Não Quero Voltar Sozinho escrita por Vine Dugaich


Capítulo 18
Hoje Eu Não Quero Voltar Sozinho


Notas iniciais do capítulo

Bem, aqui estamos no último capítulo. Foi uma jornada e tanto! Leiam as notas finais! Tem um recado bem especial para todos!

O pequeno texto, a seguir, possa conter spoilers, ou não, fica por sua conta ler, se preferir, leia depois que acabar de ver o capítulo (o que recomendo fazer):

1º O capítulo ta beeeeem grande.


2º Talvez me questionem sobre o que o Léo fez consigo mesmo no começo do capítulo. Mas quero que vejam a situação em que ele se encontra, tudo o que está acontecendo com ele e todo o peso que ele carrega e pensa estar carregando. Existem diversas formas de se "aliviar", mas Léo acabou não pensando muito. *cena banheiro*

3º "Nossa, fizeram as pazes rápido hein". Pode parecer isso, mas lembrem que todos, principalmente Laura, ainda tem um receio sobre tal coisa. Vai demorar muito, muito e muito para ela conseguir aceitar isso do filho, mas, ela aprende a respeitar e quem sabe, começar a abrir a mente. *cena reconciliação*

4º Se quiserem me questionar por isso, vou entender vocês, estão certos.

5º Eu adoro vocês, leitores



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/496146/chapter/18

“LÉO!”

Era Laura.

[Léo] – Mãe?

Gabriel soltou da mão de Léo. Os dois ficaram em pé. O médico olhava para Laura e Carlos.

Léo começou a tremer. Seus olhos logo começaram a encher de lágrimas.


Laura e Carlos se aproximaram de Léo, enquanto Otávio se levantava.

[Otávio] – Olá! Você deve ser a mãe do Leonardo, né?

[Laura] – O que você está fazendo aqui, moleque? – ignorou o doutor e direcionou a pergunta à Gabriel.

[Gabriel] – Léo. Vou embora. Tchau.

Gabriel foi saindo, Léo pediu para ele ficar, mas o ignorou. Ao passar por Laura, ela segura no braço de Gabriel. Os dois se encaram.

[Gabriel] – Solta meu braço?!

[Laura] – Eu te proibi... De ver... Meu filho!

[Gabriel] – Eu posso ir embora?

[Léo] – Mãe. Solta ele!

[Laura] – Leonardo! – chamou a atenção do filho, enquanto soltava o braço de Gabriel – O que deu na sua cabeça de sair assim de casa? Meu Deus, olha o seu pé! E ainda está com esse moleque aqui?

[Carlos] – Laura. Calma, por favor. Não vamos discutir aqui.

[Léo] – Eu... Eu não quero mais ficar em casa, não com vocês lá.

[Laura] – Ah Leonardo. Me poupe.

[Otávio] – Laura, né? Acalme-se por favor. Conversei com seu filho. Ele não teve nada grave no pé. O Léo deve ter caído de mal jeito e machucou o pé, assim, acabou inflamando. Não tem com o que se preocupar. Receitei aqui um anti-flamatório para ele tomar e uma pomada para passar no pé.

[Laura] – Ótimo! Me dê aqui a receita – pegou o papel da mão do médico e o puxou – Não quero discutir aqui. Vamos embora!

Laura foi saindo depressa, Carlos foi até Léo, colocou uma mão atrás das costas e foi levando o filho apoiado nele. Gabriel foi logo atrás, acompanhado do médico.

Na porta do hospital, Carlos foi levando Léo até o carro. Laura parou e esperou na porta, Gabriel passou por trás dela, pegou a bicicleta. Laura virou-se pra ele. Apontou o dedo.

[Laura] – Já sabe né? Não quero você perto dele. NUNCA MAIS!

Gabriel ficou vermelho. Um arrepio percorreu seu corpo. Laura foi voltando para o carro.

[Otávio] – Sabe, Gabriel? – chegou perto dele – Ela pode ser bem dura, mas uma hora, ela vai acabar por ter que aceitar isso. Pode ser difícil, mas não é impossível. E... – Gabriel montou na bicicleta, olhou nos olhos do médico – Se você realmente gosta do Leonardo... Não deve desistir dele nunca.

Otávio abriu um sorriso largo no rosto. Deu três tapinhas nas costas de Gabriel.

[Gabriel] – Eu amo ele.

Os olhos de Gabriel começaram a lacrimejar, ele sorriu e logo em seguida começou a pedalar.


Em casa, Léo foi andando sem a ajuda do pai até o quarto. Laura foi indo atrás, estava furiosa e gritando com ele. Léo chegou no quarto e foi fechando a porta, mas, foi impedido pela mãe.

[Laura] – VOCÊ NÃO VAI FECHAR A PORCARIA DESSA PORTA! CHEGA!

Léo foi até a cama e deitou-se. Colocou o travesseiro em cima da cabeça. Estava esperando a mãe parar de falar.

[Laura] – O QUE DEU NA TUA CABEÇA PRA SAIR ASSIM DE CASA? DE MANHÃ AINDA? SOZINHO, MEU DEUS! E SE ACONTECE ALGUMA COISA? ALIÁS, ACONTECEU NÉ, LEONARDO? MACHUCOU O PÉ! MAS ALGO PIOR PODERIA ACONTECER!

[Léo] – BEM QUE PODIA! – havia tirado o travesseiro da cabeça.

[Laura] – O que? – baixou o tom da voz – O que você falou?

[Léo] – Bem que podia acontecer algo pior. Pelo menos eu não ia ter que ficar escutando você falar!

[Laura] – Não fala assim, Leonardo.

[Léo] – Eu falo assim mesmo! – começou a chorar – Eu to cansado de você mãe! Cansado desse seu jeito. Vive me fragilizando, me fazendo de coitado. Só porque eu sou cego. Age como se isso fosse uma coisa ruim de mais. Agora, só porque eu sou gay, faz escândalo maior.

[Laura] – Eu já te falei. O certo não é você ficar com outro menino.

[Léo] – QUEM FALOU QUE ESSE É O CERTO? QUEM?

[Laura] – EU FALEI! EU SEI O QUE É MELHOR PRA VOCÊ!

[Léo] – Você sabe o que é melhor pra mim?

[Laura] – Claro que sei. Sou sua mãe, quero o melhor pra você.

[Léo] – Se quisesse o melhor não me trataria assim – silêncio seguiu por alguns segundos – Sabe... É por isso que quero fazer intercâmbio.

[Laura] – Ai não. Lá vem você com essa ladainha de intercâmbio.

Léo ficou em silêncio.

[Laura] – Eu já falei. Não vou aceitar você com aquele moleque. Com nenhum outro.

[Léo] – Para de falar.

[Laura] – Não quero saber se é gay ou seja o que for

[Léo] – Paaara de falar.

[Laura] – Você sabe qual é o certo!

[Léo] – CALA A BOCA!

Laura arregalou os olhos. Deu um tapa no braço de Léo.

[Laura] – Você me mandou calar a...

[Carlos] – CHEGA! – Carlos deu um grito estrondoso, assustando Laura e Léo. Ele estava parado do lado de fora do quarto – CHEGA DESSA MALDITA BRIGA! CHEGA! NINGUÉM MERECE FICAR ESCUTANDO ISSO TODO DIA! NINGUÉM! NÃO SEI QUEM DE VOCÊS ESTÁ MAIS ERRADO NESSA SITUAÇÃO. CANSEI DESSAS BRIGAS. PAREM PELO AMOR DE DEUS! POR FAVOR!

Laura olhou para os olhos de Carlos. Léo chorava sem parar.

[Laura] – Você tá certo, Carlos. Chega de briga – Laura foi para a porta – Você não vai mais sair dessa casa, Leonardo. Só vai para a escola! E eu é que vou te levar e buscar.

Laura saiu do quarto e fechou a porta. Léo começou a chorar.


Estava anoitecendo. Léo foi tomar banho. Depois de terminar, ficou na frente do espelho do banheiro. Passou a mão pelo espelho, segurou na pequenina maçaneta e puxou. Léo começou a procurar algo. Parou e pegou um pente. Penteou os cabelos e depois, guardou de novo. Ao guardar o pente, ele bateu a mão em uma espécie de pote. Fez um barulho como chocalho. Léo pegou ele e abriu. Pôs a mão dentro e tirou rapidamente. Havia algumas lâminas do barbeador de Carlos. Léo pegou uma. Segurou entre o dedo indicador e polegar direito. Colocou o pequeno pote em cima da pia, depois, pegou a lâmina e colocou na palma da mão. Começou a examiná-la, passando o dedo indicador. Pegou ela novamente e apertou contra o dedo, mas, sem querer, acabou furando ele. Léo soltou a lâmina dentro da pia. Colocou o dedo furado na boca. Lavou ele e depois guardou o potinho no lugar. Saiu do banheiro deixando a lâmina dentro da pia.

Léo voltou para o quarto. Deitou na cama. Alguns minutos passaram e logo dormiu.


“Muita conversa. Léo sentia várias pessoas correrem ao seu redor. Ouvia Gih conversar com ele. Ela estava falando de uma menina que estudava com os dois. Falava que a tal garota tinha problemas de cabeça e as vezes chegava na escola toda arranhada. Também disse que pegaram uma vez ela no banheiro, com os dois pulsos sangrando. Ela se cortava.

