The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 3
Capítulo 3 - Incomodada




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Ao perceber que Yukina e Daniel pegavam ônibus para ir embora, me recusei a entrar no mesmo transporte. Fui a pé para casa, por mais que minha (alguém mais passava ali?) trilha estivesse cheia de barro e os pingos da chuva estivessem fortes, eu não me importei. Simplesmente me preparei para o surto que meu pai daria quando eu chegasse em casa.
E que surpreendentemente, não veio.
Quando parei na entrada de casa e bati na porta, ele simplesmente me olhou, entrou dentro de casa e voltou com uma toalha, me fazendo me sentir culpada.
Não demorou para os espirros começarem. Incrivelmente, eu era praticamente imune à todas as doenças, gripes e resfriados comuns. Esses tinham efeito prolongado em mim, podendo durar de semanas à meses.
– Vá tomar um banho quente. A janta está quase pronta. - disse meu pai fazendo carinho no meu cabelo e sorrindo.
Assenti e me segurei para não subir as escadas correndo. Porque eu queria logo esse banho e porque eu sabia que se eu ficasse mais tempo na sala, ele perguntaria porque diabos eu não peguei o ônibus, peguei carona com alguém ou não liguei para que ele fosse me buscar. Odiava ser um incômodo tanto quanto odiava mentir e sentir medo.
Tomei um banho quente e me demorei sair do banheiro. Eu já estava gripada mesmo. Tinha certeza só de olhar no espelho e ver o sintoma imediato: meu rosto estava rosado e minhas sardas que sempre eram imperceptíveis, agora estavam em evidência. Isso também acontecia quando eu ficava envergonhada, mas definitivamente, a gripe era mais frequente.
Desci quando ouvi meu pai bater na porta e dizer que o jantar estava pronto.
– Temos lasanha hoje. - anunciou ele sorrindo, mas parecia distante.
– A especialidade. - concordei me sentando e me servindo. - O que aconteceu?
Ele me olhou e passou a mão nos cabelos, respirando fundo. Aquele gesto faria qualquer garota suspirar e delirar. Meu pai, mesmo na meia idade era um charme e tanto. Segurei o riso ao pensar nisso.
– Eu é que devia perguntar isso pra você, filha. - ele desviou o foco do assunto dele para mim.
– Eu detesto ônibus! Não queria carona, e não queria que você fosse me buscar. Gosto de ficar sozinha, sabia?! - disparei.
Não eram mentiras.
– Certo. - ele se sentou e pareceu pensar alguns minutos enquanto cutucava a lasanha. - sua mãe está vindo pra cidade.
Parei de comer e o encarei para ver se era algum tipo de zoação, mas pela atitude dele mais cedo, dificilmente seria.
– Ah. - foi tudo o que eu consegui dizer.
– Se tivesse alguma amiga, você poderia pousar na casa dela por algum tempo... - começou ele.
– Qual é a sua paranóia com meu círculo de amizades inexistente? - perguntei pela primeira vez.
– Não é paranóia, Selene - ele me olhou indignado - qualquer pai gostaria que sua filha tivesse bons amigos.
Fiquei alguns minutos calada. Ele tinha razão. Por mais que as atitudes dele fossem exageradas, ele tinha razão. Pensei em Yukina, que provavelmente me cederia um lugar pra dormir na casa dela, mas tirei a ideia da cabeça. Seria injustiça.
– Sua irmã também está vindo. - ele disse por fim.
– E você me diz isso agora?! - protestei.
– Não é uma boa ideia juntar vocês duas. - ele disse com toda certeza do mundo e começou a roer as unhas.
Esse hábito era como um alarme pra mim. Ele as roía até sair sangue quando o assunto era minha mãe ou minha irmã (que eu só havia visto em fotos).
– Ei, vou dar um jeito. - disse eu pegando as mãos dele. - Vou passar a noite fora.
Ele me olhou surpreso e animado e eu sorri. Sempre sorriria quando ele sorrisse.

Acordei com o barulho do abeto em minha janela, cujos galhos não paravam de raspar. Ainda estava chovendo, mas trovoava.
Eu podia jurar que tinha mais algumas horas de sono, porém ao olhar o relógio e ver a hora, esfreguei os olhos para enxergar direito. Ao mesmo tempo, o maldito despertou, me fazendo pular de susto. Resmungando, decidi que compraria algo menos barulhento.
Ao contrário do que fiz no dia anterior, peguei qualquer peça de roupa. Só me dei ao trabalho de ver como fiquei quando cheguei desci, após ter tomado café da manhã e já coma mochila nas costas. A sorteada foi uma saia de pregas xadrez, um moletom cinza e um coturno vermelho. Dei de ombros para a combinação de cores.
– Estou indo. - gritei para meu pai que estava na lavanderia, com certeza iria se atrasar para o trabalho.
Ouvi ele gritar algo como "tudo bem", abri o guarda-chuva e fui para a aula.

Abri meu armário já esperando as folhas de cadernos amassadas com bilhetes nada amigáveis, que definitivamente vieram. Li cada um deles e me deixei rir dos erros de ortografia absurdos.
Alguém mexeu no meu cabelo e quando me virei para ver quem era, estando preparada para qualquer um menos quem realmente era, quase quebrei o pescoço ao olhar Daniel nos olhos. Nunca havia reparado em como ele era alto. Ou em como eu era baixa.
– Você tem folhas de árvore no cabelo. - ele explicou.
Instintivamente, passei as mãos tentando tirar qualquer vestígios de que passei pela floresta.
– O que estão fazendo? - perguntou Yukina chegando animada e curiosa.
Nem parecia que na aula passada não se importava.
Balancei a cabeça e tentei fexar o armário, que para a minha irritação, não se fexava nem com trancos. Soquei e bati, mas ele não fexou.
Até que Daniel simplesmente o empurrou com pouca força e pronto. A buganha fexou.
Não agradeci. Tampouco ele disse "de nada", como as pessoas geralmente fazem quando você não agradece. O que foi muito legal, porque pessoas que fazem isso são 99,9% consideradas babacas por mim.
Me dei conta de que me importava demais com que tipo de pessoa Daniel era. Definitivamente, não era babaca.
Infelizmente, isso me causou alívio total.


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