Acasos escrita por Lils-way


Capítulo 8
Preparativos para a tão esperada festa




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  (Mille)

 

  Depois da ligação de Cathy, desliguei o telefone completamente revoltada. Ainda irritada com a idéia de ir a uma festa com o estado de espírito que estava, acordei Mandy. Quando contei a ela do que se tratava com minha melhor cara de poucos amigos, ela também revoltou-se.

 

- Festa? Como assim?

 

- Num Buffet italiano e blábláblá – resmunguei, fechando a cara.

 

- Eu não acredito que Cathy vai fazer isso em plena semana! – Mandy exclamou, passando a mão pelo cabelo, agora seco. Suspirou e olhou em volta – Que horas são?

 

 Olhei meu relógio de pulso.

 

- Duas e sete.

 

- Vamos nos arrumar, às três em ponto ela passa aí, você conhece a figura – Mandy resmungou, erguendo-se do sofá.

 

- Se conheço – murmurei, com um suspiro cansado.

 

    Juntas, eu e Mandy subimos as escadas e fomos para nossos respectivos quartos para nos arrumarmos.

 

    Eu não demorei muito, estava sem ânimo. Peguei um vestido vermelho, soltinho, de alças, com um lancinho abaixo do busto, e uma sandália baixa, preta. Desfiz a trança do cabelo e o soltei, prendendo uma mecha teimosa que queria ficar no meu olho com uma presilha de strass em forma de coração, vermelha. Pronto. Simples. Diante da noite quente da Califórnia, aquele era um modelito perfeito.

 

   Quando saí do meu quarto, encontrei Mandy no corredor, dando uma bronca em Marley. Ela tinha prendido o longo cabelo castanho num rabo de cavalo alto e elegante, e estava com um vestido azul escuro, de alças, também soltinho. Estava com uma sandália baixa.

 

- Marley, eu não quero saber de você na minha cama! – Ela quase enfiou o dedo no fucinho do pobre cachorro – Se você estivesse sujo…

 

 Girei os olhos e passei pelos dois, descendo. Eram duas e cinquenta. Franzi o cenho. Eu tinha demorado mais do que achei. Wow.

 

- Mandy! – voltei-me para a escada – A Cathy já já chega aí! Desce logo!

 

- Já vou! – ela respondeu, antes de terminar de dar uma bronca em Marley – Está ouvindo, mocinho?

 

  Sim, Mandy-mãe, não farei mais isso. Girei os olhos. O que Mandy pensava, meu Deus?

 

- Pronto! – ela surgiu no topo das escadas e desceu rapidamente. – To pronta.

 

   Sorri, e maneei a cabeça. Olhei no relógio. Três horas. A campainha tocou imediatamente.

 

- Cathy – dei ombros, e fui atender a porta.

 

    Eu fui, literalmente, recepcionada por um abraço de urso.

 

- PORQUE VOCÊ FALTOU HOJE!? – Cathy berrou, e eu quase fiquei surda momentamente. – HEIN?

 

   Eu tentei falar, mas o braço dela estava comprimindo meu crânio contra seu ombro. Eu ia morrer esmagada.

 

- Mandy! – de repente ela me soltou e entrou, revoltada por eu não ter respondido – Me diga porque faltou! Essa chata – ela apontou pra mim – Nem quer falar comigo!

 

- Se você não estivesse esmagando meu crânio, eu teria dito! – resmunguei, massageando minha cabeça. Voltei-me para Lorens, encostada na soleira da porta de braços cruzados.

 

   Minha carranca foi embora.

 

- Lôlô – eu abri um sorrisinho.

 

- Se me chamar assim de novo, enfiarei seu nariz no cérebro, projeto de gente – Lorens resmungou, antes de passar por mim e dar um tapa na minha cabeça. Eu ri silenciosamente.

 

   Vou explicar o que ocorre. Lorens Hayes é mal-humorada, brigona, mas extremamente leal e amiga. Não é lá o tipo de pessoa que você faz amizade rapidamente, porque é meio… intimidante. No hospital ela conhece todo mundo e tem uma fama de durona que ela faz questão de zelar distribuindo chutes em buzanfas alheias – a minha, a de Mandy, e a de Cathy, que deve ter levado uma cota de chutes pelo ano inteiro hoje, e por aí vai. Ela é uma cópia mais bonita de Joan Jett.

