A Nova Vida de Anne escrita por Biju


Capítulo 13
Guilt and Fear




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Fui despertada por Mike lambendo os dedos do meu pé, assim que me acordou veio se aninhar a mim. Logo uma Lucy ciumenta pulou na minha barriga tentando disputar minha atenção. Olhei para o relógio em cima do criado mudo e marcava 9h45, minha consulta com Maurício seria as 10h30. Fechei meus olhos e os abri de novo na esperança que a coragem surgisse como num passe de mágica. Porém tive que me levantar contra minha vontade e tomar um longo banho.

Não cheguei muito atrasada no hospital, como sabia que estava no meu horário fui entrando na sala e me deparei com Maurício sentado em sua poltrona e a secretina ao seu lado de costas para mim se apoiando na mesa em uma tentativa bem convincente de ser sexy, ambos estavam rindo até a minha chegada. Maurício pigarreou tentando fazer a pose de médico sério e se levantou.

– Senhorita Miller.

– Doutor Hudson – Continuei séria e olhei para a secretina que apenas se virou da onde estava com um sorriso malicioso – Secretina do doutor Hudson.

– Se chama secretária, senhorita Johnson.

– Eu te considero uma secretina. E pra você e assim como para todo mundo é senhorita Miller. Agora por gentileza saia, que eu tenho uma sessão de fotos daqui uma hora e não posso me atrasar.

Ela me encarou com rancor enquanto eu mantinha a mesma expressão desde que cheguei, Maurício olhava para mim e para a secretina confuso.

– Está no horário da minha consulta com a senhorita Miller, Joana. Com licença.

Maurício assentiu com a cabeça e ela se retirou batendo a porta com força, não me contive e comecei a gargalhar. Ele não entendeu a minha reação e me olhava confuso, fiz um gesto para que ele se esquecesse.

– Então doutor – disse em um tom irônico e risonho – Qual foi o resultado do meu exame?

– Bom – ele fechou o sorriso – Você está sofrendo de Amnésia.

– O que? – perguntei preocupada.

– Quando a roda do caminhão passou por cima da sua cabeça atingiu o córtex e o hipocampo, que são áreas do cérebro relacionado a memórias - assenti com a cabeça - O seu caso não é grave, não se preocupe - ele pegou na minha mão enquanto eu ainda o olhava.

– E o que eu faço agora? - perguntei com a voz chorosa.

– Existem vários tipos de tratamento para esse tipo de coisa, mas eu aconselho a sessões psicológicas. A Patrícia mesmo pode fazer isso. São sessões de hipnose que ela fará você voltar ao passado e contar o que está acontecendo. Com isso, é possível que as suas memórias voltem como já estava acontecendo antes.

– Certo... – encarei o nada e depois voltei a olha-lo – É possível que todas as minhas memórias voltem?

– Depende do seu empenho, se você se concentrar nas sessões é possível que todas voltem em menos de um ano.

– Entendi...

– Liguei para a Patrícia antes da nossa consulta, ela já está a par de tudo e depois vocês conversam para decidir como será feito o tratamento. Para eu avalia-la é preciso que você marque uma consulta pelo menos uma vez ao mês.

– Eu preciso tomar aqueles remédios ainda?

– Você pode parar de toma-los a partir de hoje. Depois que eu avalia-la vou verificar se você deve continuar ou não.

– Obrigada – Sorri de forma meiga e ele me retribuiu com brilho nos olhos – Já vou indo – me levantei pegando a minha bolsa. Ele se levantou e parou na frente da porta.

– O jantar ainda tá de pé?

– Claro que sim. Te vejo às 20h.

– Te vejo às 20h – Ele sorriu e ainda estava na frente da porta me olhando de uma forma engraçada, como se nunca tivesse me visto antes e admirasse cada detalhe.

– Maurício...

– Anne...

– A porta.

– A porta?

– Você está bloqueando a minha passagem.

– Ah sim... – Ele saiu do transe e abriu a porta para que eu passasse, eu ri da maneira que ele estava agindo e acenei saindo da sala.

