Hálito de Fogo escrita por Caliel


Capítulo 7
Nasce um herói




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A sensação de voar era algo libertador. Eu podia sentir meu coração pulsando a liberdade pelo meu corpo. Planava de um lugar ao outro com as asas majestosas que Ícaro havia me dado. Havia me perdido no tempo e não sabia se estava voando há apenas alguns segundos ou se já faziam horas. Ícaro voava ao meu lado enquanto sorria e me dava algumas dicas, fazendo gestos. Então, junto ao som do vento que corria pelos meus ouvidos, eu ouvi ruídos vindos de Ícaro. Ele estava tentando me dizer algo, mas o vento oprimia o som de sua voz, por isso, ele fez um gesto para que eu pousasse sobre a torre em que estávamos antes.

– Você se adaptou bem as asas, mas agora preciso tomar uma decisão. – Ícaro me olhava profundamente. Um sorriso estava estampado em seu rosto, mas rapidamente ele suspirou e baixou a cabeça. – Infelizmente, minha hora chegou.

– Como assim? Você não quer dizer que vai... – Por que aquilo? Ele mal tinha me conhecido. Eu ainda iria precisar de sua ajuda, ele era um dos sete Cavaleiros da Ressurreição. Ter ele ao meu lado em uma luta seria vitória na certa.

– Você passou no meu teste. Nós teríamos uma segunda fase para eu ter certeza que você é digno de portar o dom da liberdade, mas eu sei que o é. – Ele pousou a mão sobre meu ombro. – Todo cavaleiro, quando te entregar o próprio poder, vai deixar este mundo em cerca de 7 dias e eu não quero prolongar isso.

– Então quer dizer que Jorge não morreu? Tudo aquilo, de se tornar pó e subir aos céus... Ele não está morto?

– Sinto em lhe dizer, Cadmo, que você é o único de nós que está vivo. Eu e os outros cavaleiros só vivemos enquanto você não atingir seu objetivo. – Ele olhou para suas costas, as penas de suas asas caíam aos poucos.

Antes de poder dizer qualquer coisa, uma lágrima escorreu pelo meu rosto e eu senti ódio em meu coração. Um ódio enorme de mim mesmo. Toda vez que eu conseguisse um dos Gladios, o guardião que estava com ele iria para... Não sei ao certo, mas ele não iria mais residir Teran. Ícaro sorriu e enxugou a lagrima que desceu meu rosto, mas aquele sorriso logo sumiu. Eu acabei tossindo e pus a mão em frente à boca, porém quando olhei para ela havia sangue. Um sangue de cor negra.

– Cadmo, o que você sentiu agora?! – Ícaro perguntou aflito.

– Eu não senti nada. Estou bem. Sem cortes, sem feridas...

– Não pelo seu corpo, mas em sua alma. Qual sentimento? – Ele começou a ofegar.

– Não sei direito... Estou preocupado com tudo que está por vir, estou feliz por saber que meus pais morrem lutando, triste também, mas acima de tudo... Estou com ódio.

– Droga! Scopulus, eles o encontraram! Monte guarda! – Ícaro me puxou pelo braço para perto de Sabra. – Vocês dois vão fugir daqui, sem olhar para trás, sem tentar ajudar!

– Mas o que está acontecendo? – De repente Ícaro estava me mandando sair sem explicação nenhuma. – E o próximo guardião?

– Não há tempo para explicar tudo, mas agora que você porta o poder do Bem, os Gladios. Toda vez que você sente luxúria, gula, ganância, preguiça, ira, inveja ou orgulho, os sete príncipes do reino de baixo sentem a sua presença e eles não irão tardar para chegar até aqui. – Ele começou a dizer enquanto abria as caixas que estavam em cima da torre. De lá de dentro ia tirando latinhas de comida e cantis com água. Colocou tudo em uma bolsa grande branca e entregou para Sabra. - Prometa para mim, garota. Prometa que vai cuidar dele. – Ícaro segurava o pulso dela, então ela fez um gesto de sim com a cabeça e sorriu. Quando ele tirou a mão havia um desenho de um par de asas no pulso de Sabra. – Toda vez que você estiver prestes a quebrar a promessa, está marca vai queimar e você vai se lembrar de mim, então cumpra. – Ícaro colocou a mão sobre o peito e gritou de dor. – Eles chegaram! Eu posso sentir! Você deve seguir o rei para encontrar o próximo guardião! Vá, Cadmo! Grite pela liberdade!

