The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 83
Capítulo 83 - Questionada


Notas iniciais do capítulo

CALMA TXÊ!
Não me esquartejem.
Eu posso explicar.
Saí pra uma entrevista.
Fiquei fazendo o bolo do niver da minha irmã.
Saí pro BK pra comer com ela e amigos.
Foi niver da minha irmã.
Ontem eu estava cansadona.
Hoje, cá estou eu!
Não revisei, então se tiverem erros, me digam por favorzinho!
Espero que gostem, beijos ♥



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Senti um bolo descer pela minha garganta.

Não ficou entalado, como deveria.

O bolo desceu e se revirou em meu estômago.

De repente me senti zonza.

Senti vontade de rir também.

O que ele queria dizer àquela altura?

Cruzei os braços e umedeci os lábios, ainda encarando Daniel.

— O que quer dizer? - perguntei, franzindo o cenho.

Ele revirou os olhos e passou a mão no rosto, não sabendo o que dizer.

— Daniel, está me deixando confusa - soltei um riso nervoso.

O dragão franziu o cenho e uniu suas sobrancelhas grossas.

— Você me esquece, me odeia, me dispensa - digo, confusa - eu estou tentando seguir em frente e você aparece dizendo isso…

— É só dizer a resposta - ele cruzou os braços também - eu vou respeitar sua decisão.

Olhei em seus olhos.

O dourado ainda estava ali, oscilando.

Se segurando pra não sair.

Tão intenso que duvidei por um momento do seu conceito sobre o verbo “respeitar”.

— O que deu em você pra decidir isso? - perguntei.

Daniel se aproximou, prestes a falar algo.

Recuei e me encostei ainda mais na beira da janela, quase caindo.

Não queria seu toque.

Na verdade, queria.

Mais que deveria e tinha medo de gostar tanto, que cairia naquela.

Ele suspirou, exasperado.

Realmente não era o Daniel humano que eu conhecia.

Daniel em sua humanidade era paciente e observador.

Ele tinha sensibilidade, algo que o dragão diante de mim não tinha.

— Não consigo deixar de notar que sinto atração por você - ele respondeu, dando de ombros.

O encarei.

— Atração? - repeti, achando ridículo - é isso que acha que eu sinto por você? Só atração?

Ele franziu o cenho.

— Não acredito em amor, Selene - murmurou.

Soltei uma risada e andei pelo quarto, pra longe dele.

Me virei.

— Sabia que tem outras pessoas envolvidas nisso? - perguntei, fingindo ter acabado de me lembrar - claro que não! Só pensa em si mesmo!

Daniel piscou, confuso.

— Acha mesmo que pode me deixar de lado e depois me pegar como um objeto?! - gritei e joguei uma almofada com raiva no dragão.

Senti uma mão apertar meu coração e perdi o ar.

Parecia bombear fogo pras minhas veias e agarrei a beirada da cama.

Daniel, num instante, estava ao meu lado, me ajudando a levantar.

Me afastei.

— Eu me importo com Liam - me sentei e virei o rosto.

— Mas não sente nada por ele - Daniel retrucou - apenas o sentimento de dever.

— Dever? - franzi o cenho, sem entender nada.

— Acha que lhe deve uma chance por ter sido transformado - Daniel sorriu de lado, exibindo os dentes brancos - acha que ele está assim por sua causa.

Suas ultimas palavras foram como facas de manteiga sendo encravadas no meu abdômen.

No fundo eu sabia que Daniel dizia a verdade, mas não podia acreditar naquilo.

Não naquele momento.

Era uma armadilha mortal, preparada especialmente para Selene.

— O que você pensa que sabe sobre mim ou sentimentos? - perguntei.

— Eu conheço você mais que imagina - ele colocou as mãos nos bolsos da calça surrada.

— Eu não conheço você - respondi e coloquei o cabelo atrás da orelha - pra falar a verdade, não faço a mínima ideia de quem você é.

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Liam tinha um sorriso orgulhoso no rosto.

Seus caninos afiados estavam à mostra sobre os lábios vermelho-sangue e eu me senti um pouco culpada.

Era verdade que eu tinha resistido à Daniel, mas ao mesmo tempo esse era o problema.

Eu tinha RESISTIDO.

Por quanto tempo mais resistiria?

— Você conseguiu - ele deu de ombros, sabendo meus sentimentos - é o que importa, fico feliz que tenha pensado em mim.

Assenti e peguei sua mão.