Senti que ele ainda me observava, porém não olhei para trás. Estava preocupada comigo mesma no momento. Amnésia é uma coisa séria, apesar de ele me dizer que não era meu caso. Da mesma maneira eu me preocupava. E se eu nunca chegasse, a saber, do meu passado a meu ver? Eu precisava ter pelo menos as minhas memórias de volta para conseguir dar um novo rumo a minha vida, um rumo onde às decepções desaparecessem.

Peguei um táxi e fui para a Chargas Models, hoje teria um ensaio de fotos para a revista Vogue. Não tinha certeza se Chloe e Dilan estariam presentes, mas eu torcia que sim, pois ainda tinha muita vergonha de posar para Cedrico sozinha. Ele tentava me passar confiança, mas era bem estranho estarmos só ele, seus ajudantes e eu em um estúdio.

– Maquiagem na Anne, gente – Cedrico gritou após me ver chegar.

– Bom dia! – Disse para o pessoal que estava por ali, preparando cenário e enlouquecendo com Cedrico.

– Bom dia Anne – A maquiadora respondeu me puxando para o camarim.

– Cadê o primeiro figurino da Anne? – Gritou Cedrico.

– Estou levando – Um estagiário gritou correndo com um vestido de renda preto.

– Qual sapato? O preto ou o bege? – Perguntava uma moça para o estilista.

– SERÁ QUE EU TENHO QUE REPETIR DE NOVO? – Ele gritou fazendo a garota arregalar os olhos.

– Não senhor – Disse saindo correndo para outro lado.

– Isso aqui está uma loucura hoje, Anne – Disse a maquiadora enquanto terminava de passar blush em minhas bochechas - Assim como todos nós Cedrico está preocupado com o ensaio de hoje. Suas fotos vão ser importantes para cobrir uma matéria da Chanel.

– Sério? – arregalei os olhos.

– Sim, mas não se preocupe. Ele quer que o figurino, o cenário e as luzes estejam perfeitos. Você já nasceu perfeita – Ela sorriu e eu retribuo o sorriso querendo dizer um obrigada já que era impossível dizer enquanto ela passava um batom vermelho em meus lábios.

Depois de toda aquela correria de sapato, joias a serem usadas, vestidos que estavam mal costurados que já estavam me deixando com uma baita dor de cabeça começamos a sessão de fotos. Foi tudo lindo e maravilhoso, o estúdio nunca ficava tão cheio como estava àquela manhã, o que me deixou mais tímida do que o normal. Pelo visto essas fotos eram mesmo bem importantes para o nome da Chargas Models. Ao acabar a sessão de fotos fui aplaudida por todos que estavam assistindo e parabenizada. Pude observar a expressão de Cedrico aliviada. E no final tudo acaba em pizza, literalmente. Saímos para ir a uma pizzaria que ficava ali perto, já que estava na hora do almoço.

Naquela mesma tarde eu estava feito uma louca arrumando cada centímetro do meu apartamento. Lembrete: Sempre deixar os animais na varanda quando for sair de casa✔ Tudo tinha que sair perfeito aquela noite. Queria reconquistá-lo, mas eu tinha a impressão que uma barreira invisível impedia a nossa reaproximação. Talvez culpa ou receio. Os dois ao mesmo tempo. Eu sentia que ele ainda era apaixonado por mim e eu era apaixonada por ele. Se for pra você ficar com o Maurício, você vai ficar. A voz de Dilan ecoou em minha mente. Ele tinha razão, se for pra acontecer nada pode impedir. Barreiras são quebradas, certo? Então foco. Minha consciência gritava. DING DONG. Campainha!

– Boa noite – Meus olhos não acreditaram no que estava a minha frente. Maurício, com uma calça jeans preta, blusa branca, blazer azul marinho com o cabelo bagunçado propositalmente, aqueles lindos olhos azuis brilhando novamente e segurando um pequeno buque de rosas vermelhas.

– Boa noite – Respondi incrédula pegando as rosas e as cheirando em seguida, ele me olhava com admiração – São lindas... Vi isso em um filme e quis fazer igual – Pisquei e ele deu uma risada que soou como música para meus ouvidos.

– Você é uma ótima atriz – Ele piscou de volta.

