Após organizarem as malas no pequeno, mas confortável carro de Mary e ajeitarem as crianças no banco de trás, Molly enfim se acomodou no banco do passageiro. Era difícil estar de volta a Londres, principalmente enquanto observava a cidade e percebia o quanto sentiu saudade dali. Molly era apaixonada por Londres e se precisou ir embora tinha tido um bom motivo. Um motivo que não tinha contado a ninguém, mas só uma pessoa sabia. Sherlock. Só de pensarnele seu estômago revirava e tinha uma vontade tremenda de voltar correndo para Nova York. Ainda não tinha coragem de encontrá-lo e torcia para que isso não acontecesse tão cedo.

Enquanto pensava em tudo isso, Molly não reparou que Mary a analisava. Estava pensando o que a amiga escondia depois de todos esses 5 anos. O carro estava num silêncio cortante, até que Olivia trouxe as duas de volta a Terra.

– Mamãe, podemos ir visitar o tio Sherly hoje? – Olivia disse com uma grande empolgação. Ela era doida por Sherlock. “O meu tio favorito papai”, ela vivia dizendo a John.

A menção de Sherlock fez Molly estremecer e Mary percebeu isso.

–Acho que hoje não vai dar querida. – Mary disse, mais olhando para Molly do que querendo responder Olivia. Molly então percebeu que a amiga entendia o que ela estava sentindo e com um olhar já se enchendo de lágrimas, sussurrou um “Muito obrigado”. Ainda não estava pronta para encarar Sherlock, não depois de tudo o que aconteceu. Precisava conversar com alguém antes, mas então Molly percebeu que Mary não estava dirigindo em direção ao seu antigo apartamento.

–Mary, para onde estamos indo? –perguntou num tom de preocupação ao perceber que estava na rua Queen Anne. Tinham combinado de Mary deixar Molly e William no seu apartamento, para enfim poderem ajeitar todas as coisas encaixotadas.

–Ah querida, preciso pegar algo que esqueci em casa...hã, para Olivia. – Mary disse improvisando.

–Para mim? – Olivia se manifestou parecendo curiosa. – Mas nós não esquecemos nad...

–Shh, Fique quieta Olivia. – Mary a repreendeu. – Só vai levar uns minutos Molly.

Molly estava desconfiada daquela história. Depois que John descobriu o passado terrível de Mary, ela não era mais a mesma, então não conseguia mais mentir tão bem. Mas Molly resolveu aceitar essa história mesmo assim e bem lá no fundo, esperava que a amiga não estivesse inventando nenhuma surpresa. De surpresa tinha bastado o olhar de Mary quando William disse o seu nome. Molly sabia que ela ter ido embora de Londres foi um choque e tanto para a amiga, mas um choque maior foi Molly ter voltado para Londres com um filho. E ainda por cima chamado William. Só tinha faltado ele completar com Sherlock Scott Holmes.

Agora que tinham chegado a casa de Mary, Molly pensava em como seria rever John. Sabia o quanto ele era próximo de Sherlock e talvez ele também tivesse certa raiva dela. Molly tinha abandonado Sherlock e talvez John não soubesse o que realmente tinha acontecido. Ou talvez Sherlock tenha contado. Sherlock. Molly tinha se acostumado a não pensar tanto nele em Nova York, mas parece que o ar de Londres não era feito de gás oxigênio e sim de gás Sherlock. Tudo a lembrava dele.

–Bom Molly, vamos entrar, prometo que vai te fazer bem esses poucos minutos aqui. – Mary disse com um sorriso amistoso. Olivia já estava abrindo a porta, quando Molly segurou a mão da amiga e a abraçou:

–Obrigado Mary – ela sussurou – e me desculpe por tudo. Precisamos tanto conversar. Molly tinha um tom sério na voz e pela primeira vez, Mary percebeu que a amiga não era mais a mesma. Molly não tinha mais o ar de inocente, frágil e sensível que tinha quando foi embora. Tinha voltado mais forte, determinada e corajosa. Molly tinha voltado mãe e Mary sabia o quanto um filho mudava as pessoas. E Molly tinha sido mãe sozinha, não teve ajuda de ninguém para criar Will.

–Tudo bem querida. Seja o que for, você não está mais sozinha. – Mary disse já se dirigindo a porta. Molly nem teve tempo de agradecer de novo, quando Mary acendeu então a luz da sala e várias pessoas surgiram de todos os cantos fazendo muito barulho. Só depois de alguns segundos, Molly percebeu que eles gritavam SURPRESA! Uma festa surpresa? Para ela?

Poucos segundos depois, Molly pode reconhecer alguns rostos: Lestrade, Sra. Hudson, John, alguns colegas de trabalho do St. Bartholomew’s Hospital e até Tom estava lá. Menos Sherlock.

E enquanto todos ainda gritavam Surpresa, Molly pode reconhecer aquele olhar que tinha visto a poucos minutos no rosto de Mary, todos estavam surpresos ao olharem para William. O garoto de cabelos encaracolados, olhos azuis e meio verdes, da pele branca e olhar assustado, era a cópia mirim de Sherlock. Era algo que qualquer um podia deduzir. E Molly sabia disso. Por isso o seu plano era voltar para Londres e ser o mais discreta possível.

Assumiria o cargo que foi oferecido a ela de Diretora-chefe da ala Sul do St. Bartholomew’s Hospital e criaria o seu filho próximo apenas de amigos bem chegados. Ela sempre tinha tido sucesso em ser discreta, sempre passou despercebido pelas pessoas e nunca era notada. Exceto por Sherlock. E pensando nisso, Molly refletia: “Onde minha vida veio parar?”

Afinal, tinha sido uma grande festa surpresa, para eles, não para Molly.