Gritei chamando as asas e elas apareceram como era de se esperar. Peguei Sabra em meu colo e então comecei a voar. Com Sabra em meus braços eu percebi a força que aquelas asas tinham. Mesmo carregando outra pessoa eu não fazia esforço nenhum.

– Cadmo, olhe! – Sabra apontou para a torre enquanto eu voava em direção oposta a ela.

Quando me virei para trás, pude ver Scopulus, porém ele estava em um tamanho vinte vezes maior que o normal. Ele tinha uma magnitude colossal e era possível ver sete homens montados em cavalos negros, todos trajando capas pretas. Apenas um deles usava uma capa vermelha. “Lúcifer”, pensei em voz alta.

Voamos por muito tempo e, em meio ao caminho, pude ouvir dois estrondos. Provavelmente Scopulus havia sido derrubado no primeiro e no segundo a torre havia sido derrubada. Eu queria voltar lá e ajudar, mas eu precisava tomar a decisão certa e não ser levado pela ira.

Quando finalmente pousamos sobre o topo de uma colina que parecia longe o suficiente, gritei para que as asas se escondessem, coloquei Sabra no chão e me ajoelhei colocando o rosto na grama. Eu não queria me levantar. Antes, tudo aquilo parecia animador. Ser o herói que vai salvar o mundo, fazer uma promessa nova para os meus pais... mas agora nem tudo era tão bom. Eu havia caído para o mundo real. Eu havia matado Jorge e Ícaro. Se eu não tivesse ido pegar a espada os dois ainda estariam vivos.

Pousei a mão sobre Ascalon. Ela estava pesada, mas aquilo não importava. Eu estava desabando em lágrimas. Eu queria abandonar tudo aquilo e havia percebido que não seria uma brincadeira onde eu poderia começar tudo de novo. Quem sabe, se eu usasse as asas e voasse para muito longe, nada aconteceria comigo, ou se eu abandonasse Sabra ali... Mas então eu me lembrei de minha promessa com o grito que Sabra deu. Eu estava triste e pensando em desistir, então ela sentiu que eu precisava dela, mas ela também precisava de mim, eu não podia simplesmente deixá-la ali e ir embora.

Levantei-me e perguntei se estava tudo bem com ela. Sabra disse que no momento em que me levantei a dor sumiu. O rosto dela estava completamente sujo, seu vestido branco estava empoeirado, seu cabelo loiro que ia até a cintura não era mais o mesmo do dia que eu a conheci, mas seus olhos cor de mel eram alegres e me encaravam.

– Nós precisamos sair daqui. Estamos longe da torre, mas ainda é perigoso, ainda mais em cima de uma colina onde podemos ser vistos de longe – disse a Sabra, que concordou fazendo um gesto com a cabeça e começou a descer a colina ao meu lado, em direção a uma floresta que estava logo atrás.

Demos alguns passos, mas antes de entrarmos na imensidão de árvores alguma coisa se mexeu entre as folhas caídas no chão.

– Sabra, fique atrás de mim. – Saquei Ascalon e esperei o que o quer que estivesse ali saísse, porém as coisas dessa vez foram um pouco diferentes e Sabra tomou a dianteira.

– Não, fique você atrás de mim. Eu consigo ouvir uma voz... “Venham, me sigam. Se você quer encontrá-lo, precisa me seguir.” – Ela começou a dizer como se estivesse repetindo algo que alguém dizia. Então, de dentro da floresta, saltou um enorme leão e rugiu alto o suficiente para espantar todos os pássaros que estavam sobre as árvores e me fazer sentir um arrepio na espinha.

