Com a minha faca termino de fazer as flechas improvisadas, as minhas acabaram há muito tempo. A floresta ainda estava escura, mas raios da manhã surgiam as vezes. Preparo meu arco e respiro fundo, quero ouvir cada som ao meu redor.

Cada paço, cada respiração.

Ouço delicados sons, rápidos e que cessavam após uns segundos, mas logo voltavam. Sigo-o tentando não fazer nenhum ruído e encontro o dono, um pequeno coelho perto do riacho.

Respiro fundo e puxo a corda até que a minha mão esteja junto ao meu rosto, o animal está praticamente parado, bebendo a agua. Novamente respiro e sinto o ar gelado da manhã nas minhas narinas.

E então, disparo.

~*~

Volto ao acampamento e jogo o coelho para os garotos que cuidavam dos alimentos, minha tenda era separada do resto, a pedido de Pan já que era a única garota. Mas desde que chegamos na Terra do Nunca, há um mês, apenas o vejo de relance.

Sinto que fui enganada, agora tenho que caçar várias vezes por dia para garantir as refeições de pessoas que nem olham na minha cara.

Deito na minha cama e encaro para o teto, passei a noite inteira na floresta e nem agora sinto sono. Batuco na madeira a procura de algo para fazer, já que não adormecia de modo algum. Sentia algo me chamando e sabia o que era, algo me puxava para aquelas arvores, algo estranho e bom ao mesmo tempo.

E sem pensar duas vezes pego meu arco novamente e mergulho na floresta. Encontro o meu lugar, perto de um riacho e com algumas arvores frutíferas, deitava com a cabeça na minha cama e a cama servia como um colchão.

Agora sim eu posso dormir.

­­­­­­­­­­­­­­­­­~*~

Acordo com paços rápidos vindo em minha direção, pego minha adaga e levanto-me em um piscar de olhos, ao redor não via nada e subitamente os ruídos sessaram. Sentia exposta e frágil, parecia que algo iria me atingir.

E realmente me atingiu.

– Você não muda – Senti um ar quente no meu pescoço, Peter havia sussurrado por trás e ao virar, não via nada.

–Peter! Pare com seus jogos.–Então ele aparece, seu rosto havia mudado, alguns arranhões surgiram aqui e ali, mas percebo que eles estavam sumindo e em apenas alguns segundos os mesmos desaparecem.

– Onde você esteve? – Perguntei mantendo a distância, senti ter perdido a confiança que uma vez tive.

– Cuidando das coisas para que vocês, e mais ainda para que você, possam ficar aqui para sempre e em segurança. – Eu não sabia como responder, tinha uma certa curiosidade sobre ele, mas algo gritava dentro de mim para não levar muito longe. – Eu quero te mostrar algo.

–E o que isso seria?

– A fonte de vida da ilha.

– E por que me mostrar isso?

–Por que sinto que você quer me entender e entender o que está acontecendo. Você só veio aqui por curiosidade e porque queria algum lar, e quero te mostrar o que é o seu mais novo lar.

– Eu vim aqui a procura de um lar e só encontrei isso longe de onde me levou, para de se engrandecer e eu não quero ir a nenhum lugar com você!

– Mas...o que aconteceu?

– Aconteceu que você me trouxe prometendo que não iria mais me sentir só e mesmo estando cercada por dezenas de pessoas nunca me senti tão só. Tenho que trabalhar e você, a única pessoa que com me simpatizei, sumiu por semanas e agora volta pensando que tudo está do mesmo jeito.

– Eu sinto muito, mas não somos os únicos que querem a ilha e eu não queria que nada acontecesse com quem prometi segurança.

– Quem mais quer está aqui?

– Rumpelstiltskin.

E então tudo fez sentido, eu fui a chave de entrada de Rumpelstiltskin para a ilha, eu fui enganada e enganei Peter.

Rumpel sabia que Pan iria me trazer para cá, de algum modo ele sabia que Peter iria sentir alguma conexão....

O que eu fiz?