Sexo, Amor e Livros escrita por Julio Kennedy


Capítulo 14
A culpa é das estrelas


Notas iniciais do capítulo

Oie, espero que gostem do texto. As coisas estão caminhando pro fim então.



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O dia no parque com Geraldinho tinha tido uma mistura engraça de emoções, infelizmente na manha seguinte tudo o que eu estava sentido era o gosto de vomito, uma dor de cabeça ininterrupta e enjoo.

Na noite anterior, depois de ler a mensagem de Igor tomei varias decisões sobre a minha vida, o que de fato impediu que eu passasse o dia todo na cama. Fui até meu computador e passei as primeiras de muitas horas planejando como eu poria minhas ideias em pratica.

Arrumei meu apartamento que começava a parecer uma zona de guerra. Tomei um longo banho frio e arrumei a barba. Desta vez não tirando toda, apenas debaixo do pescoço.

Eu me sentia muito mais animado com todas as ideias que pipocavam na minha cabeça. Coloquei um pouco de agua em Godofredo que também parecia estar animado, suas folhas estavam bem verdes e seu brotinho estava bem maior. E por fim fui para a garagem.

Meu carro estava por algum motivo estranho imundo.

Dirigi por volta de quarenta minutos até chegar ao shopping e fui direto para o terceiro andar onde a livraria se encontrava. Juntei um pouco de folego e entrei de cabeça erguida, mas estranhamente podia jurar que minhas bochechas estavam coradas.

Não vi o vendedor de livros de imediato, o que de certa forma foi um grande alivio. A livraria estava com um grande movimento o que não era bom sinal. Eu estava indo para ter uma conversa que certeza seria constrangedora e quanto mais pessoas estivessem em volta, mais propicio ao desastre seria.

Perambulei por um montante de mesas e estantes olhando títulos desconexos até um me chamar atenção. Ele tinha uma capa azul e nela duas nuvens, uma preta e uma branca, que se encontravam – A culpa é das estrelas – li baixinho.

– Um dos livros mais vendidos atualmente – alguém disse atrás de mim. Senti meu corpo todo enrijecer de medo e surpresa, mas quando me virei se tratava do mesmo vendedor que eu havia dispensando dois meses antes para ser atendido por Frederico.

Creio que a expressão dos dois foi idêntica, pois a frustração ficou nítida no rosto do homem tanto quanto imagino ter ficado no meu. – Você – ele cuspiu a palavra me olhando fixamente – vou chamar o Fred – ele resmungou se virando antes que eu pudesse impedi-lo, com algo que eu poderia chamar de desprezo nos olhos.

A comissão naquele lugar deveria ser muito boa mesmo.

Minha mão chegou até se erguer, mas ele já estava desaparecendo entre as estantes – inferno – amaldiçoei enquanto coçava a cabeça olhando novamente para o livro em minhas mãos.

Eu não queria imaginar a situação, não queria imaginar a cara de Frederico quando me visse, mesmo agora sendo um fato próximo.

No fim das contas eu nem se quer consegui ler a sinopse do livro. Na capa haviam os dizeres “você vai rir, vai chorar e ainda vai querer mais.” – Irônico – murmurei enquanto virava o livro de costas.

– Talvez um pouco – ouvi alguém dizer atrás de mim. Desta vez eu tive certeza que era o vendedor de livros correto. Sua voz era grossa, no entanto meio rouca. Chegava até ser sexy.

Ele parecia igual. O mesmo uniforme preto, os mesmos cabelos meio bagunçados com a barba rala começando a aparecer. Aqueles ombros largos, aquela boca gostosa, o tamanho dos braços dele. Deus.

Suspirei e dei um sorriso simpático, ou o menos constrangido que pude – como vai?

– Bem – ele respondeu sério enquanto me encarava com uma expressão quase indecifrável. Diria que desprezo.

– Vim comprar um livro com meu vendedor favorito – comentei erguendo o livro em minhas mãos em sinal de paz.

Ele olhou para o objeto e depois pra mim ainda com o mesmo olhar – quanta a.... – ele começou a dizer. Fechou os olhos e inspirou profundamente antes de prosseguir. Meio gay de mais, mas não questionei – você não tem mais que fazer isso. Me deixa em paz – ele exclamou virando as costas e começando a andar em outra direção.

