Minha doce fera escrita por C0nfused queen


Capítulo 1
Capítulo 1




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França – 1814

Diferente da maioria dos contos de fadas, esta história não iniciará com um simples “Era uma vez”, ou falará sobre cavaleiros em armaduras reluzentes, princesas presas em torres, belos vestidos de baile ou utensílios mágicos de cozinha, nesta história não haverá monstros terríveis ou um relógio que da tiques quando não fazem o que o mandam, essa história se passará na França, mais precisamente em um pequeno reino da mesma e falará sobre um jovem rapaz, dotado de beleza e de uma estrema arrogância, ele não era alguém qualquer, era um príncipe, órfão, sem qualquer outro herdeiro ele deveria assumir o trono, com apenas 17 anos, teria grande responsabilidade em suas mãos, mas ele nunca chegará a assumir o trono, o motivo era desconhecido, ele trancou-se em seu castelo e nunca mais foi visto. Sem um soberano o reino caiu em desespero, pois quem seria capaz de protegê-los, se não aquele que fora encarregado disto?

Nossa história não fala apenas do jovem príncipe, mas de uma moça, seu nome era Bela, ela não era uma princesa nem mesmo alguém que possuísse uma condição financeira invejável, ela era filha de um camponês, um inventor, um pobre e humilde inventor, capaz de passar um dia inteiro pensando em grandes obras com um cachimbo em mãos e suas ferramentas em outra, eles viviam em uma vila, onde eram consideradas pessoas bastante diferentes, ele por seus inventos malucos e ela por passar mais tempo lendo um livro do que pensando em vestidos e em casamentos com jovens em uma posição de destaque na sociedade francesa, como as demais moças. Essa jovem, porém possuía uma beleza incrível o que fazia com que todos a sua volta, até mesmo os que a criticavam a desejassem como esposa ou nora. Essa jovem Bela, de longos cabelos castanhos avermelhados e pele branca como a neve era eu.

Na época eu possuía 16 anos, era jovem, ingênua, sonhadora, desejava algo além de viver minha vida em uma casa no campo, cuidando de crianças ou então envelhecendo ao lado de meu marido eu queria viajar, conhecer o mundo, descobrir algo novo, fazer tudo que fosse permitido para uma mulher fazer naquela época. Mas no fim do dia eu via que nada havia mudado eu continuava presa em minha rotina limitada de todos os dias que se resumia apenas a andar pela vila e gastar horas e horas na livraria do senhor Saint Claire, vendo e invejando aqueles que tinham a coragem e a possibilidade de fazer o que eu não podia. Ainda havia o meu pai, não poderia simplesmente deixá-lo, ele estava velho e doente, desperdiçara tempo e saúde em suas engenhocas malucas, sabia que ele não conseguiria viver sem mim.

Naquela manhã acordara pensando em minhas possibilidades, levantei bastante sonolenta e arrumei minha cama, além de tudo eu era encarregada de cuidar dos afazeres da casa desde que minha mãe nos abandonara eu tomara seu lugar como dona de casa, passei água em meu corpo e depois peguei um vestido qualquer, prendi meus cabelos e peguei minha cesta, dentro dela coloquei meus livros e algo para o senhor Saint Claire, mas antes de ir eu precisava fazer o de sempre, tirar meu pai de sua oficina e obrigá-lo a dormir um pouco, provavelmente ele passara toda a noite construindo suas invenções para a feira que ele participaria em alguns dias, normalmente ele trabalhava até muito tarde fumando seu cachimbo de madeira e bebendo cerveja barata, depois de muitas horas de esforço acabava dormindo sobre o trabalho e eu teria que convencê-lo a abandonar tudo e descansar um pouco, apesar disso tudo eu o amava muito, desde muito cedo ele se esforçara para cumprir ambos os papeis de pai e mãe mesmo falhando muitas vezes.

Ele estava debruçado sobre a escrivaninha de madeira ao lado jazia um copo de bebidas e suas ferramentas, toquei levemente seu ombro e ele levantou subitamente a cabeça.

-Bela, minha filha, estou quase conseguindo meu bem. – ele falou pegando em minhas mãos.

-O que papai? – perguntei sorrindo e ele apontou ao lado uma enorme maquina.

-Daqui a algum tempo, quando pronta cortará troncos de madeira sozinha.

-Papai... Confio no senhor, mas acho que talvez devesse se preocupar mais com sua saúde – disse pegando o copo e seu cachimbo.

-Minha filha... – ele disse meio triste – quero que se orgulhe de mim, e quero provar a todos desta vila que posso até mesmo ser louco, mas o que faço realmente funciona.