Não era gélida, nem quente.

Era fria, em temperatura ambiente.

— Mas talvez você deva pensar mais em si mesma - Liam completou e soltou a minha.

O encarei, confusa.

Liam sorriu, triste.

— Eu sei o que está sacrificando pra tentar algo comigo - ele disse - você o ama, Selene.

Fiquei calada e me esforcei a continuar olhando em seus olhos vermelhos.

— Droga, você morreria por aquele idiota - ele rangeu os dentes.

— Liam - umedeci os lábios - isso não importa, eu vou me livrar disso, eu prometo.

— Sei que cumpre as promessas que faz - Liam se afastou, sério - mas você mesma não quer cumprir essa.

Franzi o cenho.

— Está dizendo que… - tentei formular o final da frase, mas ele fez isso por mim.

— Estou dizendo que é melhor nos livrarmos da nossa ligação e nos distanciarmos um pouco - ele murmurou - por você, Selene.

— Está me dando um fora porque acha que esse é o melhor pra mim? - soltei uma risada sarcástica.

Liam ficou de pé na minha frente.

— Estou - respondeu.

— EU decido o que é melhor pra mim - respondi - qual é o problema com todo mundo essa semana?

— Não há problema algum, Selene - ele levantou as mãos pros altos e bufou - apenas… percepção dos fatos.

Balancei a cabeça sem entender nada.

Claro que ficar com Daniel era o que eu queria de verdade.

Talvez ser dispensada por dois caras ferisse meu orgulho um pouquinho, mas naquele momento não era nisso que eu pensava.

Eu só… Não queria ficar tão apaixonada pelo dragão de novo.

Ou mais ainda.

Liam se aproximou de mim e acariciou minha bochecha.

Fechei os olhos e senti seus lábios rachados encostarem no meu, num selinho demorado e carinhoso.

Parecia uma despedida, daquelas de filmes.

— Eu nunca, repito, NUNCA vou deixar ele te machucar de novo - sussurrou em meu ouvido - pode acreditar, Selene.

Abri os olhos.

Liam não estava mais lá.

Disse a mim mesma que ficaria tudo bem.

Eu podia viver sem homens, afinal.

Vivi a minha vida toda sem.

Até Daniel chegar e estragar tudo, fazendo meu coração acelerar.

Eu sabia que ele seria capaz disso pra sempre.

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Fechei a porta da sala com demasiada força.

Os alunos e o professor baixinho me encaravam com inúmeros pontos de interrogações em seus rostos.

— Desculpe - murmurei - foi o vento.

O professor Ross assentiu, com a expressão sábia de “pensa que sou idiota mocinha?”.

— Sente-se, Srta. Reed - disse ele apenas.

Corri para o meu lugar e ignorei o assento vazio ao meu lado.

Minhas duplas eram sempre variadas, o que não era uma surpresa.

No ensino médio também era assim.

Me distraí com meu caderno.

Já estava ficando lotado de rabiscos e em breve eu teria de comprar um novo.

Uma sombra se projetou sobre mim e olhei pra cima.

Dei um pulo pequeno de susto ao encarar os olhos dourados de Daniel.

Ele simplesmente pediu licença, pois minha perna estava em seu caminho.

E se sentou.

Ao meu lado.

Observei com horror estampado no rosto quando o dragão casualmente tirava todo seu material da mochila e lhe dei um chute na canela.

— Seus olhos - murmurei.

Ter avisado fora o suficiente.

Eu já estava sendo gentil.

Voltei a dar atenção ao meu caderno.

Dessa vez caprichei desenhando um dragão sendo decepado por um guerreiro que segurava uma espadinha ensanguentada.

— Bela representação - a voz rouca soou sobre meu ombro.

Instintivamente encontrei Daniel com o olhar.

Ele inspecionava o desenho com minuciosidade.

— Estou externando meu desejo de vê-lo morto - respondi e fechei o caderno -  o que faz aqui?

Daniel sorriu de lado.

Desviei o olhar.

Era demais pra mim.

— Você vai me conhecer melhor - ele disse e colocou os cotovelos sobre a mesa.

Franzi o cenho e precisei olhá-lo de novo.

— Quê? - soltei, me sentindo um tanto lerda.

— Eu vou dar a você o prazer de me conhecer melhor - ele disse.

O professor pigarreou e começou a chamada.

Daniel estalou os dedos.

Todos na sala ficaram congelados.