Mudou de lugar. Léo percebeu que estava num lugar diferente. Ouvia algo que parecia rodinhas andando num corredor. De repente, escutou uma mulher falar que um paciente precisava de ajuda no quarto. Então, cogitou estar no hospital. De repente, escuta Gabriel gritar com ele. Perguntava se Léo estava bem, se tinha machucado muito. Ao fundo, ouvia-se Laura gritando de raiva com Gabriel e Carlos pedia para ela se acalmar. Mais uma vez, Léo ouviu a mãe dizer que nunca mais iria chegar perto de Gabriel e sair de casa. Então...”


Léo acordou. Estava sonhando, ou tendo um pesadelo. Mal sabe ele. Sentou na cama. Pegou o celular que estava embaixo do travesseiro. Apertou um botão e uma voz seguiu logo adiante: “três horas e quarenta e quatro minutos”. Ainda era madrugada. E era sábado. Não ia ter escola, então poderia dormir até mais tarde. Entretanto, Leonardo continuou sentado na cama. desta vez, juntou as pernas e apoiou-se no joelho. Parecia que estava encarando a porta do quarto.


Sábado, Léo acordou, e pegou o celular novamente.

“dez horas e trinta e dois minutos” – disse a voz do celular.

Levantou-se da cama, espriguiçou-se. Depois sentou novamente. Estava sem vontade de sair do quarto ou de fazer qualquer coisa. Não queria ficar na presença dos pais ou, pelo menos, da mãe. Ficou sentado na cama por uns longos minutos. Lembrou do sonho que teve. De Gabriel perguntando sobre ele. De Laura gritando enfurecida. Carlos acalmando a esposa. Gih explicando sobre a garota estranha que se cortava e aparecia arranhada na escola. Ficou pensando nessa garota. Algum tempo depois, Léo levantou novamente da cama, respirou fundo. E saiu do quarto e foi direto para o banheiro. Fechou a porta mas não a trancou. Abriu o pequeno armário que abrirá na noite passada.


Laura e Carlos estavam na cozinha, tomando café da manhã.

[Laura] – Quer mais café?

[Carlos] – Não – terminou de beber o resto de café que tinha na xícara – Laura?

[Laura] – O que foi?

[Carlos] – Você mexeu ontem nas lâminas do meu barbeador?

[Laura] – Não. Nem pego nelas, você sabe que eu tenho medo de me cortar.

[Carlos] – Hmm – resmungou e deu uma risadinha – Hoje quando acordei, tinha uma das lâminas dentro da pia.

[Laura] – Você deve ter deixado cair lá.

[Carlos] – Não. Talvez o Léo deve ter mexido.

[Laura] – Ai não. Agora essa. Vai ficar brincando com lâmina de barbear.

[Carlos] – Não, que isso. As vezes ele deve ter derrubado o pote.

[Laura] – Uhm. Rebelde do jeito que ele tá – de repente, os dois escutam a porta do banheiro bater – Ouviu? Deve ser ele batendo a porta todo bravo.

Carlos lançou um olhar seríssimo para Laura. Ela abaixou a cabeça e voltou a comer. Estampou um pequeno sorriso, como se estivesse num ótimo dia.

Os dois terminaram de comer. Laura juntou as xícaras e levou para a pia da cozinha. Carlos comeu mais um pedaço de torrada.

Alguns minutos passaram e um grito veio do banheiro. Laura se assustou e deixou cair uma xícara no chão. Carlos se levantou da cadeira tão rápido que acabou batendo a perna na mesa. Os dois foram correndo ver.


Léo fechou a porta do banheiro. Escovou os dentes. Depois ficou parado de frente para o espelho. Ouvia os pais conversarem.

[Laura] – Você deve ter deixado cair lá – ouviu a voz da mãe.

[Carlos] – Não. Talvez o Léo deve ter mexido – agora era a voz do pai.

Léo, então, abriu o pequeno armário. Pegou o pote de lâminas mais uma vez e o abriu. Tirou uma lâmina de lá e colocou o potinho na pia.

“Ela se corta, Léo. Já pegaram ela no banheiro com os pulsos cheio de sangue” – Léo lembrava do sonho com Gih e a garota estranha.

“Fica longe do meu filho! Você nunca mais vai ver ele.” – lembrava da mãe discutindo com Gabriel.

“Você, Leonardo, nunca mais vai sair dessa casa!”

Léo respirou fundo. Segurou a lâmina com a mão direita e esticou o braço esquerdo, de modo que deixasse o pulso a mostra.

“Além de cego, é gay... Imagina o que vão falar... Seu viadinho... Esse é o certo... Não sei se consigo ver meu filho com outro garoto... Cansei de brigar... Não vai sair de casa nunca mais!”

Milhares de pensamentos e lembranças ruins começaram a passar pela cabeça de Léo. Começou a chorar.

Respirou fundo mais uma vez. Aproximou a lâmina do pulso e...

Léo espremeu os olhos e fez um pequeno corte paralelo ao braço. Começou a sangrar. Soltou a lâmina no chão, colocou a mão no corte e sentiu o sangue. Ofegava. Parecia despesperado. Foi guardar o potinho mas acabou o derrubando no chão. Pôs a mão novamente no corte e sentiu os sangue de novo. Se desesperou.

[Léo] – PAI! PAAAAI! – gritava pelo pai.

Segundos depois, Carlos e Laura apreceram na porta.

[Léo] – Pai! Tá doendo.

Carlos agachou até Léo, Laura olhava por cima dele.

[Carlos] – Meu Deus, Léo. O que aconteceu – puxou o braço do filho e viu o corte. Arregalou os olhos – Laura! Pega uma toalha.

Laura puxou uma toalha de rosto que estava próxima e deu para Carlos. Ele enrolou no braço de Léo. Depois, levantou e ajudou o filho a ficar de pé. Foi levando ele para fora de casa.

[Carlos] – Vamos pro pronto socorro.

[Laura] – Eu vou com você.

[Carlos] – Não. Fica ai.

Laura afastou-se. Respirou fundo. E ficou vendo da porta da sala os dois saírem.

Carlos e Léo subiram rapidamente no carro e foram embora. Laura ficou parada na porta.


Indo para o hospital. Léo apertava o braço machucado.

[Carlos] – Por que você fez isso, Léo? – olhou para o filho – Você se cortou? Meu Deus. Nunca imaginei que você seria capaz de fazer isso filho.

No resto do caminho, os dois ficaram em silêncio. Chegaram ao hospital e logo, foi atendido. Por sorte, Léo foi atendido pelo doutro Otávio de novo.

[Otávio] – Léo. Você de novo aqui? O que aconteceu?

Leonardo tirou a toalha do braço e mostrou para o médico.

[Otávio] – Deixa eu ver.

Segurou no braço dele. Passou o dedo ao redor e ficava olhando fixamente.

[Carlos] – É profundo, doutor?

[Otávio] – Não. Por sorte – olhou pra Léo e riu – não. É um corte simples. É só colocar um curativo e pronto. Não precisa de pontos nem nada.

[Carlos] – Nossa. Que bom.

[Otávio] – Léo, vou fazer o curativo, está bem?

[Léo] – Tá.

Leonardo deixou o braço esticado na mesa. Otávio havia pegado esparadrapos e gazes. Também pegou um remédio para espirrar no corte.

[Otávio] – Vou espirrar um remédio no seu braço, vai arder um pouco.

Léo se lembrou da vez em que pediu para Gabriel ensinar ele a andar de bicicleta, mas acabou caindo e machucando o joelho. E Gabriel levou ele pra casa para cuidar do machucado.

Sentiu o corte arder. Espremeu os olhos e resmungou. Otávio colocou a gaze e depois os esparadrapos. Estava feito o curativo.

[Otávio] – Pronto, Léo. Está feito. Ah, e o pé?

[Léo] – Tá melhor. Dói um pouco ainda, mas consigo me virar.

[Otávio] – Não fique forçando ele muito no chão, se não... Bem, você vai ter que voltar aqui.

[Léo] – Ok.

Léo e Carlos se despediram do médico. Logo em seguida, foram embora. No caminho até em casa, os dois não conversaram.

Chegaram.

Laura foi correndo ao encontro deles, na porta da sala.

[Laura] – E ai?

[Carlos] – Não é nada grave. Foi só um corte “normal”.

[Laura] – Teve que dar pontos?

[Carlos] – Não. O médico falou que só precisava de um curativo.

[Laura] – Ai que bom – Laura olhou pra Léo, chegou um pouco perto dele – Por que você fez isso, Leonardo? – ele não respondeu – Não vai responder? – Léo não esboçou uma reação sequer. Laura continuou a encarar o filho.

Léo foi andando até o quarto, ao chegar lá, pegou o celular e o fone de ouvido, deitou na cama e tentou dormir.


Laura e Carlos ficaram na sala. Os dois sentaram no sofá e começaram a conversar.

[Laura] – Não posso acreditar que o Léo fez isso.

[Carlos] – Eu também. Meu Deus... Cortar o pulso...

[Laura] – Ele está passando dos limites, Carlos.

De repente, Carlos suspirou. Lançou um olhar de duvida para Laura.

[Carlos] – Será que ele está passando dos limites? Ou...

[Laura] – Ou o que? A gente que fez isso com ele? Por favor, não foi né.

[Carlos] – Laura, eu andei pensando, estamos pegando pesado de mais com o Léo.

[Laura] – Não. Não estamos. É o certo que estamos fazendo. Pelo menos, eu quero o melhor para o meu filho.