 

- Hey Evans, traga sua bunda magra aqui! – ouvi a própria Lorens berrar, e quando entrei, ela estava esparramada no sofá, com cara de poucos amigos. Normal. Lorens tem esse jeito durão, mas, dentre nós, é a mais… ’pegadora’. Mas só em balada. No total, o único com quem ela se envolveu foi Christian. Eles ainda se enrolam, mas ela foge dele feito o diabo da cruz. Também, Chris só falta ter asas e fazer cocó.

 

- Meninas, estão prontas? – Cathy estava com aquela cara bizarra de quem vai se esbaldar no shopping.

 

- Sim, estamos muito animadas com tudo isso – Lorens resmungou, de braços cruzados. Estava de short jeans, com uma blusa preta colada no corpo, e uma sandalinha rasteira preta. Devia ter algo entre 1,65, por aí.

 

- Meninas, você verão seus pretendentes, tem que estar lindas e maravilhosas! – Cathy andou pela sala, feito um militar. Ela era exatamente do meu tamanho, mas tinha uma força descomunal. Não me pergunte o que ela come ou faz, mas o abraço na porta onde ela quase esmagou meu crânio é um exemplo da sua pequena força.

 

   Girei os olhos. Mandy suspirou. Lorens resmungou algo sobre socar a cara pálida de Cathy.

 

- Por que temos que ir à essa festa? – perguntei, me dando por vencida.

 

- Porque, obviamente, Sammy vai estar lá – ela me deu um tapa no ombro. É uma mania dela. Dar tapas enquanto fala. Eu cambaleei brevemente para o lado. – Chris também… - ela deu outro tapa na perna de Lorens, que limitou-se a fechar a cara. Ela também tinha se acostumado. – E Matt também vai estar lá! – ela finalizou, e o tapa certeiro, infelizmente, foi no ombro de Mandy, que caiu sentada no sofá. Depois sorriu maliciosamente e acrescentou outra pessoa na lista dela – E aquele infeliz do Kyle também, obviamente. Não vai ser ótimo?

 

- Sim, claro – Lorens ergueu-se, de mal-humor, e cruzou os braços – Vamos logo.

 

- Sim, sim, sim! – Cathy saiu pulando feito uma cabrita pelo apartamento, levando eu e Mandy junto – Vaaamos!

 

  Entreolhamos-nos. A tarde ia ser longa. O shopping? Era só o começo.

 

---

 

 Andar com Cathy no volante era simplesmente apavorante. Cada segundo que se passava, mas eu tinha certeza de que ela era completamente louca. O carro em que estávamos, um Bentley verde escuro, costurava o caminho entre os carros feito o vento.

 

- Você pode devagar, PELO AMOR DE DEUS? - Eu pedi, tendo plena consciência de que meu globo ocular deveria estar do tamanho de uma placa de trânsito.

 

- Claro que não – Catherine O’Connor ultrapassou um Sentra prateado e sorriu – Precisamos chegar cedo. Temos muuita coisa para fazer hoje!

 

   Mandy gemeu, no banco de trás.

 

- Muitas coisas? – Foi Lorens quem perguntou, irritada – Você disse que eram compras, sua branquela infeliz!

 

- Eu disse! – Cathy sorriu, olhando os olhos azuis escuros de Lorens pelo retrovisor – Mas acabei planejando algo mais!

 

 Mandy suspirou. Me limitei a olhar as ondas quebrando na areia para distrair minha mente.

 

- Eu vou te matar um dia desses! – Lorens ameaçou, aborrecida.

 

- Eu sei que você me ama, baby – Cathy deu uma piscadela que só serviu para deixar Lorens mais irritada.

 

   E então, a partir daí, elas começaram um pingue-pongue nada carinhoso de respostas e perguntas infantis. Às vezes eu não tinha paciência para escutar.

 

- Sua branquela bunda magra!