– Sabra, para trás! – Gritei, mas ela continuou no mesmo lugar, ignorando o que eu havia dito.

– Ele está dizendo que nós precisamos segui-lo, que seu mestre nos aguarda. Eu acho que nós devíamos segui-lo. – Como ela conseguia entender o leão? Antes os pássaros, agora o leão e tudo isso depois de comer o Pomo. Provavelmente ele tinha alguma coisa a ver com tudo isso. Eu estava prestes a dizer que Sabra era louca por estar querendo seguir um leão floresta dentro, mas então eu me lembrei sobre Ícaro ter dito sobre seguir o rei. Quando mais novo, Bane me contava a história do Leão e o Rato, onde o grande rei das selvas precisava da ajuda de um indefeso ratinho. Então dei um passo em direção ao rei das selvas, mas ele rugiu e correu floresta dentro. Eu e Sabra tentamos segui-lo, mas ele era rápido demais e quando nós o perdemos de vista, a grande surpresa veio.

Em meio a enorme floresta, onde eu poderia encontrar qualquer coisa e qualquer pessoa, eu a encontrei. Eu estava rápido demais para parar e então dei de encontro a Helena. Ela estava com um suéter longo e vermelho, seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo e ela carregava nos braços pedaços de madeira que caíram quando nós dois nos chocamos. Quando nos levantamos, foi receptiva como sempre.

– Aonde você este todo esse tempo, idiota? – Com sua delicadeza e doçura, Helena me abraçou e logo em seguida acertou um soco no rosto que me fez cair novamente. Em meio a queda eu tive o cuidado de cair de bruços para não quebrar o ovo de dragão que estava em minha mochila

– Quem você pensa que é para bater nele assim? – Sabra, que havia chegado junto a mim e viu a cena, tentou me defender, porém, ao avançar sobre Helena, foi derrubada facilmente com uma rasteira.

– Eu sou a melhor amiga dele e eu faço o que eu quiser com ele. – Helena colocou um de seus pés sobre minhas costas, ainda olhando para Sabra. – Viu só? Eu faço o que eu quiser com ele. E você? Quem pensa que é?

– Eu sou... Eu sou... – Sabra se levantava do chão, tentando limpar seu vestido branco que já estava todo sujo e cheio de furos. – Eu sou a futura esposa dele. – Ela cruzou os dois braços e ficou encarando Helena.

Sinceramente, o leão que nós havíamos visto na floresta seria um animal muito mais dócil do que Helena naquele momento. Ela bufava e me encarava. Recolheu a madeira que estava no chão e caminhou floresta a dentro, então eu e Sabra a seguimos.

– Sabra, deixe que eu explico tudo. – Sussurrei para ela e então ela enganchou seu braço ao meu e fez um sinal de sim com a cabeça.

Helena nos levou para uma clareira no meio da floresta. Ali por perto passava um pequeno rio e o grupo estava acampado bem ao lado dele. Por algum motivo estranho haviam bem menos pessoas no grupo do que quando eu parti. Bane continuava usando seu colete, botas e luvas de couro. Ainda tinha mais pelos em seu rosto do que em sua cabeça, e estava treinando luta de espada com as crianças. Ele estava rindo do pequeno garoto que havia perdido sua espada e tentava derrubá-lo com suas próprias mãos, mas aquele sorriso sumiu quando ele me viu. Ele largou as duas espadas que e veio em minha direção. Eu endureci meu corpo a espera do soco que levaria, pois, se Helena já havia me acertado um, Bane não teria a menor piedade, mas então ele me surpreendeu.