[Carlos] – Como você quer o melhor pra ele deixando ele trancado dentro de casa? Impedindo de ver os amigos?

Laura não respondeu. Levantou do sofá e foi até a cozinha.

[Laura] – Vou fazer o almoço.


O fim de semana passou. Léo passou a maior parte dele no quarto, a não ser no domingo a tarde, que tinha ido para a casa de sua vó, Maria. Era segunda-feira. Léo estava pronto pra ir a escola. Ele e Laura saíram de casa e foram indo de carro, para a escola.

Ao chegarem lá, como na vez em que Laura fez, levou Léo até a sala de aula. Alguns alunos já estavam sentados, inclusive William e Gabriel. Alguns deram atenção a Laura outros não. Na hora de sair da classe, Laura passou por Gabriel e lançou um olhar ameaçador, logo em seguida foi embora.

Gih chegou dois minutos depois e, logo em seguida, o professor também.

Para Léo, a aula foi entediante. Seu braço estava com um curativo que a mãe tinha feito. Seu pé já não estava mais inchado, porém, estava um pouco avermelhado e doía, não muito. Conseguia andar, mas mancava um pouco.

Enfim, chegou a hora do intervalo. Léo ficou sentado perto da diretoria. Em umas cadeiras que ficavam lá fora. Tinha acabado de comer o lanche. De repente, escuta a porta da diretoria abrir.

“Léo?” – chamou a voz. Léo reconheceu, era a diretora.

[Léo] – Oi, diretora.

Ela analisou Léo da cabeça aos pés. Viu o braço com o curativo.

[diretora] – O que houve com seu braço?

Léo sentiu um desconforto pela pergunta. Tentou pensar em algo para responder.

[Léo] – Acho que raspei ele em algum lugar de casa. Sem querer.

[Diretora] – Uhm. Quer vir aqui na minha sala um pouco?

[Léo] – Hã? Eu fiz alguma coisa errada?

[Diretora] – Não – disse rindo – Só quero conversar com você.

[Léo] – Tá bom.

Léo sorriu e ficou em pé, a diretora puxou o braço dele, guiando até a porta. Léo rapidamente tocou uma cadeira e sentou nela. A diretora foi até a frente dele e também sentou.

[Diretora] – Bem Léo... Como está indo nas aulas?

[Léo] – Bem, diretora. Algumas são um pouco... – Léo ficou receoso em falar.

[Diretora] – Chatas? – os dois riram.

[Léo] – É.

[Diretora] – E em casa? Como está?

Léo, de novo, sentiu o mesmo desconforto quando foi questionado sobre o braço.

[Léo] – Bem – mentiu.

Os dois ficaram em silêncio.

[Diretora] – Léo... Eu te chamei aqui porque realmente, eu sei que não está nada bem em sua casa. Aliás, depois daquele dia, em que chamei os seus pais aqui, creio que eles não ficaram contentes em casa. Eu me senti um pouco culpada por ter feito isso com você, então, quero tentar ajudar de alguma forma. E se puder, claro, me contar o que anda acontecendo.

Léo hesitou um pouco. Pensou se contava ou não. Então... Cedeu a proposta da diretora.

[Léo] – É... Não está nada bem.

[Diretora] – O que seus pais fizeram? Como eles estão tratando essa situação?

[Léo] – Bem... Eles... eles... – Léo começou a lembrar das brigas com a mãe, então, começou a chorar.

[Diretora] – Não, Léo. Não chora. Por favor.

Léo respirou fundo. Parou de chorar.

[Diretora] – Bem. Me conta.

[Léo] – Minha mãe não me deixa mais sair de casa. Só vir pra escola. E é ela que me trás e me busca. Não deixa mais o Gabriel ou a Giovana me ver.

[Diretora] – Nossa. Que complicado.

[Léo] – Sim.

[Diretora] – Léo. Eu gostaria de falar com seus pais. Amanhã mesmo, depois da aula. Pode ser?

[Léo] – Mas...

[Diretora] – Bem. Quero te ajudar a sair dessa situação com seus pais. Aliás, se não se importar, posso trazer um sobrinho meu?

[Léo] – Por quê?

[Diretora] – Ele pode dar uma ajuda pra você e seus pais.

[Léo] – Como assim, diretora?

[Diretora] – Ele passou por uma situação semelhante a sua.

[Léo] – Ele é gay também?

[Diretora] – Sim. Quando ele revelou para a família, foi bem complicado pra ele, mas com o tempo, as coisas foram mudando e se ajeitando. Hoje ele é até casou.

[Léo] – Casou? E pode?

[Diretora] – Claro, Léo.

[Léo] – Vou falar com meus pais então. Mas... Não sei se eles vão aceitar vir aqui.

[Diretora] – Eu posso tentar falar com sua mãe, quando ela vier aqui.

[Léo] – Tá bom.

[Diretora] – Agora pode voltar pra sala. O sinal já vai bater.

A diretora abriu a porta da diretoria pra Léo e ele saiu. Foi indo de volta para a sala.

Estava se sentindo um pouco melhor. Estava pensando que, talvez, essa conversa com os pais resolvesse tudo.


Finalmente o sinal do final da aula tocou. A maioria dos alunos foram embora, incluindo Gih, William e Gabriel. Léo ficou no portão esperando a mãe. Alguns minutos depois, ela chegou. Foi levar Léo para o carro, mas foi abordada pela diretor.

[Diretora] – Boa tarde! Dona Laura.

[Laura] – Oi, Diretora. Algum problema?

[Diretora] – Não, nenhum. Aliás, eu queria falar com você um minutinho.

[Laura] – Sobre o Léo? Ele fez algo?

[Diretora] – Não! Não é apenas sobre o Léo. É sobre vocês todos e a situação atual. Eu... Gostaria que, se puder, na hora de vier buscar amanhã o Léo, pudesse ficar e conversar comigo.

[Laura] – Se eu tiver tempo eu venho.

[Diretora] – Ah. E se puder vier com seu marido também.

[Laura] – Está bem. Vamos Léo – colocou a mão nas costas dele e foi o levando até o carro.

Os dois logo foram embora.


Laura, Carlos e Léo estavam almoçando. Os três estavam em silêncio até que Laura o desfez.

[Laura] – A Diretora veio falar comigo hoje.

[Carlos] – Aconteceu alguma coisa?

[Laura] – Não. Ela disse que quer conversar comigo e com você, amanhã, na escola.

[Carlos] – Você fez alguma coisa, Léo?

[Léo] – Eu não fiz nada.

[Carlos] – Então?

[Laura] – Ela quer conversar sobre nós.

[Carlos] – Sobre nós?

[Léo] – Ela quer falar sobre o que tá acontecendo – Léo disse rápido e logo abaixou a cabeça.

[Laura] – Você contou pra ela?

[Léo] – Ela conversou comigo, hoje. Pediu pra vocês irem amanhã lá na escola, depois da aula, conversar com ela.

[Laura] – A gente não vai.

[Léo] – Que? Por que não?

[Laura] – Ela não tem direito de se intrometer nisso, Leonardo.

[Léo] – Ela só quer ajudar!

[Laura] – Mas eu não quero a ajuda dela.

Léo largou o talher no prato, levantou da cadeira e voltou para o quarto.

[Carlos] – Laura. O que custa ir conversar com a diretora amanhã?

[Laura] – Ai não, Carlos. Não quero ajuda dela. Está tudo normal aqu.

[Carlos] – Normal, Laura? Você acha que tá tudo normal? O Léo fugir de casa? Encontrarmos ele no hospital com o pé machucado? Ele cortar o pulso ou ficar trancado naquele quarto o dia inteiro sem pode fazer nada? Normal?

[Laura] – Carlos, não to afim de brigar hoje. Por favor.

Carlos olhou fixamente para Laura. Depois abaixou a cabeça e terminou de comer.


No meio da tarde, Carlos foi até o quarto de Léo. Ao chegar lá, cutucou ele que estava deitado na cama.

[Carlos] – Filho?

[Léo] – O que foi? Veio brigar comigo também?

[Carlos] – Não. Eu... Bem, eu vou tentar falar com sua mãe e convencer ela a ir amanhã, conversar com a diretora.

[Léo] – Sério?

[Carlos] – É. Eu achei interessante essa ideia de ir falar com ela. Talvez nos ajude um pouco.

[Léo] – Sim – Léo deixou escapar um pequeno sorriso.

[Carlos] – Bem. Então vou falar com sua mãe mais tarde.

Carlos dá um sorriso pra Léo, que apesar de não poder enxergar, o filho parece ter visto o sorriso e retribuiu o mesmo.




A noite caiu. Léo já estava disposto na cama, pronto para dormir. Enquanto isso, Laura e Carlos estavam no quarto, indo se deitarem.

Laura sentou na cama e em seguida deitou. Carlos fez o mesmo. Ele olhou para ela. Respirou fundo.

[Carlos] – Laura?

[Laura] – Oi?

[Carlos] – É... Bem. Acho que a ideia de ir na escola amanhã, conversar com a diretora, parece ser...

[Laura] – Ah não, Carlos.

[Carlos] – Laura. Por favor, pense direito. Estamos passando por uma situação complicada. Precisamos de ajuda e... Talvez a diretora possa nos ajudar.

[Laura] – Mas eu já falei, não quero ela intrometida nas nossas vidas.

[Carlos] – Mas foi justamente ela que nos revelou Léo.

[Laura] – Eu sei. Mas ela se intrometer agora... Não acho certo.

