Acordei exatamente ás oito e meia.

Atrasada.

E nem precisa ser um Einstein pra saber que eu estou pra lá de ferrada.Levanto num salto,bato o dedinho do pé na quina da cômoda,e caio de boca no chão.

Levanto meio tonta,corro para o banheiro e enquanto tento enfiar a camiseta horrorosa do uniforme pela cabeça e escovando os dentes ao mesmo tempo.

Coloquei uma jaqueta de couro ,um tênis qualquer e minhas calças jeans pretas rasgadas pelos vários tombos que eu levei.Faço um rabo de cavalo nos meus cabelos cacheados e desço as escadas.

Joguei a mochila nas costas enquanto eu depositava um beijo na bochecha da minha mãe.Peguei um pedaço de bolo de chocolate e enfiei goela a baixo enquanto enchia um copo de leite.

-Senhorita Elisa,porque está acordando tão tarde ultimamente?-Minha mãe pergunta fingindo uma cara séria.

O engraçado é que minha mãe está pouco se fodendo se eu vou ou não para o colégio,mas ela gosta de passar essa imagem de boa mãe.

Ela é assim desde que meu pai deu um chute na bunda dela para ficar com a secretária gostosa,agora ele me manda um cartão postal todo mês e deixa uma generosa quantia de dinheiro na minha conta bancária,na qual eu estou economizando para poder largar tudo um dia e ir para a Flórida.

Minha mãe se chama Mary Benett,tem trinta anos,tem um corpo de dar inveja a qualquer um - inclusive eu - , e tem um lado hippie que puxou da minha avó.

Eu não sou muito diferente dela,a não ser pelo corpo de dar inveja,é claro.

-Mãe,eu só estou atrasadaquinze minutos.

-Seu pai ligou.

Meneio minha cabeça e engulo o resto do leite.

-O que ele queria?

Ela toma um bom gole de seu chá verde e revira os olhos.

-Fingir ser um bom pai,eu pude escutar a voz da piranha que ele está dormindo agora.Ele sequer me perguntou como eu estava,apenas disse:' Eu estou de férias,peça para Elisa ser uma boa menina ' e desligou.

Confirmo com a cabeça e dou uma piscadela para ela.

-Incrível,mas preciso ir.

Minha mãe continua falando sozinha,passo correndo pela varanda só para poder ver o ônibus escolar passando sem nenhuma menção de me esperar,vejo a cabeça de Chelsea Mac pela janela me mostrando o dedo torto.

-Vadia.-Murmuro e saio correndo até a garagem atrás da minha bicicleta das Meninas Super Poderosas.

Visto o capacete rosa e pedalo pelas ruas sinuosas do meu bairro de classe média baixa.

Meu problema é que eu não tenho um carro pra poder ir para a escola sem ter que pedalar praticamente seis quadras até o inferno (leia-se :escola).

E meu outro problema é que nesse inferno existe Chelsea Mac e seu namorado Carter Grey,eles são os queridinhos do colégio,o casal perfeito.O que me da nojo.Mas eu poderia conviver bem com essa situação se eu não fosse a 'esquisita' do colégio,se eu não fosse a garota com a risada de baiacu com diarreia,se eu não fosse a arque inimiga de Chelsea Mac.

Entende meus problemas?

Chego no colégio com as pernas já bambas de tanto pedalar,deixo minha bicicleta no local para motos e fico feliz em pensar que minha bike está como uma motocicleta motorizada.

Tiro o capacete e jogo na cestinha da bicicleta,ignorando os olhares que direcionam para mim.

Corro para a minha sala e quase tenho um piripaque quando vejo que é a aula da Mosca Velha que Convive sem Sexo,reviro os olhos e entro na sala.

-Senhorita Benett, assinar o caderno de maus alunos no último horário.-a Velha diz sem mesmo me olhar na cara,apenas vira mais uma folha da sua revista e passa a língua pela dentadura.

-Sim,senhora.

Minha carteira é a última da terceira fileira,o que significa ter que passar pela Chelsea Mac, o que se resulta em enfrentar uma partida dos Jogos Vorazes.

Ando decidida até minha carteira e quando passo pela Vadia Mac ela grita em alto e bom som para que todos possam escutar:

-Oi,Esquisita.Gostei da jaqueta comprou aonde?Na sessão de achados e perdidos?

Como esperado,ouve risadinhas por todo quanto é lado.Mas é claro que a Mosca Velha fingiu não ouvir.

Eu poderia ir na boa para a minha carteira,ou poderia dar um chute naquela cara plastificada morta.

E sabe o que eu fiz?

Fui de boa para a minha carteira.

Por favor,não ache que eu tenho medo dessa cachorra com nariz torto.O problema é que eu não posso ter mais nenhuma ocorrência,se não eu serei expulsa.Mas o real motivo de precaução é que se eu for expulsa é que meu pai irá parar de me dar boas gorjetas e isso implicará no meu futuro na Flórida.Capisce?

Joguei minha mochila no chão e afundei minha cabeça na carteira,irei dormir,pois prefiro conviver em lugares surreais do que lugares como este.

Dormi as três primeiras aulas,e só fui desperta pelo meu professor de biologia,no fim de sua aula.Ele já se acostumou com minhas sonecas repentinas mas parou de tentar me ficar desperta quando viu que eu não tinha solução.Cara esperto.

Resmunguei um agradecimento por ele ter me acordado bem na hora em que um bolinho gigante iria me comer,e fui para o banheiro.

Não sei porque as tias da limpeza reclama tanto do banheiro dos meninos,sendo que o banheiro feminino não é muito diferente dos deles.Me encarei no espelho grande que ficava acima das pias colocadas uma do lado da outra,meus olhos verdes não eram normais,invés de serem lindos iguais da Megan Fox não passava de meros olhos mortais,meus lábios carnudos estavam contraídos,e meu nariz estava vermelho.Não sei porque.

Joguei um pouco de água na minha cara,para tentar deixa-la um pouco melhor,mas o que realmente aconteceu é que um jato de água foi parar na minha camiseta escolar,deixando-a grudada na minha barriga gorda.

-Perfeito.-Murmuro e saio do banheiro mas trombo com uma parede.

Opa,não é uma parede é um garoto.

Um garoto miserável chamado Carter Grey.