– Nunca mais suma de novo... Nunca mais, ouviu? – ele disse, me envolvendo em seus braços. Eu não tinha certeza, mas Bane parecia chorar. – Quando eu descobri que você havia sumido eu... Eu não sabia o que fazer, então mandei todos te procurarem... mas você voltou! – Bane sorria e gritava para todos ouvirem. – O bom filho a casa torna! – Todos sorriam e tinham olhares de alívio, como se também estivessem preocupados. – Nós ainda vamos conversar para onde você foi e o que fez, mas você deve estar morrendo de fome.

Eu fiz um gesto que de sim com a cabeça e então Bane nos levou para dentro da tenda, onde havia uma enorme mesa no centro. Sentamos-nos e ele mandou Helena nos trazer comida, o que aparentemente não a deixou muito feliz, mas ela obedeceu.

– Então, me diga, por onde andou e o que fez? Quem é essa bela dama que traz contigo? – Eu me virei para Sabra e sorri. Suas bochechas ficaram vermelhas como a chama de um dragão e ela ajeitou o cabelo que estava em frente ao seu rosto. – E me diga garoto, por que raios você sumiu?

– Eu não sentia que pertencia a esse grupo. Eu não nasci aqui, como você mesmo sempre disse... Eu fui encontrado junto aos braços da minha mãe quase morta que só teve o tempo de te dizer o meu nome, então eu resolvi fugir.

– Seu palerma, você sempre pertenceu e sempre vai pertencer a esse grupo. – Helena sentou ao meu lado e beijou minha bochecha. Antes que ela pudesse baixar o rosto eu consegui perceber que estava sorrindo, então ela apoiou a cabeça em meu ombro e suspirou.

– Exatamente Cadmo, você sempre será um de nós, querendo ou não. – Ele sorriu e colocou a mão sobre meu ombro. – Agora vamos, me conte tudo que passou até aqui.

Contei a Bane toda a história. Desde o dragão da vila de Sabra até o que havia acontecido há pouco tempo atrás com Ícaro. Quando terminei de contar tudo, Bane ficou calado por um tempo, respirou fundo e então resolveu quebrar o silêncio.

– Eu preciso te contar algumas coisas também. – Ele se levantou, deu as costas e então começou a falar.

“Era noite, o vento soprava e eu havia reunido alguns de meus amigos para lutarmos juntos na guerra contra os dragões que acontecia a cerca de nove meses. Alessandro e Eleanor insistiram que queriam ajudar, mesmo estando muito perto de ter um filho. Eles queriam lutar contra os dragões. O motivo dessa insistência? Eles queriam que seu filho vivesse em um mundo onde ele pudesse ter paz, e eu entendi e permiti que eles se juntassem a nós. Se tudo aquilo não tivesse acontecido com a minha mulher e meu filho, naquela noite eu também tomaria como motivação deixar um mundo melhor para meu pequeno.

Estávamos todos sentados nas catacumbas de Paris, e, por um instante, todos havíamos esquecido os problemas. Nós cantávamos e bebíamos ao redor de uma fogueira que nos aquecia do frio. Alessandro contava para as crianças sobre quando ele serviu ao exercito e lutou na terceira Guerra Mundial, pilotando seu enorme jato que abatia os inimigos com apenas alguns tiros. Foi quando, de repente, ouvimos um estrondo vindo do algum lugar das catabumbas. Pegamos as armas de fogo que restavam da Guerra e começamos a seguir o caminho que havíamos feito com um fio vermelho, que nos levava para o lado de fora. Quando finalmente alcançamos a saída, lá estavam eles, os sete homens com capuzes negros como a noite. Mas um deles usava um vermelho como sangue.

– Queremos apenas a mulher que carrega o herdeiro da ressurreição” disse o que trajava o capuz vermelho, apontando para Eleanor.

– Vocês nunca vão levar minha mulher - Alessandro gritou, dando um passo a frente, erguendo a arma e abrindo fogo contra os sete. Enquanto as balas atravessavam seus corpos, eles riam histericamente, como se aquilo apenas fizesse cócegas.

– Você acha que meras armas mortais podem ferir os sete príncipes do reino de baixo? Acho melhor vocês começarem a correr.

