"Você acha que tem o melhor de mim
Acha que foi o último a rir
Aposto que você pensa que tudo que é bom se foi"

Stronger - Kelly Clarkson

Já estávamos na terceira aula do dia, Carly ainda não tinha abrido a boca, suspeitava até que ela estivesse dormindo de olhos abertos, se é que isso é possível. Senti que estava sendo observada, olhei para o lado, Carly não era, ao lado da minha amiga estava Cristopher Mayers, um garoto de olhos cor de mel, pele branca, cabelo castanho com leves cachos caindo sob os olhos, ele é considerado o nerd da classe por ter suas notas extremamente altas, tinha uma paixão secreta por Carly, quer dizer, não tão secreta assim, todos sabiam menos Carly, garota mais lerda que que ela não tem. Ela nunca admitiu, mais eu sabia que ela também tinha uma quedinha por ele, mas enfim, também não era Cristopher que me olhava, ao seu lado estava ele, Eric, era ele que me observava, seus olhos escuros me fitavam como se estivesse me lendo em todos os sentidos, parecia que ele conseguia me ver como eu realmente era. Me senti intrigada, não gosto que as pessoas fiquem me observando, sou eu que faço isso. Tratei de parar de observa-lo e prestar atenção na aula de matemática. O sinal do intervalo finalmente bateu e parece que Carly acordou do seu transe.

– Carly, você ta bem? – perguntei, tentando prender o riso, ela estava parecendo uma zumbi.

– É claro que eu não to bem, to com uma dor de cabeça desgraçada e morrendo de sono. – ela respondeu irritada.

– Isso se chama ressaca, da próxima vez vê se não se entope de bebida, se não você vai acabar entrando em coma alcoólico. – ri da cara que ela fez.

– Nem brinque com isso Foster.

– Ta, ta, vamos logo para o intervalo.

Fomos para o pátio e ficamos sentadas no mesmo banco de sempre, eu escutando minhas musicas e Carly escutando as dela. Muitas pessoas achavam estranho o fato de não nos falarmos no intervalo, ao invés de fazer isso ouvíamos musica, mas Carly é minha vizinha, sempre saímos juntas, sempre nos vemos, e devo confessar que nenhuma das duas é “social”, não temos muitos amigos, não temos novidades para ter o que conversar a todo instante, nos conhecemos tão bem, sabemos quando tem algo de errado com a outra com um simples olhar, não é necessário ficarmos grudadas o tempo todo.

De onde nós estávamos dava pra ver claramente o pátio inteiro, sem querer meus olhos encontraram Eric, sentado sozinho em um banco encostado na parede, ouvindo musica. Um grupinho de garotas, ou melhor dizendo, vadias, se aproximaram dele, três delas eram da minha classe, Megan, Natasha e Melanie, a outra menina deve ser aluna nova que já ta indo pro mal caminho. Melanie era meio que a “líder” das outras, ela estava empinando seus peitos praticamente na cara de Eric, aquilo de alguma forma me irritou. Eu odiava o fato dos garotos falarem que querem ser amados, querem alguém do lado deles, carinho, atenção e toda essa besteira, como é que eles querem isso tudo se eles pegam a primeira garota que empina a bunda pra eles, bando de hipócritas. Mas parece que Eric é diferente, ele não estava dando a mínima para o que Megan falava ou fazia, parecia até que ele estava meio irritado com aquela situação. Ok, ou aconteceu um milagre e um garoto que tenha juízo finalmente entrou na escola, ou ele era gay. E por Deus, espero que seja a primeira opção.

– O que você tanto olha pro garoto novo? – Carly me perguntou erguendo a sobrancelha.

– Eu não estou olhando pra ninguém.

– Uhum sei...

O sinal bateu para voltarmos para sala de aula. O resto da manhã foi entediante e finalmente o sinal bateu para irmos para casa.

– Vamos? – perguntei para Carly que terminava de ajeitar as coisas.

– Vamos, não vejo a hora de dormir. – ela respondeu um tanto alegre.

Saímos da escola e não pude deixar de perceber uma moto preta incrível estacionada em frente a escola, e quem estava na sua garupa era nada mais nada menos que Eric Green.

