¿Que nos está pasando? escrita por Duda
Notas iniciais do capítulo
Hi girls, desculpa a demora mais uma vez
Muito obrigada pelos comentários, vocês são maravilhosas
Boa leitura
Janeiro/2012
– Bom dia, Matias – Angeles disse após bater e abrir a porta da sala de Matias – Posso falar com você?
– Claro que pode – Angeles entrou e sentou-se de frente para Matias – O que foi?
– Eu... – Ela desviou o olhar – Eu não consigo mais trabalhar com o senhor Castillo – Encarou-o – Eu não sei se tem essa possibilidade, Matias, mas... Eu gostaria de trabalhar com você ou o Pablo.
– Eu imaginei que isso ia acontecer, Angie. Tem só uma semana que voltamos da cabana e eu sei que o German foi um idiota com você lá – Angeles encolheu os ombros.
– Ele tem sido um idiota desde que o conheci.
– Eu sei – Matias sorriu sem mostrar os dentes – Pode ficar tranquila. Se você quer mesmo ficar longe dele, a gente dá um jeito – Angeles assentiu.
Não era uma questão de querer, era uma questão de precisar. Angeles precisaria ficar longe de German se não quisesse sofrer.
– Angie, desculpa não ter falado sobre o baile. Nós achamos que estávamos te protegendo.
– Tudo bem, Matias – Angeles desviou o olhar – O baile foi um erro. O beijo foi um erro. Aquele momento inteiro foi um erro – Ela o encarou – Eu já superei. Sério.
Todo mundo sabia que não era verdade. Todo mundo enxergava isto. E todo mundo sabia que a história dos dois ainda ia dar o que falar.
**
German lia atentamente um relatório quando escutou duas batidas na porta. Matias entrou e German olhou-o rapidamente.
– O que você quer? – Perguntou seriamente.
– Eu e a Angie queremos falar com você – Angeles parou ao lado de Matias e German encarou-os.
– O que vocês querem?
– Angie não vai mais trabalhar com você – German arqueou uma sobrancelha e encarou Angeles.
– Não aguentou, Saramego? – Ele perguntou com um tom desdenhoso.
– Eu só estou me afastando do que me faz mal, senhor Castillo – Angeles respondeu tranquilamente.
– Então, você não vai mais trabalhar aqui no escritório?
– Ela vai trabalhar comigo, German – Matias interveio e German olhou-o. Ele pressionou os dentes e recostou-se na cadeira.
– Tudo bem – Ele respirou fundo e encolheu os ombros – Só isso? – Angeles olhou para Matias, que apenas assentiu – Então podem se retirar.
Matias virou-se e saiu. Angeles encarou German por um instante e logo seguiu Matias. German levantou-se e virou-se para a janela. Repousou as mãos nos bolsos e respirou fundo. Ficou olhando fixamente para a vista a sua frente e pensando sobre o fato daquilo ter sido o melhor a se fazer. Agora ele não seria obrigado a suportá-la com frequência e nem ela a ele.
**
– Boa tarde – Pablo disse após entrar na sala de German. German olhou-o com uma sobrancelha arqueada. Pablo fechou a porta e sentou-se em uma das cadeiras de frente para German – O Matias está vindo. Eu preciso contar uma coisa importante para vocês dois – German franziu o cenho de leve.
– Por que não para de frescura e diz logo? – Perguntou rispidamente.
– Porque eu preciso contar para os dois juntos – German respirou fundo e recostou-se na cadeira – Você ainda é capaz de ficar feliz por algo, German? – German engoliu em seco, levantou-se, virou-se, repousou as mãos nos bolsos da calça e passou a observar a vista – Eu espero que você fique feliz por mim, meu amigo – German suspirou profundamente. Alguns minutos depois, Matias apareceu. German virou-se e encostou-se na janela.
– O que foi? – Matias sentou-se ao lado de Pablo.
Pablo levantou-se e encostou-se na estante à esquerda da mesa de German, formando um triângulo entre os três, de modo que pudesse ver os dois com facilidade. German olhava-o impaciente e Matias apenas estranhava todo aquele suspense. Pablo sorriu largamente, seus olhos marearam um pouco e ele disse:
– Eu – Respirou fundo – Eu e Jackie vamos nos casar – Matias arqueou as sobrancelhas e depois abriu um sorriso de orelha a orelha, levantou-se e abraçou o amigo.
