The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 64
Capítulo 64 - Enciumada




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Acordei e me arrastei para fora da cama, indo tomar uma ducha antes da faculdade.

Eu estava exausta, no limite.

Bufei e escolhi qualquer peça de roupa no closet, me enfurnando no banheiro e deixando a água me lavar. Quanto mais água escorria sobre o meu corpo, mais eu sentia que o que eu queria tirar de mim não era lavável.

Fechei a torneira com um suspiro e não me enxuguei antes de entrar nas peças de roupas mal escolhidas.

Amarrei meu cabelo num rabo de cavalo torto e coloquei a franja para o lado, a fim de enxergar melhor.

Nenhuma espiada no espelho faria minha auto estima melhorar. Eu me sentia um lixo.

Mas me forcei a dar uma olhada.

Eu tinha um rosto nas minhas olheiras. Disfarcei um pouco com corretivo e passei camadas de rímel para ficar menos decadente.

Suspirei e pela primeira vez, vi que escolhera um suéter de lã que já desfiava, uma regata branca, uma saia de pregas e uma sapatilha confortável.

Dei de ombros e rodei nos calcanhares para descer, mas tive um vislumbre estranho no espelho.

Pensei ter visto sangue.

Soltei a respiração pesadamente e fechei os olhos para me acalmar.

“Relaxe, idiota”, disse a mim mesma.

“Já está ficando louca?”.

Revirei os olhos e fechei a porta do quarto com força ao descer.

O cheiro de panquecas me despertou uma fome avassaladora e me pus a comer desaforadamente, assim que meu pai sorriu e me deu um “bom dia” animador.

– Wow - ele se surpreendeu - onde vai com tanta fome?

– TPM - menti e dei de ombros.

Meu pai riu, nervoso e saiu de perto.

Ao menos ele compreendia o significado da palavra.

Senti uma forte dor de cabeça e deixei o garfo cair no chão.

De repente a comida na minha boca perdeu o gosto e a botei pra fora, no prato.

Junto com as panquecas cuspidas, havia sangue.

– Pai! Pai! - gritei, desesperada.

Ele surgiu com uma ruga de preocupação na testa e uma interrogação no rosto.

Olhei para o prato à minha frente. O sangue não estava mais ali.

– Er… Eu quero te dar um abraço - improvisei - já faz tempo que ficamos próximos um do outro e eu já estou de saída.

Ele assentiu e sorriu, ainda confuso.

Mordi o lábio inferior e me levantei, de braços abertos.

Me sentia uma idiota.

“Mas você é”, meu subconsciente riu.

Meu pai aceitou o convite de muito bom grado.

Me apertou e pensei que perderia minhas costelas.

– Sinto muito orgulho de você, minha princesa - ele sussurrou no meu ouvido - logo logo já vai ter crescido e se tornar uma bela rainha.

Terminei o abraço, ficando tensa de repente. Os sonhos estranhos vieram à tona e pisquei rapidamente para tirar os flashes da minha cabeça.

– Você verá - eu sorri forçadamente, agarrei minha mochila e corri porta afora.

Lembrei-me de que tinha esquecido as chaves do carro e decidi ir a pé até me encontrar com Yukina. Encararia como um treinamento que Daniel teria me imposto.

Daniel.

Gritei comigo mesma, soquei uma árvore e corri pela floresta, descontando minha raiva no chão a cada vez que meus pés pisavam nele.

Me senti nostálgica ao passar pela trilha onde me sentia observada todos os dias antes de ele aparecer na minha escola.

– Idiota, Selene - gritei para mim mesma - você é tão idiota!

– Nisso eu concordo - uma voz conhecida abafou o riso.

Parei de correr e me recusei a olhar para trás.

Porque se eu olhasse, socaria alguém.

– Como está o seu dragão? - ela perguntou, soando ligeiramente interessada.

Me virei e a encarei cética.

– Eu te avisei, Selene - seu olhar mostrou um pouco de arrependimento, mas logo passou - não se mexe assim na natureza de alguém assim.

– Cala a boca! - gritei e puxei os cabelos da nuca.

– Não é tão difícil quanto parece! - ela gritou de volta - se parasse de se lamentar, talvez tivesse avançado um passo!

A fitei com rancor.

– Não me olhe como se a culpada fosse eu - Pedrita ergueu as mãos para cima.

Ficamos alguns minutos em silêncio.

– Você deve ir - ela disse de repente - aquele Seth está te esperando no fim da trilha.

E Pedrita sumiu.

Como se não estivesse ali antes, e eu me senti louca.

Engoli em seco, sentindo esse mesmo seco descer rasgando pela minha garganta.

Ela tinha razão. Seth estava lá, girando a chave da laranja berrante como se aquilo fosse comum.

– Onde conseguiu isso? - perguntei de mau humor, arrancando a chave das mãos dele.

– Mágica - ele sorriu ironicamente e abriu a porta do passageiro para mim.

– Sellye! - Yukina cumprimentou com um pirulito na boca.

– Sellye? - repeti, horrorizada.

– Não vou ficar pra traz da sua irmã - ela disse numa expressão determinada - se ela tem um apelido pra você, crio um também!

Reviro os olhos e deixo escapar um sorriso.

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O resto do caminho foi percorrido em silêncio.

O único a tentar fazer algo ali era Seth, que apanhava do rádio para sintonizar alguma estação.

Saí do estacionamento o mais rápido possível e peguei minhas coisas no armário sem prestar atenção no que fazia. Já estava no modo automático.

– Você viu o cabelo dele? - ouvi uma garota cochichar para outra - cresceu do nada!

– Talvez seja aplique - a outra concordou.

– Seja lá o que for ele ficou... gostoso - a primeira suspirou.

Virei-me para ver de quem falavam e dei de cara com Daniel, que sorria para uma garota ruiva.

Seu braço a prendia na parede de forma sedutora e seu sorriso convencido a hipnotizava feito luz fluorescente atraindo mosquito.

Abri o armário e escondi o rosto ali. Não deixaria que ele me visse daquele jeito.

Mordi o lábio inferior e respirei fundo antes de fechar a porta e passar por eles sem nem olhar.

Mas senti o olhar dele sobre mim. Perfurando minhas costas, como se estivesse zombando.

– Foda-se - murmurei e me joguei numa cadeira qualquer da sala de aula.

“Eu não ligo mais”.


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