¿Que nos está pasando? escrita por Duda


Capítulo 12
Não se preocupe, German.


Notas iniciais do capítulo

O menor capítulo até agora, mas tá aí...

Boa leitura, girls.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/496806/chapter/12

Angeles abriu os olhos lentamente e a primeira coisa que escutou foi o som do coração de German. Deu-se conta de que ainda estava com a cabeça deitada no peito dele. Ela também sentiu os braços dele em volta dela, abraçando-a suavemente. Angeles respirou fundo e sorriu sem mostrar os dentes. Após um bom tempo, ela levantou a cabeça e ergueu um pouco o tronco, para olhá-lo. German fitava, seriamente, o teto. Ele encarou-a e suspirou.

− Está tudo bem? − Angeles perguntou.

− Sim − Ele falou seriamente − Por quê? − Sentou-se lentamente na cama e colocou as pernas para fora da cama, ficando de costas para Angeles.

− Você... Está estranho − Ela sentou-se na cama e colocou a mão no ombro dele − O que foi, German? − Ele levantou-se e não a olhou.

− Eu vou tomar banho, depois vou levá-la para sua casa − German caminhou até o banheiro.

**

German saiu do banheiro e estranhou ao não ver Angeles em seu quarto. Arrumou-se rapidamente, foi até a sala, depois à cozinha e, por fim, à sacada. Lá estava ela. German abriu a porta da sacada, ao que Angeles se virou para olhá-lo. Os olhos dela estavam vermelhos e encharcados.

− Eu quero ir para o hospital − Ela disse seriamente. German deu pequenos passos lentamente e parou no meio do caminho.

− Agora? − Ela assentiu e abaixou a cabeça.

− German... − Murmurou − Você está estranho por causa do meu pai? − Olhou-o. German aproximou-se mais e engoliu em seco − Eu falei com o meu irmão − Ela fechou os olhos com força, tentando impedir mais lágrimas escorressem. German deu mais alguns passos e ficou a poucos centímetros de Angeles. Angeles encarou-o e balançou a cabeça − Meu pai está entre a vida e a morte − Balbuciou e começou a chorar. German colocou a mão direita na nuca de Angeles e depositou um beijo carinhoso na testa dela. Em seguida, abraçou-a forte.

− Quer mesmo ir para o hospital?

− Não sei − Angeles afastou-se um pouco e o encarou − Eu não sei o que eu quero fazer.

German colocou as duas mãos no rosto de Angeles e tentou enxugar as lágrimas dela com os polegares. Vê-la daquele jeito estava sendo dolorido para ele. German podia ser o que fosse, mas vê-la sofrer se tornara horrível para ele.

− Eu acho que tem uma pessoa que pode te distrair um pouco − German murmurou e sorriu sem mostrar os dentes − Espera aqui − German entrou, colocou os sapatos, pegou a chave e os documentos do carro, voltou para a sacada e aproximou-se de Angeles − Vamos?

− Para onde? − Ele pegou a mão dela e entrelaçou seus dedos aos dela.

− Confia em mim.

**

− Tio German − Violetta disse alegremente assim que o viu entrar em seu quarto. Fechou o livro que estava lendo e repousou-o na escrivaninha. Em seguida, avistou Angeles e surpreendeu-se − Angie? − Violetta sorriu e levantou-se − Eu estava com saudade − Angeles abaixou-se e abriu os braços, Violetta abraçou-a.

− Eu também estava com saudade, pequena − Afastaram-se − Como você está?

− Bem, Angie − Violetta acariciou o rosto dela − Mas você não está bem, né?

Angeles sorriu sem mostrar os dentes. Violetta pegou a mão dela e puxou-a. Angeles levantou-se e seguiu-a. As duas sentaram-se na cama. German encostou-se no batente da porta e ficou olhando-as.

− O que foi, Angie?

− Meu pai não está muito bem, Villu − Angeles passou a mão pelo cabelo da garota − Mas não vamos falar sobre isto. Eu quero saber de você. Como estão as coisas na escola? − Violetta ficou séria.

− Eu vou entrar de férias − Desviou o olhar − Finalmente.

− Não está contente com a escola?

− Não é isso... É que... – Ela encolheu os ombros e encarou Angeles – Eu não gosto de lá – Angeles franziu o cenho.

– Por quê?

– Porque eu acho que as outras crianças da minha sala não gostam de mim – Violetta murmurou e passou a fitar o vazio.

– Por quê, Violetta? – German perguntou seriamente e Violetta olhou-o.

– Eu não sei – Ela respondeu cabisbaixa – Elas não gostam.

– Deve haver um motivo – Ele disse firme – Se você não me disser, eu vou descobrir sozinho – A garota bufou e olhou para Angeles, que acariciou o cabelo dela.

