Molly tinha acabado de se sentar no banquinho da varanda de frente para algumas árvores quando sentiu Sherlock se sentar do lado dela. Era impossível não estar perto dele, Sherlock estava determinado a conseguir Molly de volta e ela já tinha percebido isso:

–Eu mereci o tapa Molly, mesmo depois de 5 anos. – Ele começou com um risinho. Também estava encarando as árvores, mas notou quando Molly inspirou e soltou um suspiro. Ele sabia que esse era “o sinal”. O sinal de que Molly queria dizer algo difícil e estava juntando coragem para começar a dizer e não voltar atrás:

– Olha Sherlock, eu ter decidido voltar de Nova York não foi por você. Eu abandonei você, dei entrada nos papéis do divórcio, os quais você não assinou e criei William sozinha. Eu não voltei por você. Nós vamos sempre estar ligados, isso é verdade. Temos um filho juntos, mas é só isso entendeu? – Molly disse as palavras e no final, olhou para Sherlock que ainda encarava as árvores.

Ele estava lindo. Ele é lindo Molly, sua consciência a lembrou. Alguns fios do cabelo de Sherlock mexiam com o vento suave que passava. O seu sobretudo preto por cima da camisa violeta, apenas destacava ainda mais o tom branco da pele dele. Mesmo com algumas ruguinhas já surgindo no canto dos olhos, Sherlock sempre seria maravilhoso. E Molly sabia disso.

–Tudo bem Molly. – Ele disse enfim olhando nos olhos dela. Ficaram assim por mais alguns segundos até que Sherlock resolveu quebrar o silêncio: - Você foi embora e já estava grávida, não foi Molly? Não achou que eu merecia saber?

Molly apenas riu com as perguntas e recitou em voz alta:

– Você me disse “Eu não vou ser um marido exemplar. Vou tentar me importar mais com seus sentimentos, começar a realmente me importar e principalmente, vou me esforçar em ter uma família com você Molly. E ainda vai levar um tempo até eu me adaptar a ter você por perto”, você se lembra?

Sherlock estava surpreso por Molly se lembrar dos votos dele, mas então balançou a cabeça afirmando, entendendo onde Molly queria chegar:

– Você mentiu pra mim Sherlock e além de tudo, você não tinha nem começado uma família comigo direito, imagina ter um filho! – Ela disse sorrindo, levando a mão para colocar uma mecha do cabelo atrás da orelha. Sherlock viu que a mão de Molly tremia. Falar disso tudo ainda mexia muito com ela:

–Eu ia te contar. Naquele dia. Saí do St. Barts assim que fiz o teste de gravidez e fui direto para Baker Street...- Molly fez uma pausa –... pegar você beijando outra mulher. – Disse a última frase encarando Sherlock. Seus olhos expressavam toda raiva e mágoa que destruíam o coração de Sherlock.

– Eu me lembro do que eu disse Molly. Mas eu também pedi para você não desistir de mim. Você me fez mudar e é você que sempre importou pra mim. – Sherlock disse, se aproximando de Molly e pegando sua mão. Ao toque dele Molly fechou os olhos. – Por favor, não fecha os olhos Molly. Olha pra mim. Sem você eu não sei para onde olhar. – Então pegou a mão dela e colocou sobre o peito dele. O coração acelerado, como Molly nunca tinha sentido. – Consegue sentir? Você fez meu coração despertar Molly e vai ser sempre por você que ele vai bater.

Molly não sabia como reagir. Sherlock parecia estar sendo sincero e arrependido. Era inacreditável para ela ver Sherlock Holmes se desmontando em frente dela:

– Sherlock, por favor, não torne as coisas mais difíceis. Eu sei que você se importa, mas...

– Então não desista de mim Molly, estou te pedindo novamente. – Ele disse, interrompendo-a. Os olhos azuis e a voz de Sherlock estavam implorando, Molly podia sentir. Ela sabia que Sherlock não iria desistir, sabia o quanto ele era determinado. Mas já tinham se passado 5 anos. Não seria simples retomar da onde eles tinham parado.

Então Molly tirou a mão, que ainda estava sentindo o coração de Sherlock bater e abaixou a cabeça. Sem querer viu a aliança na mão de Sherlock. “Você fez meu coração despertar Molly e vai ser sempre por você que ele vai bater”, as palavras ainda ecoavam na mente dela. Por fim, tomou coragem e disse com um leve sorriso:

– Você não vai desistir não é?

Sherlock então sorriu e disse ajeitando a gola do sobretudo:

– Nós nos completamos Molly. E é assim que as coisas têm de ser, caso você queira ou não.

Molly percebeu que não adiantaria lutar contra. Sherlock a tinha magoado e muito, mas era o tempo de deixar tudo para trás. Precisava encarar a verdade de que ela e Sherlock tinham sido feitos para completar um ao outro. Até ele já tinha aceitado isso. Eles agora tinham um filho juntos. Uma família. E nem ela queria que fosse diferente.

–Tudo bem Sherlock, mas vamos recomeçar certo? – Ela disse o encarando e pode ver um sorriso no rosto dele.

– Recomeçar? Olá, meu nome é Sherlock Holmes. É um prazer conhecê-la, senhorita...? – Ele disse estendendo a mão para Molly.

– Não recomeçar daí seu bobão. Além do que, você não foi tão simpático e legal assim quando nos conhecemos. – Molly disse empurrando Sherlock com umas das mãos de brincadeira.

– Claro que eu fui, você que não se lembra. – Ele disse tentando ficar sério encarando as árvores.

– Vocês estão brigando?

Molly e Sherlock então se viraram e viram William parado perto da porta que dava para a varanda. Estava vestindo um chapéu que Sherlock conhecia bem. Todo quadriculado cinza que ele odiava. Estava espalhado por Londres: “Compre o chapéu de Sherlock Holmes”. Mas ao ver William vestindo, pela primeira vez, achou que alguém faria jus de usá-lo. Com um sorriso, disse:

– Não William. Fique tranquilo. Bonito chapéu.

– Fiz mamãe comprar na época que eu gostava de você. – William respondeu sério, se sentando no colo de Molly. Sherlock se surpreendeu com a resposta. Tinha certeza de que o William o amava, mas pelo jeito, tinha deduzido errado. Sherlock tinha acabado de conquistar a mãe, mas ainda faltava o filho.

– Então você não gosta mais de mim? – Sherlock perguntou fazendo uma cara de dúvida. Viu William cruzar os pequenos braços e fazer um bico, demonstrando que estava bravo.

– Não. E você não vai roubar minha mãe de mim e muito menos, magoar ela de novo.

Sherlock ficou ainda mais surpreso com essa reação e viu que tinha um adversário mais determinado e teimoso do que ele. Molly apenas observava sem acreditar. William a estava protegendo e defendendo, mas ela sabia que tudo aquilo era nervosismo. William mal podia esperar para abraçar Sherlock e sair conversando sobre todos os casos que Sherlock resolvera.

– Tudo bem, tudo bem William. – Molly disse virando o rosto do filho pra ficar de frente para o dela. – Se ele me magoar de novo, nós acabamos com ele certo? – Molly disse a última frase fazendo a voz rouca do monstro malvado e mexendo os dedos em volta de William, fazendo cócegas nele.

Sherlock apenas observava com um sorriso no rosto. Tinha a família perfeita, mas precisava recuperar os últimos 5 anos perdidos. E precisava principalmente recuperar o seu filho.