The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 50
Capítulo 50 - Queimada


Notas iniciais do capítulo

Mil desculpas pela demora, to em semana de provas e comecei a trabalhar em outro lugar...
Mas aqui está um novo capítulo
Obrigada pelo carinho dos novos leitores *-*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/496121/chapter/50

Daniel olhou para a lua que já aparecia no céu e parou no meio do caminho, me fazendo trombar com ele.

– O que foi? - perguntei baixinho.

– Vamos descansar aqui - ele decidiu do nada - fique sentada debaixo daquela árvore enquanto eu busco algo pra comermos.

– Ficar sentada? - repeti, me sentindo muito inútil apesar de cansada.

– Junte alguns gravetos então, mas Selene - ele disse e deu uma pausa para chamar minha atenção - não saia de perto da árvore.

Franzi o cenho. O que tinha de especial naquela árvore?

A encarei. Era negra, como se um dia tivesse sido queimada, mas continuava viva por dentro, de pé apesar de tudo. Eu podia sentir a vida emanando de seu tronco, vibrava mais do que qualquer outra forma de vida por ali.

– O que tem de especial na… - comecei a perguntar mas ao olhar em minha volta, não encontrei Daniel.

Ele sumiu e me deixou com uma árvore negra sinistra.

Bufei e bati o pé, de braços cruzados.

Avistei um graveto seco e resolvi fazer o que Daniel indicou.

Comecei a avistar uma grande quantidade de gravetos que poderiam dar uma fogueira.

Se em meus tempos de humana a ideia de depender de caça e fogueira para sobreviver numa floresta me passasse pela cabeça, eu com certeza explodiria de rir.

– A vida surpreende - murmurei para mim mesma e voltei a me sentar debaixo da árvore de carvão.

Encarei a pilha de madeira que consegui juntar e minhas vistas ficaram embaçadas.

O sono e a canseira me abateram.

–------------------------------------------------------------------------

Ouvi um crepitar e um calor aconchegante me envolveu. Não era o calor de Daniel, isso eu sabia.

Abri os olhos lentamente e o vi alimentando uma fogueira com lenha, folhas secas e gravetos.

– Gosta de coelho assado? - ele perguntou sem me olhar, já sabendo que eu acordara.

Fiz uma careta e dei de ombros. Quem se importava com o que ia comer numa hora daquelas?

Daniel riu e me estendeu um graveto espetado num pedaço de carne que aos meus olhos pareceram suculentos. Tentei não encarar demais a comida improvisada, pois sabia que se me lembrasse depois teria pavor de coelhos.

Me sentei e comecei a comer.

Minha mente estava a mil. Até porque de repente eu estava atenta à todos os sons à nossa volta e as perguntas me rodeavam sem parar.

Eu nunca fui uma garota questionadora, mas naquele momento eu estava o mais próximo de humana do que já fui em toda a minha vida.

Estava amedrontada.

E não era pelo escuro, a comida estranha, a floresta negra nada atrativa ou qualquer coisa que você possa imaginar.

Estava com medo das respostas que poderia obter se pronunciasse as perguntas em minha mente em voz alta.

Daniel partiu sem pensar duas vezes atrás de Iria ao primeiro sinal de perigo e aquilo me afetara de maneira que jamais saberia explicar. Não era só ciúmes bobo ou medo de ele nunca mais voltar. Até hoje eu não sei dizer, mas talvez fosse a ideia de que ele abandonaria tudo por outra garota que não fosse Yukina e eu. Aquilo me deixara balançada. E se no fundo ele ainda sentisse algo ela? Não fora Iria que partira seu coração uma vez?

– Selene - ele me chamou em voz alta, me tirando dos devaneios ciumentos.

O encarei. Seu cenho estava franzido, um sinal de que ele não compreendia minha expressão pensativa.

– No que está pensando? - ele perguntou abruptamente, se levantando de seu lugar num gesto ameaçador e se sentando ao meu lado.

Como quem diz “eu sou o dono de seu corpo, sua alma e seus pensamentos”.

Pateticamente, a ideia de ser completamente dele me fascinou.

“Otária”, meu subconsciente resmungou.