– Meus parabéns, Pablo – Matias falou. Os dois afastaram-se e Matias colocou a mão no ombro de Pablo – Eu não acredito que o meu bebezão vai casar – Matias brincou e Pablo riu discretamente. Os dois olharam para German, que olhava fixamente para os dois.
German respirou fundo, caminhou lentamente até Pablo e estendeu a mão para um cumprimento, sem dizer uma única palavra. Pablo sorriu tristemente, sabendo que aquilo era o máximo que poderia receber de German, e cumprimentou-o. Os dois soltaram as mãos e German abaixou cabeça. Depois o encarou, respirou fundo e abriu os braços. Pablo sorriu e abraçou-o.
– Eu espero que você seja feliz – German murmurou. Pablo ficou emocionado e, diante daquela cena, até Matias ficou um pouco também.
German afastou-se de Pablo, sorriu sem mostrar os dentes, deu um tapa fraco e amigável no rosto de Pablo e caminhou até onde estava antes, parando na mesma posição que estava. Matias olhava-o seriamente, depois olhou para Pablo, que tentava conter algumas lágrimas com os dedos.
– A Jackie sabe que ela vai casar com uma manteiga derretida? – Matias brincou e Pablo riu discretamente. Quando, por fim, conseguiu conter as lágrimas, fez Matias sentar e sentou-se ao lado dele.
– Eu tenho mais uma coisa pra falar. Eu quero que vocês dois sejam meus padrinhos – Matias sorriu e German bufou discretamente.
– Eu serei, com o maior prazer – Matias disse e Pablo sorriu. Os dois olharam para German
– E você, German? – Pablo perguntou. German suspirou profundamente.
– Tudo bem – German murmurou.
– Obrigado – Pablo agradeceu sorrindo.
– E, então, quando vai ser? – Matias perguntou.
– Ainda estamos decidindo. Parece que ano que vem a Angie vai viajar pra fazer um curso ou algo assim, então, provavelmente, será depois que ela voltar – German franziu o cenho.
– Sim, mas ela decidiu ir agora no meio do ano.
– Ela já decidiu?
– Sim. Ela vai, provavelmente, no fim de maio/começo de junho, por aí – German limpou a garganta e os dois amigos olharam-no. Ele sentou-se, apoiou um dos cotovelos no braço da cadeira e apoiou o queixo na mão.
– Do que estão falando? – Perguntou seriamente.
– Angie vai para a França, German – Pablo disse calmamente. German respirou fundo e engoliu em seco – Ela vai fazer um curso de especialização – German assentiu.
– Ótimo – Ele disse sem esboçar qualquer reação.
– Só vai dizer isso? – Matias perguntou.
– Eu não tenho mais nada para dizer – German desviou o olhar – Mais alguma coisa, Pablo? – Olhou-o.
– Hm. Bom, Jackie quer dar uma festa de noivado.
– Bem a cara dela – Matias falou.
– É – Pablo concordou.
– E quando vai ser a festa? – Matias perguntou.
– Antes da Angie ir embora – Pablo respondeu.
– Eu preciso ir? – German perguntou calmamente e Pablo olhou-o.
– Mas é claro que sim, você será um dos padrinhos, German – Pablo respondeu e German respirou fundo. Ele assentiu – Olha, será uma reunião bem familiar, não se preocupe – German assentiu. Pablo levantou-se – O recado está dado – E partiu sorrindo.
– Ele está bem feliz, não é? – Matias comentou e olhou para German, que assentiu. Matias levantou-se – Ao menos na frente dele finja que está feliz, German.
– Por que não me deixa em paz? – German perguntou seriamente. Matias balançou a cabeça e partiu. German bufou e recostou-se na cadeira. Em seguida, voltou a ler um relatório que estava lendo antes.
**
Março/2012
– O que está fazendo aqui?
German perguntou após entrar na sala onde ficavam guardados todos os arquivos do escritório - a qual não era muito grande, diga-se de passagem - e encontrar Angeles sentada no chão com uma pasta aberta em seu colo. Angeles olhou-o, fechou a pasta e levantou-se.
