Pale (interativa) escrita por Harpia


Capítulo 12
Intenções


Notas iniciais do capítulo

Estão presentes nesse capítulo: Allan, Maisha, Anna, Sarah, Greta, Sydney, Jadine, Dorothy e Jean.



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– Yoko disse que isso deve ser o suficiente para pagar a dívida dela.

– E é mesmo, são vinte milhões, mas nada substitui o quão valiosa uma alma é – geralmente Obel não era um homem maleável.

– Não deve fazer falta na sua coleção – Maisha tentou amenizar.

– Sim, óbvio que faz! – ele discordou. – O que eu mando vocês fazerem deve ser feito impecavelmente!

– Vê se não me enche o saco! A gente já fez o que você pediu, o que mais você queria? Pelo o que eu entendi você já tem a alma do marido dela e era errado matá-la, a filha dela ia crescer órfã, será que o senhor tem noção do quanto isso deixa cicatrizes numa pessoa? – bombardeou.

Sentindo um aperto no peito, o Imperador ficou enfastiado, como se estivesse digerindo a informação em um ritmo lento. Sim, ele tinha noção do quanto o abandono deixava marcas. Tentou dar uma resposta que abrangesse toda a imagem ruim que Jinx possuía dele e a substituir por algo melhor. Sua provável herdeira não podia odiá-lo para sempre, podia?! – Minha esposa foi morta em uma chacina em Tóquio e minha única herdeira foi sequestrada e abandonada num orfanato em algum lugar desse mundo. Não me restou ninguém.

Sem se comover, Jinx se manteve estável em seu ponto de vista, acalmando-se. – Então já que o senhor entende, sabe o motivo de eu não ter matado a mulher.

Um estalo nas portas do salão principal do castelo ecoou. Jean cobria Greta com uma capa negra e Sydney cuidava de sua retaguarda.

– O que essa prisioneira está fazendo aqui? – Allan tempestuou, reagindo explosivo.

– Nós temos uma proposta para você – Jean anunciou ao Imperador.

– Chame os guardas antes que seja tarde e eles nos ataquem - Sarah exigiu ao velho.

Fazendo um sinal para ela se calar, a majestade permitiu que os assassinos prosseguissem. – Não quero saber de nenhuma proposta. Estávamos tratando de um assunto sério e vocês nos interromperam. Fazem ideia do quanto podem ser punidos por isso?

– Eu sou a Greta – ela se apresentou, descobrindo-se sem medo dos julgamentos. – Como você deve bem saber, eu fui presa. Quer saber como eu fugi? Bom... Uma garota ruiva infiltrada na sede nos soltou e nos levou para...

– Para onde? – Sarah indagou.

Ao achar melhor não revelar sobre o alçapão, mentiu. – Para fora da prisão, então saímos os três e nos escondemos em um bar. Eles estavam planejando agir contra o Império então eu me separei deles e Jean e Sydney me mantiveram protegida na cabana.

– Não é como se eu não tivesse sido ameaçada com uma arma – Sydney rolou os olhos, oposta à aquela situação.

Jean lançou um olhar de censura para sua aliada.

– E o que nós temos a ver com isso? – Allan tirou sarro.

Greta esboçou um sorriso irônico. – Como você deve saber Ian é um licantropo e hoje será lua cheia, não é?!

Sarah sentiu um calafrio e previu o que poderia acontecer de pior. – Você disse que uma garota se infiltrou na sede?

– Sim. Ela pulou o muro – confirmou, vingativa. – E para a segurança dos cidadãos eu sugiro que vocês encontrem os dois o mais rápido possível.

– E o que faremos com você? – Obel indagou, indeciso.

– É uma troca, meus segredos pela minha liberdade – Greta propôs.

Em um canto, Jinx estava ficando impaciente, haviam sido interrompidas para dar espaço ao debate deles e Maisha estava preocupada com o pequeno Scar que havia sido deixado sozinho na cabana quando saíram para ir à Tóquio.