Me despedi de Carly e entrei em casa, não havia ninguém, meus pais estavam trabalhando. Tratei de subir para meu quarto, tomei um banho e troquei de roupa, peguei meu celular e desci para a cozinha. Notei que minha mãe não tinha deixado nada pronto para eu esquentar e comer, o jeito era eu mesma preparar algo para comer, estava faminta. Coloquei o celular em cima da mesa e botei para tocar Radioactive do Imagine Dragons enquanto preparava uma macarronada.

– I’m waking up I feel it in my bones enough to make my system blow welcome to the new age to the new age welcome to the new age to the new age oh oh oh oh oh oh oh oh i'm Radioactive, Radioactive – estava cantando ou melhor gritando, eu não cantava nada bem, mas a batida dessa musica mexia comigo, enquanto eu colocava o molho no macarrão eu me movimentava conforme o ritmo das musicas que iam passando, modéstia parte eu dançava bem, nunca fiz aula de dança nem sou profissional mais eu tinha aquele famoso gingado.

Depois de pronto, comi o macarrão, que por sinal estava uma delícia, lavei a louça e fui para a sala assistir TV, estava dando Um Amor Pra Recordar, eu sempre choro nesse filme por dois motivos: 1- era um filme realmente lindo e emocionante e 2- me lembrava meu ex, não meu ex não morreu de câncer se é o que vocês estão pensando, mais deveria. Algumas lembranças surgiram na minha cabeça.

Logan e eu estávamos no cinema assistindo Um Amor Pra Recordar, erámos apenas amigos, tínhamos cerca de 15 anos, tudo mudou quando o filme acabou e eu já estava chorando litros quando Logan me me aconchegou em seus braços dizendo que era só um filme e que não tinha por que chorar, sorri sem graça, afinal eu não era o tipo de garota que chorava vendo filmes. Logan me levou até a porta de casa, me desejou boa noite e me beijou, foi um beijo calmo e romântico, foi o meu primeiro beijo.

Já fazia mais de 8 meses que eu e Logan estávamos namorando, Logan era branco, tinha os cabelos castanhos e lisos, dono de um par de olhos azuis penetrantes, ele era lindo e eu me sentia a garota mais sortuda do mundo por ter um garoto como ele ao meu lado, eu estava apaixonada. O problema começou quando ele insistia para termos relações sexuais, eu dizia que não, que não estava pronta e que era muito nova.

– NOVA? FALA SÉRIO NAT, TÊM GENTE DA NOSSA IDADE QUE JÁ É PAI E MÃE. – Logan gritava nervoso depois de mais uma vez eu ter dito não à ele.

– FODA-SE! EU NÃO VOU TIRAR MINHA VIRGINDADE SÓ PORQUE TEM ADOLESCENTES DA NOSSA IDADE QUE JÁ SÃO PAIS, EU NÃO VOU TIRAR MINHA VIRGINDADE SÓ PORQUE VOCÊ QUER! –gritei também nervosa.

– Se você me amasse de verdade esperaria eu ficar pronta. – disse mais calma.

– Então eu acho que não te amo, porque eu não vou esperar mais nada, ta tudo acabado. – ele disse como quem diz “to com vontade de tomar sorvete”, depois disso ele virou as costas e saiu andando, quando eu ouvi ele batendo a porta da minha casa com força me deixei derramar em lágrimas, eu não acreditava que aquilo estava acontecendo.

Fiquei mal por muito tempo, afinal eu achava que iriamos casar e ter filhos e toda essa coisa de clichê barato. Depois de um tempo eu soube que Logan havia se mudado para a França, pelo menos eu nunca mais iria ver ele de novo.

No final acabou que eu perdi a minha virgindade com um primo irlandês da Carly, não foi especial e ne romântico, foi só sexo. Eu realmente queria que tivesse acontecido com uma pessoa especial, mais eu tava tão desiludida com essa história de “amor” que acabou que foi com ele mesmo, foi a única vez que eu tive uma relação sexual, então eu ainda era considerada inexperiente para tal ato.

Depois de Logan, eu prometi pra mim mesma que nunca mais iria me apaixonar novamente, nunca mais seria fraca e tola como eu fui um dia. Eu só não fazia ideia que eu estava prestes a quebrar uma promessa.