Receita para uma tempestade escrita por Bruna Pereira


Capítulo 10
Capítulo IX - O mestre do fogo e a mestre das marionetes


Notas iniciais do capítulo

Demorou, mas saiu =D



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Não havia uma única árvore ou pedra que seja nos arredores de sua casa e da aldeia que Verônica Layton não conhecesse. Ela sentia a floresta, as folhas caindo, a terra tremendo sob o caminhar de insetos ou titãs, faziam parte uma da outra, eram uma coisa só. A floresta se curvava para sua preciosa amiga e não lhe ocultava qualquer segredo. Que chances tinham seus perseguidores forasteiros contra uma aliança tão forte e poderosa quanto essa? Absolutamente nenhuma, pois a floresta também podia ser um labirinto cheio de feras e perigos inimagináveis.

Depois de despistar os mercadores que estiveram a sua procura, a loira ficou escondida durante um bom tempo. Mantinha-se apreensiva, porém, calma, o que lhe possibilitava colocar os pensamentos em ordem, e isso era crucial já que a liberdade dos amigos agora estava em suas mãos. Quando julgou seguro, retornou à aldeia e não se surpreendeu ao encontrá-la completamente devastada e abandonada. Que será que houve com Challenger? Pensou, quando saiu em disparada, viu que ele ainda lutava para tomar o controle da carroça de pólvora, mas viu também quando um dos homens correu em direção ao cientista. Preciso encontrá-los, e pedir desculpas a Marguerite, isso está me matando.

Verônica não sabia mais viver sozinha, passara uma vida toda tendo somente retratos, aparatos e recordações como companhia, mas agora a perspectiva de se encontrar só era inaceitável. Os sobreviventes da expedição Challenger eram sua nova família, e ela estava o mais próximo de se sentir completa quando todos se reuniam para o café ou para não fazer simplesmente nada ao lado um dos outros.

Ela olhou o terreno e sorriu. Não seria difícil rastrear a direção seguida pela comitiva, as carroças sobrecarregadas deixavam rastros muito profundos e evidentes no solo. O caminho se exibia para os olhos bem treinados da princesa da selva como um mapa e um convite.

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Sacolejando dentro de uma carroça completamente lotada, Ned Malone e George Challenger conversavam aos sussurros ao lado de um desacordado Lorde Roxton. O cientista não tivera chance contra seu captor, não tinha mais a mesma destreza da juventude e, assim, não conseguiu imitar Verônica em sua fuga. Suas chances no lugar para onde se dirigiam também não eram muito boas, ele era velho demais para interessar a qualquer comprador de escravos, sua mente aguçada lhe alertava que dentre todos ali ele era realmente o que mais corria risco de vida. Sua única esperança era que sua esperteza se provasse mais valiosa do que força bruta.

– Como ele está? – perguntou Ned indicando John.

– Vai se recuperar – respondeu o George depois de examiná-lo rapidamente – é preciso mais do que uma pancadinha dessas para derrubar um homem como Roxton.

Um caçador odiava se sentir a caça. John Roxton tinha posto tudo a perder num impulso, e quando foi forçado a entrar numa jaula se descontrolou novamente, libertando pela segunda vez a fera que existia dentro dele. Poucas coisas na vida eram capazes de produzir este efeito e fazer com que o Lorde perdesse todo o cavalheirismo para se transformar em uma criatura selvagem. Uma delas era fazer mal as pessoas que ele amava, a outra era se sentir acuado, preso. Foi preciso derrubá-lo para colocá-lo na carroça.

– Por hora é melhor que ele continue assim – disse Challenger olhando ao redor. Os zangás se espremiam no compartimento de carga, era impossível sair do lugar. O cheiro não era dos mais agradáveis também, uma mistura de sangue, suor, urina e coisa pior.

– Verônica vai dar um jeito de soltar a gente – falou o jornalista num tom de absoluta certeza.

– Estou certo disso, meu caro – Challenger colocou a mão no ombro do amigo – Nesse meio tempo podemos procurar a Marguerite.