– Não foi atuação, eu realmente gostei. Entra... – Dei passagem para que ele entrasse e fechei a porta.

– Você está linda! – Eu estava com uma roupa confortável, porém bonita. Era um vestido de renda salmão que ia até acima do joelho com mangas curtas e um salto preto fechado.

– Você também! – Sorrimos um para o outro – Quer beber alguma coisa?

– Vinho.

– Tinto?

– Meu favorito – Ele mantinha as mãos no bolso e me olhava de uma maneira que me deixou ruborizada. Ele deve ter percebido porque sorria com humor. Fui até a cozinha e enchi duas taças com vinho tinto – Onde estão Mike e Lucy? – O ouvi perguntar.

– Na varanda. Eles fazem muita bagunça – Voltei entregando-lhe uma taça.

– O Mike era pior quando filhote.

– Agora é calmo. Lucy que é atentada.

Fomos até a varanda e Mike recebeu Maurício alegremente. Lucy não pareceu se importar com a presença dele.

– Parece que alguém não gostou de mim – Ele disse me fazendo rir.

– É por que ela está apaixonada – Fiz carinho nela enquanto me sentava no sofá da varanda.

– Ah é? – Ele se sentou ao meu lado brincando com Mike – Quem é o cãozinho felizardo?

– Não é um cão – Ri mais ainda – É o Ricardo. Lembra-se dele? No dia em que ele veio aqui não nos deixou conversar um segundo. Queria que ele ficasse brincando com ela. Eu achei engraçado quando... – E mais uma vez eu falei de mais fazendo Maurício fechar a cara – Quer jantar?

– Seria ótimo – Ele respondeu sem motivação alguma.

O jantar só não foi um completo silencio, pois eu deixei a TV da sala ligada. Maurício parecia estar gostando de ver as notícias do jornal e eu não quis atrapalha-lo. Lembrete: Não falar do Ricardo perto dele Meu apetite tinha passado, então só fiquei remexendo a massa com o garfo.

– A sua comida está boa, não sei por que você não está comendo – Ah, agora você prestou atenção em mim? Zumbi!

– Agora sou modelo, só como de 6 em 6 horas – Forcei um sorriso e ele riu sem perceber que estava sendo ignorante.

– Pelo visto só a sua memória se foi, seu humor continua o mesmo.

De repente a TV da sala desligou e as luzes piscaram duas vezes antes de se apagarem também.

– Droga! – Me levantei tentando achar o interruptor – Estamos sem energia! – Cruzei os braços com raiva.

– Tem lanterna?

– Não.

– Vela?

– Devo ter na cozinha.

– Vou buscar, fique na sala.

Fui em direção da sala com cuidado para não tropeçar em nada e me sentei no sofá. Senti Mike parar em minha frente e lamber minha perna. Olho para trás e vejo uma pequena chama de vela sendo deixada na mesa de jantar, logo, Maurício deixou outra na mesinha de centro e foi espalhando outras por ali.

– Acho que isso ajuda – Ele disse se sentando ao meu lado.

– Não acredito nisso! Eu vou ligar pro sindico!

Me levantei para pegar meu celular, porém fui impedida pelos braços fortes de Maurício. Estávamos frente a frente, olhando um nos olhos do outro, conseguia sentir a sua respiração e o cheiro do seu perfume. Às vezes me pegava encarando seus lábios e me perguntando se beijá-lo seria o certo. Ele devia pensar o mesmo já que ambos ficávamos naquela guerra de nos olharmos nos olhos e em seguida encarar nossos lábios. Senti sua mão pressionando minhas costas para nossos corpos ficarem mais perto um do outro. Engoli a seco. Estava nervosa. Coloquei minhas mãos sobre seu ombro e quando nossos lábios estavam prestes a se tocar a TV da sala é ligada e as luzes se acendem, dou um grito de susto pela voz da repórter estar tão alta e acabo me distanciando de Maurício que parecia estar mais assustado do que eu. Isso Anne, estraga o clima mesmo.


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Notas finais do capítulo

Não me batam pela demora do tão esperado beijo de Maurinne. Eu gosto de complicar as coisas um pouquinho.
Não esqueçam de comentar, kisses ♥