— O que diabos você fez? - perguntei e me virei de lado na cadeira, assustada - volte eles ao normal!

Ele revirou os olhos.

— Só peguei um tempinho pra nós - respondeu.

— Você é péssimo em magia - me indignei - como consegue fazer isso?

Daniel pareceu irritado.

— Você aparenta se esquecer de quem eu sou AGORA - disse.

Me encolho na cadeira.

— E meu nome verdadeiro é Daniel mesmo, se algum dia duvidou - sorriu de lado, quebrando o clima tenso.

Não.

Meu estômago foi preenchido por borboletas.

Ele estava humano demais.

— Meu pai é… - ele começou, pensativo.

— Eu sei quem são seus pais - bufei.

Daniel me encarou, surpreso.

— Eu contei? - perguntou, parecendo um pouco estupefato.

Neguei com um aceno de cabeça.

Não podia simplesmente dizer que tinha bisbilhotado seu passado.

Ele aceitou a resposta vaga.

— Então deve saber que sou um príncipe - ele olhou para os próprios pés.

— Eu sei o que você é - eu disse - mas não sei quem você, o Daniel sem humanidade, é.

Daniel me encarou serenamente.

— Eu não sei dizer quem eu sou, Selene - ele disse e levantou as palmas das mãos pra cima, sobre a mesa - posso lhe contar meu passado, tudo oque já fiz…

— Não tenho interesse nisso - cortei e olhei para frente.

O professor paralisado levantava um giz e tinha a boca aberta.

Seu bigode falso estava caindo.

— Então me diga: no que tem? - Daniel perguntou, impaciente.

Olhei novamente para ele.

— O que te comove? - perguntei.

Me senti boba.

A antiga Selene jamais se importaria com o que comoveria alguém.

— O que faz você se sentir em casa? - arrisquei mais uma pergunta.

Daniel engoliu em seco e me encarou.

Seus olhos ficaram dourados de novo.

Quase pude acreditar que havia ternura ali.

— Que tipo de mulher você gosta? - perguntei e desviei o olhar, corando.

Ele sorriu.

Pude ver pelo canto do olho.

Parecia bem satisfeito com a ultima pergunta.

— Me comovo ao lembrar de minha mãe - respondeu, soando sincero - era uma humana cheia de graça e dignidade.

Ouvi cada palavra sua atentamente, mas ainda sem olhá-lo nos olhos.

Nem precisava.

Sabia que estariam dourados e distantes.

— Sinto falta do castelo de meu pai - confessou - mas não pretendo voltar tão logo.

A resposta me desapontou um pouco.

Eu não sabia o que estava esperando que o dragão dissesse.

E nunca tinha parado pra pensar em onde ele vivia antes de nos conhecermos.

Ele era um príncipe, embora agisse como um mortal (as vezes).

— Gosto de mulheres morenas - ele disse.

Me obriguei a não ter reação alguma.

— Que tenham atitude, que não dependam de alguém - continuou - eu diria alguém como Iria.

Assenti.

Finalmente encarei Daniel.

Ele coçava a nuca e parecia sem jeito.

Até parecia humano.

Soltei uma risada triste.

Daniel estalou os dedos e a sala voltou à vida.

A aula passou num piscar de olhos.

Pelo menos para mim.

—-----------------------------------------------

Narrado por Daniel.

 

Meu orgulho não permitia que eu ficasse quieto após uma rejeição.

Sempre fora assim.

Eu fazia com que as mulheres se arrastassem sob meus pés, implorando por uma segunda chance.

E depois eu as descartava.

Queria fazer aquilo com Selene, mas por algum motivo a segunda parte me doía só de imaginar.

Olhei para o lado e vi seus cabelos claros caindo sobre os ombros enquanto mordia o lábio inferior, concentrada em seu caderno rabiscado.

Me debrucei sobre a mesa e olhei sobre seu ombro.

Era uma representação perfeita de um dragão cuja cabeça fora arrancada por um soldado medieval.

Até a espada ensanguentada Selene desenhou.

—  Bela representação - eu disse, assustando-a

Selene me encarou.

Sua heterocromia era tão sexy.

Ela sabia disso?

O Daniel humano também achava isso?

Me concentrei no desenho.

— Estou externando meu desejo de vê-lo morto - respondeu a elfa e fechou o caderno com força -  o que faz aqui?

Sorri.

Ela desviou o olhar.

Sabia que faria isso, pois a garota adquirira esse costume.

