A Nova Vida de Anne escrita por Biju


Capítulo 6
Tell me everything




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/497472/chapter/6

Terminei de assistir aquela filmagem e em seguida assisti outras com o mesmo título, queria saber como era o meu inimigo literalmente! A cada filmagem eu ficava mais impressionada comigo mesma, era uma mistura de romantismo com filme pornô. Eu não acredito que um dia eu fui capaz de filmar uma cena intima com alguém, ainda bem que aquelas filmagens ficaram comigo e não com ele, Maurício poderia ter ficado revoltado com o nosso término e colocar uma daqueles filmes caseiros na internet, e então adeus reputação de “arrasa corações” da antiga Anne.

Fiz um almoço rápido – macarrão era a coisa mais rápida em que pensei – praticamente engoli a comida e fui direto ao hospital. Tive que pegar um táxi, já que meu carro não estava funcionando e eu não tinha tempo e muito menos dinheiro para resolver aquilo. O dia por incrível que pareça estava bem ensolarado e eu estava nervosa. Não sabia como falar para o doutor Hudson que me “lembrei” de quem ele era. Será que ele me ajudaria ou me mandaria um foda-se se vira? Bom... Ele não poderia fazer isso já que estava me ajudando com o tratamento, não é mesmo? Seja o que Deus quiser!

Paguei a corrida ao taxista e fui direto para a recepção do hospital, a recepcionista disse que me chamaria assim que o doutor Hudson permitisse a minha entrada. Fiquei sentada em uma cadeira por ali, mas nada me tranquilizava, o meu nervosismo só aumentava. Felizmente depois de alguns minutos minha entrada foi autorizada, pensei duas vezes e abri a porta do consultório, e como sempre o zumbi me olhava de forma tediosa e pediu para que eu me sentasse.

– Como está senhorita Johnson?

– É Miller.

– Senhorita Miller – Ele me encarou.

– Estou bem...

– E a sua memória?

– Na noite passada surgiu um flashback, mas nada de importante.

– Certo... Tem sentido algum mal estar?

– Depois daquela “visão do passado” – Fiz as aspas com os dedos – Senti muita dor de cabeça.

– Certo... – Ele anotou alguma coisa em um papel com o logotipo do hospital – Vou receitar um remédio que pode contribuir com a volta da sua memória – Me estendeu a folha e eu a peguei.

Fiquei o encarando por algum tempo e notei que ele encarava com certa curiosidade e espanto a bendita aliança que eu ainda não consegui tirar do meu dedo.

– Maurício... Me ajuda!

– Como? – Ele empalideceu mais ainda.

– Eu sei, eu vi as fotos, os vídeos, eu sei – Ele não sabia o que dizer, nem eu sabia como dar continuidade aquela conversa maluca, senti meus olhos marejarem e apelei para uma carinha fofa que eu sempre fazia no vídeo quando queria algo dele.

– Eu... Anne... – Ele realmente não sabia o que dizer.

– Só me diga tudo o que sabe sobre mim, eu preciso disso – Arrisquei em tocar as suas mãos e ele não hesitou, já era um bom começo.

– Não aqui. Falta meia hora para o término do meu expediente, fique no restaurante do hospital e eu te encontro lá.

Eu apenas concordei com a cabeça me retirando da sala, mas antes de fechar a porta olhei pra trás com um sorriso de canto e sussurrei:

– Obrigada.

Não esperei para ver a sua reação e fui direto para o tal restaurante que ele me falou, eu não estava com fome, mas para não ficar chato acabei pedindo um cappuccino. As horas pareciam não passar, até que recebi uma mensagem.

Acabei de sair do trabalho, quer fazer alguma coisa?
Tisha

Desculpa, tenho uma consulta daqui meia hora.

Não poderia dizer a ela que estava me encontrando com meu ex, pelo menos não por enquanto. Eu precisava entender tudo o que tinha acontecido para depois pedir opinião da minha melhor amiga sobre o que fazer. Se é que eu deveria fazer algo para mudar as coisas.

Achei uma vaga de emprego que você vai gostar, já que provavelmente você não está procurando nenhum.
Tisha

Ri da mensagem, ela estava certa. Eu estava me afundando em dívidas e nem tive o trabalho de procurar um emprego, nem que fosse de empregada doméstica.

O que seria?

Não é bem uma vaga, é um teste para entrar em uma peça.

Que?

Suas aulas na faculdade de artes cênicas iriam servir para alguma coisa, não acha? Amanhã eu passo ai na sua casa e conversamos melhor sobre isso.

Acho melhor mesmo.

Então o que eu queria mesmo era atuar? Interessante... Isso me fez lembrar o que a minha mãe havia me falado no telefone: Lembra-se de quando você fazia peças de teatro no seu quarto e fazia convites de papel para todos daqui de casa assistirem?”Sua voz ecoou na minha mente. “E dizia que um dia estaria na Broadway”.

Fazer esse tal teste não seria uma má ideia, mas pra eu me sair bem eu teria que me lembrar de como eu fazia isso nas tais aulas da faculdade, o que me traria mais dor de cabeça e mais memórias que eu faria questão de esquecer.

Maurício apareceu na minha frente e fez sinal para que eu o seguisse, assim fiz. Estávamos saindo do hospital e indo direto para o estacionamento subterrâneo, eu quis perguntar para onde estávamos indo, mas achei melhor ficar em silencio e ver o que ia dar. O que de mal poderia acontecer?

Ele abriu a porta do passageiro para que eu entrasse e depois de fechá-la abriu a do motorista, fomos em silêncio até o seu apartamento, que não era muito longe dali. Eu encarava os meus dedos e a bendita aliança, tentava tirar de vez em quando, mas parece que ficou presa ali. Ele percebeu a minha frustração, pois de vez em quando tirava sua atenção da rua para me olhar.

