SAM –

Sam havia acabado de sair do vestiário pensando que estava satisfeito em entrar para o Glee depois de uma conversa com Finn, o quarterback, sobre essa possibilidade. Quem sabe poderia conhecer pessoas legais nessa escola com tanta má fama? Seus pensamentos foram interrompidos quando sentiu um líquido extremamente gelado atingindo seu rosto. O frio foi descendo até a boca e Sam sentiu o gosto de morango enquanto a slushie escorria pelo seu dorso, deixando o loiro com frio.

“Bem vindo ao Glee Club, lady lips!” Disseram alguns jogadores de futebol, rindo as custas da brincadeira de mau gosto que acabaram de aplicar. Sam estava mortificado. Sentia-se humilhado e sujo, pois a slushie descia por entre suas roupas e grudava na pele e nos pelos. Sam nem queria imaginar seu cabelo. Depois se lembrou triste de que não teria como se vestir. Não havia trago roupas extras e tinha acabado de sair do banho. Nesse instante, alguém falou.

“Hey, você está bem?” A voz era masculina e expressava preocupação, mas Sam estava irritado. Estava sujo e humilhado, então naquele momento esqueceu-se da educação que recebera de casa.

“Eu pareço bem para você?” Perguntou, estressado. Sam não pode ver com quem falava porque não tinha coragem de abrir os olhos e arriscar que lá entrasse alguma coisa.

“Deixa eu te ajudar.” O garoto desconhecido disse novamente, pegando a mão de Sam. O loiro se surpreendeu por esse ato de gentileza e imediatamente se sentiu arrependido por ter sido rude a momentos atrás.

“Obrigado, você não precisava.” Sam cochichou, encabulado.

“O prazer é meu.” O garoto disse, provavelmente sorrindo. Sam ainda não podia dizer. Andaram pelo corredor de volta ao banheiro, até que pararam. Sam sentiu a mão se afastando e percebeu através de sua ausência que ela era bastante confortável. Quente, forte e macia ao mesmo tempo. Sam poderia segurar essa mão durante algum filme de terror inteiro e não reclamaria. Ouviu o som de uma torneira se abrindo e tateou até encontra-la. Sam encheu as mãos de água e as levou ao rosto. Uma, duas, três vezes. Depois disso piscou algumas vezes e, ao olhar para trás, descobriu com quem estava falando. Era um garoto do Glee, Sam reconheceu. Blaine? Sim, era ele. Cabelo emprastado de gel, baixinho e bem vestido.

“Aqui, vem aqui enquanto eu limpo seu cabelo.” O garoto disse, entregando a Sam um frasco de xampu e um pente. “Segura isso e abaixa a cabeça.” Sam obedeceu, sem questionar nem um comando do rapaz. Blaine parecia ter experiência com esse tipo de situação. Por que mais carregaria xampu na mochila?

A agua corria pelos cabelos loiros de Sam e os dedos de Blaine retiravam com eficiência todos os resquícios de gelo e slushie de morango da cabeça do rapaz. Sam se sentiu bem por um momento, apreciando a sensação de receber cuidados de um desconhecido altruísta. Em seguida Blaine passou a toalha para tirar o excesso de água, mas manteve os cabelos molhados para que Sam os secasse da forma que preferisse.

“Pode levantar agora.” Blaine disse, após terminar a limpeza. Sam levantou e se olhou no espelho. Sorriu ao ver o cabelo e o rosto limpos, mas sua camisa estava arruinada. Blaine notou o olhar de Sam quando o loiro entristeceu ao ver a roupa suja.

“Tira a camisa.” Blaine disse.

“O que?” Sam perguntou sobressaltado.

“Qual é, eu não vou te assediar, confia em mim.” Blaine disse sorrindo, estendendo a mão em um gesto para Sam tirar a camisa.

“Oh, não é nada disso.” Sam riu, mas tirou a camisa. Ele não tinha medo de ser assediado por Blaine. Poderia facilmente resistir e, além disso, o garoto não parecia capaz de fazer mal a ninguém. Na verdade Sam não era muito seguro de sua aparência, mas Blaine parecia irradiar essa aurea de confiança e segurança.

Sam não viu Blaine corando levemente perante o corpo malhado do loiro. Blaine disfarçou logo em seguida, retirando da mochila uma camisa limpa para Sam.

Sam a vestiu. Estava um pouco apertada, mas servia para passar o dia. O rosto do garoto ainda estava levemente melado então o loiro decidiu lavar mais uma vez. A mão de Blaine estava novamente em seus cabelos, afastando-os da água enquanto Sam se lavava. Sam não tinha motivo para reclamar daquele toque.

“O sabor de amora é o pior. Especialmente se desce para a sua roupa de baixo. Eu fiquei parecendo uma daquelas criaturas de Avatar lá em baixo quando me lançaram essa slushie.” Blaine disse, rindo da lembrança, para quebrar o silêncio.

Sam não pode evitar e também sorriu.

“Eu vi avatar umas seis vezes.” Sam disse enquanto Blaine secava seu rosto.

“Eu também!” Blaine disse radiante. “Na verdade acho que vi mais vezes.” Disse pensativo. Sam gostou ainda mais do moreno. Gentil, simpático e fã de Avatar. Sam via o início de uma grande amizade. “Enfim, você se acostuma.” Blaine continuou, referindo-se às slushies e se afastando um pouco de Sam.

Sam não gostou, queria continuar próximo ao garoto.

“Você não precisava ter me ajudado, por que se importou?” Sam perguntou curioso, aproveitou para se aproximar do rapaz. “Quero dizer, você é muito legal, não precisa do Glee Club.” Sam conhecia Blaine de reputação. O rapaz estava em vários clubes da escola, clubes mais socialmente aceitos que o Glee.