— Você vai me conhecer melhor - eu disse e me apoiei na mesa.

— Quê? - Selene piscou, confusa.

Alarguei o sorriso.

Ela não desviou o olhar dessa vez.

Talvez estivesse tão confusa que nem o percebeu.

—  Eu vou dar a você o prazer de me conhecer melhor - repeti.

O professor do bigode falso pigarreou.

Os humanos naquela sala eram todos irritantes.

Nenhum deles despertava minha curiosidade como eu sabia que despertava em meu eu-humano.

Estalei os dedos e congelei o tempo.

Era um truque de magia complicado, mas uma habilidade que dragões adquirem facilmente.

Selene ficara estupefata.

Disparara palavras sem sentido sobre eu ser péssimo em magia, dizendo pra eu voltar todos ao normal.

Me irritei.

— Você aparenta se esquecer de quem eu sou AGORA - resmunguei.

Ela se calou.

Se encolheu na cadeira e isso fez com que eu me arrependesse de seja lá o que fiz pra assustá-la.

Tentei contar à Selene sobre meus pais.

Mas surpreendentemente, ela já sabia.

Não me contou como soube, ou através de quem, mas respeitei seu silêncio.

A híbrida negava todas as minhas tentativas de falar sobre mim.

Parecia que eu era estranhamente parecido demais com minha humanidade em alguns aspectos.

A ideia me desagradou, e ao mesmo tempo agradou.

E então a garota me surpreendeu.

“O que te comove?”.

“O que faz você se sentir em casa?”.

“Que tipo de mulher você gosta?”.

A ultima pergunta me deixou plenamente satisfeito.

Se ela demonstrava se importar com isso, eu ao menos tinha alguma chance de mostrar à híbrida teimosa que era eu quem ela queria.

Respondi a primeira pergunta com sinceridade.

As lembranças que eu tinha de minha mãe me comoviam imensamente, embora eu gostasse de minha madrasta, mãe de Seth.

Passou pela minha cabeça levar Selene ao meu reino, mas descartei.

Ela não gostaria disso, provavelmente.

Ou gostaria?

Notei que precisava saber mais coisas sobre a elfa.

Eu achava que sabia tudo, mas na verdade ela era apenas um poço infinito de surpresas.

E eu queria me jogar nele.

De qualquer forma, eu tinha asas pra subir novamente.

Sorri com o pensamento.

A segunda pergunta me pegou de surpresa.

Casa?

Franzi o cenho e pensei no castelo de meu pai.

Disse à ela que era essa minha casa, mas menti.

Não me sentia em casa naquele lugar.

Não me sentia em casa em lugar algum.

O mais próximo era ali.

Parecia certo estar ali, embora eu soubesse que o relacionamento entre Selene e eu seria vedado por meu pai.

Será que Daniel humano pensara sobre isso também?

Eu desejava ter uma conversa com ele, se possível.

“Que tipo de mulher você gosta?”.

Me lembrei da multidão de mulheres por quem eu dizia ter me apaixonado ao longo do tempo.

Um dragão dourado nunca mente, mas eu havia me tornado realmente bom em fazê-lo.

Era um crime.

Mas eu me divertia.

Encarei os olhos vagos de Selene.

Ela olhava pra frente, aguardando minha resposta.

— Gosto de mulheres morenas - menti - que tenham atitude, que não dependam de alguém… Eu diria alguém como Iria.

Foi a primeira vez em toda a minha vida que me senti culpado por mentir.

E senti o peso por todas as vezes anteriores também.

Cada mentira dita por mim para cada indivíduo veio à minha mente e senti a necessidade de consertar os problemas criados por isso.

Daniel humano era mentiroso também?

Ele sabia quem seu alter ego era?

Selene sorriu, mas parecia triste.

Me segurei para não me apressar em dizer:

— Estou apenas brincando, mas de qualquer forma você não acreditaria em mim se eu dissesse que meu tipo atual é você, certo?

Revirei os olhos pra mim mesmo.

Estalei os dedos e a sala de aula voltou ao normal.

Selene passara o resto da aula pensativa, distante.

Me perguntei o que pensava.

Seria estranho se conversássemos mentalmente?

Yukina dissera uma vez que fazíamos isso quando namorávamos.

Suspirei.

Só me dei conta de que era hora de ir embora quando Selene me lançou uma carranca.

E se foi.

No aglomerado de adolescentes fedendo a hormônios humanos.


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