregna todo o local. Tudo está estranhamente silencioso como é típico daqueles momentos após uma grande tempestade, como se uma pequena fração de mundo tivesse ruído entre estas paredes. A dor, o medo e as incertezas se foram. Dois disparos intercalados por agonia marcaram - em som - que o tempo tinha se esvaído, fazendo restar apenas o vazio naquela sala que abriga o corpo pequeno e aparentemente frágil da rebelde que nunca permitiu que lhe controlassem.

Tris, que passou seus anos medindo seus passos e até pequenos movimentos no setor da Abnegação, nunca foi capaz de impor os mesmos limites à sua mente ativa e espírito livre. Tris, que se tornou livre em corpo, no Complexo da Audácia, nunca pôde esconder o altruísmo que molda sua personalidade e faz parte de sua natureza. Tris, a mais Divergente entre todos os divergentes, a garota sem facção, que mesmo após tantas perdas encontrou o verdadeiro sentido e significado para o auto-sacrifício, lutou mais uma batalha até o momento em que seu copo permitiu...

Caleb e Matthew estavam próximos, mas não próximos o bastante para perceber que a duas silhuetas destoantes uma da outra se aproximavam do corpo que jazia no chão.

_ Ora, ora, ora... Se não é a namoradinha de Tobias Eaton. - Diz o homem corpulento de idade que beirava aos cinquenta anos, com uma cabeleira grisalha e várias tatuagens marcando a pele bronzeada do pescoço e dos braços como um sinal claro de que era um degredado da Audácia, um dos que foram descartados após atingir inutilidade etária. - Acho que deveríamos comunicar Evelyn o quanto antes. Pelo que sei o conflito armado é inevitável, talvez esta garota valha de alguma coisa em momentos de crise como este. Uma barganha utilizando ela poderia ser feita.

_ Deixe-a aí. Ela foi baleada, está pálida e imóvel. A garota está claramente morta. Devemos ir embora desta cidade o quanto antes. As coisas tendem a piorar e você sabe que tem outras pessoas aqui perto. Não corremos tanto para morrer aqui. - Um rapaz mais jovem e franzino dizia com a voz aguda e tremelicada, as mãos oscilantes de medo. Suas palavras e ações indicavam que ele era mais um produto de uma transferência malsucedida de um filho da Franqueza para a Audácia.

O mais velho deles que possuía uma tez que no mínimo inspirava desconfiança aproximou seu rosto a ponto da barba que ostentava roçar o rosto inerte de Tris. Ele conseguiu sentir o fio de uma respiração lenta e quente. Ela estava viva e ele a queria, certo de que algo ganharia levando-a consigo.

_ Ela está viva. Vou carrega-la até aquele prédio abandonado pelo qual passamos à uma milha atrás. Dê um jeito de avisar a Evelyn de que a Careta do Tobias está comigo naquele local e que estamos dispostos a entrega-la por benefícios ou, dependendo de quem vencer isto ao final, em troca de altos postos no novo governo. - Ele diz ao outro rapaz, que mesmo relutante acerca do plano, estava ciente de que não poderiam ir muito longe sozinhos e sem provisões. Além disso, se os sem facção conseguissem manter o regime que pretendiam seria bom ter um favor em conta para cobrar no momento oportuno.

✝✝✝✝✝✝

Ele supunha que havia se passado muito mais de uma hora desde que chegara naqueles que não passavam de destroços de um edifício que algum dia abrigou pessoas de importância há anos atrás. Não que ele se importasse com o passado, sendo que sequer pensava nos conflitos políticos que tomaram uma proporção gigantesca nos últimos meses. O fato é que este sistema de facções foi o único que conheceu na vida, mas sabia que vários antes dele vieram, se consolidaram, foram rechaçados e substituídos por outros. Era da natureza humana o descontentamento.

Apesar de estar perdido em seus pensamentos, ele não deixou de notar que uma mulher familiar caminhava em sua direção com passos firmes e decididos. Evelyn. A mulher que, a seu ver, não possuía nenhuma célula de bondade que pudesse justificar a escolha pela Abnegação. Ela seria um perfeito membro da Audácia.

_ Bem, o que você tem para mim? E, o que quer em troca? Tenho pressa. - Evelyn é direta e usa de seu costumeiro tom de superioridade ao falar e, mesmo que ela tenha tentado transparecer indiferença, o simples fato de ter ido àquele encontro e o leve brilho em seus olhos ao repousarem sobre Tris deitada no chão indicavam que havia muito interesse da parte dela na garota.

_ Você sabe o que eu tenho e foi informada do que eu quero. Simples.

_ Pois bem, acabamos de selar a paz porque não havia outro caminho a ser tomado. Todos são como sem facção agora, mas não serei uma líder e nem terei poder para distribuir postos. Entretanto, tenho interesse somente nos dados genéticos desta garota. Se me deixar extrair sangue e medula de sua coluna eu o recompensarei com, digamos, espólios, que obtive durante a tomada de poder dos sem facção. - Evelyn percebe que o homem não está satisfeito e, portanto ela arremata. - É o melhor acordo que você pode obter neste momento. Olhe para ela. Não aguentará muito tempo e preciso do sangue e da medula enquanto substâncias vivas. Se demorar, ela morrerá e não terá serventia para mim ou para você.

_ Tudo bem. - Ele diz. - Faça o que tenha que fazer logo.

Evelyn se aproxima e faz exatamente como lhe foi dito. Agora que ela havia se acertado com Tobias, não iria expô-lo à péssima influência que a garota representava. Tris a odiava e tornaria o relacionamento dela com o filho insuportável, considerando que Tobias era apaixonado por ela, mesmo que ela nunca tivesse entendido as razões deste sentimento forte ser direcionado justo àquela menina tão sem graça.