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Marguerite continuava sob vigilância constante de Górki, distante de todo o resto da “mercadoria”. Os zangás foram descarregados em cercados e separados por gênero e idade, estavam muito fracos para oferecer resistência. A morena era pessoalmente escoltada pelo chefe daquela comitiva, ele soltara seus pés para que ela pudesse segui-lo andando, mas manteve suas mãos amarradas e segurava a ponta da corda que a prendia. Enquanto caminhavam em direção a uma tenda encardida, outro homem cruzou seu caminho, fazendo-os parar. Marguerite observou suas feições e reparou que o estranho era muito parecido com Górki, uma cópia mais jovem e aparentemente mais agressiva do mesmo.

– Ora, ora, ora, como vai? – perguntou Górki com um sorriso irônico – Parece um pouco abatido.

– Não que te interesse, mas eu vou muitíssimo bem. – respondeu o outro com rispidez, depois olhou para Marguerite e ergueu a sobrancelha.

– Gostou, irmãozinho? – disse pegando a moça pelo braço e colocando diante do outro – Essa é só uma das preciosidades que acabo de garimpar. Como foi a caçada?

– Bem sucedida. – o homem mais jovem apontou para um carregamento logo adiante – Vê ali? Está lotada. – a carroça realmente estava apinhada de gente, mas era uma só, o que deu a Górki a chance de tripudiar.

– Rurik, Rurik, meus parabéns, você é muito corajoso. Aparecer aqui com uma única diligência? – desdenhou – Eu tomei uma aldeia inteira, e não foi qualquer aldeia não. Destruí uma das rivais mais poderosas dos raidor. Acha mesmo que tem chance de ganhar a preferência do nosso pai quando eu lhe entregar o chefe dos zangás e a filha dele? – gargalhou vendo o irmão enrubescer – Você é muito corajoso, um verdadeiro orgulho. – continuou rindo.

– Pelo menos o que eu consegui foi com meus próprios esforços, não precisei apelar para feitiçaria como você. – Rurik cuspiu no chão, Marguerite viu despeito no rosto do jovem e percebeu que poderia tirar vantagem dessa antiga inimizade, mas continuou observando, fazendo a expressão mais inocente e aflita que pode simular, pois o rapaz olhava de relance para ela de vez em quando.

– Não importarão os meios quando os compradores avaliarem a preciosidade da minha carga – Górki afagou os cabelos de Marguerite. – Além do mais eu não sou o único a usar as armas do Mestre do Fogo, ele está se tornando bastante popular, sabe?

– Claro, mas somente entre os fracos demais para obter sucesso sozinhos. – A morena olhava fixamente para Rurik e isso o deixava meio desconcertado Ela quer me dizer alguma coisa tinha certeza disso. – Eu não confio nada naquele feiticeiro, nem tampouco preciso de suas artimanhas.

– Você tem suas convicções, irmão, eu tenho as minhas. Seja como for, nos veremos em breve – Górki empurrou Rorik para o lado, abrindo caminho, e deu um puxão na corda de Marguerite.

Enquanto seguiam adiante, ela olhou para trás e viu que um grande ódio e possivelmente inveja transbordavam de suas feições, mas quando os olhos do rapaz cruzaram com os dele, tão azuis e penetrantes, o rosto dele mudou, passando a exibir cobiça e curiosidade. Touché, pensou Marguerite, o homem viria atrás dela e ela nem precisara dizer nada, era bom saber que não tinha perdido a prática, o poder de confundir e persuadir somente pela intensidade de seus olhos. Amarrara o primeiro fio na ponta dos dedos e logo faria aquele boneco dançar conforme sua música, mas tanto ele quanto o irmão eram peixes pequenos, teria que lançar a sua rede um pouquinho mais longe se quisesse fisgar algo mais valioso. Antes de entrar na tenda de Górki, avistou um grande pavilhão mais ao centro, interessante, depois sumiu de vista.

Em direção à campina vinha uma carruagem negra com uma chama pintada.


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Notas finais do capítulo

espero que tenham gostado. Como eu disse, este capítulo é inteiramente novo. Beijos.



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