The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 70
Capítulo 70 - Desejada


Notas iniciais do capítulo

Leio cada comentário, cada recomendação e fico feliz que ainda estão gostando da história!
Como prometido, I'M BACKKKKKKKKK



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Alguns passos leves me acordaram.

Abro um dos olhos e vejo as duas criadas elfas tentando não fazer barulho ao colocarem ao meu lado um carrinho com meu café da manhã e água na banheira.

— Bom dia - bocejei e me sentei.

Uma delas se assustou e fez uma reverência.

Sorri e me empenhei em botar pra dentro do meu estômago a comida estranha e gostosa.

Assim que eu terminei, uma criada tirou o carrinho e a outra tentou me ajudar a tirar a roupa, mas no fim eu fiz isso sozinha e dispensei ambas.

Saí do quarto e chamei Solara com a mente.

Não demorou pra que ela aparecesse.

— Boo! - ela tentou me assustar.

Revirei os olhos.

— Diga à Adalind que agradeço pela hospitalidade - eu disse - e que já fui pra casa.

Solara franziu o cenho, mas assentiu sem fazer perguntas.

— Bom, então vamos voltar - ela abriu um sorriso animado.

Retribui e peguei a mão que ela me estendia.

“Lembre de fechar os olhos, Sardene”, a voz disse.

Fechei imediatamente, mas ainda pude sentir as luzes amarelas e quentes penetrarem meus olhos.

— Argh! Solara, isso nunca passa?! - perguntei, irritada e esfregando os olhos.

Ela suspirou, acenou um “tchau” e foi para sei lá onde.

Limpei a poeira inexistente em minha roupa e caminhei de volta pra casa.

Solara tinha me deixado um pouco mais longe do que quando nos encontramos pra ir.

Bufei e continuei a caminhar. O céu estava clareando o que devia significar que estava amanhecendo.

Bom pra mim, já que eu não iria conseguir dormir de novo.

Entrei na casa e papai já estava descendo as escadas, disposto a preparar o café da manhã.

— Oh, querida - ele pareceu surpreso - pensei que fosse ficar mais tempo lá.

— Não - neguei com um aceno de cabeça - eu pretendia, mas meu lugar é aqui.

Ele abriu um sorriso e eu retribuí.

Subi para me trocar e apertei o botão do celular.

Terça-feira. O que significava que eu teria aula.

Abri o guarda-roupa e peguei uma saia de pregas azul e uma blusa branca.

Tomei um banho rápido e me vesti enquanto procurava minha mochila e me calçava.

Quando desci, já estava pronta e mais adiantada que o habitual.

— Bom dia, filhota - meu pai sorriu como se estivéssemos nos vendo pela primeira vez no dia.

Soltei uma risada e lhe dei um beijo na bochecha.

Nos sentamos na mesa e comemos juntos.

Era confortável essa rotina e eu queria aproveitar o momento ao máximo.

Mas eu tinha aula.

Me levantei e passei a mão nas chaves da laranja berrante.

— Que anel é esse? - meu pai perguntou, curioso.

Olhei para meu dedo anelar.

O metal negro era frio, mas eu já estava acostumada.

Até gostava dele.

— Ganhei de um amigo - respondi, mandei-lhe um beijo no ar e saí.

Me joguei no banco do motorista e dirigi devagar até chegar na faculdade.

Estacionei na vaga mais próxima da saída que encontrei disponível.

Eu me sentia calma.

Adalind estava certa: eu tentei fugir dos meus problemas.

E eu não devia correr atrás de algo que não quer ser pego.

Alguém agarrou minha cintura e me deu um beijo no pescoço.

Ouvi uma risada abafada e familiar.

Olhei pra trás assustada e surpresa.

— Seth - repreendi - você tem uma namorada agora.

Ele deu de ombros.

— Isso não me impede de ter o meu passatempo preferido: provocar você - ele sorriu de lado.

Revirei os olhos, mas não pude deixar de sorrir também.

— E então? Como foi lá? - ele perguntou.

— Lá onde exatamente? - perguntei, tentando fugir do assunto.

— Na cidadezinha brilhosa dos elfos - ele respondeu, pacientemente.

— Foi… pacífico até - assenti, concordando com a palavra escolhida por mim.

Seth me encarou com seus olhos lilases e sorriu.

— Que bom - disse, e saiu andando na frente.

Parei de caminhar e fiquei ali, piscando confusa.

“Certo, eu senti falta dele”, a voz da Selene-demônio (decidi que a chamaria assim) cantarolou.

Revirei os olhos e voltei a andar.

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Certo.

Eu ter decidido que esqueceria Daniel não significava que eu podia ficar sentada ao seu lado numa boa.

Coraline entrou na sala com seus scarpins polidos fazendo barulho no piso.

— O professor da próxima aula precisou ir embora devido a uma emergência, então todas as aulas do dia serão minhas - ela sorriu, não parecendo sentir pena do tal professor.

Ninguém protestou.

Contabilidade não era a aula preferida dos alunos, afinal.

Abri meu caderno e busquei uma caneta na minha bolsa.

Sem sucesso.

Franzi o cenho e despejei todo conteúdo sobre a mesa, na esperança de encontrar alguma perdida.