Dei um passo veloz pra frente e agarrei o braço dele – espera – pedi o segurando forte. Senti seus músculos enrijecendo sobe meu toque antes dele fazer um movimento brusco e se libertar, me encarando agora irritado – eu preciso conversar com você.

–Serio? Agora você quer conversar? Não, valeu Paulo – ele respondeu voltando a andar novamente.

Corri e dei a volta por uma mesa cheia de livros ficando na frente dele – desculpa – disse o encarando.

Ele deu um sorriso irônico e balançou a cabeça positivamente – desculpado, seja feliz. Longe de mim.

– Frederico – disse mais alto do que pretendia, chamando a atenção de todos no lugar – sério, eu fui um idiota. Eu não estou te pedindo pra voltar – obviamente visto que não tínhamos nada – só quero falar com você.

A expressão dele mudou completamente, se transformando em um misto nítido de raiva e constrangimento – aqui é meu local de trabalho, você quer que eu seja demitido também?

Senti uma mão no meu ombro e gritei perdendo a paciência – agora é modinha chegar por trás? – Mas para meu desprazer, atrás de mim estava um segurança de quase, ou talvez, dois metros de altura me olhando sério.

– Vou ter que pedir que o senhor se retire.

Olhei para Frederico que apenas balançou a cabeça negativamente e deu as costas pra mim – tá bom – respondi ao segurança começando a andar em direção à saída sobe o olhar de dezenas de pessoas.

Amaldiçoei em pensamento enquanto ia em direção as escadas rolantes que levavam direto para a praça de alimentação. Eu ia precisar de uma tática diferente se quisesse conversar com Frederico, só não sabia qual. Eu não tinha experiência em obter o perdão de quem eu transava e largava.

Reclamei um pouco e decidi que já que estava ali deveria comer um hambúrguer. Me joguei em uma mesa vazia e olhei em volta, não havia ninguém conhecido. Peguei meu celular e liguei para Igor e enquanto chamava eu ri de mim mesmo. Parecia ironia mesmo eu estar fazendo coisas do tipo.

Depois de alguns toques ele atendeu. – Paulo – disse ele novamente quebrando o protocolo.

– Você tem que fazer isso mesmo? – Perguntei, mas antes que ele pudesse responder continuei – onde você esta?

Ele pareceu hesitar um pouco, talvez de surpresa. Imagino que ele estava começando a se arrepender de ter procurado amizade – perto da praça da estação, por quê?

– Onde você deixou seu carro?

– O que esta acontecendo Paulo? – ele me perguntou nitidamente preocupado.

Suspirei e me acalmei. Eu estava com muitas ideias na cabeça e estava ficando louco e ainda por cima enlouquecendo as pessoas ao meu redor – certo, precisamos nos falar pessoalmente, eu vou precisar de ajuda.

– Ajuda pra que? – ele quis saber, mas novamente o interrompi e ainda peguei o endereço de onde ele estava. Técnica que aprendi com Geraldinho. Fazer as pessoas falarem sem que se quer elas saibam que o estão fazendo.

Sai do shopping e segui a avenida principal até chegar ao ponto onde havia marcado com Igor. Eu o vi de longe, usando uma camisa branca que demarcava as curvas de seus ombros largos e esguios.

Não havia vaga para estacionar, então parei do lado de uma caminhonete prata e abri a porta. Igor correu e se jogou no banco.

O cumprimentei com um movimento de cabeça e arranquei o carro. Uma pequena fila de carros já estava começando a se formar atrás de nós – então, o que esta acontecendo de verdade, Paulo?

– Agora nós vamos visitar um advogado – respondi sem olhar para ele. O transito estava um caos. Mas pude sentir o olhar de duvida dele pairando sobre mim – depois pensei em tentarmos entrar em contato com alguma boate, eles tem as informações de que preciso, o problema é eles quererem me passar. Mas tenho um compromisso às dez horas então se até lá não terminarmos fica pra amanha.

Quando finalmente parei o carro em um sinal olhei para Igor e vi a duvida estampada no rosto dele – foi mal por ter esquecido de você, eu fui ajudar um amigo.

– Achei que você era um egoísta, insensível e mal educado – ele respondeu, agora com um sorriso enorme. Enorme e lindo.