[Carlos] – Laura. Pelo amor de Deus. Você não acha nada certo. Não dá chance alguma pra nada. Quer tudo do seu jeito. Para com isso, por favor.

Laura lançou um olhar de desapontamento para Carlos. Não esperava que ele falasse aquilo. Pensou em falar ou murmurar algo, resmungou, mas acabou se contendo.

[Carlos] – Vamos amanhã na escola. Talvez isso vá nos ajudar. E... Você tem que ir de mente aberta, querida. Não tenta se estressar. Vamos escutar o que ela tem pra dizer. Talvez o Léo tenha algo pra falar também. E ah... Não vamos brigar com ele.

[Laura] – Mas é difícil lidar com ele, Carlos. Você sabe.

[Carlos] – É difícil porque você torna difícil pra ele. É esse um dos motivos dele querer fazer o tal do intercâmbio.

[Laura] – Não vamos falar desse intercâmbio. E... Chega de conversa. Vamos dormir.

Laura virou de costas pra Carlos. Ele olhou pra esposa, depois para o teto. Fechou os olhos. Laura ainda estava acordada. Parecia estar pensando. Passou alguns minutos, ela acenou a cabeça.

[Laura] – Está bem, Carlos, vamos amanhã conversar com a diretora.


Manhã de segunda-feira. Léo estava na aula. Parecia mais contente e feliz, e estava. Antes de ir para a escola, Carlos o avisou que convenceu a Laura a ir conversar com a diretora.

Leonardo não conseguia aguardar a hora de acabar a aula. Logo logo conversaria com a Diretora e acredita que talvez isso ira ajudá-lo. Já no intervalo ele até arriscou um cumprimento para Gabriel e Gih.

A última aula do dia. Estava acabando. Léo não parava de bater o pé – e tentando não fazer barulho com ele – e apertava os nós dos dedos. Ansiedade de mais até que o sinal toca. Léo dá um pulo da cadeira, fazendo barulho, mas isso não chama atenção já que os alunos começam a conversar alto.

Léo guardou o material e saiu da sala. Foi indo direto para a diretoria. Aguardou uns minutos e escuta a porta abrir.

[Léo] – Diretora?

[Diretora] – Oi Léo? E ai? Seus pais vêm?

[Léo] – Sim.

[Diretora] – Ai que bom. Ah... Aliás, estava aqui conversando com meu sobrinho. Ele chegou aqui há uns cinco minutos.

A diretora abre a porta e pede para Léo entrar. Ele fica parado, em pé e ao lado da porta.

[Diretora] – Léo, esse é meu sobrinho, Davi. Querido, ajude Léo a sentar na cadeira, vou no portão esperar os pais dele.

[Davi] – Está bem.

Davi era um homem que deveria ter entre vinte e cinco à trinta anos. Não muito alto. Seu rosto redondo era coberto por uma barba ralinha. Estava usando uma camisa social, jeans e sapatenis.

[Davi] – Você que é o Leonardo?

[Léo] – Sim.

[Davi] – Você consegue se sentar?

[Léo] – Aham. Mas...

[Davi] – Ah. Desculpa, deixa eu colocar a cadeira aqui pra você.

Davi puxa a cadeira, segura o braço de Léo que, depois, senta na cadeira e se acomoda.

[Davi] – Confortável?

[Léo] – De mais – Léo sorri sem parar.

[Davi] – Então Léo, minha tia contou sobre o que houve com você. Ou pelo menos tudo o que ela sabe. Você quer me contar? Bem, se não quiser não precisa, claro. É que eu já passei pela mesma situação que você. Ou quase, até porque não sei pelo o que você está passando. Enfim, talvez eu consiga ajudar você e seus pais – Léo tira o sorriso do rosto. Faz uma expressão de dúvida. Balança um pouco na cadeira e respira fundo – Quer contar?

[Léo] – É. Vou contar.

Pelos próximos minutos, Léo detalhou toda a história do que aconteceu com ele e Gabriel, até contou como conheceu Gabriel, até porque Davi havia perguntado. Leonardo estava contando sobre o dia que saiu de casa e machucou o pé até que foi interrompido pela porta da diretoria abrindo. Os pais de Léo e a diretora entraram. Davi levantou da cadeira e ficou olhando para Laura e Carlos. Logo em seguida, os dois se aproximaram e cumprimentaram e se apresentaram – no caso de Davi, ele se apresentou para os pais de Léo. A diretora ajeitou a cadeira para os pais sentarem, enquanto Davi ia para trás da mesa e puxava uma cadeira para ele.

Depois de todos estarem postos em cada cadeira, começam a conversar.

[Diretora] – Bem. Queria agradecer por vocês terem vindo. E... Antes de mais nada, queria esclarecer que eu conversei ontem com o Léo sobre a situação e ele concordou.

[Carlos] – É, ele nos contou. Achei a ideia de vir falar com você interessante.

[Laura] – Eu não sabia que seu sobrinho viria.

A diretora olha pra Léo. Ele abaixa a cabeça.

[Diretora] – É. Eu chamei ele porque, com certeza, poderá ajudar vocês.

[Laura] – Você – começou a falar, olhando para Davi – é gay?

[Davi] – Sim.

Laura fecha a mão e começa a apertar. Mexe a cabeça um pouco.

[Laura] – Hm.

[Davi] – Você não precisa ver problema nisso. Aliás, até sei o que vocês estão passando porque eu já enfrentei esse problema. Meus pais não aceitavam depois que eu disse a eles que era gay. Mas com o tempo foi melhorando.

[Carlos] – E você... Bem... Está com alguém?

[Davi] – Ah sim. Claro. Sou casado.

[Laura] – Casado? – Laura fez uma cara de espanto.

[Davi] – Sim. Três anos já.

[Laura] – Ai Meu Deus.

[Diretora] – Dona Laura, por favor, peço que não seja dura assim. Pode não parecer normal pra você mas, realmente, é normal.

[Laura] – Não, não é o normal. Não é certo.

Davi solta uma risada. Léo bufa.

[Léo] – Lá vem você com essa coisa de certo e errado.

[Davi] – Olha, não existe nada errado nisso.

[Laura] – Claro que existe. Homem tem que ficar com mulher.

[Léo] – E QUEM FALOU ISSO? – Léo disse num tom alto.

[Carlos] – Léo. Calma.

[Léo] – Não vou ficar calmo. Olha como ela fala com os outros.

[Davi] – Léo. Está tudo bem. Isso é a reação normal de algumas pessoas.

[Carlos] – É. Davi né? Me desculpe. É que... Bem, fomos criados de outro jeito e...

[Davi] – Eu entendo. Olha, vou te contar um pouco de mim, Laura. Descobri minha sexualidade quando tinha uns quatorze ou quinze anos. Arrumei um namoradinho qualquer. E levei a vida assim. Chegou nos meus dezessei anos e meus pais descobriram. Eles foram me buscar um dia na escola e eu não estava lá, ai alguém falou pra eles que fui na praça com meu namorado. Bem, depois eles me acharam me levaram pra casa. Brigaram, gritaram e até ousaram me bater, achando que isso ia mudar alguma coisa. Os próximos dias foram horríveis. Eu não falava com meus pais, eles não falavam comigo, mal olhava pra eles. Uns dias depois teve uma discussão com eles, foi feia até. Mas... Acabamos por tentar nos entender, não completamente, claro. Precisou de muitas conversas para meus pais aceitarem. Aaah, sem contar que levei meu namorado pra conversar também. Com o tempo eles foram se adaptando e aceitando. Três anos depois passei na faculdade de psicologia. Hoje sou formado em biomedicina, tenho um laboratório também. Casei há três anos. E, eu e meu esposo, somos felizes.

Davi estampou um sorriso no rosto. Os olhos da diretora brilhavam, certamente emocionada com a história do sobrinho. Léo estava de cabeça baixa, não sabia se ria ou ficava sério. Carlos misturava sua expressão entre admiração e dúvida. Enquanto Laura não sabia o que fazer ou falar.

[Davi] – Ah, esqueci de falar, depois de um tempo, bem demorado, mas mesmo assim, meus pais se desculparam comigo. Acabaram por me aceitar como eu sou. Continuam me amando como eu sou. Me tratam normalmente independente do que eu seja. Depois de me aceitarem, eles me falaram que foi como um peso sumir da consciência deles e o que realmente importa pra eles, é me ver feliz.

Um silêncio seguiu. Laura olhava de Carlos para Léo. As vezes mirava o olhar para Davi.

O silêncio é interrompido pela Diretora, que tosse.

[Diretora] – Bem. Acho que fica um pouco mais fácil agora de compreender a situação.

[Carlos] – Incrível sua história. Aliás, seu... Es-esposo, ele... Trabalha?

[Davi] – Ah, sim, claro. Ele se formou na mesma faculdade que a minha, mas fez relações internacionais e economia.

[Carlos] – Uhm.

[Diretora] – Dona Laura? Você tem algo pra falar?

[Laura] – Eu? Bem... Eu... Eu... Não sei. Não sei se consigo aceitar isso. Não consigo ver isso como normal. Como é que as pessoas vão agir ao ver que meu filho é gay?

[Davi] – Mas você não tem que se preocupar com isso. Com a imagem que vai passar. Você só tem que aceitar e respeitar. Além de amar seu filho.

[Laura] – Eu sei, mas...