– Chegamos – Ele disse me fazendo sair do carro.

Era um condomínio bem luxuoso. Fomos caminhando em silencio até o elevador e ele apertou o último botão, ou seja, ele morava na cobertura. Engoli seco. Estava começando a me arrepender de ter vindo até a casa dele. Mas respirei fundo e entrei em seu apartamento. A parede era pintada em tons claros, assim como a cor dos móveis. O hall de entrada era aconchegante e convidativo, segui-o até a sala que era grande para uma pessoa que morava sozinha – pelo menos era o que eu achava, mas não seria sem noção de perguntar – ele fez sinal para que eu me sentasse e em seguida se sentou ao meu lado.

– Bela casa – Falei por falta de assunto encarando o lustre chamativo.

– Você costumava gostar daqui – Disse me encarando, pelo visto ele queria logo acabar com aquele assunto.

– Como me conheceu? – Ele deu um sorriso de canto olhando para o nada.

– Na faculdade. Eu cursando medicina e você artes cênicas. Esbarramo-nos na porta da sala de reunião no seu primeiro dia de aula, perdi a conta de quantos palavrões você me xingou naquela hora – Ele riu parecendo recordar aquele momento.

– Pelo visto eu era realmente uma pessoa difícil de lidar.

– Sempre foi. Mas nós dois nos conectávamos de um jeito indecifrável.

– E porque terminamos? – Perguntei num fio de voz.

– Não gosto de tocar nesse assunto – Ele se levantou indo em direção ao bar e encheu um copo com uísque.

– Mas precisa – Me levantei indo em sua direção – Você disse que me ajudaria – Ele ficou pensativo por um tempo, mas logo voltou a se sentar no sofá.

– Foi um dia depois do nosso noivado. Sua família tinha vindo de longe para a festa onde eu a pedi em casamento, ficariam uma semana na nossa casa... Minha atual casa. Nesse dia eu estava terminando de tomar banho quando você apareceu no banheiro me levando para a cama, o resto você já deve imaginar o que aconteceu.

– Tá, eu terminei com você porque queria que você fosse pra cama comigo?

– Como eu ia dizendo – Ele fez uma cara de tédio pela minha interrupção – Quando terminamos o que estávamos fazendo, você entrou no quarto. Foi ai que eu me toquei que não tinha transado com a Anne e sim com a...

– ANGÉLICA! – O interrompi.

O olhei incrédula, como minha irmã poderia ser tão vadia para chegar a esse ponto? Acho que entendi o porquê nunca gostei dela.

– E você foi tão burro assim de me confundir com a minha irmã?

– Até a sua mãe confundia. Vocês são gêmeas.

– GÊMEAS? EU TENHO UMA CÓPIA DE MIM VADIA?

Eu andava de um lado pro outro na frente de Maurício, não sabia o que dizer o que pensar e muito menos o que fazer. É claro que eu terminaria com ele depois de saber que ele e minha irmã foram pra cama juntos, era óbvio, mas será que eu não quis escutar a sua versão da história? Por isso eu o odiava tanto? E porque eu menti para a minha melhor amiga sobre isso? Vergonha talvez?

– Anne, se acalma – Ele levantou segurando os meus braços.

– Eu... – meus olhos já estavam marejados – Não... – O encarei – Me desculpa Maurício – E foi aí que eu comecei a desabar em lágrimas.

Estava confusa, odiando minha irmã, me odiando por ter estragado um relacionamento por causa de um mal entendido. Estava com pena, pena porque fui traída, pena do Maurício. E foi nesse momento que tudo na minha frente se apagou e acendeu rapidamente. Eu estava no corredor da casa do Maurício indo em direção a uma porta, mas outra eu estava a minha frente e a abriu. Cheguei mais perto para ver o que a fez ficar paralisada na frente da porta, era Maurício e uma cópia vadia minha.

– Anne? – Maurício perguntou assustado, olhando para a que estava em seu lado na cama e depois para a que estava parada na porta.

– Oi maninha – Angélica sorriu maquiavelicamente.

A antiga Anne continuou imóvel perto da porta, chorava silenciosamente. Quando Maurício tentou aproximar-se dela, ela simplesmente deu um tapa na sua cara.

– EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ FEZ ISSO COMIGO! – Ela gritava deixando as lágrimas caírem de seu rosto.

– Anne, eu... Eu não sabia! – Ele tentava arranjar algum argumento para explicar o motivo daquela cena, mas estava tão assustado que as palavras não saiam.

– Você disse que me amava! – Ele tentou falar algo mas ela continuou – Eu ODEIO você, ODEIO VOCÊS – dessa vez olhou para a irmã que se cobria com o lençol com uma cara de tédio – Vocês não existem mais na minha vida.

A mesma saiu do quarto batendo o pé, Carmen – minha mãe – saiu de um dos quartos perguntando o que ouve, mas a única coisa que conseguiu foi levar um empurrão da filha que foi porta a fora. Maurício gritava alguma coisa com Angélica, Angélica gritava com Carmen e vice-versa, mas eu não conseguia escutar nada, as vozes ficavam mais abafadas e em seguida tudo ficou preto e clareou repentinamente. Maurício me olhava preocupado.

– Anne?

Foi o que eu escutei antes de apagar novamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Acho que esse capítulo saiu pequeno e deixarão vocês um pouco confusos, mas prometo que mais pra frente tudo ficará mais claro. Quero agradecer mais uma vez os comentários, as pessoas que estão acompanhando e que favoritaram a minha fic. Kisses!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Nova Vida de Anne" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.