– Não. Acredito. - Yukina parecia séria.
Arqueei uma sobrancelha para ela.
– Você veio pra escola com Daniel! Ele furou comigo pra vir pra escola com você! - explicou ela.
Não dava pra saber se ela estava animada ou desapontada. Mas falava alto demais.
– Desculpe, Yuki. Ela precisou de ajuda - ele deu de ombros.
– Não me diga que... Nossa. - ela arregalou os olhos.
– Não vá supondo coisas - disse eu revirando os olhos - eu REALMENTE precisava de um lugar pra ficar.
Daniel estava distante novamente desde que saímos da casa dele. Com a voz monótona e sem emoção de sempre. Aquilo era um alívio. Fechei os olhos e respirei fundo antes de fexar meu armário e dar de cara com Yukina. Seus olhos brilhavam.
– Pare de me seguir - pedi irritada.
– E você quer mesmo isso? - perguntou ela séria.
A encarei incrédula. Por que ela era assim?
– Selene não é malvada, sabe - começou Daniel atras de mim.
Me virei furiosa. Ele estava encostado nos armários com uma expressão de quem ia aprontar. E não seria favorável para mim.
Mas sua expressão mudou completamente de "vou aprontar agora" para "quero matar alguém agora" quando olhou para algo, ou melhor, alguém atras de mim.
Vindo em nossa direção, um garoto poucos anos mais velho que eu caminhava com um sorriso presunçoso. Seus olhos eram de um violeta caloroso. Tão calorosos que senti que se olhasse demais, seria queimada viva através do olhar.
Daniel emitiu um grunhido ameaçador e o claramente indesejado visitante hesitou em continuar, mas foi corajoso o suficiente para fazê-lo.
– Bom te ver também, Daniel - ele disse quando chegou, mas manteve uma distância respeitável.
De Daniel e Yukina, não de mim.
Ele sorriu para Yukina, que não devolveu o sorriso. O que foi raro e estranho. Muito estranho.
– E você seria...? - ele perguntou virando meu rosto em sua direção.
O encarei e decidi que se Yukina não gostava de sua presença, eu provavelmente também não gostaria. Então me livrei de sua mão do meu queixo. Ou pelo menos tentei, porque ele segurou mais forte. E estava machucando, mas eu não diria algo do tipo.
– Poderia por favor soltar o meu queixo? - perguntei soando irritada.
Ele sorriu de lado e seu sorriso era parecido com o de Daniel. Exceto pela malícia contida.
– Sou Seth, irmão do Daniel - ele disse sem me soltar.
Senti o ar à minha volta ficar mais quente.
– Você está machucando ela - Yukina disse em voz baixa e visivelmente furiosa.
– Eu a soltarei - respondeu ele virando meu rosto para me olhar melhor - só quero saber o nome dela.
– Selene - rosnou Daniel - o nome dela é Selene.
Ele me soltou satisfeito e me deu um leve empurrão.
– Você sumiu, Daniel - Seth soava sério e frustrado agora - nosso pai o procurou por todos os lugares, mas confesso que nem mesmo eu imaginaria que estivesse aqui.
– Talvez eu não tivesse a intenção de ser encontrado - ele respondeu ironicamente.
– Não brinque com isso. Sabe que precisamos de você num momento como esses - Seth deu um passo à frente e o ar esquentou mais.
– Não é hora e nem lugar pra falar disso - Daniel trincou o maxilar.
Seth olhou em volta, mas os corredores estavam vazios. Então ele olhou para mim e sorriu lentamente.
– Seu queixo dói, Selene? - ele perguntou parecendo realmente interessado.
Instintivamente toquei meu queixo, mas não doía mais. A sensação de que ficaria roxo desapareceu. Assim como em todas as vezes em que eu me machucava.
– Sabe, você me lembra alguém, é muito parecida com alguém - Seth disse sorrindo e se aproximando de mim - e eu não gosto dessa pessoa.
Antes que ele pudesse me tocar, a temperatura do ar caiu drasticamente e aquilo parecia ser exatamente o que Seth queria. Ele se virou para o corredor e passos de alguém que aparentava usar botas de salto alto ecoaram. Alguém virou a curva do corredor e era quem eu menos esperava e queria ver naquele momento. Onde ela pisava, o chão congelava.
Era minha mãe.