 

- Sua branquela bunda magra! – Cathy imitou Lorens, e girou os olhos – Minha bunda é grande e sexy, não fale assim dela.

 

- Eu preciso mesmo escutar isso? – perguntei, dando graças a Deus pelo fato do shopping estar perto.

 

- Se não fosse esse ser nanico e chato, eu estaria em casa vendo os filmes que aluguei sem problemas! – Lorens resmungou, cruzando os braços.

 

- Você vai me agradecer depois que o Chris cair a seus pés, querida! – Cathy abriu um sorriso enorme. O cabelo longo e castanho tremulou com o vento que entrava pela janela, e os olhos negros dela brilharam de êxtase – Eles cairão aos nossos pés.

 

- Você sabe que fica parecendo uma psicopata quando faz essa cara, né? – Mandy declarou, escaldada.

 

- Não seja indelicada, estou tentando visualizar uma noite incrível!

 

  Suspiramos. Todas nós. Cathy acelerou, para meu profundo desgosto e temor pela minha integridade física, e entrou no estacionamento do shopping. O fato foi que, entre uma manobra altamente arriscada e aceleração em excesso, encontramos uma vaga. Quando ela desligou o Bentley, agradeci a Deus por estar viva. Fui a primeira a saltar para fora do carro.

 

- Finalmente – Cathy parecia maravilhada.

 

- Graças a Deus – Lorens murmurou, secretamente aliviada por estar viva.

 

- Nem me fale – Mandy completou, fazendo um gesto vago com a mão.

 

- Tá, chega, chega, chega! – Cathy estava no seus cinco minutos. Passou por trás de todas nós e começou a nos empurrar em direção à entrada do shopping com um sorriso enorme. Me perguntei vagamente se não doía – Compras… lá vamos nós!

 

  Suspirei. Eu devo ter atirado uma pedra na cruz. Mas na cruz da Barbie. Por que ela havia enviado sua deusa mística da moda para nos castigar.

 

Tentei disfarçar minha cara de pânico.

 

-------

 

- Pra ela, eu quero algo que combine com os olhos – Cathy estava andando pelo corredor da loja de vestidos como uma militar. Estava dizendo à vendedora o que queria para Lorens. Eu estava me sentindo em um daqueles esquemas de máfia. Girei os olhos. Quando aquilo ia acabar? – Um azul metálico que realce seus olhos. Okay?

 

- Ok – a vendedora assentiu. Ia virar-se para ir buscar o pedido, mas Cathy ergueu o dedo no ar. Apontou para Mandy. - Para ela, o mesmo esquema. Verde metálico, chamativo, por favor. E para aquela ali – apontou para mim e sorriu. Estremeci. – Eu quero um dourado, please. – Ela coçou o queixo – Não sei, combina com ela, de alguma forma. – Cathy parecia divagar em explicações para a resposta do porque dourado combinava comigo. Quase citei meus olhos, castanhos claros. Mas isso aparentemente ficou em segundo plano quando os orbes negros dela encontraram uma vitrine de sandálias altas e elegantes que me davam medo - Traga também pares de sandálias Jimmy Choo. – ela finalmente finalizou, parecendo ter concluído seu plano para nos vestir como barbies.

 

- Algo mais? – a vendedora perguntou, ciente de Cathy era uma cliente exigente.

 

   Cathy coçou o queixo, e depois seus olhos iluminaram-se como piscas-piscas de Natal. Senti medo.

 

- Traga vestidos não muito compridos – ela deu um sorrisinho de lado – Quero arrematar olhares!

 

   A vendedora entendeu. Maneou a cabeça e se enfiou no fim da loja.  

 

 Lorens suspirou, aborrecida.Mandy gemeu. Me limitei a mirar meus pés.

 

- Vamos ficar dignas de estrelas de Hollywood! – ela disse, sorridente, e postou-se ao lado de Mandy. Passou o braço em volta dos ombros dela – Matt vai ficar deslumbrado!

 

  Amanda fingiu sorrir animadamente, mas seus lábios tremeram.

 

- É – Mandy respondeu, tentando colocar interesse na sua voz sem vida.