Que droga, eu era um viciado em sexo em recuperação, por que as pessoas tinham que me atrair assim? Eu deveria sair só com gente feia. Então me toquei que aquele era o segundo quase devaneio que eu tive e temi que estivesse a ponto de ter uma recaída.

– Engraçado, acho que já ouvi o Douglas dizendo isso. –Respondi depressa.

Ele deu de ombros e eu voltei para o transito – você pode me contar o que estamos fazendo afinal de contas?

– Certo, é uma longa historia. Então abra o porta-luvas e leia – o orientei. Ele abriu o compartimento e retirou as folhas impressas.

Ele começou a ler o que estava escrito na primeira pagina e correu o olho pelas de mais, então emitiu um som de frustação e me encarou confuso – eu não estou entendo – ele admitiu por fim.

Revirei os olhos e suspirei – são planos, esquemas. Ainda estou em duvida sobre o de Douglas, mas o de Marcio eu tenho certeza.

– Mas por que isso? – ele perguntou com uma voz inquieta. Então assim que vi a primeira vaga estacionei. Paramos em frente a um prédio comercial com uma fachada decorada com aqueles azulejos pequenos. Então soltei o cinto e me virei pra ele.

– Certo. Ontem um cara que eu conheço me chamou pra sair durante a tarde – comecei a contar, então Igor fechou à cara e disse “hum” em sinal de desaprovação – não, escuta caramba. – Pedi em um tom um pouco exaltado. – Ele queria conversar então fomos a um parque de diversões. O cara estava mal. E me esforçar para fazê-lo sorrir... – era estranho dizer essas coisa, de verdade – me fez bem sabe.

Ele então despediu a carranca e começou a me encarou com mais atenção – com isso ai – apontei para o papel na mão dele – eu posso ajeitar tudo pra todo mundo.

– Como tanta bebida pode ajudar alguém? – ele perguntou olhando a primeira pagina.

Inclinei meu corpo sobre o banco dele dei uma olhada no que estava escrito – cara, se esse tanto de bebida não deixar Douglas soltinho, nada mais deixará.

Ele me olhou estranho, mas por fim deu de ombros e exclamou – tudo bem, vou te ajudar. Mas o que eu ganho com isso?

Dei uma risada e franzi o cenho – a ultima pessoa que me disse isso passou as horas seguintes pelada e suando.

Ele arregalou os olhos e pareceu genuinamente constrangido – eu estava me referindo a ser seu tutor.

– Isso não parece certo em minha opinião, quero dizer, eu sou um fardo, não um prêmio, não entendo porque faz tanta questão disso – respondi voltando a posição correta no banco.

– Deixa que eu decido isso.

Ergui minha sobrancelha e deixei transparecer que eu estava estranhando a situação. Então voltamos ao transito. Dirigi por cerca de vinte minutos enquanto Igor lia em silencio meus planos. Ele tentou questionar algumas coisas, mas fui suficientemente esperto, deixando-o sempre sem resposta quando apresentando meus argumentos.

Chegamos no advogado por volta de duas e meia da tarde e não demorou muito para sermos atendidos. Ele, o advogado, ficou muito feliz, recebendo o dinheiro dele, em nos ajudar. A papelada ficaria pronta apenas no mês seguinte, mas minha ultima preocupação estava relacionada a tempo. Claro que eu estava a mil, mas o que eu podia fazer.

Igor discutiu algumas possibilidades comigo durante a volta e me deu algumas ideias bem legais. Eu o deixei no centro mesmo depois de passarmos em uma lanchonete e comermos mais um hambúrguer.

Igor era engraçado, bonitão e gentil. Exatamente o inverso do que Marcelo havia sido. Bom, tirando a parte do bonitão. Talvez tê-lo como tutor não significasse ocupar o lugar do Marcelo.

Ele resolveu se encarregar da questão da boate pra mim, o que me deixou mais aliviado, visto que eu realmente não sabia outra maneira de arrumar Gogoboys. Ele ate tentou questionar, mas balancei a cabeça afirmando e completei dizendo – todo espetáculo deve ter uma parte teatral – Ele apenas franziu o cenho, então arranquei o carro, deixando o moreno no centro.

Fui pra casa e passei o resto do dia vendo TV. Não que eu gostasse disso, mas todo filho de Deus merece um descanso. Fiz algumas gordices. Quebrei um prato tentando dar fim a bagunça na cozinha e novamente voltei a me deitar.