– Vou te reintegrar, eles podem ser seus aliados.

Jean comemorou abraçando calorosamente Greta, mas Sydney desgostou da notícia e fechou a cara. Quando todos foram dispensados, Obel subiu para seu aposento. Próximo à varanda de seu quarto suntuoso, se serviu com uma xícara de chá verde e enfiou dois comprimidos na boca para amenizar sua dor de cabeça antes de tomar um gole. Como sempre, Allan bateu em sua porta e entrou sem ser convocado.

– Acabei de perceber de que você não tem mais capacidade de comandar Pale. Você mudou – acusou.

Apático, Obel não estava com a mínima vontade de começar uma discussão. Só queria ser deixado em paz. – Nunca fui capaz de comandar nada.

Inconformado, o líder trovejou com críticas. – Você perdeu completamente sua autoridade, ninguém mais te respeita e sua caridade está passando dos limites. Lembra quando matávamos pessoas naquele salão?

– Sim, isso não acontece há muito tempo – rebateu sem ânimo. O olhar azul perdido no horizonte além dos muros de Pale. Como queria estar longe daquele lugar! Como queria ter outra vida!

– O que há de errado com você? Meu pai estaria muito decepcionado – Allan queria que o tio reagisse com os punhos.

– Não está acontecendo nada, Allan – omitiu sem entonação e sem fitá-lo.

– Você é um desgraçado miserável, está pondo tudo a perder – sentiu culpa por ofendê-lo, mas pensou que fosse o único jeito de chocá-lo com a realidade.

– Por favor, se retire do meu quarto – exigiu.

– Está me expulsando, tio?

– Fora! Eu já mandei sair! – Obel berrou.

Magoado, Allan o obedeceu. Quando a porta se fechou, o Imperador desabou a chorar. Durante seu pranto silencioso tentou aperfeiçoar a ideia de que se Jinx fosse realmente sua filha precisava urgentemente compensá-la. Estava morrendo. Alguém ia assumir seu trono e ele não queria que fosse Allan, seu sobrinho.

~

No dia seguinte, Anna saiu bem cedo da cabana para ir treinar. Soube que sua próxima missão seria em uma área florestal, então praticar sua pontaria era fundamental. Não podia fracassar. Depois de praticar uns exercícios de alongamento na academia do centro de treinamento, caminhou até a área ao ar livre especialmente feita para os assassinos treinarem tiro. Num dos armários escolheu um arco recurvo e flechas de madeira para iniciar. Na linha de tiro, ajeitou sua postura e regulou sua respiração. Deixando apenas seu olho dominante aberto, puxou a corda e mirou no primeiro alvo. Projetou sua vítima, como se fosse real. O primeiro tiro foi lamentável e ela suspirou decepcionada, não havia nem alcançado a área do meio do alvo. Se o Kenshin estivesse assistindo provavelmente aplaudiria ironicamente. Ele preferiu ficar dormindo.

No segundo tiro, sentiu uma cãibra nos tendões da costela, mas acertou o centro do alvo, deixando-se orgulhosa.

– Você é uma arqueira talentosa, eu duvidava da sua capacidade no começo, devo admitir que você me surpreendeu – uma voz masculina soou na porta do local da sessão.

Anna não parou, não permitiria que Allan a atrapalhasse. – Obrigada, mas você está me desconcentrando.

O terceiro tiro foi insatisfatório, a flecha acertou na parede.

– Se importa se eu te der uma dica? – o líder indagou.

– Não... – ela franziu os lábios e abaixou o arco. – Já me atrapalhou mesmo.

Allan se posicionou atrás da garota e guiou o arco, sussurrando em sua orelha. – Nunca mire direto no alvo, desvie alguns milímetros, o resultado vai ser bom.

Quando ele se afastou, Anna o fitou assustada. – Por que está sendo tão gentil comigo? Mandou duas pessoas para a prisão.