 

  Mas é claro que isso não funcionou com Catherine Atenta O’Connor.

 

- O quê? – ela disparou, já mudando de estado de espírito. Seus olhos se acenderam como duas brasas – Matthew te machucou?– Ela perguntou, e diante do silêncio de Mandy, grunhiu, e bateu o pé no chão. Arqueei uma sobrancelha, e troquei um breve olhar com Lorens. Nos afastamos discretamente de Cathy. – Eu vou matar aquele ruivo burro! – ela exclamou, irritada.

 

- Os burros não são geralmente os loiros? – Lorens sussurrou.

 

- Deveriam ser – respondi, também sussurrando.

 

- Cathy, não seja tão dramática – Mandy parecia assustada. Também, quem não ficaria? Cathy tinha parentesco com Huck. Digo, a força. Eu não ficaria surpresa se ela ficasse enorme e com a pele verde – Matt não me fez nada.

 

  Cathy suspirou, e apertou os ombros de Mandy. Pareceu delicado, Amanda não gemeu de dor, e não houve nenhum crec de ossos quebrados.

 

- Não precisa ter medo, prometo que não quebrarei o nariz dele – Cathy parecia relutante em prometer não quebrar o nariz do irmão gêmeo de… Voltei a me concentrar na conversa. Foco!  – Só vai sair sangue, mas vai se reparável. Ele é médico.

 

- Pare com isso! – Mandy pediu, e um suspiro cansado escapou de seus lábios – Não tem nada a ver com Matt.

 

  Nessa hora Catherine pareceu desistir de suas idéias homicidas.

 

- O que é? Quem é?

 

   Mandy suspirou profundamente, antes de relatar toda a confusão em que sua vida amorosa havia se transformado desde o ‘maldito dia em que ela esqueceu a droga da chave em casa’ e blábláblá, como ela nos disse. Também citou Thiago, e, como irmã mais velha responsável, fez questão de contar o que aconteceu entre mim e ele. Corei e abaixei os olhos.

 

   Por uns cinco segundos o silêncio pareceu uma sinfonia interminável, até que alguém se manifestou.

 

- Oh meu Deus – Lorens parecia abismada – Eu precisando me livrar um galinha e vocês com Deuses Gregos nas suas colas? Fala sério!

 

  Eu e Mandy nos surpreendemos. Não era Lorens quem esperávamos dar aquela declaração. Era Cathy, que estava estranhamente quieta.

 

   Trocamos um breve olhar. Nós três.

 

- POR. QUE. VOCÊ. NÃO. ME. CONTOU. ISSO? – Catherine deu um gritinho histérico. Olhei em volta, temendo o que as pessoas estariam pensando – MAS QUE DROGA!

 

- Ei, cale a boca! – eu a repreendi – Eu tenho uma vida social a zelar, e este é o único shopping decente desta cidade, Cathy! – resmunguei, fazendo um gesto amplo com as mãos.

 

  Ela pareceu pensar na própria vida social.

 

- Okay – ela se recompôs, e suspirou, passando a mão pelos longos cabelos castanhos. Seus olhos se tornaram urgentes. – Por quê? – parecia aquelas novelas mexicanas onde a mocinha perguntava ao vilão porque ele era um vilão. Quase girei os olhos. Quanto drama. – Por que você não me contou, Man?

 

- Estou te contando – Mandy respondeu, parecendo achar tudo tão dramático quanto eu.

 

   Cathy bufou, irritada, e suspirou.

 

- Odeio esses ataques de ‘eu vou matar todo mundo, iah!’ – Lorens resmungou, fazendo uma vozinha ridícula, provavelmente uma imitação de Power Rangers. Ela olhou para o início do corredor e girou os olhos – Ah, lá vem!

 

  Todas olhamos para a mesma direção.

 

Fiz um beicinho. Mandy torceu o nariz.

 

- Ainda vamos falar sobre isso! – Cathy fez um gesto claro com as mãos para que nos levantássemos, e saiu nos empurrando pelo corredor que dava nos vestiários. A vendedora que tinha nos atendido – pobre criatura – estava lotada de vestidos até o topo da cabeça. Mal podíamos ver seus olhos. Mas milagrosamente conseguiu nos trazer os vestidos, despejando-os nos vestiários em que estávamos.