[Diretora] – Olha. É o que o Davi disse. Você vai ter que aceitar e respeitar, pode demorar um pouco mas uma hora você vai deixar que isso pare de te incomodar. Você tem que abrir sua mente. Tem que ver com naturalidade. Se alguém falar algo, deixe que falem, você sabe como é seu filho, você conhece como ele realmente é. Além do mais, mesmo sendo cego, você ama o Léo, não é?

[Laura] – Claro que amo. Mas ele ser gay é diferente de ser cego. Ele não escolheu nascer cego.

[Davi] – Mas também não escolheu nascer gay. Você só tem que abrir sua mente. Para de ver isso como algo errado, porque não é. Eu sei que vai ser difícil de você aceitar, mas vai ter que ser assim. Ele é seu filho, você deve amá-lo independente de sexualidade, deficiência ou qualquer outra coisa. E no final, vocês vão acabar todos felizes e vai perceber que o que realmente importa é ver o filho de vocês, feliz.

Laura respirou fundo. Olhou para Léo e pôs a mão no braço dele.

[Laura] – É. Eu realmente não sei o que falar ou fazer agora. Mas... Vai ser difícil pra eu aceitar. Não consigo ver meu filho com outro garoto. Sempre o imaginei com uma mulher. Casando e tendo filhos. Mas... Se ele se sente feliz.

[Diretora] – Ótimo! Por favor, você, Laura. E você também, Carlos. Façam um esforço e sigam a vida. Pode demorar mas vocês vão conseguir aceitar Léo. Não tentem se preocupar tanto com ele que, com certeza, vai estar bem. E Leonardo – Léo se virou para a direção da Diretora – Pode parar de fugir de casa, de falar desse intercâmbio pra sair de casa e brigar com seus pais. Apesar de tudo, você também deve respeito à eles. Tudo bem?

[Léo] – Tudo – Léo, finalmente, conseguiu demonstrar um sorriso na frente dos pais. Ele sabia que nada estava realmente resolvido, mas sabia que iriam tentar resolver tudo.

[Diretora] – Acho que está tudo resolvido aqui. – A diretora sorri.

[Laura] – Sim.

[Carlos] – Nossa, muito obrigado pelo convite Diretora. Não sabia o que mais poderia acontecer se não tivessemos essa conversa.

[Diretora] – Que isso? Eu que agradeço.

A diretora levanta e vai até a porta. Laura e Carlos a seguem. Mas param do lado de fora da sala e começam a conversar.

Léo continua sentado e começa a conversar com Davi.

[Léo] – Sua história é muito legal.

[Davi] – Obrigado, Léo. Ah, e não se preocupa muito, vai dar tudo certo entre você e seus pais.

[Léo] – Eu espero que dê.

[Davi] – Vai dar sim. Ah, quer dizer que você namora então?

[Léo] – Sim. O Gabriel.

[Davi] – Que gracinha. Vocês se dão bem?

[Léo] – De mais. Gostamos muito um do outro – de repente, Léo vira a cabeça para a direção da porta, ele escuta Carlos falar pra diretora sobre o intercâmbio. Ele estranha mas não dá bola.

[Davi] – Uhm.

[Léo] – É... Posso te fazer uma pergunta?

[Davi] – Você acabou de fazer – Davi ri – Mas, pode fazer outra.

[Léo] – Qual o nome do seu... Esposo?

[Davi] – Ah sim. Vinicius.

[Léo] – Hmm. Nome bonito.

[Davi] – Sim. Gosto desse nome.

Laura, Carlos e a Diretora conversaram por mais um tempo. O mesmo fez Léo e Davi. Depois de conversarem, todos vão para o portão da escola. Se despedem. Quando vão entrar no carro, Laura e Carlos param. Davi os havia chamado.

[Davi] – Não se esqueçam! Independete do que alguém seja, vocês devem respeitar, e como é o filho de vocês, devem amá-lo e aceitá-lo. E ele ser gay não é problema algum. Afinal, toda e qualquer forma de amor é considerada justa.

[Carlos] – Obrigado!

Laura e Carlos entram no carro e finalmente vão embora.


Em casa. Laura, Carlos e Léo sentam-se na sala. Laura inspira fundo.

[Laura] – Acho que vem a parte mais difícil. Bem... Léo, filho, eu posso ter sido bem dura com você. Ter agido mal. Realmente, se você puder, me desculpa por isso. Me desculpa mesmo filho. É que eu...

[Léo] – Você não consegue aceitar.

Laura arregala os olhos.

[Laura] – Isso. Mas... Se é isso que você escolheu, e é isso que te faz feliz, eu posso tentar mudar e aceitar.

[Carlos] – Ah, filho, eu também. E me perdoe se eu fui rude e fiz algo ruim pra você.

[Léo] – Tudo bem, pai.

[Carlos] – E sua mãe? Você perdoa ela?

Silêncio. Os olhos de Laura começaram a se encher de lágrimas. Léo já estava começando a chorar.

[Léo] – Bem. Apesar de tudo isso, eu... Eu... Eu te perdôo, mãe!

Laura levanta do sofá, solta um gemido e vai até Léo. Agacha na frente dele e o abraça. Os dois choram.

[Laura] – Ai filho. Me perdoa mesmo. Por favor. Não gosto de ser assim com você. É que eu... Você sabe. Eu vou tentar mudar por você, filho. Quero ver você feliz. Pode ser difícil pra mim, mas... Vou tentar.

Carlos se aproxima dos dois e coloca cada braço nas costas de Laura e Léo.

[Léo] – Eu te perdôo, mãe. Já falei. – dizia entre soluços – E quero que vocês me aceitem. Não aguento mais brigar com vocês por causa disso.

[Carlos] – Está tudo bem, filho. Nós vamos fazer de tudo pra melhorar e fazer você feliz.

Laura e Léo param de chorar. Ela enxuga o rosto do filho e dá um beijo na testa dele.

[Laura] – É... Acho melhor eu preparar o almoço, se não vamos morrer de fome aqui.

Os três riem. Carlos senta ao lado de Léo.

Léo sorri, depois levanta e vai até o banheiro lavar o rosto, logo em seguida, vai para o quarto, troca de roupa e deita na cama. Espera o almoço ficar pronto.

“Vai dar tudo certo agora” – começa a pensar.

“Finalmente posso voltar a ver o Gabriel.”

“Será que vai demorar pra minha mãe aceitar? Tomara que não demore” – milhares de pensamentos invadiram a mente de Léo. A maioria sobre Laura aceitar e ele poder voltar a se encontrar com Gabriel. Em aproximadamente uma hora, Laura o chama para almoçar.

Léo levanta da cama e vai para a cozinha almoçar.


Já era tarde. Faltava pouco para anoitecer, Léo vai até a sala.

[Léo] – Mãe?

[Laura] – O que foi Léo?

[Léo] – É... E o Gabriel?

Laura virou a cabeça pra Léo. Sentiu um desconforto.

[Laura] – O que tem ele, filho?

[Léo] – Ele pode me ver de novo?

[Laura] – Ai Léo, não sei.

Léo não falou mais nada. Carlos, que estava na cozinha, acaba se intrometendo na conversa.

[Carlos] – É claro que pode, Léo.

[Laura] – Carlos.

[Carlos] – Laura. Calma. Você não acabou de conversar com Léo? Vamos fazer o seguinte... Chama o Gabriel e o pai dele pra virem amanhã, aqui em casa, almoçarem. Ai conversamos com eles.

[Léo] – Sério?

[Carlos] – Sim, Léo. Ah, tudo bem pra você, Laura?

Laura lança um olhar de pena, respira fundo e alto.

[Laura] – Tudo bem.

[Léo] – E eu posso voltar a falar com o Gabriel, então?

[Laura] – É... Pode Léo.

Léo começa a sorri e depois volta para o quarto. Quer pegar seu celular e ligar para Gabriel. Chegou no quarto, pegou o celular, sentou na cama e discou para Gabriel. Logo atendeu.

[Léo] – Gabriel?

[Gabriel] – Léo? O que você tá fazendo? Você não pode falar comigo sua mãe...

[Léo] – Não, Gabriel. Minha deixa agora.

[Gabriel] – O que? Como assim?

[Léo] – Ah. Amanhã na escola eu te explico tudo. Mas... Dá pra você e seu pai vir aqui em casa amanhã pra almoçar?

[Gabriel] – Ir ai? Almoçar? Mas...

[Léo] – Por favor, Gabriel, fala com seu pai.

[Gabriel] – Tá bom – os dois ficaram quietos. Esperando surgir algum assunto – É... Como você tá, Léo?

[Léo] – Bem. E você?

[Gabriel] – Também. Ah, o que é que você vai me explicar amanhã, na escola?

[Léo] – Se eu falar aqui, eu já vou explicar agora.

[Gabriel] – Então explica.

[Léo] – Não. Quero falar amanhã, pessoalmente.

[Gabriel] – Então tá... É... Léo, vou desligar, tenho que ir jantar e depois tomar banho.

[Léo] – Tudo bem. Até amanhã então.

[Gabriel] – Até.

Os dois desligam o celular. Léo vai para a cozinha e lá, pergunta para a mãe se a janta está pronta.


No outro dia, na escola, já era hora do intervalo. Léo sentou no corredor na companhia de Gabriel, Giovana e William. Léo, então, explicou tudo o que aconteceu no dia anterior, na diretoria. Falou sobre a conversa que teve com a diretora, Davi, Laura e Carlos. Falou sobre a conversa que teve depois com os pais, em casa. Disse que Laura tentaria aceitá-lo e tudo mais.