– O Matias disse que eu poderia pegar um caso – Angeles levantou a pasta – Já escolhi – E tentou dirigir-se à porta, mas German colocou-se no caminho – Licença.
– Eu quero ver a pasta – Angeles encarou-o.
– Pra quê?
– Os casos pendentes não estão pendentes por acaso, garota. Eu quero ver o caso que você vai pegar – Angeles suspirou profundamente, balançou a cabeça e entregou a pasta.
German pegou a pasta, abriu-a e começou a ler o que havia dentro.
– Você sabe por que esse caso está pendente, Saramego? – Angeles negou com a cabeça e German olhou-a – Porque ele não tem fim – Angeles franziu o cenho. German fechou a pasta – Quanto mais você fuça, mais coisa suja aparece – Angeles estendeu a mão para pegar a pasta, mas German não a devolveu – Você é inexperiente e ingênua demais para lidar com este tipo de caso.
– Você está me subestimando, senhor Castillo? – German arqueou uma sobrancelha.
– Sim – Ele respondeu seriamente, encarando-a profundamente. Angeles assentiu.
– O bom é que eu não preciso provar nada para você – Ela falou calmamente – Pode me devolver a pasta?
– Na verdade, você precisa sim. Eu ainda sou seu chefe, Saramego.
German murmurava friamente.
– Me dê a pasta, por favor.
– Eu não vou deixar você colocar o nome do escritório em risco.
– Tudo bem – Angeles passou por German, mas ele virou-se e segurou seu braço, fazendo-a virar-se para ele.
– Não adianta ir reclamar com o Matias.
– Eu não ia reclamar com o Matias – Angeles desviou o olhar e balançou a cabeça– Sabe que eu não entendo? – Ela o encarou – A meu ver, é um caso simples, eu não entendo porque você não quer que eu o pegue.
– Ah é? Então me explique por que é simples – Angeles franziu o cenho.
– O Conti está preso há dois anos e nos dois anos não conseguiram provar que foi ele quem matou o sargento. É só eu reabrir o caso, pedir o habeas corpus para que ele responda em liberdade e provar que ele é inocente.
– Como você sabe que ele é inocente? – Angeles encolheu os ombros.
– Eu não sei. Eu apenas sinto.
– Ah... Intuição... Muito bom – German desdenhou – Como você vai provar?
– Eu ainda não sei – German balançou a cabeça.
– Você está pensando que é uma brincadeira? – Ele perguntou seriamente – Acha que vai ser fácil assim? Acha que não é arriscado? – German suspirou profundamente – Você tem noção de que, ao defender esse cara, você está colocando sua vida em risco, garota? – Ele perguntou rispidamente.
– Eu não vejo perigo nenhum nesse caso – Angeles encolheu os ombros – E, mesmo que visse, eu não me importo.
– Não se importa? – German respirou fundo – Se você quer saber, o Conti sabe de muito mais coisa sobre o que acontece dentro da polícia.
– E daí?
– E daí que qualquer informação que você conseguir tirar dele te coloca em risco. E pior ainda se você usar isto para tirá-lo da prisão – Angeles desviou o olhar. German respirou fundo e se convenceu de que conseguira fazer Angeles desistir do caso. Angeles encarou-o.
– Mesmo assim, eu quero tentar – German pressionou os dentes.
– Você é burra ou o quê? – Falou alterado – Não entende que esse caso não é para você?
– Eu sei do que eu sou capaz e se eu quero esse caso, é porque eu consigo levá-lo adiante – Angeles aumentou o tom de voz – Me dê a pasta – Ela tentou pegar da mão de German, mas ele afastou-a. Ela bufou e tentou novamente, mas German jogou a pasta no chão e segurou os braços dela com força.
– Esqueça esse caso – Murmurou friamente.
Ambos respiravam fundo e encaravam-se profundamente. German olhou para a boca de Angeles e estremeceu, em seguida voltou a olhá-la nos olhos. Angeles não sabia o que fazer. Ela queria e, ao mesmo tempo, não queria estar ali com ele. No momento seguinte, Jackeline entrou distraidamente na sala.