 

    A primeira a se trocar foi a própria Cathy. Sem que víssemos, ela havia abordado a mesma vendedora antes de nós, com a desculpa de ir ao banheiro, e pediu vários vestidos. Ficamos sentadas nos sofás esperando que ela saísse. E quando ela saiu…

 

Go!

Vai!

 

 Well, it's 1, 2, 3

Bom, é um, dois, três

 

Take my hand and come with me

 Segure minha mão e venha comigo

 

Because you look so fine

 Porque você é muito linda

 

That I really wanna make you mine

Que eu realmente quero te fazer minha

 

  Ela me saiu com um vestido vermelho meio, hã, colado ao corpo. Estonteantemente linda. Arqueei a sobrancelha, pronta para elogiá-la, mas ela fez um gesto vago com as mãos, que nos entendemos sendo como ‘levantem e venha também!’. Não parecia satisfeita com o próprio resultado, e entrou de volta no vestiário. A imitamos.

 

  I say you look so fine

Eu digo você é tão linda

 

 And I really wanna make you mine

E eu realmente quero te fazer minha

 

  Depois disso, foi um verdadeiro desfile. Ao fundo, uma música animada nos fez entrar no espírito de moda – Jet - Are You Gonna Be My Girl? - e a cada vez que saíamos dos vestiários, nos sentíamos verdadeiras top models. Até mesmo Lorens parecia se divertir.

Oh, 4, 5, 6 c'mon and get your kicks

Oh, quatro, cinco, seis, vamos lá e pegue suas coisas

 

Now you don't need that money

Agora você não precisa daquele dinheiro

 

When you look like that, do ya, honey

 Quando você tem esse rosto, não é, querida?

 

  As vendedoras pareciam ter se reunido do lado de fora dos vestiários como espectadoras. Quando abríamos as cortinas dos vestiários, ela faziam caras e bocas para dizer o que achavam sobre nossos modelitos.

 

 Big black boots,

Grandes botas pretas

 

 Longos cabelos castanhos

Long brown hair,

 

She's so sweet

Ela é tao doce

 

With her get-back stare

Com aquele olhar de "vou te pegar"

 

  E então, em determinado momento, abrimos as cortinas ao mesmo tempo. A primeira da ‘fila’ foi Lorens. Ela estava usando um vestido azul metálico que, de fato, deixava seus olhos azuis escuros em destaque. E a pele dela, clara, entrava em choque por combinar com cores tão escuras. O vestido era costas nuas, de forma que suas costas lisas e impecavelmente translúcidas ficaram em destaque. Não era um modelo muito curto e nem muito longo. Totalmente Lorens.

 

 Well I could take you home with me,

Bom, eu posso imaginar você em casa comigo

 

But you were with another man, yeah!

 Mas você estava com outro cara, é!

 

 I know we ain't got much to say

Eu sei que nós não temos muita coisa pra dizer

 

Before I let you get away, yeah!

Antes que eu te deixe ir embora, yeah!

 

 I said, are you gonna be my girl?

Eu disse: "você quer ser minha garota?"

 

  Depois vinha Mandy, que estava realmente linda. Apesar de todas nós morarmos na Califórnia, na quente e ensolarada Malibu, éramos muito… hã, claras. Deveríamos ser loiras, bronzeadas e bundudas, mas não éramos. Mandy não era exceção. Tínhamos curvas razoáveis, mas não parecíamos garotas californianas… enfim, o fato foi que o vestido verde metálico, que mais uma vez caiu como uma luva, envolvia o corpo de Mandy de maneira sensual, sem que parecesse vulgar. Suas curvas estavam delineadas pelo tecido verde, e por ser tomara que caia, o vestido evidenciava seus ombros delicados, que iriam ficar nus. Imaginei um colar com detalhes verdes. Iria cair bem. O comprimento seguia a regra de Lorens: Nem curto, nem comprido.

