Tomo o banho mais demorado da minha vida. Deixo o aroma do sabonete impregnar minha pele, quero estar no meu melhor quando Steve me encontrar. É claro que minha mente vai a mil tentando descobrir qual seria sua intenção com a surpresa.

Visto um vestido preto longo e um pouco decotado, com um corte até a altura da coxa. Maquiei-me mas sem exageros, sei que Steve gosta mais da minha forma natural. Calcei saltos altos e sai do dormitório. Lá fora, como um segurança pronto para me escoltar até meu destino, está Logan.

— O que você quer? — sou direta e seca.

— Conversar. Veja, eu também sou terrível nisso. Somos muito parecidos, na verdade.

— Eu nunca trairia um amigo.

— Não? Nem se fosse para sua sobrevivência? Ou para uma missão para seu chefe do tapa-olho?

— Primeiramente meu novo chefe não usa um tapa-olho. E se eu soubesse que uma criancinha confiasse em mim como uma irmã mais velha, jamais mataria seu pai! — eu gritei a última parte.

— Mas abandonou uma criança.

— O que?

— Angeline eu acho. — Angie. Eu não a havia abandonado! Isso doeu no fundo do meu coração e fez com que eu sentisse ainda mais raiva dele.

— Não diga o que não sabe.

— Tanto faz. Natasha, eu não sei nada sobre você, porém... Eu queria que me perdoasse por aquilo. Eu sei que naquela época você era mais sensível, mas mesmo que não teria sido uma tremenda crueldade. Entende? Gostava da garota que você era e gosto da mulher forte que se tornou. Queria que pudessemos de alguma forma... continuar a sermos amigos. — ele pronunciou cada palavra como se as tivesse ensaiado, e eu soube que ele era tão ruim quanto eu em expressar seus sentimentos.

— É, foi convincente.

Ele me encara, confuso, e então tomo uma decisão difícil: perdoar o homem que me causou tanto sofrimento. Eu o abracei, porque não saberia descrever com palavras.

— Certo, mas agora você tem um jantar para comparecer.

Ele me empurrou para outro homem, que me sobressaltou ao perceber que era...

— Sam! — eu o abracei e ele retribuiu, sorrindo.

— Sabia que seria um momento oportuno.

— Você sabe o que ele está preparando?

— Claro que sei. Mas é surpresa.

— Vamos lá! Uma pista?

— Nem pensar. Venha, madame.

Ele me deu o braço e me acompanhou para o jardim de frente da escola. Alguns alunos caminhavam por lá, cochichando e lendo livros, ou ao celular, nenhum deles podia ver ou sentir meu nervosismo. Paramos numa parte mais afastada, onde há uma mesa para dois forrada com uma toalha branca e vermelha, com um jantar maravilhoso e um homem melhor ainda me esperando.

— Isso é incrível! — eu elogiei Steve.

Devo admitir, ele estava muito gostoso naquele terno preto. Eu quero pular o jantar e partir para ele. Mas está tudo tão lindo que não consigo.

— Sente-se. — ele puxa a cadeira para mim. — O que achou de Sam ter voltado?

— Foi maravilhoso. Quero ouvir tudo sobre ele depois disso.

— Sabe quem mais está tendo "terapia" com Xavier?

— Não. Sam?

— Não, Bucky. Está sendo maravilhoso para ele. Suas memórias estão mais refrescadas, você vai adorar.

— Estou nervosa, Steve. — eu resmunguei enquanto ele servia meu prato. Logo que provei, parecia estar nas nuvens. — Steve! Você que cozinhou?

— Foi sim.

— Meu Deus! Como uma mulher como eu arranjei um anjo como você?

— Você está muito gentil. O que está acontecendo?

— Hoje mais cedo eu perdoei Logan. Estou me sentindo bem agora.

— Isso é tão bom.

— Eu sei.

— Nat, esse jantar não é só mais um... Eu quero que seja realmente especial.

— Está sendo.

— Me acompanhe numa caminhada pelo lago?

Eu o sigo, segurando sua mão enquanto apreciamos uma caminhada, eu sentia algo diferente em relação a Steve.

De repente, vi que estávamos seguindo um caminho de pétalas de rosas.

— O que é isso? — perguntei.

— Você vai ver.

As rosas terminaram quando chegamos a uma exposição de velas formando uma frase. Uma simples frase com poucas palavras, mas as que mais marcaram minha vida.

Quer se casar comigo?