“Eu gosto de cantar.” Blaine disse simplesmente, voltando a passar a toalha no cabelo do loiro. “E o fato é que eles me ajudaram ano passado quando eu não estava no topo.” Blaine disse, sério e mexendo no cabelo de Sam, agora com as mãos. Sorriu ao encontrar os olhos verdes do loiro e disse. “Qual a razão de ser popular se não pode fazer o que quer?”

Sam não ouviu essa última parte. Ficou preso no olhar do moreno. Nunca havia visto olhos como aqueles. Âmbar? Mel? Não sabia dizer, eram olhos lindos e singulares. Olhos que acalmavam, mas mostravam um turbilhão de emoções de tão intensos que eram. Sam só pode pensar em uma coisa a dizer.

“Lor menari.” Sam disse. Blaine não entendeu. “Significa ‘Você tem lindos olhos’.” Blaine corou levemente.

“Você fala na’vi?” Perguntou surpreso, esquecendo o elogio que havia recebido.

“Bem legal, não é?” Sam disse, orgulhoso de si mesmo.

“Super legal!” Blaine disse entusiasmado. “Você tem que me ensinar qualquer dia desses.”

Sam sorriu. Se isso significava que ia passar mais tempo com o rapaz, tudo ótimo!

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BLAINE –

Depois de ajudar Sam no banheiro, Blaine andava sorridente pelo corredor. O sinal havia tocado e os garotos se despediram, mas não antes de trocarem telefones e “até mais”. Sam parecia ser um ótimo garoto, mas Blaine não sabia se ele era hétero ou gay. Aquele comentário sobre os seus olhos... Não. Blaine não ia criar esperanças. Pelo menos não até ter certeza do que estava acontecendo. A pior coisa que poderia acontecer era um coração partido por um amigo hétero. Não, isso não aconteceria.

Talvez por andar com muita confiança pelo corredor, o garoto chamou atenção de alguns jogadores de futebol com a mente mais atrasada que o resto da humanidade. “Como esse viadinho tem coragem de andar tão feliz por aí?” pensaram os Neandertais.

Os mesmos rapazes que atacaram Sam, agora tinham Blaine como alvo desta vez.

O garoto levou um susto quando dois pares de mãos o empurraram com força nos armários. Sentiu uma forte dor nas costas com a colisão e ficou assustado com a violência.

“Por que esse sorrisinho, fadinha?” falou o mais alto. Blaine estava com medo demais para responder.

“Você acha que pode andar assim no nosso corredor?” perguntou o outro. Blaine não conseguiu reagir. Estava preso entre os armários e os dois brutamontes. Não via saída e não conseguia pedir ajuda. Com sorte, a ajuda chegava naquele instante. Santana Lopez, uma velha conhecida do Glee chegara em seu encalço.

“O que vocês acham que estão fazendo assediando os fracos e indefesos no corredor? Será que vocês são tão patéticos que não sabem lidar com alguém em tamanho e número igual ao de vocês?” A garota disse, se colocando entre os agressores e o colega de coral.

“Sai fora Santana, isso não é assunto seu” disse um deles, com raiva pelo insulto.

“Eu não dou a merda pelo que você pensa que é ou não assunto meu. Agora se você não quer que eu conte ao diretor o que eu vi aqui, é melhor sair em três segundos.” E com isso os agressores se assustaram e se afastaram, não sem a promessa de que voltariam para Blaine em um outro dia.

Blaine respirou fundo.

“Você está bem, Frodo?” Santana perguntou. Blaine ouviu uma preocupação real na sua voz.

“Sim. Graças a você.” O rapaz disse. “Obrigado. Mas... posso saber por que me ajudou?” Santana tinha fama de ser má e cruel com as pessoas.

“Existe uma diferença enorme entre ser uma vadia como eu e ser covarde como aquelas duas chupetas de baleia.” A latina disse dando de ombros. “E eu meio que gosto de você. Você é talentoso, mas não é um pé no saco como a Rachel.”

“Obrigado.” Blaine respondeu surpreso.

“Ah, de nada, mas se você contar isso pra alguém eu vou negar até a morte.” A menina disse. Em seguida riu e colocou os braços nos ombros doloridos de Blaine e começou a andar em direção à sala de aula que os dois compartilhariam no próximo período.

“Olha, eu sei que não sou a melhor pessoa do mundo, mas eu não sou cega. Eu sei ver meus limites e aqueles caras já ultrapassaram o limite há muito tempo.” Ela disse, arrastando Blaine com ela. “E, além disso, eu quero mudar. Não quero ser uma pessoa boazinha e cega que será pisoteada pelos pés gordos e fedidos do mundo. Mas quero ser uma pessoa melhor porque encontrei alguém pelo qual mudar.”

Wow. Blaine não sabia como reagir à mudança de espirito da famosa Santana Lopez.

“E você esta me contando isso porque...?” Blaine comentou, parando na porta da sala de aula.

“Eu disse. Eu gosto de você, Harry Potter. Acho que podemos ser amigos.”

“Bem, você me conquistou no Harry Potter.” Blaine disse, com um sorriso. Santana sorriu de volta e os dois entraram na sala de aula.

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Hunter Clarington observou do corredor Blaine e Santana trocarem sorrisos e entrarem na sala como amiguinhos de infância. Não suportava ver aquele brilho de felicidade nos olhos de Blaine. Blaine sempre teve tudo, sempre conquistou a todos e sempre deixou Hunter para trás. Agora era hora de mudança, e Hunter estava disposto a atrapalhar todos os planos de Blaine para que a mudança chegasse.

CONTINUA