 

Well, so 1, 2, 3, take my hand and come with me

Bom, é um, dois, três, segure minha mão e venha comigo

 

Because you look so fine

Porque você é muito linda

 

That I really wanna make you mine

E eu realmente quero te fazer minha

 

   E depois, vinha eu, que estava até… razoável. Ao invés do dourado, Cathy havia me feito colocar um azul celeste, que não era chamativo, e eu devo confessar que combinou muito com meu cabelo, que dentre todos ali, parecia ser o mais escuro; preto, liso. Os grossos cachos na ponta diferenciavam-no do restante dos cabelos de minhas amigas, quem eram lisos. O vestido era parecido com o de Lorens, mas ao invés de evidenciar minhas costas, deixando-as nuas, era trançado delicadamente por uma fita de cetim fininha que seguia minha coluna num padrão complicado. Apesar disso, ainda sim era um modelito que ousava, as alças eram tão finas que acho que só serviam de enfeite. Minha pele – assim como as das demais – era translúcida, clara, e mais uma vez o azul caiu bem. O comprimento seguia o mesmo padrão dos demais, e ele era ligeiramente justo ao meu corpo, como o vestido de Mandy. Eu aprovei, sorrindo.

 

I said, are you gonna be my girl?

Eu disse: "você quer ser minha garota?"

 

Oh yeah

Oh yeah

Oh yeah

Oh yeah

 

C'mon!

Vamos lá!

 

  Por último, claro, Cathy. Ela estava deslumbrantemente estonteante. Estava com um vestido preto cheio de brilhantes tomara que caia colado ao corpo, de forma que sua cintura e seus ombros estavam em destaque. O tecido marcava a silhueta elegante dela, mas ao invés de ser colado nas pernas, era todo rodado, com babados que deixavam o modelito parecido com o de uma boneca. Ela estava realmente linda.

 

- Estamos divinas – ela disse, num tom de voz definitivo – Já escolhi as sandálias. Meninas – ela olhou para as vendedoras e sorriu – Tragam.

 

    Ok, essa parte não foi muito divertida, mas finalmente conseguimos sair da loja com as compras feitas. As sandálias eram todas combinadas com os vestidos, bem a cara de Catherine fazer as coisas assim, por inteiro.

 

- Próxima parada: Salão de beleza! – ela parecia que ia inflar de tanta alegria por ir ao salão. Girei os olhos. – Vamos, vamos, vamos – ela olhou as horas – Estamos quase atrasadas!

 

- Quase não é estar – Mandy resmungou, rindo. Seu humor havia melhorado.

 

- Que seja – ela apertou o passo e tivemos que imitá-la, caso quiséssemos acompanhá-la – Vamos logo!

 

  Tivemos reações diferentes. Lorens resmungou qualquer coisa sobre estar com fome, me limitei a rir, e Mandy repetiu meu gesto. O fato foi que em pouco tempo chegamos ao nosso destino: felizmente o salão onde Cathy ia era no shopping mesmo. Mais chances de ficar viva. Catherine no volante era um desastre.

 

- Looouise! – Cathy entrou no salão cantarolando. O ambiente estava vazio, mas pude escutar passos se aproximando. Não demorou muito e um homem alto, extremamente bonito, apareceu. Tinha a pele morena, cabelo preto, curtinho… bonito. E foi para este pedaço de mal caminho que Catherine abriu um sorriso imenso.

 

- Cathy, meu amor! – Ele abriu os braços para um abraço de urso.

 

   Gay. Não havia outra desculpa para uma voz tão melosamente nojenta, eca.

 

- Pensei que não vinha, querida! – ele sorriu, se afastando. Nos olhou. – Você trouxe amigas!

 

 - Sim! – ela sorriu e postou-se ao nosso lado – Quero cortar o cabelo delas!

 

   Imediatamente enrolei meu cabelo o puxei para meu ombro. Mandy me imitou. Lorens prendeu o cabelo liso e castanho num coque desleixado. Olhamos para Mandy de olhos arregalados.

 

- Como é? – Lorens sibilou, ameçadora.

 

- Caalma, é só um cortezinho novo! Vai ficar bom – ela deu uma piscadela – Sem mais demoras, vamos logo que ainda tenho muita coisa para fazer hoje!