Toque levemente seu rosto.

-Não a nada nesse mundo que eu me orgulhe mais do que você papai.

Ele suspirou e voltou a trabalhar, coloquei suas coisas na cozinha de nossa pequena casa e peguei minha cesta, iria para vila aturar olhares de reprovação e os galanteios de Gastón, ele era o principal caçador de aldeia, jovem, bonito e muito, muito convencido, era o tipo de rapaz que arrancava suspiros de todas as mocas quando passava, poderia ser considerado o casamento perfeito, o meu casamento perfeito, mas eu apenas o recusava.

Andei calmamente pela estrada de terra, apanhando flores no caminho, cantarolando e sonhando como sempre, peguei meu livro e segui lendo por todo restante do caminho.

Ao chegar os olhares de todos se voltaram para mim, às mulheres quando passava torciam os narizes e os empinavam o máximo que pudessem e os rapazes olhava para mim sem nenhum pudor.

Eu nem ao menos me importava seguia lendo calmamente rumo a livraria, nossa vila não era algo simples, pequeno, com algumas casas de madeira, as maiores eram reservadas aqueles que possuíam certo dinheiro ou uma família de prestígio, o centro possuía um chafariz de pedras e muitas, muitas flores o decorando.

Carroças e carruagens cortavam a simples estrada de terra batida e as pessoas gritavam umas com as outras no mercado implorando por certos descontos.

Por onde passava sorria e desejava bom dia, mas nem sempre era recebida com o mesmo entusiasmo. Até chegar a livraria onde o senhor Saint Claire, o dono da livraria, com seus cabelos brancos e seu sorriso acolhedor desejou-me bom dia e me deixou a par das novidades.

-Isto chegou para você Bela. – ele sorriu e me entregou um grosso livro de capa preta – Logo que o vi eu me lembrei de você.

Abri o livro calmamente e me deparei com um exemplar perfeito de meu livro favorito na infância, este sempre me atraia como ninguém, lugares distantes, novos conhecimentos, um amor impossível, um beijo...

O agradeci e passei o resto da tarde me deliciando com tudo aquilo que um livro pode transmitir, ate perceber que o dia escurecia e eu precisava retornar o quanto antes para casa.

Ao sair da livraria notei que alguém me observava de longe, tentei me distanciar, mas braços de Gastón me impediram.

-Olá Bela! – ele falou expondo ao máximo seu belo físico.

-Gastón... – eu o cumprimentei a contragosto e segui com meu livro em mãos, enquanto as mocas que o desejavam como nunca comentavam que eu só poderia ser louca para não amá-lo.

Ele, no entanto segurou fortemente meu braço e puxou meu livro.

-Não entendo você! – ele falou de cara feia. – Uma mulher não deveria ler assim ela começa a ter idéias, a pensar!

Eu revirei os olhos e peguei meu livro de volta o deixando para trás atônito.

Caminhava de volta para casa, com lágrimas nos olhos me perguntava quando aquele pesadelo teria um fim, eu amava o meu pai, ele era tudo que eu tinha, mas eu não suportaria mais viver daquela maneira, guardando minha vida para mais tarde.

Em algum lugar no bosque...

O príncipe caminhava de um lado para o outro, já havia quebrado todos os espelhos do palácio e ainda não conseguia viver com sua tenebrosa aparência, seu castelo ficava guardado por uma imensa floresta que havia sido construída propositalmente para escondê-lo de olhares curiosos.

Ele esmurrava tudo que encontrava em seu caminho, havia rasgado seu retrato de infância onde seu rosto ainda perfeito iluminava a vida de seus pais. Batidas foram ouvidas na imensa porta do quarto do príncipe, depois um homem baixinho e gorducho entra no quarto quase se escondendo com as próprias mãos.

-Alteza, eu imploro para que o senhor saia um pouco de seu quarto...

-Para que! – os gritos do príncipe ecoaram pelo castelo – Para que todos vejam a minha terrível aparência...

O homem gorducho se encolheu e pronunciou mais algumas palavras que foram totalmente ignoradas pelo príncipe. O homem vendo que não conseguiria argumentar com o herdeiro do reino segue para fora do quarto deixando o mesmo sozinho, este segue para a sacada de seu quarto e senta na amurada, muitas vezes já havia pensado em pular, em por fim em seu sofrimento e no sofrimento dos outros, mas algo sempre o impedia, ele colocou a mão sobre o rosto deformado e pronunciou as palavras para o vento.

-O que me impede de querer me libertar?

Depois entrou tristemente em seu quarto, pensando em suas possibilidades que graças a sua monstruosa aparência estavam bastante restritas.


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