– Eu levei uma porrada, minha visão quase foi comprometida – disse ele. Não haviam mais vestígios do soco em seu olho, por sorte a marcha arroxeada havia sumido.

– E a Greta? O que foi que ela te fez? Não deu em cima de você?!

– Você devia se sentir grata por eu estar te tratando como gente.

Ele havia sido legal no começo, mas se transformou em um completo imbecil.

– Tenha um bom dia - Anna disse irônica e foi embora da arena, largando o arco e o saco com as flechas no chão.

Ao sair do centro de treinamento, atravessou a rua até a cabana dos assassinos.

Ele seguiu-a. – Sabia que você me chamou a atenção desde que chegou aqui?

– Me poupe – Anna rolou os olhos. – Você é casado, não seja um safado.

– Não é questão de ser casado ou não, você tem uma coisa que me interessou. Ainda não sei o que é.

– Acho melhor você não descobrir – ela sorriu, perversa.

– Eu gosto quando você sorri desse jeito.

– Você nem me conhece – Anna deu um passo até a porta da cabana.

Ele agarrou seu pulso. – Tenho a impressão de já te conhecer.

– E daí? – tentava se desvencilhar.

– Quer sair comigo? A gente podia conversar melhor. Se você quiser, vou te esperar num restaurante na vila dos cidadãos comuns.

Ela não disse "sim" e nem se recusou. - A que horas?

Allan sussurrou o horário mais apropriado em sua orelha e depois deu dois passos para trás, indo embora em direção ao castelo.

Um pouco trêmula, Anna enfiou a chave na fechadura da porta e, inesperadamente, antes que ela pudesse destrancar Kenshin abriu a porta da cabana com rosto inchado e amassado, como se ele tivesse dormido dentro de uma garrafa. Ficou a noite toda jogando em seu Nintendo 3Ds e dormira até antes do almoço. Ela precisava agir com naturalidade para que seu aliado não suspeitasse de nada.

– Bom dia. Já que você levantou muito tarde, comecei o treinamento sem você, preguiçoso - ela incitou séria, como sempre.

Kenshin não era burro, percebeu o quanto Anna estava sem graça e a bochechas coradas. O líder havia conversado com ela. Tinha escutado as vozes deles do quarto. Era melhor ser direto. – O que o líder queria com você?

– Nada, eu nem vi que ele estava por aqui - se fingindo se desentendida, espiou por cima dos ombros, procurando-o.

Resolvendo não se intrometer mais, Kenshin teceu uma crítica, se encostando ao batente da porta enquanto bocejava. – Que cara estranho... Dizem que ele é um filho da puta.

– Com certeza, prendeu duas pessoas e uma delas era inocente, só pode ser – assentiu, discordando por dentro já que Allan foi bem simpático. Quais seriam suas intenções?

– Tá afim de almoçar? – seu aliado convidou comicamente.

– Não é uma ideia ruim. Estou faminta.

Após esvaziar seu prato pequeno, Anna aproveitou de que Kenshin tinha ido ao sanitário e saiu desacompanhada do refeitório. Cruzando com Jadine pelas ruas das cabanas, lançou um olhar ameaçador que a fez recuar e encaminhou-se até a quadra de tênis atrás do castelo. Debaixo da sombra, Allan estava sentado nas arquibancadas numa pose elegante e paciente. Ela atravessou a área e subiu para ficarem lado à lado.

– Estou aqui - ela anunciou como se não fosse óbvio.

– Pensei que não fosse mais vir, você demorou - resmungou,

– Se você não ficar exigindo nada de mim, nós vamos nos dar bem.