Mordi o lábio inferior.

– Não consegue ver? - perguntei, me referindo ao fato de ele sempre saber o que estou pensando.

– Sua mente está fechada - ele resmungou, irritado - mas isso é necessário aqui nesse lugar.

– Por que? - perguntei terminando de comer e jogando o graveto no chão.

– As criaturas daqui não são desprovidas de raciocínio lógico como parecem - ele explicou, enquanto passava as mãos nos cabelos - são bestas inteligentes, que podem entrar na mente dos que por aqui ousam passar e torná-los loucos. Alguns até mesmo já foram humanos que se perderam e se adaptaram fisicamente e mentalmente ao local selvagem. São os piores.

Limpei a boca com a manga do suéter surrado e abracei meus joelhos quando um vento frio congelou minha espinha e arrepiou os pêlos da minha nuca.

Alguns minutos de silêncio se instalaram sobre nós. Nenhum som se ouvia além de uivos distantes, alguns gravetos sendo quebrados hora ou outra não muito longe de nós e o crepitar da fogueira.

Daniel me abraçou subitamente de forma protetora e colocou meus cabelos atrás da orelha, me encarando com um olhar totalmente diferente dos que eu já vira antes.

– Nenhuma outra mulher no mundo é mais importante pra mim do que Yukina e você - ele disse, me surpreendendo.

Me afastei um pouco, enraivecida e envergonhada comigo mesma.

– Disse que não podia ler minha mente - resmunguei tentando esconder o rosto nos cabelos.

– Não preciso ler a mente da minha namorada pra saber o que se passa dentro dela - ele respondeu calmo e segurou meu rosto com as mãos.

– Então por que saiu correndo daquela maneira? - perguntei, me sentindo uma criança carente de atenção.

– Porque ela faria o mesmo por mim, Yuki, Seth e você - Daniel respondeu - eu não tenho dúvidas quanto a isso.

Fitei seus olhos procurando qualquer sombra de mentiras ou meias verdades, mas tudo o que encontrei foi um poço dourado de sinceridade, determinação e… Amor.

Seu rosto estava com escamas douradas em alto relevo. Passei os dedos sobre elas e Daniel fechou os olhos, parecendo gostar da sensação.

Puxei-o para mais perto de mim e o beijei. Ele estava quente, tão quente que eu sabia que precisaria de oxigênio mais cedo do que o normal devido a isso e poderia até mesmo me queimar, mas não me importei.

Daniel era o único calor que eu deixaria que me consumisse.

Para a minha surpresa, ele apertou mais meu corpo contra o dele e dessa vez, o calor veio de dentro de mim. Eu o queria mais, tão mais…

Um gemido escapou de mim quando ele mordeu meu lábio inferior e sorriu. Impossível um dourado mais intenso do que os olhos dele naquele momento.

– Você é linda - ele sussurrou em meu ouvido e voltou a me beijar.

Segurei seus cabelos com força e tive um vislumbre de minha mão. Estava pálida e brilhante.

Um rosnado baixo veio do meio das árvores e fez com que nos separássemos imediatamente.

Meu coração pulou ao reconhecer aquele rosnado que ecoou na noite tão escura quanto a floresta.

Daniel me empurrou para mais longe sem tirar os olhos do que deveria ser um lobo-gigante mutante-feroz-louco-pra-matar. Vi asas crescerem em suas costas, suas presas aparecerem e garras grossas e pontudas surgirem de seus dedos. Ouvi um grunhido ameaçador vindo do fundo de sua garganta e logo, Daniel já estava voando para cima do lobão.

Fechei os olhos tentando me concentrar e chamei sombras para a minha mão. Pouco importava que arma fosse sair, eu simplesmente precisava ajudar Daniel, caso contrário sentia que algo não muito bom aconteceria ali.

Encarei perplexa o arco que se formou em minhas mãos e puxei a corda negra envolta em sombras.

– Grande ajuda - resmunguei, como se conversasse com as sombras.

Uma flecha obscura apareceu entre o arco e sua corda.

Ótimo.

Só faltava eu SABER USAR um arco.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Forest City" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.