Não tinha

O que era estranho, já que eu sempre deixava meu material em ordem.

“Okay, Selene, não é como se você fosse prestar a atenção na aula com uma caneta pra rabiscar o caderno em mãos…”.

Coloquei o cabelo atrás da orelha e devolvi os cadernos e folhas pra dentro da bolsa.

Senti um cutucão gelado e olhei para o lado.

Daniel não me olhava, mas me estendia uma caneta.

Murmurei um “obrigada” e usei o verso do caderno para desenhar coisas aleatórias enquanto ouvia Coraline falar.

Ela estava tentando explicar - sem sucesso - como os grandes empreendedores antigos agiam em momentos de crise.

Parei de desenhar e viro a cabeça de lado para olhar o resultado.

Várias foices, lado a lado e vários arcos uns contra os outros.

Bufo e passo para outra folha.

— Então a partir de agora a aula será dedicada a trabalho em grupo - ouvi Coraline dizer em voz mais alta - “o que você faria num momento de crise, como empresário?”

Todos encararam a “professora”, inclusive eu.

— Lição de casa - ela sorriu para mim.

Devolvi um sorriso falso.

Yukina arrastou uma mesa de forma barulhenta para o meu lado e se jogou na cadeira.

— Você podia ter erguido - disse eu.

Ela me agarrou num abraço e me deixa sufocada.

— Senti tanto sua falta, Sel! - ela choraminga, alto demais.

— Também senti a sua - dei umas batidinhas em seu braço, tentando respirar - Yukina, está me sufocando!

Ela se afasta com uma expressão travessa e me mostra a língua.

— Quanto tempo fiquei fora? - perguntei, mesmo que eu não quisesse saber.

— Uma semana e dois dias redondinhos - ela respondeu e torceu o nariz para o desenho que eu fazia - pensamos que ficaria mais.

— Até parece que desejaram isso - resmunguei.

— Eu desejei - Daniel interrompeu.

O olhei, surpresa por ele decidir nos dar a graça de ouvir sua voz.

— Na verdade, cada escama do meu corpo desejou - ele sorriu de lado.

Apoiei meu queixo no punho e sorri de volta.

— Pena pra você - respondi e me virei de volta para Yukina.

“Tão infantil…”, a voz zombou.

Revirei os olhos.

— Liam disse que te buscaria às 7 assim que você voltasse - Yukina pescou dois chicletes da bolsa e me deu um.

— Ele já deve saber que voltei - suspirei.

— Ei, você mesma estava animada pra isso, não amarele - ela me cutucou.

Levantei as mãos pra cima em sinal de rendição.

— Não estou amarelando, eu ainda quero ir - disse eu - apesar de não fazer ideia de como agir.

O rangido de uma cadeira sendo arrastada soou estridente aos meus ouvidos.

Olhei para o lado e Daniel não estava lá.

— Qual é o problema dele? - perguntei.

Yukina deu de ombros.

— Talvez amanhã eu te entregue a lista - ela riu.

Bufei.

— E eu ainda não terei terminado o primeiro capítulo do meu livro - respondi.

Sorrimos.

Continuei rabiscando em meu caderno.

A lição de casa ficaria mesmo pra casa afinal.

Alguns minutos de silêncio correram até que a japonesa baixinha resolveu interrompê-los.

— Você acha… - ela disse, hesitante - acha que Daniel não se importa com você mais?

A encarei sem acreditar na pergunta.

— É óbvio que acho - respondi - ele me abomina, agora que teve sua parte humana reprimida ele é só um dragão e somos inimigos naturais.

Yukina mordeu o lábio inferior.

— É - concordou com um aceno de cabeça - talvez esteja certa.

— Por que a pergunta? - questionei, curiosa.

Ela deu de ombros.

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Me olhei no espelho.

Uma camiseta gigante de basquete, um short jeans, uma sandália confortável e uma bolsa carteiro.

Eu só torcia pra que Liam não me levasse pra nenhum lugar sofisticado.

Ouvi alguém bater na porta e desci as escadas correndo.

Eu nem sabia ao certo porque estava tão ansiosa.

Não gostava de Liam da forma que ele queria que fosse.

Será que era a perspectiva de recomeçar?

Eu não sabia.

“Você sabe que quer ver como Daniel vai reagir”, a voz disse e pude imaginá-la revirando os olhos.

— Você sabe tão bem quanto eu que não é isso - rebati em voz alta.

Meu pai abriu a porta e tentei agir normalmente atrás dele.

Liam estava com uma camiseta branca simples e jeans escuros.

Agradeci mentalmente por isso.

Ele sorriu.

— Olá, senhor Reed - cumprimentou amigavelmente - posso levar sua filha pra sair?

Meu pai me olhou surpreso, com o cenho franzido.

Sorri.

— Cuide bem dela - ele fingiu uma expressão severa e Liam riu.

— Pode deixar.

Ele me estendeu o braço e o entrelacei no meu.

— Aonde vamos, senhor? - perguntei.

Seus olhos com fundos avermelhados sorriram e seus caninos ficaram à mostra.

Eu gostava da combinação.

— A um lugar especial - ele respondeu.

Certo.

Talvez eu sentisse falta de ser especial pra alguém.


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Notas finais do capítulo

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