Depois, falou reservadamente com Gabriel, explicou sobre o almoço de novo. E que queria que ele e o pai fossem.

[Gabriel] – Eu e meu pai vamos, Léo. Pode falar pra sua mãe.

[Léo] – Ah. Que bom – Léo sorria sem parar.

[Gabriel] – Que bom que você e seus pais se resolveram.

[Léo] – Ai. Não completamente, né Gabriel. Minha mãe ainda... Ah sei lá. Ela ainda não gosta muito disso.

[Gabriel] – Uai, Léo. Pelo menos, agora, ela vai aceitar. E... – Gabriel fez uma pequena pausa – Podemos nos encontrar de novo.

Os dois sorriram. Gabriel olhou para os lados, verificou se ninguém os observava, então, subitamente, deu um beijo em Léo.

A aula terminou. Léo já estava em casa. Estava ansioso para a chegada de Gabriel e o pai dele.

[Carlos] – Eles vão vir, Léo?

[Léo] – Sim, pai. O Gabriel me falou na escola. Aliás, cadê minha mãe?

[Carlos] – Ela teve que sair pra ir no mercado comprar mais algumas coisas pro almoço de hoje. Mas é estranho, ela saiu faz tempo já.

[Léo] – Será que aconteceu alguma coisa com ela?

[Carlos] – Não se...

Carlos foi interrompido pelo barulho da porta da sala abrindo. Era Laura. Ela estava com algum sacos plásticos nas mãos.

[Laura] – Cheguei. Vou terminar de preparar o almoço!

[Carlos] – Nossa. Demorou. O que aconteceu?

[Laura] – Ah. Eu passei na casa da minha mãe e depois na casa da Gih.

[Léo] – Da Giovana?

[Laura] – Sim.

[Léo] – Por que você foi lá?

[Laura] – Fui conversar com a mãe dela.

Laura fechou a porta da sala e foi direto para a cozinha. Léo foi até o quarto, enquanto Carlos ficou na sala.

O almoço ficou pronto. Léo já não aguentava mais esperar, então, ele pega o celular e disca para Gabriel, porém, quando a chamada começa, ele escuta alguém bater no portão. Desligou o celular e foi até a cozinha.

[Laura] – Eles chegaram, filho.

[Léo] – Que bom. É... Mãe?

[Laura] – O que?

[Léo] – Tá tudo bem com você?

[Laura] – Ah Léo. Tá sim.

Carlos havia ido até o portão. Depois entrou na sala novamente mas na companhia de Gabriel e Antônio. Laura ficou um pouco nervosa.

[Antônio] – Boa tarde, Laura.

[Laura] – Olá. – sua voz tinha um timbre suave.

Gabriel e Antônio se acomodaram na sala. Laura estava arrumando a mesa para todos sentarem. Não demorou muito e já começaram a comer. Em alguns momentos, Antônio elogiava a comida que Laura havia feito.

Pouco tempo depois, todos haviam terminado de comer. Então começaram a conversar.

[Antônio] – Imagino o porquê de nos terem convidado aqui.

[Carlos] – Sim. É sobre...

[Antônio] – Sobre tudo isso que aconteceu, né? Bem, eu entendo o lado de vocês. Não conseguirem aceitar isso ou achar que é errado.

[Gabriel] – Mas não é errado.

Antônio levantou o dedo indicador para Gabriel, sinalizando para ele ficar em silêncio.

[Antônio] – Sabe, antes de vocês falarem qualquer coisa, eu só queria contar o meu ponto de vista. Bem, quando eu descobri sobre o Gabriel, eu não pensei em implicar com ele ou qualquer coisa do tipo. Eu sempre quis o melhor pra ele e não vejo a escolha dele de ser gay, como algo ruim. Não tem nada de mais nisso. E, se ele fica feliz com isso, eu também fico.

Laura e Carlos fixaram o olhar em Antônio. Depois que ele acabou de falar, os dois se olharam e olharam para Gabriel e Léo. Carlos balançou a cabeça.

[Carlos] – Te entendo. E a gente quer realmente fazer como você. Mas ainda não sabemos como.

[Antônio] – Vocês só tem que aceitar. Mas isso vai vindo com o tempo. Deixem o Léo livre. Se preocupem apenas em fazer Léo feliz, é isso que importa, né?

Carlos sorriu para Antônio e concordou com ele acenando a cabeça.

Todos ficaram conversando e se entendendo. Laura não falava muito, aliás falava quase nada. Passou algum tempo e Léo cutucou a mãe.

[Léo] – Mãe? – todos ficaram quietos e olharam pra Léo – Você não tem nada pra falar?

Laura segurou a mão de Leonardo, tornou o olhar para Gabriel e Antônio, respirou fundo.

[Laura] – É... Bem, eu queria pedir desculpas pra vocês dois, por eu ter agido daquele jeito. Eu estava nervosa e... Desculpem se eu falei algo que acabou fazendo vocês se sentindo mal.

[Gabriel] – Tudo bem. Até entendo.

Laura sorriu para Gabriel, seu olhos brilhavam.

[Laura] – Obrigada, querido.

Pelo resto do almoço, todos conversaram e, por ora, tinham feito as pazes. Algum tempo depois, Léo chamou Gabriel para ir ao seu quarto. Laura sentiu um desconforto.


No quarto, Gabriel e Léo conversavam.

[Gabriel] – Que bom que tudo se resolveu.

[Léo] – É. Não completamente.

[Gabriel] – Por que não?

[Léo] – Ai Gabriel. Eles ainda não... Aceitam muito.

[Gabriel] – Mas eles vão aceitar. Agora você tem que aproveitar.

Os dois riram.

[Léo] – Ah! Minha mãe foi na casa da Gih.

[Gabriel] – Da Gih? Fazer o que?

[Léo] – Ela disse que foi falar com a mãe dela. Mas eu acho que ela foi pedir desculpas

[Gabriel] – Uhm.

Enquanto isso, Laura tinha levantado da mesa e foi até o quarto de Léo. Ela ficou atrás da porta, escutando os dois conversarem, porém, sua espionagem, se é que pode chamar-se assim, foi interrompida por Antônio.

[Antônio] – É complicado pra você né?

[Laura] – Hã? O que? Ah sim – Laura estava sem jeito. Ficou vermelha.

[Antônio] – Eu até te entendo. Mas você tem que parar de se preocupar. Deixe o Léo livre. Não tem nada de mais no que ele está fazendo, afinal, o que importa é que ele está amando, né?

[Laura] – Mas eu... Bem. Não consigo ver isso como algo certo.

[Antônio] – Entendo. Mas foi o que eu falei, não se preocupe, Léo vai ficar bem. Isso não vai fazer diferença alguma na vida dele. Eu sei que vai ser duro pra você encarar isso, mas dê tempo ao tempo. Vai se acostumar logo logo. Aliás, nesse tempo, você deve abrir sua mente, pra conseguir aceitar as coisas.

Laura sorriu para Antônio. Ainda estava vermelha.

[Laura] – Obrigada. Muito obrigada mesmo. Não sei mais o que eu poderia fazer se não tivesse conversado com vocês.

[Antônio] – Imagina. Se vocês precisarem de qualquer coisa, se quiserem conversar, eu estou disponível.

Os dois sorriram um para o outro, depois saíram do corredor e voltaram pra sala.

Pouco tempo depois, Gabriel e Antônio se despediram de Laura, Carlos e Léo. Todos foram pra fora de casa, mas, Leonardo ficou na porta da sala, enquanto Laura e Carlos foram até o portão.

Se despediram mais uma vez de Gabriel e Antônio e ficou observando os dois indo embora, cada um com um sorriso no rosto e alívio por estarem resolvendo os problemas.


1 semana depois

Na escola, Léo estava tendo aula de biologia. O professor estava explicando sobre blogs importantes de ecologia e havia pedido para que eles visitassem tais blogs para um trabalho escolar que pediria.

Léo estava sentado junto de Gabriel. Ele se remexeu na cadeira, o que acabou chamando a atenção de Gabriel.

[Gabriel] – O que foi, Léo?

[Léo] – No intervalo eu te conto – disse com um sorriso.


No intervalo, Léo e Gabriel se juntaram a Gih e William. Leonardo falou da aula de biologia e dos blogs e disse que teve uma ideia.

[Gabriel] – E que ideia é essa?

[Léo] – Eu quero fazer um blog.

[Gih] – Blog? Do que?

[Léo] – Não sei. Aliás, sei sim, quero falar da minha vida.

[William] – Que tal fazer um blog que falamos de nós?

[Gih] – Como assim?

[William] – Ai Gih. Tipo, damos dicas pra outros adolescentes. Falamos de problemas que tivemos, de como resolvemos. Essas coisas.

[Gih] – Ah sim. Gostei dessa ideia.

[Gabriel] – Eu também. Quer saber Léo? Posso ir na sua casa hoje? Ai eu faço o blog.

[Gih] – Ah. Se for assim eu também quero ir.

[Léo] – Calma gente. Ainda não pensamos em quase nada.

[Gabriel] – A gente pensa lá, na hora.

[Léo] – Tá bom. Ah, William, você pode vir também.

[William] – Ok.

Os quatro ficaram conversando pelo resto do intervalo. Logo após, voltaram para a sala de aula.


Em casa, Léo estava almoçando. Então, começou a falar sobre a ideia que teve.