– Você precisa dizer, Vilu. Você não pode continuar em um lugar onde não se sente bem. Nós precisamos resolver isto – Violetta respirou fundo e desviou o olhar.

– É que... Eles ficam dizendo que eu sou estranha e que deve ser porque... Porque... Eu não tenho... – Ela encarou German – Porque eu sou órfã.

German ficou mais sério do que o normal, desencostou do batente e passou a mão, furiosamente, pelo cabelo. Repousou a outra mão no quadril e respirou fundo. Angeles passou o braço pelas costas de Violetta e encostou-a em seu corpo. Os olhos da garota lacrimejaram.

– Você deveria ter me dito antes, Violetta – Ele disse rispidamente. Passava a mão no cabelo, demonstrando seu nervosismo – Isto não vai ficar assim. Eu vou na sua escola.

– Tio German – Violetta disse com uma voz de choro e iniciou um choro silencioso. Angeles passou o outro braço por ela e abraçou-a.

– German – Angeles chamou-o. Ele suspirou profundamente. Puxou a cadeira de escritório que ficava em frente a escrivaninha e sentou-se. Aproximou-se da cama e pegou uma das mãos de Violetta.

– Por que não me disse antes? – Ele perguntou calmamente.

– Porque eu sabia que você ia ficar assim – A garota balbuciou – Eu sei que você fica triste por eu não ter uma família normal – Ela fungou – Mas eu não ligo porque eu tenho você e o vovô. E agora eu tenho a Angie também – German engoliu em seco e encarou Angeles, que ficara séria. Violetta enxugou o rosto – Eu não me importo com o que eles dizem porque você mesmo disse que eu não preciso de ninguém – Angeles revirou os olhos, reprovando o que German dissera para Violetta. German respirou fundo e olhou para a garota.

– Eu sei que eu disse isso, mas... Não é verdade – Ele bufou – Todo mundo precisa de alguém.

– Até você? – German olhou para Angeles, engoliu em seco e voltou a encarar a garota.

– Até eu – Murmurou.

– Então, por que você gosta de ficar sozinho?

– Eu me acostumei, Violetta – Ele suspirou e desviou o olhar – O seu avô sabe disso?

– Não – German olhou-a.

– Por que não?

– Porque você me disse para resolver os meus problemas sozinha – Angeles balançou a cabeça negativamente.

– Eu estava errado – German disse baixo e abaixou, rapidamente, a cabeça – Você é muito nova para resolver tudo sozinha – Ele suspirou – Um dia você vai perceber que não dá para carregar o mundo nas costas. Sem contar que é horrível sofrer calado – Violetta afastou-se de Angeles e esticou o braço para acariciar o rosto de German.

– Então, como você aguenta? – German entreabriu a boca.

– Eu... Eu não sofro, Violetta – Ele engoliu em seco – O que te faz pensar isto?

– O seu olhar, tio German – Violetta suspirou e tirou a mão do rosto dele.

– O meu olhar te enganou, então – Ele sorriu sem mostrar os dentes e Violetta sorriu. Angeles permaneceu séria. German respirou fundo e continuou: – Eu preciso ir na sua escola.

– Não precisa, tio German.

– Violetta, isso não pode ficar assim. É um assunto sério. Essas crianças não podem brincar com isto – Violetta bufou e olhou para Angeles.

– Diz para ele que não precisa, Angie – Angeles suspirou.

– Vilu, ele tem razão – Ela acariciou o rosto da garota – Você não merece passar por isto.

– Eu não preciso deles – Angeles suspirou – Eu tenho vocês. Você é minha amiga, não é? – Angeles sorriu.

– Claro que sim e sempre estarei do seu lado. Mas você precisa de amigos da sua idade, com quem você possa compartilhar certas coisas que não compartilharia comigo ou com o tio German. Eu sou sua amiga, e, no que depender de mim, sempre serei, mas quando eu precisar te dar umas broncas, eu o farei – Violetta sorriu.

– Eu não consigo imaginar você brava, Angie – Angeles sorriu e Violetta encarou German – Você consegue, tio German?

German estava preso em um transe. Ele as olhava e só conseguia imaginar uma manhã de domingo sendo acordado pelas duas ou como seria bom vê-las daquele jeito todos os dias da sua vida.

– Tio German? – Violetta estalou os dedos na frente da cara dele e ele caiu em si. Suspirou pesadamente – O que foi?

– Nada. O que você perguntou?

– Eu perguntei se você consegue imaginar a Angie brava? – German entreabriu a boca e encarou Angeles.

– Ele já me deixou brava muitas vezes – Angeles disse descontraidamente e Violetta olhou-a.