– Angie, vo... – Ela parou de falar assim que os viu daquela forma. Os dois olharam para ela – O que está acontecendo? – Angeles desviou o olhar e German olhou-a.
German soltou os braços de Angeles, pegou a pasta do chão e entregou à Angeles.
– Se você quer se arriscar, o problema é seu – Ele disse secamente – Eu não me importo – Angeles pegou a pasta e partiu.
– Não se cansa de tratá-la mal? – Jackeline falou calmamente e German olhou-a. Ele balançou a cabeça e saiu.
A primeira coisa que fez foi se dirigir à sala de Matias. Ele entrou sem pedir permissão e fechou a porta com força. Matias estava sentado em sua cadeira e Angeles estava sentada em uma das cadeiras que ficavam em frente a mesa de Matias. Os dois sobressaltaram-se um pouco e olharam para German.
– Eu não quero que ela pegue esse caso – Matias fechou a pasta e levantou-se.
– Não acha que é ela quem decide isto?
– Não – German aproximou-se mais da mesa – Você já viu qual é o caso, não viu? Você sabe que isto vai manchar o nome do escritório.
– Você nunca ligou para isto, German. Você já pegou casos como este antes – German pressionou os dentes – Qual é o problema agora? – Angeles levantou-se e fitou German.
– O problema é que ele acha que eu não sou capaz – German olhou-a.
– O problema é que você é teimosa, Saramego – Falou seriamente – Eu já expliquei sobre o caso e você quer insistir com isto.
– Tudo o que ela deve saber sobre o caso não está aqui? – Matias perguntou. German olhou-o e negou com a cabeça – Então... Nos conte tudo ué – German respirou fundo e sentou-se. Matias também o fez. Angeles hesitou um pouco mas, por fim, sentou-se também.
– Rafael Conti havia acabado de se tornar tenente e passou a ter bastante contato com pessoas importantes da polícia. Ele ganhou a confiança de muita gente – German respirou fundo e encarou Angeles – Ele não é santo, ok? Ele se envolveu em uma dessas organizações criminosas da polícia, que dizem proteger as periferias da cidade, mas, na verdade, só querem saber de dinheiro e poder.
– E o que o levou a prisão? – Angeles perguntou – Quer dizer, por que você acha que ele matou o sargento? – German bufou.
– Eu também não acho que foi ele quem matou o sargento, garota – Ele disse seriamente – O Conti viu como as coisas aconteciam. Muita gente inocente em perigo por conta desses homens. Ele quis sair, quis se afastar daquilo – German encolheu os ombros – Eu não sei porque mataram o sargento, eu só sei que eles tinham que calar o Conti e matá-lo não seria vantajoso para eles.
– Por quê? – Angeles perguntou.
– Porque ele conseguiu reunir muita coisa que poderia acabar com essa organização. Ele tem muita coisa escondida.
– E por que ele não as entregou ainda?
– Porque ele não sabe em quem confiar. Ele não é burro. Ele sabe muito bem que se ele entregar tudo o que ele tem nas mãos erradas, ele está ferrado.
– E você, sabendo disso, não quer me deixar trabalhar com ele? Se ele precisa de alguém em quem confiar, eu posso ser essa pessoa
– Ah, claro. A melhor solução é, realmente, se colocar como isca – Ele ironizou.
– Não é isso – Angeles falou em um tom mais alto e se levantou – Que droga. O que pode me acontecer de tão ruim? – German levantou-se também.
– Eu não sei – German falou alto – Mas você vai lidar com gente perigosa.
– Eu sei me cuidar – Ele pressionou os dentes e passou a respirar fundo.
– Não é uma questão de você saber se cuidar. Você é uma garota fraca, perto deles não vai adiantar você saber se cuidar – German gritou. Angeles estreitou os olhos.
– German – Matias repreendeu-o.
– Por que você não para de agir igual a um idiota controlador? – Ela gritou.
– Por que você não para de agir como uma garota irresponsável? – Ele retrucou.
– Se acalmem – Matias interveio. Inutilmente, porque os dois o ignoraram.
– Se você está tão incomodado, por que não trabalha junto comigo? – Ela sugeriu aos gritos.
