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O rapaz de cabelos esbranquiçados arqueou uma sobrancelha, sem entender bem o que a garota havia dito a ele. Pôs a mão sobre o peito e fechou o punho, segurando a camisa, sentindo as palavras daquela jovem para si. Jack logo se dispersa de seus devaneios e segue seu trajeto até a casa de Night, como a garota havia indicado.

Jack voou de casa em casa, procurando a morada do ex-guardião. Ele pulou mais alguns telhados, até que passou por uma casa, e se pôs a olhar através das janelas que esta possuía. Era a casa de Night, e ele passou de janela em janela procurando algum sinal do ex-guerreiro da luz.

Já era noite, o céu escurecido e as estrelas, já aparentes no céu, fizeram com que Jack se tocasse que provavelmente não teria mais muito tempo. Não fazia idéia de quanto tempo havia se passado ali, horas talvez. Desde que era imortal, o tempo não lhe era importante, já que ele sempre teria tempo de fazer tudo o que quisesse, na hora que bem entendesse.

Ele desviou seu olhar do céu e notou uma luz fraca saindo de uma janela, logo acima de si, e voou até lá. Ainda meio escondido, procurou olhar do que se tratava aquilo. Era um quarto, um quarto de paredes azuis claras, cobertas de estrelas amarelas desenhadas, vários bichinhos organizados em prateleiras fixas a parede e também alguns outros bichinhos no chão, sobre o carpete lilás.

Duas crianças estavam deitadas e devidamente cobertas sobre as camas, e mesmo com muito sono, se esforçavam para ouvir o que um homem, de cerca de vinte anos, dizia. Até Jack parecia interessado. Ele lhes contava uma história, uma história para que dormissem um sono doce e tranquilo, e entre uma palavra e um bocejo dos menores, o homem que lhes contava parecia falar cada vez mais suave e sereno, como se embaçasse o sono delas.

As crianças não resistiram muito mais, até que ambas já estavam em sono profundo, quando o mais velho notou. Ele depositou um beijo na testa da garota, de cabelos castanhos amendoados e levemente ondulados, e um na testa do garoto, de cabelos brancos prateados e um tanto arrepiados, assim como os do rapaz que anteriormente lhes narrava à história.

Ele colocou o livro sobre o criado-mudo ao lado das camas das crianças, e ficou fitando-as por alguns instantes. Logo, uma mulher de cerca de vinte anos também, cabelos ondulados e castanhos avermelhados, olhos cor cinza e rosto sereno, adentrou o quarto. Ela abraçou o outro rapaz, e ficaram olhando as crianças, admirando-as enquanto estas entravam em um mundo de fantasia e diversão.

Ela virou-se para ele e lhe deu um beijo nos lábios, um beijo que fez Jack olhar para baixo por alguns segundos, como se aquilo fosse constrangedor e vergonhoso para ele. A janela que já estava parcialmente congelada ganhou uma nova camada de gelo, graças ao descontrole emocional do amável e gentil Jack.

Quando voltou seus olhos para os dois, eles já haviam se separado, e conversavam baixo para não acordar as crianças. A jovem se retirou do aposento e seguiu corredor adentro, e o ex-guerreiro Nightlight, ainda de costas, fez um sinal com a mão, apontando para cima, como se pedisse para que Jack fosse para o telhado. Após isso, saiu pela mesma porta que a garota.

Jack pareceu não entender bem o que havia acontecido, mas decidiu seguir as instruções dadas a ele pelo outro.

Ao chegar no telhado, que se misturava com uma grande árvore que parecia abraçar a casa, Jack começou a olhar as coisas à sua volta, tocando em um dos enormes galhos, admirando o tamanho absurdo daquela árvore.

– Eu não o conheço. Entretanto, se você conseguiu entrar aqui, deve haver um bom motivo para isso. – o ex-guardião, Nightlight, surgia do meio das sombras, fazendo Jack se virar para encará-lo. Jack o analisou, ele não parecia ser uma pessoa má, era até um tanto parecido consigo. Ele rodopiou o cajado em sua mão e se dirigiu para mais perto de Night.

– Meu nome é Jack Frost, estou aqui porque preciso de um favor seu. – o Frost dizia com calma. – Uma amiga foi pega pelos pesadelos de Pitch, e agora está presa em um sono eterno. North me disse que você sabe como acordá-la... Como, como eu posso acordá-la?

Night analisou a situação; ele pôs a mão sobre o queixo, de forma pensativa, e se sentou em uma espécie de banquinho natural, feita por um braço da árvore, e indicou para que Jack também se sentasse. Embora o máximo que o jovem Frost tenha feito foi saltar para o galho e se agachar nele, esperando uma resposta, como uma criança impaciente por doces.

Night passou a mão sobre os cabelos, ele parecia querer dizer algo e não sabia como. Ele olhou de canto de olho para Jack, suspirou e finalmente abriu a boca para dizer algo.