De uma rua paralela, Jadine avistou os dois espectros nas arquibancadas quadra de tênis. A cena a preencheu com profundo ódio. Como uma das recrutas podia ser tão ordinária a ponto de querer se dar bem dando em cima de um dos líderes? Se encaminhou até o castelo, para denunciar a traição direto à Sarah. No salão, virou à direita e não deu explicações ao enxergar Valentina pelo canto do olho no corredor. Subiu até os dormitórios nobres e encontrou a líder assim que ela saía do banheiro.

– Tenho uma notícia ruim para você – alertou.

Com toda sua arrogância e prepotência, Sarah não achava que era relevante. – Só pode ser algo muito importante para entrar sem permissão nos andares superiores do castelo.

– Eu vi o seu namorado com Anna na quadra – denunciou.

Ela franziu a testa. – E daí? Faz parte do trabalho dele conversar com os assassinos.

– Eu acho que eles estão tendo um caso – opinou, piorando seu relato apenas por gostar da polêmica e consequências que isso traria.

Sarah paralisou por inúmeros segundos, tentando lidar com o baque.

– Se você não acredita, veja você mesma – Jadine a guiou até a janela do corredor.

Ao visualizarem a quadra de tênis ao leste, se surpreenderam com as arquibancadas vazias.

Sarah arfou debochante e não levou a garota à sério. – Eu podia te punir severamente por isso, sua otária.

– É sério, eu sei o que eu vi – insistiu.

Ao voltar para sua cabana, decidiu que se dedicaria a acompanhar cada passo de Anna até ter provas suficientes para poder prejudicá-la. Era uma atitude extremamente infantil, mas Jadine se convencera de que o que ela estava fazendo era uma traição não somente à Sarah, mas à todos os assassinos. Para causar mais confusão, contou à Dorothy. Tiveram a ridícula ideia de espalharem o escândalo para toda a comuna. Imprimiram milhares de folha de sulfite com a manchete "Ser amante do líder é o melhor jeito de se chegar ao topo" e uma delas se encarregaria de deixá-las nas vias públicas das vilas durante a noite.

~

A lua cheia não daria trégua a nenhum amaldiçoado. Debaixo de uma ponte na vila dos cidadãos comuns, Ian sofria com a metamorfose e urrava de dor enquanto Rebeca tentava não obedecer ao impulso de fugir. Quando a transformação estava completa, o licantropo agarrou seu calcanhar e a derrubou, impedindo-a de ir a qualquer lugar. Ela chutou seu focinho e sem piedade disparou em direção à área comercial da comuna. Descontrolado, Ian a perseguiu, destruindo e destroçando qualquer coisa que estivesse à sua frente. A fera estava à solta. Só parou quando sua mente animal ficou confusa com o turbilhão de pessoas se espalhou agilmente pela praça, dando tempo suficiente para uns dez guardas surgirem com armas e calmantes, mas ele também ousou atacá-los e rasgar seus corpos ao meio com seus dentes.

Em breve, um tapete humano e sangrento cobriria toda comuna até que ele retornasse à sua forma natural. Rebeca conseguira se esconder atrás do castelo, mas não ficaria protegida naquela região por mais de cinco horas. A gritaria e o pavor assolaram a noite. Maioria da população se escondera em seus porões enquanto outras acharam melhor irem para a prisão e ficarem atrás das grades grossas das celas até que o licantropo não pudesse mais atordoá-las.

No entanto, na vila dos assassinos as notícias demoravam a chegar. Jadine, que saiu genuinamente da cabana para espalhar os panfletos, não sabia que seria pega de surpresa em sua porta e que seu crânio seria esmagado por um monstro. Seus braços foram mastigados e apesar de merecer, sua morte não foi tão lenta, embora seu corpo se movesse com espasmos enquanto desfalecia no chão. Os papéis continuaram em sua bolsa, só sairiam dali com intervenção de Dorothy, que horrorizada correu para o castelo, implorando por socorro.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso, Jadine morreu. Eu sei que prometi postar o link da playlist, mas alguns leitores ainda não me enviaram suas músicas e isso me chateia. Até o próximo!