Todos partiram em disparada de volta para as catacumbas, porém, antes de conseguirmos entrar, um dos sete estava parado em frente à entrada. Todos se separaram desesperadamente e eu tentei pedir que se reagrupassem enquanto corria, mas apenas seu pai e sua mãe me deram ouvidos. Após alguns segundos correndo eu pude ouvir um rugido. Um não, vários. Dragões nos sobrevoavam esperando alguma ordem para atacar. Nós corríamos as cegas, mas eu pude ver que estava sendo cercado junto a seus pais pelos mesmos sete homens de antes.

– Bane, eu vou atrasá-los. Você vai pegar Eleanor e fugir o mais rápido que puder. Não importa para onde, apenas fuja. - Seu pai me segurou pelo braço e sussurrou, em meio ao desespero. Eu quis relutar e dizer que ficaria e ajudaria, mas aquela não era a hora de discutir. Segurei o braço de sua mãe e corri de volta para as catacumbas.

De alguma maneira seu pai conseguiu atrasá-los tempo o suficiente para que eu e sua mãe pudéssemos entrar em segurança nas catacumbas, mas nem tudo estava bem. Após sentarmos para descansar, sua mãe colocou a mão sobre a barriga e começou a urrar de dor. Você estava prestes a nascer. Eu tinha uma noção básica do que fazer, pois já havia realizado o parto do meu filho, porém daquela vez foi diferente. Foi como se uma mão me instruísse a fazer tudo, me mostrando cada passo e sussurrando em meu ouvido as instruções. Era agonizante ver sua mãe gritando, mas ela se segurava para fazer pouco barulho. Ao final de tudo eu carregava um pequeno bebê em meus braços que chorava e entregava-o aos cuidados de sua mãe. Ela sussurrava para que seu filho parasse de chorar - Vai ficar tudo bem, meu pequeno Cadmo. Tudo vai dar certo, eu lhe prometo. E quando sua mãe prometia alguma coisa, todos podiam ter certeza que aquilo realmente aconteceria.Infelizmente, a previsão dela seria para mais tarde. Ouvimos passos e a mesma voz que pediu que entregássemos Eleanor ecoou pelos corredores das catacumbas, então rapidamente sua mãe te colocou em meus braços.

– Por favor, Bane. Corra. Leve ele para o mais longe que puder, não deixe que esses homens façam alguma coisa com meu filho. - Ela dizia, enquanto lágrimas corriam seu rosto. Eu tentei negar, dizendo que ela viria conosco, mas ela sabia que iria apenas nos atrasar. - Eu tive um sonho. Sete homens, não os mesmos que nos perseguem agora, outros... Eles me contaram tudo que está por vir, tudo que Cadmo irá ter que fazer e, caso eu vá, nada disso irá acontecer. Então me prometa, me prometa que vai cuidar do meu pequeno acima de tudo. Até mesmo da sua própria vida.

Eu não sabia o que ela queria dizer com “tudo que está por vir”, mas sabia que era algo importante, então fiz um gesto confirmando minha promessa. Te peguei em meus braços e, por sete dias, descansando muito pouco. Eu corri.”

Fiquei com a cabeça baixa e os olhos fechados durante toda a história. Quando Bane terminou eu não queria abrir meus olhos, mas precisava e quando os abri tive uma surpresa. Todas as pessoas do grupo estavam se espremendo ali dentro da tenda. Eu não sabia o quanto elas tinham ouvido da história ou se alguns deles já não a conheciam, mas todos me olhavam e acenavam com suas cabeças fazendo um sinal de sim. Alguns estavam chorando. Eu precisava dizer alguma coisa, mas não sabia exatamente o que.

– Eu não espero que todos venham comigo, porque o que nós dois já enfrentamos em pouco tempo não foi nada fácil – Eu disse, olhando para Sabra. – Se eu contasse tudo que eu já passei até aqui vocês me chamariam de louco. Eu entendo que não é fácil de acreditar em tudo, mas eu não posso ficar aqui tentando convencê-los de que tudo isso é verdade, porque, como um certo homem dizia: o mundo gira, o vento sopra...