[Léo] – O Gabriel, a Gih e o William vão vir aqui.

[Carlos] – E o que vocês vão falar nesse tal, blog?

[Léo] – Ainda não sabemos.

[Laura] – Legal a ideia. Aliás, falando nessas coisas, eu queria aprender a mexer mais no computador. Vocês poderiam me ensinar.

[Léo] – Ah mãe. É fácil.

[Laura] – Fácil nada. Vocês fazem cada coisa no computador que eu não entendo.

Os três riram.

Mais tarde, Gabriel, Gih e William já estavam na casa de Léo. Eles conversavam o tempo todo sobre o que falar no blog. Laura aparecia no quarto vez ou outra, levava algo para comer e beber. Até que ela e Carlos foram no quarto de Léo novamente e conversaram com os quatro amigos sobre as ideias que poderiam colocar no blog. Finalmente chegaram num acordo e Gabriel começou a fazer o blog.

Os dias passaram, e o blog ia ganhando vizualizações e acabou sendo conhecido pela escola de Léo. Isso deixou todos felizes.


Tempos depois, Léo e Gabriel começaram a fazer um curso de inglês. A maioria dos dias, os dois passavam juntos estudando inglês também. Isso fez Léo pensar sobre o intercâmbio novamente, e conversou com Gabriel sobre.


Dezembro chegou e, junto dele, o natal. Mais precisamente, véspera.

Gih e sua mãe convidaram a todos os amigos para fazerem a ceia em casa. Durante a noite, todos estavam na casa de Giovana. Léo, Laura, Carlos foram juntos de Maria. Gabriel foi com o pai e William estava com o irmão e os pais também.

Finalmente, meia-noite chegou. Todos se juntaram e fizeram um brinde e rezaram. Logo após, fizeram a troca de presentes enquanto se serviam na ceia.

Gabriel, Léo, Gih e William foram pra perto da piscina. Eles já tinham comido. Então, começaram a troca de presentes.

Gabriel deu pra Léo, algo embrulhado num papel colorido. Ele abriu e perguntou o que era.

[Gabriel] – É um CD do Belle e Sebastian. E tem outro CD ai, que eu gravei algumas músicas que gosto e algumas músicas clássicas.

[Léo] – Nossa. Que legal. Obrigado Gabriel! – os dois deram um rápido selinho – Ah, eu também trouxe uma presente pra você!

Léo entregou outro embrulho pra Gabriel. Era todo mole. Gabriel chegou a conclusão de que era alguma roupa. Ele abriu e viu que era uma camiseta branca, com algumas estampas prateadas.

[Gabriel] – Valeu Léo. Muito bonita! – Gabriel o abraçou.

William puxa Gih para perto. Entrega uma caixinha pequena. Ela abre e encontra uma pequena aliança prateada.

[Gih] – Ai William! Que lindo! – os olhos de Gih brilhavam.

[William] – Calma! – William se ajoelha em frente a Gih. Gabriel começa a coxixar no ouvido de Léo o que está acontecendo – Gih, quer namorar comigo?

Giovana começou a sorrir e a chorar ao mesmo tempo.

[William] – Aceita, Gih?

[Gih] – Claro que sim. Seu bobo.

William colocou o anel prateado no dedo anelar direito de Gih. Ela sorriu e, então, os dois se beijaram.

[Gih] – Demorou pra pedir hein – os quatro começaram a rir – Ai gente. Esperem ai. Tenho um presente pra todos. Gih pegou três pacotes de mesmo tamanho e forma e mesmo embrulho – Eu que fiz, é algo especial.

Os três abriram o presente. Era um porta retrato grande. Com uma imagem com várias montagens dos quatro amigos. Tinha várias fotos deles espalhadas, alguns rabiscos e desenhos. Balões de falas e outras coisas enfeitando.

[Gabriel] – Nossa Gih. Muito bonito. Gostei.

[Gih] – Ah. Imagina.

Gih abraçou a todos.

Mais tarde, os quatro ficaram na borda da piscina. Gih e Léo estavam com as pernas dentro da água, enquanto Gabriel e William estavam deitados nas cadeiras brancas de tomar sol. Gabriel tinha colocado a cadeira dele perto de Léo.

[Gabriel] – Olha Léo – Gabriel parou de falar, ficou vermelho – Ai. Desculpa.

[Léo] – Tudo bem. Mas... O que foi?

[Gabriel] – Tá tendo um eclipse.

[Léo] – Sério?

[Gabriel] – É.

[Léo] – Que legal. Hmm... Lembrei daquele dia que você me levou.

[Gabriel] – Eu também.

Os dois sorriram.


Passou-se 1 ano.

Léo, Gih, William e Gabriel terminaram o ensino médio. Estava no dia da festa de formatura.

Léo chegou no salão da festa. Estava vestindo uma calça jeans bem escura, uma camisa social azul e sapatenis. Gabriel e William estavam com terno e gravata. Gih foi com um vestido longo vermelho, com uma abertura na perna direita. Seu cabelo estava preso em um coque cheio de glitter.

[William] – Nossa Gih. Você tá linda.

[Gih] – Obrigada.

Todos já tinham feito o brinde. Agora, estavam aproveitando a música. Estavam dançando e se divertindo. Léo sentou-se num banco que havia ali perto. Era alto, teve certa dificuldade para sentar. Gabriel o acompanhou e os dois ficaram ali, conversando. Depois de um tempo, a Diretora apareceu e ficou conversando com Léo – que tinha se levantado para falar com ela.

De repente, um garçom uniformizado, claro, passou do lado de Gabriel e parou. Chegou perto do ouvido dele.

[Garçom] – Você quer alguma coisa pra beber? – disse num tom de voz suave.

[Gabriel] – Não. Obrigado.

[Garçom] – Não quer mesmo.

Gabriel olhou para o Garçom, que piscou pra ele.

[Gabriel] – Não quero – acenou a cabeça recusando e sorrindo.

[Garçom] – Bem, se você quiser, pode ir ali no banheiro e eu te dou algo pra beber.

Gabriel arregalou os olhos. Sentiu um desconforto. Fez uma expressão de raiva.

[Gabriel] – Eu namoro.

[Garçom] – Pode chamar sua namorada se quiser então.

[Gabriel] – É namorado. E não quero nada com você.

O garçom ficou sem jeito. Então, Léo aparece e fica do lado de Gabriel. Dá a mão pra ele.

[Léo] – Vem Gabriel. Vamos conversa com a Gih e o William.

Os dois saíram. O garçom ficou olhando, indignado por ter sido ignorado.


Gih e William estavam sentados num banco grande. Gabriel e Léo se juntaram aos dois. Ficaram conversando sobre a festa e Gabriel contou sobre o garçom. De repente, Karina aparece. Ela estava com um vestido curto, todo preto e cheio de brilho. Decotado também.

[Karina] – Oi gente!

[Gih] – Oi, Karina.

[Karina] – Quero falar com vocês um momentinho.

[Gabriel] – Pode falar.

[Karina] – Ai. Eu fico meio sem jeito mas... – ela fez uma pausa – Quero agradecer vocês por serem meus amigos e pelas coisas que fizeram por mim. Vocês são muito legais, adorei vocês todos – os olhos dela começaram a se encher de lágrimas – E... To falando isso... Porque vou me mudar daqui da cidade. É por causa da minha faculdade. Espero que entendam. Ai, vou sentir tanta saudades de vocês.

Gih, William e Gabriel se olharam. De repente, Karina abraça a todos e sai chorando.

[Gih] – Ai Meu Deus. – Gih começou a rir – Nossa. Finalmente ela vai parar de encher o saco.

[Léo] – Giih! Não fala assim tadinha. Apesar de tudo, ela foi legal com nós.

[Gih] – É. Apesar de tudo mesmo.

Gih olhou para William.

A festa estava chegando no final, os quatro amigos foram se despedir dos outros colegas. Então, foram embora.


No outro dia. Maria fez um almoço especial na casa dela. Chamou Gih, Gabriel e William para irem. Laura e Carlos estavam lá também. Estavam todos comendo, quando Carlos resmungou alto e todos prestaram atenção nele.

[Carlos] – Bem. Tenho uma surpresa pra você Léo.

[Léo] – O que? Pra mim? O que é?

[Laura] – Calma.

[Carlos] – Antes de mais nada, quero parabenizar vocês todos por terem concluído essa etapa da vida de vocês. E principalmente você Léo, meu filho, que passou por tanta coisa – Léo sorriu para o pai – Enfim, Léo, algum tempo atrás, eu e sua mãe conversamos com a Diretora da sua escola sobre o seu intercâmbio, ela achou a ideia interessante.

[Léo] – Eu vou fazer o intercâmbio?

[Laura] – Sim, Léo. Vai fazer.

Léo começou a sorrir sem parar.

[Carlos] – Espera ai filho. Você já foi cadastrado no programa de intercâmbio e sua viagem já está até marcada. Vai ser no começo do ano que vem.

Léo levantou da mesa, foi até o pai e o abraçou. Ficou agradecendo ele e a mãe por horas e horas. Estava muito feliz.


Léo e Gabriel ficaram sozinho na sala, Gih e William estavam na cozinha com Laura e Carlos, conversando. Enquanto Maria e Cláudio estavam no quarto.

[Gabriel] – Quer dizer então que você vai fazer o intercâmbio?

[Léo] – É.

[Gabriel] – Vou sentir saudades.