 

    Sem muitas opções, a obedecemos, e ela repetiu a cena da loja de vestidos. Andou em volta de todas nós, explicando como queria nossos cabelos. Talvez seja muita tirania da parte de Cathy, mas todas nós temos consciência de que ela tem um dom enorme para lidar com moda. Se não fosse médica, podia ser estilista e seria uma estilista brilhante. Sabíamos que ela não ia nos deixar horrorosa, e nem nada. Íamos ficar mais bonita. Vontade de mudar, sempre tivemos. Mas Cathy era quem dava o empurrão inicial.

 

- Então é isso – ela concluiu, após pensar e repensar nos cortes. – Para Lorens, uma franja, e corte o cabelo nos ombros. Para Mandy, uma franja de lado, nada muito radical. Para Mille, somente repique. Os cachos delas são lindos – Cathy maneou a cabeça – e para mim, franja.

 

   Eu suspirei. Lorens se espreguiçou. Mandy passou a mão pelo cabelo.

 

É, aquela tarde ainda seria longa.

 

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(Cathy)

 

- Estejam pronta às 21hs! – Eu exclamei, desprovida de qualquer emoção. Eu ia botar pra quebrar naquela festa! – Eu virei ver se precisam de ajustes.

 

- Pra quê? – Lorens estava passada. Lorens, sempre tão resmungona! Qualquer dia desses eu ia trancar ela e Chris dentro do armário de vassouras para eles se entenderem e Lorens amansar. Haja bunda para tantos coices.

 

- Baby – eu ergui o dedo no ar – Vocês precisam estar perfeitas. – Frisei a última palavra, sorridente.

 

- Certo, a gente te espera – Mille deu-se por vencida. – Às nove a gente se vê – ela exclamou, antes de fechar a porta.

 

   Sorri, e esperei alguns instantes antes de andar pelo corredor sorrateiramente, parando diante de uma porta oposta a das minhas amigas. Toquei a campainha três vezes seguidas.

 

   Um rapaz de olhos muito azuis atendeu.

 

- Você é…? – Ele quis saber, confuso.

 

- Catherine O’Connor – eu sorri e estendi a mão – Contratei sua banda pela internet, lembra? Liguei hoje mais cedo.

 

   A face dele se iluminou. Ele apertou minha mão com suavidade.

 

- O que a trás aqui? – ele me perguntou, curioso.

 

- Vim confirmar se você vai tocar – Sorri, torcendo para que ele dissesse não.

 

    A coisa toda começou por que nem Mille e nem Mandy me contaram sobre Nick Wilshire e Thiago Black. E o caso foi que, sem saber de bosta nenhum, acabei contratando uma banda cujo o vocalista era Nick e o um Buffet italiano cujo o cozinheiro era Thiago. Eu sei, fiz besteira, mas eu não sabia de nada! Como eu podia saber?

 

- Vou sim. Eu e minha banda – Ele disse, sorridente. – Eu estava até saindo de casa para ir arrumar o equipamento.

 

  Tentei não arriar os ombros, e nem nada disso. Os vídeos que vi na internet eram ótimos. Quero dizer, The Clash, a banda de Nick, era famosa pela cidade. Não sei que milagre não havia se espalhado pelo mundo ainda.

 

- Okay, ótimo… - Bom, quem sabe Thiago não fosse? – E Thiago Black?

 

   Não foi Nick quem respondeu.

 

- Eu vou, é claro, eu sou o chef – Thiago surgiu ao lado de Nick, maneando a cabeça. Depois franziu o cenho, me olhando – Como sabia que eu e Nick…?

 

- Internet – respondi, rapidamente, e me afastei – Pois é, ta combinado – Sorri insegura – A gente se vê lá!

 

  Eles sorriam.

 

- Ok. – e fecharam a porta.

 

   Dei ombros, caminhando pelo corredor rapidamente. Não havia como consertar a merda que eu havia feito. Só esperar que tudo desse certo.

 

   Mas de uma coisa eu tinha certeza: As coisas estavam indo muito mal. Muito mal.

 

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