– Porque não. E você não vai trabalhar nesse caso – Ele gritava.
– Por quê?
– Porque não. Porque eu não quero – Berrava – Porque eu não posso permitir que alguma coisa aconteça a você – Angeles e Matias entreabriram a boca e olharam-no com certo ar de perplexidade. German se deu conta do que havia falado. Ele desviou o olhar e murmurou: – Eu quis dizer que eu não posso deixar que qualquer pessoa daqui corra um risco desnecessário – Ele encarou-a – Isso pode prejudicar o escritório – Angeles respirou fundo e voltou ao seu normal.
– Isso não vai prejudicar o escritório – Murmurou – E nem vai acontecer nada comigo – German desviou o olhar – Eu vou defender o Conti e vou até o final – German encarou-a.
– Quer saber? O problema é seu – Ele disse calmamente – Não vai fazer diferença para mim se alguma coisa acontecer com você.
– Eu sei – Ela disse baixo. Pegou a pasta e saiu da sala. German ficou fitando o espaço onde ela estava antes.
– German – Matias chamou-o e ele encarou o amigo – Não precisava falar assim com ela.
– Não se meta – German falou rispidamente. Matias bufou e desviou o olhar.
– Como você sabe tudo aquilo sobre o caso? – Encarou German.
– Eu comecei a trabalhar nele.
– E por que não foi até o fim?
– Eu precisei largá-lo a pouco tempo.
– Por quê?
– Porque eu precisei, Matias – German respondeu secamente e respirou fundo.
– Qual é o seu medo? – Matias perguntou calmamente e German desviou o olhar – Se você quer que eu tente convencê-la a largar o caso...
– Eles já sabem dela – German falou alto e encarou Matias. Ele respirou fundo e continuou calmamente: – Ela já está vulnerável por causa desse caso faz tempo. Se ela seguir com isto, eu não sei o que pode acontecer – Matias suspirou.
– Tudo bem. Eu vou conversar com ela – German assentiu e caminhou até a porta – German – Matias chamou-o e ele virou – Não vai acontecer nada com ela – German engoliu em seco e partiu.
German caminhou até sua sala, fechou a porta com força e socou-a várias vezes. Estava nervoso porque havia deixado transparecer a sua preocupação. Uma preocupação que ele não aceitava que existia. Assim como tudo relacionado à Angeles. Eram sentimentos concretos que ele queria acreditar que não existiam, os quais ele fazia o possível para evitar.
German dirigiu-se à sua cadeira. Sentou-se, apoiou os cotovelos na mesa e fincou os dedos no cabelo. Subitamente, lembrou-se da visita inesperada que tivera por conta do caso.
Fevereiro/2012
O relógio de pulso de German já marcava meia noite e meia. Não havia mais ninguém no escritório. Ele ficara no escritório pois estava preparando-se para a audiência que teria no dia seguinte. German estranhou ao escutar duas batidas na porta de sua sala. Ele levantou-se, caminhou até a porta e abriu-a. Um homem grisalho e esbelto abriu um falso sorriso para German.
– Boa noite, Castillo – O homem estendeu a mão para cumprimentar German. German cumprimentou-o, muito a contragosto, e afastou-se da porta, para que o homem pudesse entrar.
– O que você quer, Galan? – Nicolas Galan, em nível de hierarquia, era o capitão da polícia e ex-chefe de Rafael Conti.German contornou a mesa e sentou-se. Nicolas sentou-se de frente para ele.
– Você deve saber porque eu estou aqui – German permaneceu quieto. Nicolas arqueou uma sobrancelha – Complicado esse caso do Rafael, não? Eu soube que você reabriu o caso e está defendendo-o.
– Sim. Eu estou nesse caso há quatro meses – Nicolas assentiu.
– Você é bom, Castillo. Precisou de apenas quatro meses para incomodar muita gente importante.
– Você é um dos incomodados?
– Você acha que estou envolvido nisso?
– Acho – Nicolas ficou sério.
– Pelo visto, você me julga muito mal, Castillo. Eu vim de bom grado avisá-lo para tomar cuidado e você me trata assim? – Nicolas disse com certo tom de sarcasmo e aproximou-se da mesa – Se eu fosse você, largaria o caso.
