Em meio a toda correria por causa da confusão causada pelo tordo, a calmaria daquela madrugada pairava sobre cada indivíduo presente no Distrito 13. A programação precisa nos horários praticamente obrigavam a todos a estarem na cama cedo.

Mas desta vez, algo diferente aconteceu.

No meio da madrugada, um dispositivo de um dos enfermeiros de plantão acionou seu alarme, informando que a paciente do compartimento três mostrara comportamento anormal em relação aos dias anteriores. Correndo após perceber a informação passada, o enfermeiro chegou às pressas ao compartimento três, abrindo a porta subitamente.

Ao entrar no compartimento, tentando não fazer barulho para não assustar a mulher que acabara de acordar, o enfermeiro notou pequenos movimentos vindos da maca, além da respiração um pouco menos calma, suas mãos se moviam um pouco, quase imperceptivelmente.

Andando a passos lentos, com uma prancheta na mão, o homem se aproximou cada vez mais da paciente, trazendo consigo um leve sorriso nos lábios.

Parando ao lado da mulher, ele a analisou e fez algumas anotações, até voltar o seu olhar atento para os olhos dela, que lutavam para se acostumar com a luz.

- Não precisa falar, se não conseguir - o homem disse. A mulher o lançou um olhar confuso, mas concordou com a cabeça, esperando que ele prosseguisse. - É normal porque você acordou agora. Quer alguma coisa para comer? Talvez precise dizer alguma coisa depois.

Ela concordou com a cabeça e o enfermeiro saiu em seguida, deixando-a sozinha por alguns minutos. Ela permaneceu deitada, olhando ao seu redor, mas sem conseguir reconhecer o lugar. Com certeza nunca estivera ali antes.

O enfermeiro retornou sem demoras, trazendo uma bandeja cheia de comida para a paciente, que fez um pouco de esforço para se sentar. O homem pousou a bandeja numa mesinha e se adiantou a ajudá-la a se sentar. Voltando-se para a bandeja, trouxe-a, então, até o colo da paciente, que começou a comer imediatamente.

- Enquanto estiver comendo - disse o enfermeiro -, vou lhe fazer umas perguntas básicas. Só precisa balançar a cabeça, tudo bem?

A mulher concordou com a cabeça e continuou comendo.

- Effie Trinket, não é?

Ela assentiu com a cabeça, mordendo um pedaço da torrada, agora não tirava os olhos atentos dele enquanto fazia anotações na prancheta.

- Vou apenas fazer algumas perguntas para saber se sofreu algum dano... - voltou-se para a prancheta novamente e continuou: - Lembra do que aconteceu quando sequestraram você?

O olhar dela de repente ficou distante e Effie começou a pensar no que passou, balançando a cabeça num sim e confirmando que se lembrava.

- Não precisamos falar sobre isso agora - disse o homem, prosseguindo com as anotações. - Lembra da Katniss? Peeta? Haymitch? Snow?

Effie franziu o cenho, sabendo que conhecia aqueles nomes, mas algo neles soava estranho. Talvez não se lembrasse muito bem.

- Acho que sim - soou a voz rouca de Effie, ainda com o olhar distante, tentando lembrar-se de tudo o que ele estava lhe falando, mas algo ainda a confundia, mas ela não fazia ideia do que era.

Voltando a si, Effie olhou ao seu redor e notou algumas flores num vaso a sua direita. Deixando escapar um breve sorriso, tentou imaginar quem traria tantas flores assim.

- Quem as trouxe? - perguntou, apontando para as flores. O enfermeiro se desprendeu um pouco da prancheta e admirou as flores.

- Seu admirador secreto, Srta. Trinket!

Effie desgrudou os olhos das flores e passou a fitar o enfermeiro que sustentava um olhar misterioso. De repente o admirador secreto parecia não ser secreto, mas Effie não fazia ideia de quem poderia ser.

- Aliás - continuou o enfermeiro - ele está lá fora já. É um pouco contra as regras do Distrito 13 deixá-lo entrar, porém ele foi bastante insistente, devo confessar.

- Espera - ela o interrompeu. - Você disse... Distrito 13?

- Ah... - pigarreou antes de prosseguir. - Acho melhor que ele lhe explique tudo sobre o que aconteceu. Aliás, foi ele um dos responsáveis por você estar aqui agora.

Sem ter entendido muito bem se isso era bom ou ruim, Effie aceitou e o deixou sair, enquanto se questionava sobre estar num lugar onde, até então, acreditava que não existia mais.

A porta abriu-se novamente e Effie sentiu seu estômago gelar. Uma sensação estranha apoderou-se dela quando um homem louro e de olhos cor cinza surgiu na sua frente, olhando-a de uma maneira curiosa. Ela podia notar a expectativa em seu olhar, mas aquela sensação foi momentânea. Effie o acompanhou enquanto se aproximava com mais um buquê nas mãos, parando em pé ao seu lado. Um sorriso tímido tomava conta dos seus lábios e em nenhum momento ele tirou os olhos dela, o que fez Effie corar um pouco.

- Oi princesa - disse Haymitch, vitorioso do segundo Massacre Quaternário, preparador dos tributos do Distrito 12.

- Então você é o meu admirador secreto - disse Effie, com um sorriso simpático. O brilho nos olhos daquele homem chegava a assustá-la.

Haymitch assentiu com a cabeça.

- Acho que dessa vez vou poder entregá-las a você - disse ele, entregando o buquê que trazia nos braços. Effie o recebeu sem relutar, fechando os olhos e passando a face sobre elas, porém sem sentir cheiro algum. - E olha só - acrescentou com um olhar de espanto - Effie Trinket sem peruca!

Effie acabou deixando escapar um breve riso com a situação.

- Não são de verdade - Haymitch se adiantou a dizer, visto que Effie franzira o cenho, intrigada por não ter sentido o aroma das flores. - Mas como você adora flores, achei que você ia gostar...

- Como sabe disso? - perguntou Effie, olhando com um pouco de desconfiança para o homem a sua frente.

- Bom, alguns anos convivendo ao seu lado me fizeram saber algumas coisas sobre você - ele se sentou na beira da maca onde Effie estava e esticou uma mão para tocar a dela, porém Effie afastou a sua, parecendo intrigada. Haymitch, confuso com o que estava acontecendo, não insistiu e apenas a fitou.

- Me desculpe, mas - começou Effie, olhando em seus olhos de cor cinza - eu conheço você?