Léo virou a cabeça pra Gabriel. Sorriu e deu um beijo nele.

[Léo] – Eu também vou.

[Gabriel] – Ah! Mas vamos manter contato né?

[Léo] – Como?

[Gabriel] – Ai Léo. Com certeza vai ter computador lá né.

[Léo] – É verdade – Léo resmungou e encostou em Gabriel – Você vai mesmo sentir saudades?

[Gabriel] – Claro que vou. Aliás, sinto saudades toda vez que você fica longe de mim.

Os olhos de Léo brilharam. Os dois, então, se abraçaram.


O ano acabou. E os meses passaram. Era março e chegou o tão esperado dia do intercâmbio de Léo.

Laura, Carlos e Gabriel estavam no aeroporto com Léo.

[Léo] – Quem vai vir me buscar?

[Laura] – Ela chama Sônia. Ah, ela está vindo.

Laura acenou para uma mulher que usava uma saia social marrom, que ia até os joelhos. Uma camisa de botões brancas e um casaco da mesma cor da saia. Ela era morena e usava óculos. Parecia um pouco desengonçada. Se aproximou de todos.

[Sônia] – Bom dia!

[Carlos] – Bom dia!

[Laura] – Está tudo certo para a partida?

[Sônia] – Sim. Não precisam se preocupar. Bem, temos que ir logo que daqui uns dez minutos o avião decola.

[Laura] – Bem, Léo – disse segurando o braço do filho – Vou sentir muito a sua falta.

[Léo] – Eu também, mãe.

[Carlos] – Tenta ligar pra nós de vez em quando.

[Léo] – Vou tentar. Prometo – Léo abraçou os pais ao mesmo tempo – Amo vocês!

Então, Laura e Carlos se afastaram e Gabriel ficou de frente pra Léo.

[Gabriel] – Não esquece de perguntar se tem computador.

Léo riu.

[Léo] – Não vou esquecer.

[Gabriel] – Vou sentir muito a sua falta.

[Léo] – Eu também.

Gabriel e Léo se abraçaram por um longo tempo. Depois de se soltarem, Léo pegou suas malas e se despediu de novo dos pais e de Gabriel.

Já no avião, Léo está sentado ao lado da janela quando Sônia o cutuca.

[Sônia] – Léo. Deixa eu te explicar como vai funcionar.

[Léo] – Ah. Ok.

[Sônia] – Bem, Léo. Você vai ficar numa casa apta a receber você. Ficará por três meses. Toda semana eu vou fazer uma visita para saber como está indo a experiência e tudo mais. Eu sempre deixo meu contato com as duas famílias, a sua e a que você vai ficar junto. Não precisa se preocupar muito. Está bem?

[Léo] – Sim. Tudo bem.

Léo sorriu para Sônia. E realmente, depois de muitas coisas, boas e ruins, acontecerem, finalmente estava tudo bem.


3 meses depois – Nova York

Faltava uma semana pra Léo voltar para o Brasil. Ele estava na casa da família Parrish. Eles tinham um filho da idade de Léo, chamado Peter. Ele e Léo se entendiam e tinham virados grandes amigos.

Léo estava no computador, com Peter. De repente, uma janela de vídeo abre. E Gabriel aparece. Ele e Léo estavam conversando pela internet via web cam.

[Gabriel] – Nossa. Você não sai de perto dele hein?

[Léo] – Ah. Seu bobo. Tá com ciúme?

[Gabriel] – Claro que to.

Os dois riram.

[Léo] – Não precisa ficar.

[Gabriel] – Bom saber. Aliás, quando você volta?

[Léo] – Essa semana é minha última aqui.

[Gabriel] – Ai que bom. Não aguento mais ficar tão longe de você.

[Léo] – Ai Gabriel. Também não aguento.

[Gabriel] – E como está indo as coi...

Gabriel foi interrompido. A voz da mãe de Peter, Martha, estava chamando eles.

[Martha] – Peter! Léo! Come Eat! The lunch is ready!

[Gabriel] – Nossa. Você consegue sobreviver ai falando inglês?

[Léo] – Sim. Ah, vou ter que sair agora. Vou comer. Semana que vem nos falamos então. Beijos.

[Gabriel] – Tchau Léo.

Léo desligou o computador. Então, junto de Peter, foram almoçar.




De volta ao Brasil, Léo e Gabriel se reencontraram. Eles foram para a praça, no meio da noite. Estavam conversando e lembrando de como se conheceram. Os dois estavam deitados no mesmo banco.

[Léo] – Me lembro até hoje quando te conheci. Ou melhor, te ouvi pela primeira vez – os dois riram – Você bateu na porta, abriu ela e falou “aqui é o 211?”. Ai a professora perguntou seu nome e você respondeu.

“Gabriel”

Os dois tinham falado juntos. Riram mais e depois, se beijaram.

[Gabriel] – Hmmm – resmungou – Parece que foi amor a primeira vista – Léo tossiu e riu – Ai, desculpa. Não foi a primeira vista. Foi a primeira “ouvida”.

Riram mais ainda.

[Léo] – É verdade.

Eles deram as mãos.

O celular de Gabriel estava tocando There’s Too Much Love, de Belle e Sebastian.

[Léo] – Parece que foi ontem que eu te ouvi pela primeira vez – Léo sentou – Você me promete que nunca vai me deixar?

Gabriel também se senta. Ele fecha os olhos. Lembra de todos os momentos que teve ao lado de Léo. Deu um sorriso, então, segura o rosto de Léo com as duas mãos e dá um longo beijo. Se afasta do rosto dele.

[Gabriel] – Eu nunca vou te deixar. Nunca mesmo.

Léo sorriu para Gabriel. Os dois se abraçaram e depois deitaram novamente no banco. Gabriel ficava apontando para o céu e falando das estrelas. Léo estava com os olhos fechados, imaginando o céu. Estava sorrindo.

[Léo] – Ei!

[Gabriel] – O que?

[Léo] – Eu te amo. Besta.

Gabriel vira e fica de bruços. Beija mais uma vez Léo e fala no ouvido dele.

[Gabriel] – Também te amo.

Gabriel deitou no ombro de Léo. Então, ficaram em silêncio, escutando os versos finais de Belle e Sebastian cantando:

“It's safer not to look around

There's no hide my feelings from you now

But too much love to go around these days

You say I've got another face

That's not a fault of mine these days

I'm honest, brutal and afraid of you”

Fim!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, chegamos ao fim de minha primeira fanfic. Realmente, pra mim, foi uma jornada e tanto fazê-la. Tive altos e baixos em vários momentos. O infeliz hiato que houve rsrsrs. É... Não sou muito bom com isso mas...
Em primeiro lugar, quero agradecer a todos vocês, leitores, que me inspiraram a escrever mais e mais a cada dia. É gratificante fazer vocês ficarem satisfeitos (ou não) com esse hobbie que é... escrever. Me inspirava mais ainda ao receber elogios, críticas e toda a felicidade e emoção de vocês ao comentarem e interagirem comigo.
Em segundo lugar, fico grato comigo mesmo, por ter a capacidade de, mesmo detestando, escrever uma história de romance. Teve um momento em minha vida que pensei que não seria capaz de terminar essa fanfic. Devido a perda de dois melhores amigos meus. Sinceramente, foi difícil reunir forças pra continuar a escrever. E vocês, que leram, comentaram e acompanharam, me ajudaram nessa reanimação.
Em terceiro, quero deixar toda minha gratidão e afeto pelo filme Hoje Eu Quero Voltar Sozinho. Um filme esplêndido. Simples, porém, que te prende e te emociona. Uma história que para muitos, possa parecer clichê, ou boba, consegue atrair tanta atenção. Foi maravilhoso ter esse filme para poder me despertar a vontade de escrever. Mas não é só ao filme que agradeço. É ao roteirista/diretor Daniel Ribeiro, que conseguiu criar magnifica história. A todos os atores, em principal, Ghilherme Lobo, Fábio Audi e Tess Amorim que deram vidas aos seus personagens e os interpretaram tão bem seus papéis. Se eles estiverem lendo essa fanfic, e esse aviso final, que fique claro o quão agradecido sou por todos eles. Diretor e atores.
E pra finalizar, queria dizer que, assim como na história, a vida a imita. Digamos assim, sempre haverá altos e baixo em nossas vidas. Haverá momentos de tensão, descontração, alívio, diversão, tristeza e muitas outras coisas. E, mesmo assim, não devemos temer tudo isso que acontece, é natural da vida. Não tenham medo de serem o que vocês são! Não se reprimam por ter algum defeito ou problema, encarem isso como um desafio para a vida! Sejam livres e felizes com suas escolhas! Ninguém pode te dizer o que é certo você escolher para sua vida. VOCÊ! Você que trilha todo seu caminho e faz seu futuro. Mas claro, estejam preparados para cair, para sofrerem, para chorarem... Entretanto, sejam fortes e sigam em frente. Se hoje o dia está ruim pra você, faça que os próximos sejam melhores!
Não deixem que qualquer forma de preconceito os atinjam. Vocês são perfeitos da maneira que são. Independente de suas escolhas. Vocês nasceram assim e devem ser felizes assim!
VIVAM LIVRES E FELIZES! NÃO TENHA MEDO DE SER O QUE É!
Mais uma vez, obrigado por ler! E até algum próximo projeto.

P.S.: chorei muito fazendo essa mensagem. rsrsrs



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Não Quero Voltar Sozinho" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.