– Mesmo? – Angeles assentiu. Violetta encarou German.

– Que feio, mocinho! – Angeles sorriu e German arqueou as sobrancelhas – Por que você a deixou brava?

– Porque ela é teimosa e não escuta o que eu falo – German murmurou – Se você quer saber, ela também já me deixou bravo muitas vezes – Violetta bufou.

– Eu não sei o que fazer com vocês dois.

German abriu um sorriso singelo, ao que Angeles ficou presa. Era a primeira vez que ela o via sorrir e pôde jurar que não estava mais sofrendo por um breve tempo. Ela desejou ver aquele sorriso pelo resto de sua vida, mas sabia que seria impossível. De repente, German percebeu que ela o olhava abismada e fechou a cara aos poucos. Engoliu em seco e desviou o olhar, sem graça.

– Eu vou... – Olhou-as e levantou-se – Vou deixá-las conversar – E partiu.

– Você viu isso, Angie? O tio German ficou sem graça – Violetta sorriu e Angeles continuou séria, apenas olhando para a porta – Eu pensei que nunca veria isso.

– F-Foi impressão sua, Vilu.

– Angie, por favor... – Angeles encarou-a e arqueou uma sobrancelha. Violetta soltou uma risada discreta – Qual é, Angie? Primeiro, você ficou boba porque o viu sorrir e, depois, ele ficou sem graça porque você o viu fazer uma coisa que ele raramente faz. Vocês não me enganam.

– Vilu, eu e o German não temos nada – Violetta abriu a boca para argumentar – E nunca teremos – Violetta bufou e desviou o olhar.

– Tudo bem, eu acredito em você – Violetta olhou-a – Mas seria legal se...

– Não – Angeles passou a mão pelo rosto de Violetta e sorriu – Agora me fala sobre como estão as coisas fora da escola.

**

Angeles entrou na sala de espera acompanhada por German. Havia um outro homem, do outro lado da sala, que olhou-os e franziu o cenho. Era um senhor grisalho, de olhos verdes e marcas cansadas no rosto, alto e forte. Angeles sorriu fracamente e aproximou-se dele.

– Oi, tio – Ele sorriu para ela e acariciou seu rosto.

– Está linda, minha princesa – Angeles abraçou-o e ele correspondeu.

– Quando chegou?

– Hoje pela manhã – Ele encarava German seriamente – Onde você estava? – Angeles afastou-se do tio, pegou a mão dele e puxou-o, suavemente, até German.

– Eu estava com ele, tio – Ela murmurou – German Castillo. Meu... – Angeles encarou German – Chefe – Disse cabisbaixa.

– Ex-chefe, na verdade – German disse baixo e fitou o senhor à sua frente.

– Enrique Saramego – Enrique estendeu a mão para um cumprimento – Muito prazer em conhecê-lo – O homem usava um tom de voz estranhamente sério – O meu irmão já comentou sobre você. É um advogado excelente, não? – German entreabriu a boca.

– Sim – Angeles colocou a mão no braço de German – Ele é ótimo – Os dois encararam-se – É um dos melhores – Ela sorriu sem mostrar os dentes e ele respirou fundo.

– Bom saber – Enrique interveio. German e Angeles olharam-no – Posso falar com você a sós, senhor Castillo? – German assentiu. Enrique assentiu e depositou um beijo na testa de Angeles – Não se preocupe, querida.

Enrique saiu da sala de espera e German seguiu-o. Caminharam até a lanchonete do hospital e sentaram-se.

– O senhor está responsável pelo testamento do Antônio, não é?

– Não acha que é cedo para falarmos sobre isto?

– Eu não sei, senhor Castillo – Enrique desviou o olhar e suspirou pesadamente – Eu pareço um insensível ao querer falar sobre isto agora, não? – Olhou para German, que continuou quieto – A questão é que... Minha preocupação é com Angeles e Agustín – German franziu o cenho e Enrique bufou – Eles não são os únicos filhos do Antônio e eles não sabem disto – German só conseguiu pensar no quanto Angeles sofreria com esta notícia. Enrique continuou, mais sério do que o normal: – Antônio tem uma filha com outra mulher.

– Ele nunca mencionou – German murmurou – Quem sabe sobre isto?