As horas se arrastaram até que meu despertador tocou. Tomei um outro banho depressa e me arrumei. Coloquei uma camisa de manga longa cinza. Uma caça jeans preta e um tênis qualquer branco.

Eram quase dez horas quando cheguei no Shopping. As portas da livraria já estavam meio abaixadas e haviam poucas pernas se movendo lá dentro. Eu tentei não surtar. Tentei me manter calmo, mas definitivamente aquela situação era muito constrangedora.

Eu conseguia entender perfeitamente porque corri disso todos esses anos. Agora parecia ser a hora pra começar.

Os minutos se arrastaram até que Frederico finalmente saísse da livraria com uma mochila vermelha nas costas. Ele me notou assim que passou pela porta de metal. A surpresa em seus olhos foi praticamente instantaneamente substituída por raiva.

– Cara, me esquece – disse ele em um tom raivoso vindo em minha direção.

Estendi os braços em sinal de paz e disse com a voz mais calma que consegui – cara, só quero falar com você.

– É mesmo? – ele me perguntou erguendo as sobrancelhas de um modo estranhamente irônico. – Eu não. – ele disse pisando no primeiro degrau da escada rolante.

Revirei os olhos e dei três passos largos alcançando a escada. Ele olhou para cima e me encarou por trinta segundos antes de começar a descer andando. – Não faça isso – pedi começando a andar também – as escadas rolantes não foram inventadas pra isso.

Ele riu e apontou o dedo do meio pra mim – muito adulto da sua parte – questionou quase começando a correr atrás dele.

A praça de alimentação estava vazia. Apenas alguns garçons sentados sobre uma mesa nos olharam curiosos. Um casal o outro que ainda se mantinha ali estava distante de mais para perceber nossa movimentação.

Frederico alcançou outra escada rolante em seguida. Parou um segundo no primeiro degrau e depois começou a descer correndo pela escada.

Amaldiçoei em pensamento e sai correndo atrás dele. Meus passos saíram meio falhos com o movimento das escadas e quase escorreguei quando ele seguiu o correr indo em direção a uma das saídas do Shopping onde dois seguranças estavam de braços cruzados.

Por sorte corro mais que ele, então consegui alcança-lo assim que ele pisou na rua. – Qual é o seu problema? Você simplesmente me diz que não quer nada comigo depois de irmos pra cama e agora acha que tem o direito de falar comigo?

– Eu... – comecei a dizer, mas ele me interrompeu.

– Você é muito prepotente – ele cuspiu as palavras. Então meu olhar passou sem querer para os seguranças que nos olhavam chocados. – idiota, babaca.

– Se quer tentar me matar, ou qualquer outra coisa do tipo, faça. – Eu gritei, mas fui abaixando meu tom de voz até terminar a frase. – Até eu as vezes tenho vontade de fazer isso. As vezes parece que estou sozinho, quem ninguém se importa se eu existo ou não, e sabe o que me da vontade de fazer? De subir na porra do terraço do meu prédio e me jogar de lá.

Vi que a expressão de Frederico mudou repentinamente, agora mesmo que rígida ele parecia querer ouvir o que eu tinha pra dizer. – E se quer dar fim a isso, se quer entender porque estou aqui e porque eu não pude continuar com você sugiro que atenda o telefone quando eu te ligar – aconselhei estendendo o braço com o papel que havia acabado de tirar do bolso.

Ele me encarou por um tempo em silencio. Um dos seguranças murmurou alguma coisa com o outro e por fim, meio que hesitante, Frederico estendeu a mão e pegou o papel.

Assim que o soltei das minhas mãos me virei de costas e voltei em direção ao Shopping. No instante em que fiquei ombro a ombro com os seguranças Frederico gritou da rua – eu não tenho raiva de você, não de verdade.

Fiquei tentado a me virar, de ir até ele e contar tudo o que estava acontecendo a ele, mas me contive. Ele saberia junto a todo mundo no momento certo. Quando finalmente o advogado conseguisse o documento e Igor conseguisse o contato dos Gogoboys eu finalmente poderia executar o maior plano que o mundo já viu.

Ou talvez não fossem tão maior.


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Notas finais do capítulo

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