The Forest City escrita por Senjougaha
Acordei e me arrastei para fora da cama, indo tomar uma ducha antes da faculdade.
Eu estava exausta, no limite.
Bufei e escolhi qualquer peça de roupa no closet, me enfurnando no banheiro e deixando a água me lavar. Quanto mais água escorria sobre o meu corpo, mais eu sentia que o que eu queria tirar de mim não era lavável.
Fechei a torneira com um suspiro e não me enxuguei antes de entrar nas peças de roupas mal escolhidas.
Amarrei meu cabelo num rabo de cavalo torto e coloquei a franja para o lado, a fim de enxergar melhor.
Nenhuma espiada no espelho faria minha auto estima melhorar. Eu me sentia um lixo.
Mas me forcei a dar uma olhada.
Eu tinha um rosto nas minhas olheiras. Disfarcei um pouco com corretivo e passei camadas de rímel para ficar menos decadente.
Suspirei e pela primeira vez, vi que escolhera um suéter de lã que já desfiava, uma regata branca, uma saia de pregas e uma sapatilha confortável.
Dei de ombros e rodei nos calcanhares para descer, mas tive um vislumbre estranho no espelho.
Pensei ter visto sangue.
Soltei a respiração pesadamente e fechei os olhos para me acalmar.
“Relaxe, idiota”, disse a mim mesma.
“Já está ficando louca?”.
Revirei os olhos e fechei a porta do quarto com força ao descer.
O cheiro de panquecas me despertou uma fome avassaladora e me pus a comer desaforadamente, assim que meu pai sorriu e me deu um “bom dia” animador.
– Wow - ele se surpreendeu - onde vai com tanta fome?
– TPM - menti e dei de ombros.
Meu pai riu, nervoso e saiu de perto.
Ao menos ele compreendia o significado da palavra.
Senti uma forte dor de cabeça e deixei o garfo cair no chão.
De repente a comida na minha boca perdeu o gosto e a botei pra fora, no prato.
Junto com as panquecas cuspidas, havia sangue.
– Pai! Pai! - gritei, desesperada.
Ele surgiu com uma ruga de preocupação na testa e uma interrogação no rosto.
Olhei para o prato à minha frente. O sangue não estava mais ali.
– Er… Eu quero te dar um abraço - improvisei - já faz tempo que ficamos próximos um do outro e eu já estou de saída.
Ele assentiu e sorriu, ainda confuso.
Mordi o lábio inferior e me levantei, de braços abertos.
Me sentia uma idiota.
“Mas você é”, meu subconsciente riu.
Meu pai aceitou o convite de muito bom grado.
Me apertou e pensei que perderia minhas costelas.
– Sinto muito orgulho de você, minha princesa - ele sussurrou no meu ouvido - logo logo já vai ter crescido e se tornar uma bela rainha.
Terminei o abraço, ficando tensa de repente. Os sonhos estranhos vieram à tona e pisquei rapidamente para tirar os flashes da minha cabeça.
– Você verá - eu sorri forçadamente, agarrei minha mochila e corri porta afora.
Lembrei-me de que tinha esquecido as chaves do carro e decidi ir a pé até me encontrar com Yukina. Encararia como um treinamento que Daniel teria me imposto.
Daniel.
Gritei comigo mesma, soquei uma árvore e corri pela floresta, descontando minha raiva no chão a cada vez que meus pés pisavam nele.
Me senti nostálgica ao passar pela trilha onde me sentia observada todos os dias antes de ele aparecer na minha escola.
– Idiota, Selene - gritei para mim mesma - você é tão idiota!
– Nisso eu concordo - uma voz conhecida abafou o riso.
Parei de correr e me recusei a olhar para trás.
Porque se eu olhasse, socaria alguém.
– Como está o seu dragão? - ela perguntou, soando ligeiramente interessada.
Me virei e a encarei cética.
– Eu te avisei, Selene - seu olhar mostrou um pouco de arrependimento, mas logo passou - não se mexe assim na natureza de alguém assim.
– Cala a boca! - gritei e puxei os cabelos da nuca.
– Não é tão difícil quanto parece! - ela gritou de volta - se parasse de se lamentar, talvez tivesse avançado um passo!
A fitei com rancor.
– Não me olhe como se a culpada fosse eu - Pedrita ergueu as mãos para cima.
Ficamos alguns minutos em silêncio.
– Você deve ir - ela disse de repente - aquele Seth está te esperando no fim da trilha.
E Pedrita sumiu.
Como se não estivesse ali antes, e eu me senti louca.
Engoli em seco, sentindo esse mesmo seco descer rasgando pela minha garganta.
Ela tinha razão. Seth estava lá, girando a chave da laranja berrante como se aquilo fosse comum.
– Onde conseguiu isso? - perguntei de mau humor, arrancando a chave das mãos dele.
– Mágica - ele sorriu ironicamente e abriu a porta do passageiro para mim.
– Sellye! - Yukina cumprimentou com um pirulito na boca.
– Sellye? - repeti, horrorizada.
– Não vou ficar pra traz da sua irmã - ela disse numa expressão determinada - se ela tem um apelido pra você, crio um também!
Reviro os olhos e deixo escapar um sorriso.
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O resto do caminho foi percorrido em silêncio.
O único a tentar fazer algo ali era Seth, que apanhava do rádio para sintonizar alguma estação.
Saí do estacionamento o mais rápido possível e peguei minhas coisas no armário sem prestar atenção no que fazia. Já estava no modo automático.
– Você viu o cabelo dele? - ouvi uma garota cochichar para outra - cresceu do nada!
– Talvez seja aplique - a outra concordou.
– Seja lá o que for ele ficou... gostoso - a primeira suspirou.
Virei-me para ver de quem falavam e dei de cara com Daniel, que sorria para uma garota ruiva.
Seu braço a prendia na parede de forma sedutora e seu sorriso convencido a hipnotizava feito luz fluorescente atraindo mosquito.
Abri o armário e escondi o rosto ali. Não deixaria que ele me visse daquele jeito.
Mordi o lábio inferior e respirei fundo antes de fechar a porta e passar por eles sem nem olhar.
Mas senti o olhar dele sobre mim. Perfurando minhas costas, como se estivesse zombando.
– Foda-se - murmurei e me joguei numa cadeira qualquer da sala de aula.
“Eu não ligo mais”.
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