Meu coração pareceu contorcer-se de excitação e vir parar na minha garganta. As palavras martelavam na minha cabeça. Eu nunca havia pensado no casamento como um desejo. Sempre como algo que garotas iludidas faziam. Mas agora eu conhecia o amor, que também acreditei ser invenção dos perdidos, mas será que era mesmo?

— Então? Quer se casar comigo? — Steve perguntou, e notei que ele estava de joelhos com uma aliança linda.

— Eu... Eu... Steve! Como pode me perguntar isso assim?! — eu não queria, mas meus olhos marejaram. — Eu não sei... Nunca pensei que isso aconteceria... Você me pegou de surpresa e... — ele ficou de pé, a frustração estampada em seu rosto.

— Tudo bem, desculpe. Me apressei, eu só... pensei que sentisse o mesmo.

— Eu...

— Não, está tudo bem.

Ele saiu, e tive certeza que o havia feito chorar. Fiquei tão triste que nem consegui sair do lugar, fiquei encarando as velas que seriam apagadas pelo vento em pouco tempo e senti um aperto forte no coração.

— Que porra foi essa, ruivinha? — ah não! Não, não, não. Tony não.

— Saia daqui! — eu gritei.

— Natasha. — ele puxou meu ombro e me fez olhar diretamente em seus olhos castanhos. — Você viveu uma vida difícil e tentou esconder seus sentimentos por todos, mas não pode deixá-lo escapar. Tudo bem que o cara é um mané, mas vocês dois são... Incríveis, tá legal? Agora, por favor, não arruine sua chance de felicidade por um capricho ou orgulho.

Tony tinha razão. Nunca pensei que fosse dizer isso. Desvencilhei-me de seu aperto e corri atrás de Steve. Eu o encontrei sentado num banco de madeira, solitário e de cabeça baixa.

— O que você quer?

— Pedir desculpas.

— Não tem porque.

— Steve. Eu te amo muito, e você sabe disso. É só que... Eu nunca tive ninguém para contar assim, sabe? Você seria o primeiro e eu me apavorei.

— Eu entendo.

— Então quer fazer o favor de colocar a aliança no meu dedo?

Ele ergueu o olhar, confuso.

— Isso quer dizer...?

— Sim, Steve. Eu quero me casar com você.

Ele sorriu e fez todo meu mundo brilhar, me pegou nos braços e me beijou voraz, apertando meu peito contra o seu. Depois, lentamente, colocou o anel no meu dedo anelar, e eu me senti completa.

...

— Quer dizer que vão mesmo se casar? — Maria me perguntou depois de duas semanas. Ela, Angie, Pepper e Jane me ajudavam a escolher o vestido de noiva perfeito.

— É claro que vamos!

— Nunca pensei que fosse presenciar o casamento de Natasha Romanoff. É adorável.

Tudo aquilo da máquina invencível havia sido consertado. A S.H.I.E.L.D se reerguia das cinzas com orgulho.

— Esse vestido não realça seu corpo. — Pepper ponderou, estendendo-me outro. — Tente este.

— Foi uma dificuldade colocar Thor num terno. — Jane esbaforiu-se.

— Eu não tenho um par. — disse minha irmãzinha mais nova, de ombros curvados.

— Mas vai encontrar um. E se não encontrar, que se dane, você é uma mulher independente. — expliquei.

Ela sorriu.

...

Era finalmente o dia. Meu coração batia tão desesperadamente que eu achava que todos ali o ouviam. Nos casamos em um sítio. Ao pisar no tapete branco, com Angie como daminha, eu senti que ali era meu lugar, ao lado do homem loiro que me esperava no "altar".

A cerimônia foi perfeita, e eu confesso que chorei quando ele leu seus votos. Não podia estar mais feliz naquele momento. Olhei para os convidados, minhas madrinhas de um lado, e os padrinhos ( Tony, Bruce, Thor e Sam) de outro. Tudo estava perfeito.

E em algum momento naquela noite eu e Steve fomos juntos numa viagem para a França.

...

Eu e Steve já estávamos casados há seis meses. Nossa viagem havia chegado ao fim e eu estava parada na frente da porta de Xavier, esperando a coragem ser reunida para entrar e começar minha primeira sessão de "terapia".

Quando finalmente abri aquela porta, eu não sabia o que me esperava, mas sabia que não importava o resultado, Steve estaria sempre ao meu lado, e isso me bastava. Na verdade, era tudo que eu queria desde o começo.