– Eu e ele, apenas. Ela não foi registrada como filha dele. Na época, ele se negou a fazê-lo – German entreabriu a boca – Eu sei, Antônio não se parece com o tipo de homem que faria algo do tipo – Enrique desviou o olhar – Eu fui contra isto. A mulher com quem Antônio teve uma filha foi a mesma por quem eu fui apaixonado, então, eu... Eu casei com ela e criei sua filha como se fosse o pai – Encarou German – Foi uma garota boa até os seus 15 anos, quando eu percebi o tipo de pessoa ambiciosa e dura que ela era. Ela é – Ele encolheu os ombros – Eu vivi com elas, na Espanha, até ela completar 20 anos – Enrique desviou o olhar – Eu a tenho como filha, mas não aprovo o caminho que ela tomou – Ele respirou fundo e olhou profundamente para os olhos de German – Depois, eu descobri que ela conheceu um rapaz na Espanha e voltou com ele para Buenos Aires – German assentiu e desviou o olhar – O que mais me impressiona é o fato dela ser completamente diferente da Angie – German olhou-o rapidamente – Angie é doce, gentil, amável e tem um coração maravilhoso – German engoliu em seco e encarou Enrique – Ela jamais faria alguém sofrer. Eu via as duas juntas, das vezes eles nos visitavam na Espanha, e ficava muito clara a diferença entre elas – German franziu o cenho.

– Por que está me contando tudo isto? – Murmurou.

– Porque um dia toda esta história fará sentido, Castillo – Enrique falou calmamente – Mas eu não quis conversar com você por isto. A verdade é que eu preciso saber o que você tem com a minha sobrinha? – German engoliu em seco – Eu quero saber o que você sente pela Angie e o que você pretende com ela – German franziu o cenho.

– Eu não pretendo nada com ela – Ele respondeu rispidamente e desviou o olhar. Respirou fundo e murmurou: – Eu não sinto nada por ela.

– E eu não sinto firmeza no que está dizendo – Enrique disse seriamente e German encarou-o – Seus amigos me contaram sobre vocês e...

– Nós não temos nada – German interrompeu-o. Enrique soltou um riso anasalado.

– Eu vi quando chegaram juntos hoje e vi a forma como se olharam.

– Eu e Angeles não temos nada e não sentimos nada um pelo outro – German levantou-se – Eu preciso ir – Respirou fundo – Até mais.

**

Uma semana depois

German avistou um amontoado de pessoas vestidas de preto no cemitério e foi aproximando-se lentamente. Angeles estava com a cabeça encostada no ombro do tio e seus olhos estavam vermelhos. German parou ao outro lado da campa e encarou Angeles, que acabara de notá-lo. Ela sorriu sem mostrar os dentes, ao que German respirou fundo. Ele apenas queria tirá-la dali.

Antônio morrera e deixara sob a responsabilidade de German o testamento, a parte burocrática da empresa e a proteção de Angeles. Ele fizera German prometer que a protegeria, mas German se negou a fazê-lo. O fato é que nem precisaria pedir, pois tudo o que German tem tentado fazer é protegê-la.

Ao fim do enterro, German esperou que todos dispersassem, até que Angeles ficasse sozinha. Ela olhava fixamente para o buraco por onde descera o caixão, agora preenchido por terra. German aproximou-se lentamente dela. Ele parou ao lado de Angeles, que o lançou um olhar tristonho.

– Como será daqui para frente? – Ela perguntou seriamente. Ele levou a mão direita ao seu rosto e acariciou-o.

– A vida segue – Ele disse baixo – Uma hora ela tem que seguir.

– Você estará do meu lado?

– Você sabe que eu não posso – Ele sussurrou – Não me peça isto – Angeles abaixou a cabeça – Você tem outras pessoas do seu lado, não precisará de mim – Ela soltou um riso abafado e balançou a cabeça.

– Eu não vou precisar de você, German? – Ela encarou-o – Sério? – Ele suspirou pesadamente e deu um passo para trás – Por que está aqui, então? – German desviou o olhar – Não precisa dizer. Eu nem quero saber.

– Está sendo injusta, Angeles – German murmurou e olhou-a.

– Estou? – Angeles assentiu – Claro. Desculpa. É que a única pessoa capaz de me confortar, em algum momento, vai me dar as costas.

– Por que não pede para o seu namorado te confortar? – Angeles revirou os olhos e tentou passar por German, mas ele colocou o braço em frente a ela e impediu-a de ir – Desculpa – Murmurou – Eu não deveria tratá-la assim – Falou seriamente – Não agora.

– Não se preocupe, German – Ela o olhou – Eu sei que, não importa o quão maravilhoso você seja, tudo isto será passageiro. Eu não estou reclamando, é só que... – Ela desviou o olhar – Se for para me tratar mal ou me ignorar depois, não seja bom comigo, não me faça acreditar que as coisas podem ser diferentes – Ela o olhou – Eu preciso ir. Vou ficar com a minha família agora – German assentiu e, antes que Angeles, apressadamente, se afastasse, ele depositou um beijo suave na testa dela.

– Até mais.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então?