Com um último olhar de nojo ela se vira de costas para o corpo de Tris.

Tris estremece levemente. Ela conseguiu captar algumas palavras emboladas, ditas como que atrás de uma grossa barreira que impedia um completo entendimento. Seu corpo estava entorpecido e tudo lhe chegava feito uma névoa disforme e confusa. Era estranho porque mesmo assim ela conseguiu reconhecer um timbre, um jeito de falar.

_ Agora, você trate de leva-la para o local onde a encontrou. Após deixa-la, coloque fogo em tudo e se certifique de que nada, absolutamente nenhum rastro dela tenha sobrado na face da Terra. E quando Evelyn já se encontrava próxima a saída disse:

_ Tenha uma boa partida Tris. Seja corajosa. Não é assim que diziam em sua tão querida Audácia? Eu mandarei saudações para Tobias. Não se preocupe com ele. Ele tem uma mãe com quem contar e você já serviu ao seu objetivo.

E assim ela se vai com um sorriso nos lábios, e uma parte de Tris nas mãos.

✝✝✝✝✝✝

Quando a morte chega, ela geralmente não é esperada ou recebida de braços abertos, mas cada um tem o seu tempo marcado para construir sua história, sendo ela muito longa ou curta. Ela chega rápida ou lenta e sempre deixa lágrimas e corações partidos após seguir seu caminho. Em menos de um ano, Tris teve mais experiências de quase morte do que em toda sua vida. Na última antes dessa, quando ela sabia que Tobias se encontrava próximo dela na Erudição, Tris percebeu que queria viver.

Ela queria viver.

Ela tentaria viver.

Ela sentiu seu corpo ser carregado por duas vezes e agora estava novamente presa em um galpão completamente ferida e cansada demais para lutar e pelo que entendeu havia sido deixada ali para morrer. Entretanto, uma força maior gritava dentro dela e levava energia para suas veias pulsantes. Por mais que tudo em si clamasse por paz e descanso, dois rostos a faziam manter uma semi-consciência.

Tobias e Caleb.

Ela não queria deixa-los. Chegou a dizer isso para o irmão quanto a Tobias, mas o fato é que ela sofreria em deixar Caleb também. O amor que tinha por eles possuía raízes longas e grossas.

Vamos, vamos... ela balbuciava para si, arrastando-se para o lado oposto do calor. Lembranças de Tobias, Uriah, Caleb, Zeke, Marlene, Lynn, Chris, Natalie, Andrew, Will rodavam em sua mente, e cada vez estava mais cansada. Suas pálpebras a traíam, pois se fechava a qualquer respiração.

Will me perdoe... eu não... eu não queria!

Um ruído.

Um simples ruído, que se não viesse acompanhado de uma grande claridade e barulhos infernais, nunca se saberia que o fim estava próximo. Tris encolheu-se em seu sofrimento. A bala alojada queimava seu corpo com pontadas agudas em todas as partes, e na angustia da morte iminente, fechou os olhos e foi lançada para o outro lado do galpão através da janela que, por sorte, estava aberta. Contudo, não deixou de ser um impacto demasiado forte para o seu corpo já tão machucado.

Todo o galpão estava em chamas e dava para ouvir o barulho estrondoso de vigas sendo consumidas pelo fogo, vidros estourando e as brasas ardentes crepitando. Tudo gritava naquele edifício que ele viria ao chão em questão de minutos. O cheiro que predominava era o de morte e destruição. Uma mistura que Tris sentia na pele, seus olhos se abriram embaçados, visualizando o que parecia ser o último cenário que viria em vida.

_ Beatrice! - Uma voz masculina, grita completamente entregue ao desespero.

Caleb surge correndo com lágrimas saltando de seus olhos. Seus pensamentos mergulharam em um mar de tristezas e angustias ao ver sua irmã ensanguentada e indefesa. Ele joga a arma que trazia em punho para longe e cai de joelhos ao lado dela.

_ Eu vou cuidar de você. - Ele dizia enquanto verificava a pulsação de Tris. - Fique comigo. Era para eu ter ido. Você não pode me deixar sozinho. Não vai fazer isso comigo.

_ Caleb? - Ela sussurra de forma quase que inaudível, soando mais como um gemido inconsolável de dor.

Caleb passa o braço entorno de Tris, tomando o cuidado para não encostar nas feridas causadas pelas balas. Tris não consegue dizer nada. A batalha interna pela própria vida está mais forte que qualquer palavra.

Assim que Tris encontra-se pronta, Caleb a ergue com dificuldade, e anda com passadas largas para fora daquele lugar.

Tris tenta a todo custo manter os olhos abertos, mas sua força é levada por uma dormência e o sono devorador a consome lentamente, afinal, ele é convidativo e calorosamente sereno para suas dores de cabeça. Pequenos feixes de luz atravessavam pelas cortinas de seus olhos e palavras flutuavam incompreensíveis em seus ouvidos.

_ Beatrice, aguenta. - Caleb sussurra.

Cada passo dado era uma dose de renovada esperança para Caleb. Ele a conduzia para o que restou do hospital da Erudição. Lá haveria alguém que poderia ajuda-la. Deviam isso a ela. Eles chegariam logo e tudo ficaria bem. Era o que Caleb repetia para si mesmo.

O que Caleb não notou é que Tris tinha entrado num túnel de escuridão que, com angústia, pôde somente sentir quando o corpo da irmã amoleceu ainda mais em seus braços.


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