– Quanto mais você espera, mais o Mal brota – Bane completou a frase, com uma cara de espantado. Ele parecia não entender como eu sabia que meu pai dizia aquilo. – Nós estamos com você, todos nós. – Ele ergueu seu punho direito e todos ergueram junto a ele. Aquela era uma forma que Bane havia criado a muito tempo para saber quem concordava com suas decisões, e parecia que todos concordavam. – Mas nós iremos sair amanhã pela manhã em busca de tudo que você precisa. Hoje, nós iremos descansar.

Sabra pegou um saco de dormir e se deitou ao meu lado. Ela havia recebido roupas novas e voltara a ter o mesmo rosto de princesa de quando eu a vi pela primeira vez.

– Todos eles vão nos seguir? – ela cochichou para mim.

– Eu sei que estão todos muito animados com a história, mas eu não quero colocá-los em risco. Eu sei que parece idiotice negar ajuda em meio a tudo isso que está acontecendo, mas eu sinto que não devo levar todos comigo. Até mesmo você, caso queira ficar aqui, segura, eu vou entender. – Sabra me olhou com uma cara de desgosto.

– Você realmente acha que eu vou deixar você ir sozinho? – Ela sorriu. – Quando nós saímos?

– Se você quiser, podemos trocar um turno para dormirmos um pouco. Você descansa agora e eu fico acordado, então eu durmo um pouco e você fica acordada e depois me acorda, para sairmos antes que todos se levantem. Pode ser assim? – Ela fez um gesto de sim com a cabeça. Eu disse que ela podia dormir primeiro, então ela agradeceu e pegou no sono.

Após ambos termos dormido um pouco, começamos a arrumar as coisas silenciosamente. Juntei alguns suprimentos, coloquei Ascalon em sua bainha, verifiquei se o ovo continuava dentro da mochila e peguei um arco com um pouco de flechas, que poderia ser útil ao longo do caminho. Quando estávamos saindo da tenda, dei uma ultima olhada para dentro, me virei e dei alguns passos para fora.

Eu e Sabra andamos por algum tempo floresta a dentro até estarmos bem distantes da tenda, então eu ouvi alguém andando sorrateiramente atrás de nós. Puxei Sabra para perto de mim e saquei Ascalon.

– Quem quer que esteja ai, apareça! – Gritei olhando para as árvores.

– Você é realmente muito previsível, Cadmo. – Helena saiu de trás de uma árvore. Ela trazia consigo uma mochila, um arco em suas costas e a mesma cruz de sempre em seu pescoço. – Achou que eu ia deixar você sair sozinho?

– Ele não está sozinho. – Sabra retrucou.

– Bem, como eu ia dizendo, você não vai sair daqui sozinho. Eu vou com você. – Helena caminhou até nossa direção e me encarou.

– Eu sei que você quer vir com a gente, mas é muito perigoso, não posso deixar você vir.

– Se você não me deixar ir, eu corro de volta e conto a Bane que você vai fugir. – Ela arqueou as sobrancelhas e me encarou.

– Certo, você venceu. Pode vir com a gente. – Eu conhecia bem Helena, se eu dissesse que ela não viria conosco, ela voltaria correndo e chamaria Bane, o que seria um enorme problema. Eu e Helena sempre tivemos essa história de dedurarmos um ao outro, mas fazíamos aquilo pelo nosso bem. Ela só sentiria que eu estaria a salvo se ficasse perto dela, nem que eu ficasse a odiando por um longo tempo.

– Então, para onde nós vamos agora?

Eu realmente não fazia ideia de que resposta dar, então contei a história do leão que nós estávamos seguindo antes de encontrar com ela e disse que nós íamos apenas andar por ai torcendo para o leão aparecer. Então nós três andamos floresta a dentro em busca de um rei.


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