– Por que eu faria isso?
– Porque, primeiro: o Conti não é flor que se cheire; e segundo: você tem sido vigiado, Castillo – German pressionou os dentes – Cada passo que você dá, cada pessoa com quem você se relaciona – Nicolas encolheu os ombros e recostou-se na cadeira – Quer dizer, eu não tenho nada a ver com isso, mas... Conheço pessoas que tem. Conheço pessoas que sabem sobre seus amigos, sabem sobre seu pai e aquela garotinha, sabem sobre aquela velha que você visita e sabem sobre sua nova pupila – German franziu o cenho.
– De quem está falando?
– Daquela garota loira que trabalha a pouco tempo para você – Nicolas sorriu ironicamente – Fiquei sabendo que na última festa do ano passado, vocês tiveram um momento bem... Intenso.
– Como sabe sobre isso? – German murmurou.
– Digamos que você deve tomar cuidado com as pessoas que você confia aqui dentro. Na verdade, o que você deve fazer mesmo é largar o caso.
– Eu não vou largar e eu vou acabar com cada um de vocês – Nicolas arqueou as sobrancelhas.
– E colocar a vida das suas duas garotas em risco? – German engoliu em seco e logo, e inevitavelmente, pensou em Violetta e Angeles – Eu não estou dizendo que farei algo, afinal, eu nem estou envolvido nisso. Mas tem pessoas que adorariam vê-lo sofrer – Nicolas encolheu os ombros – Eles tem piedade com uma criança, provavelmente só te dariam um susto, mas tenho certeza que não veriam problema em brincar um pouco com a sua nova garota dos olhos – German socou a mesa.
– Ela não tem nada a ver com isso – Falou rispidamente – Elas não tem nada a ver...
– Mas vão ter se você continuar com isto – Nicolas levantou-se – Espero não vê-lo de novo, Castillo – Nicolas sorriu forçadamente e partiu.
No dia seguinte, ele largou o caso. Depois daquele dia, German passou a seguir Angeles todos os dias até o apartamento dela sem que ela percebesse. Ele não queria que ela o visse e pensasse que ele estava ficando louco e nem queria se aproximar ao oferecer carona a ela. Do jeito dele, ele só estava tentando protegê-la. Também reforçou seus cuidados com a Violetta. E ficou mais atento com relação às pessoas que trabalhavam no escritório. Depois de muitos anos, ele estava se sentindo vulnerável.
German recostou-se na cadeira e afrouxou a gravata. “Ela não pode pegar esse caso”, não parava de repetir isto em sua mente. Seu telefone tocou e o despertou dos pensamentos. Ele atendeu.
– Senhor Castillo
– O que você quer, DiPietro?
– O senhor Miguel está aqui.
– Peça para ele me deixar em paz.
– Ele disse que é urgente – German bufou.
– Mande-o entrar.
Miguel bateu à porta e entrou. Fechou-a e aproximou-se da mesa.
– Oi, German.
– O que você quer? – Miguel sentou-se. Ele estava com o semblante pesado e os olhos um pouco vermelhos.
– Eu acabo de vir do médico.
– E daí?
– Eu estou com câncer – German engoliu em seco e permaneceu quieto – O médico disse que não é tão sério, mas... – Miguel encolheu os ombros – Não tem como receber uma notícia dessas e ficar tranquilo – German desviou o olhar. Levantou-se, virou de costas e colocou as mãos nos bolsos.
– E você quer que eu faça o quê? – Perguntou com uma voz baixa.
Miguel fechou os olhos e abaixou a cabeça.
– Nada, German – Levantou-se – Eu só achei que você deveria saber.
– Ok – German virou-se e encarou o pai – Pode ir – Disse com a sua frieza habitual.
Miguel assentiu e partiu. German caminhou até uma pequena prateleira no canto da sala e serviu-se um whisky. Depois, tomou outro. E outros. E, por fim, decidiu não mais ficar no escritório. Saiu de sua sala, trancou-a e partiu apressadamente do escritório. Ia pegar o carro, andar por aí, apenas relaxar. Era o que ele precisava, pois o dia, definitivamente, não fora fácil.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
O que acharam?