– Essa garota... Que tipo de relação você tem com ela? – as bochechas dele estavam levemente avermelhadas.

– É apenas uma amiga, por quê? – Jack tombou a cabeça para o lado, tentando obter algo de Night.

– Bom, quando eu... Quero dizer, quando eu resgatei Kathe, a Katherine, eu pensava nela mais do que como uma amiga. – ele mexia as mãos, esfregando os polegares, como se tentasse aliviar algum tipo de tensão. – Eu estava... Estava apaixonado por ela, e creio que foi meu coração e minha vontade de salvá-la, que me levou a conseguir despertá-la.

– Mas eu não gosto dela, quer dizer, ela é apenas irmã de uma amiga minha. – Jack abaixa a cabeça, passando a mão sobre a nuca, ele parecia ter a mania de fazer isso sempre que ficava tenso, deprimido, ou tentava pensar.

– Talvez, você possa encontrar alguém que ame a garota, para que ele a acorde. – Night sugeriu.

Jack fez uma expressão pensativa, e olhou para seu cajado. –... Espere, espere... Aquele garoto loiro. Tem um garoto loiro, Kristoff, me parece que ele é o amante dela, ou algo do tipo.

– Então ele provavelmente vai servir se... Ele a amar de todo coração. Ele deve ser forte, pois não é fácil resgatar alguém do mundo dos pesadelos de Pitch. Então se ele der algum tipo de vacilo, mesmo que seja por um segundo, Pitch irá jogar todos os seus medos contra o rapaz. Eu confesso que não sei como consegui fazer aquilo, acho que amava demais Katherine, a ponto de desistir de minha vida, e me jogar nas trevas por ela. Deixaria a escuridão me corromper por Katherine... – Night, singelamente e distraidamente, confessa como se sentia em relação à Katherine, e como a garota era importante em sua vida. As bochechas dele estavam coradas, enquanto ele olhava para a aliança, reluzente à luz da lua.

Jack apenas observava o rapaz distraído, e joga seu olhar no vasto horizonte, como se procurasse a presença de alguém. Assim como Nightlight, Jack procurava sua razão de sacrifício, seu lado destemido e corajoso, que o faria se jogar nas profundezas de um abismo escuro, para salvar aquele que lhe era importante. A imagem dos guardiões lhe veio à mente, com certeza, eles valeriam o sacrifício, entretanto, não estavam sozinhos, Elsa também apareceu em sua mente, junto à eles. Quando ele tomou conta de si, que o notou, já havia se deixado levar outra vez pela imagem da rainha de Arendelle.

Jack olhou para Night, e não pôde conter a pergunta:

– Valeria a pena? Tudo, valeria? – embora a pergunta fosse para Night, Jack sabia que, no fundo, ele próprio estava se perguntando, se tudo valeria a pena. Embora seu coração lhe dissesse sim, ele ainda persistia em duvidar do mesmo.

– O amor é a resposta para tudo, Jack... Se você o colocar em seu coração, ele irá te guiar para seu verdadeiro destino. Ele irá salvar sua amiga, e quem mais você quiser. Graças ao amor de Katherine, eu posso hoje ter uma família maravilhosa. Eu passei anos e anos de minha vida dedicando-me à inúmeras batalhas para proteger o mundo e aqueles que me eram importantes e, embora todas as doces lembranças que eu guardo, a melhor delas foi ter me tornado um humano.

– Vo-você era um guardião? – Jack se surpreendeu, não esperava aquilo. Com certeza não esperava.

– Sim, eu era o guerreiro destinado a proteger Lunar, o Homem da Lua, enquanto ele era criança. Embora eu não me lembre de muita coisa disso, lembro-me de Nicolas e todas as nossas aventuras ao lado de Kathe, e, embora meu preço tenha sido a imortalidade, eu ganhei a vida que sempre desejei. - Jack sorriu. Ao menos, no fim, alguém pôde escolher a vida perfeita.

– Um lar, uma família e uma esposa. – Night sorriu serenamente para Jack, e embora ambos se conhecessem há alguns minutos, já pareciam ser bons amigos.

Jack sentiu um vento forte atrás de si, e viu o portal se abrindo, mostrando-lhe que seu tempo havia acabado.

– Está na hora de ir. Obrigado pelas informações. – o Frost agradece à sua maneira.

– Até mais, amigo, e lembre-se, a coragem, determinação e amor, são as chaves para salvar sua amiga.

Jack assentiu, e começou a deixar que aquele vento forte, que o sugava, o puxasse para dentro do portal mágico.

– Você pode tudo, se acreditar de verdade.

Foram as últimas palavras de Night, até que ele se transformasse apenas em um borrão às vistas de Jack, que girava e girava indo de volta ao seu tempo, agora, com a resposta em mãos, e uma nova determinação.

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