A Garota de Cabelos Azuis escrita por Bruna Gonçalves


Capítulo 2
“Briga com o papai”


Notas iniciais do capítulo

Hey!
Como vão?
Estou feliz de ter gente lendo essa história, afinal, não pensei que chamaria a atenção das pessoas. Muito, muito obrigada mesmo!

Aproveitem o capítulo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/495958/chapter/2

Era apenas mais uma sexta-feira comum na casa de Alice.

Ela tinha acabado de chegar da escola e encontrou várias caixas de papelão espalhadas pelo chão da sala de estar e na escada. Viu Catarina, a namorada de seu pai, tirando algumas roupas da caixa e levando para o quarto. Cerrou as sobrancelhas, completamente confusa, e subiu as escadas, encontrando seu pai ajudando a namorada a arrumar as coisas no quarto.

– Pai? O que está acontecendo aqui?

– Ah, Alice, você já chegou. – Não levantou os olhos da caixa que ele remexia.

– A aula acabou. Eu sempre volto para casa nesse horário. – Revirou os olhos escuros. – Mas, porque as coisas da Catarina estão aqui?

– Ela virá morar com a gente. – Levantou o rosto para ela e sorriu.

– Isso mesmo, querida. – Catarina abraçou-a, sorrindo. – Agora eu serei sua mãe!

– O quê?! – Gritou, saindo dos braços dela. – Não! Ela não vai morar aqui!

– Qual é o problema, Alice? Estou namorando Catarina há muito tempo, e pretendemos nos casar daqui alguns meses,

– Eu não posso acreditar nisso! – Soltou uma risada irônica. – A morte da mamãe foi uma ótima oportunidade para você se casar logo com ela, não é?

– Não coloque sua mãe nessa história, filha. Ela não está mais aqui.

– Ela se matou por sua causa! – Apontou o dedo acusador para ele, as lágrimas começando a brotar em seus olhos. – Ela estava sofrendo por causa dessa mulher que você diz que ama. A culpa é toda sua.

– Sabe, estou preocupado com você. – Ele se levantou e caminhou até Alice, segurando seus ombros com firmeza e olhando fundo em seus olhos. – Catarina é a coordenadora da escola e você sabe disso. Ela me contou que teve uns problemas com um garoto do terceiro ano, um encrenqueiro que invadiu uma sala, e te viu conversando com ele no intervalo. Você está muito rebelde, ultimamente.

– Ele é novo na escola, entrou hoje. Como ele pode ser um encrenqueiro? E acha que só porque eu parei de abaixar a cabeça e dizer “sim, senhor” eu estou rebelde? Ah, esqueci, você acha que todos são encrenqueiros e que precisam te obedecer, já que você é o rei supremo do mundo e está certo o tempo todo.

– Alice! – Catarina gritou, tentando parar com aquilo. Mas a garota não iria parar.

– Cale a boca, você não é a minha mãe. – Apontou o dedo indicador para a mulher. – Mas você foi bem idiota sete anos atrás, pai. Afinal, deixou sua esposa morrer por causa de uma traição.

– Posso ser idiota, traidor, o que você achar que eu for, mas ainda sou seu pai. – ele já estava gritando e gesticulando. – Você cometeu tantos erros quanto eu. Fez sua mãe sair de casa contando...

– Que ela estava sendo traída? – Colocou as mãos na cintura. – Como queria que eu explicasse a sua ausência em casa, me deixando sozinha depois da escola quando ela viajava para a casa da vovó no Rio? ”Ah, mamãe, estou sozinha em casa porque papai saiu para abastecer o carro em plena madrugada e ainda não voltou”.

Ditas essas palavras, a garota sentiu um forte tapa na cara, fazendo sua mão ir direto para a bochecha. Seu pai batera nela pela primeira e última vez.

– Alice! Já chega, ouviu? Suma daqui! Nunca mais volte para essa casa.

– John, o que está fazendo? – Catarina pegou o braço dele.

– Não aguento mais essa garota, meu amor. Estou cansado de me aborrecer.

– Com muito prazer. – Fez uma reverência exagerada e se retirou do quarto de seu pai.

As lágrimas iam começar a descer pelos seus olhos, mas Alice as segurou. Correu até o seu quarto, pegando uma mala e enchendo com suas roupas e o dinheiro que juntou por três anos. Sabia que aquilo aconteceria mais cedo ou mais tarde, por isso estava prevenida. Trocou de roupa rapidamente, mas antes de sair do quarto, quebrou tudo que podia.

Sem derramar nenhuma lágrima, saiu pela porta da frente com a cabeça erguida e um sorriso falso e vazio nos lábios. Mas, depois de atravessar dois quarteirões, sentou na calçada de um shopping qualquer de São Paulo e caiu no choro, completamente desolada. Nunca chorou tanto em sua vida como naquele momento.

Não podia acreditar no que estava acontecendo. O destino adorava dar uns socos no estômago dela de vez em quando. Quando, por exemplo, descobriu que sua mãe morrera, ou quando ficou sabendo que seu pai estava namorando uma mulher que agia como se fosse sua irmã mais velha.

Só parou de chorar quando alguém sentou ao seu lado e tocou seu ombro.

– O que está fazendo?

Virou-se e viu Chapeleiro sorrindo. Mas era um sorriso menos louco, um pouco mais suave, um sorriso sem dentes. Seus olhos verdes estavam brilhando e seu cabelo escuro continuava despenteado. Abraçou-a pelos ombros, deixando-a deitar a cabeça em seu ombro e chorar em sua jaqueta de couro.

Passaram-se vários minutos, os dois daquele jeito, abraçados, os corpos se conversando sem dizerem nenhuma palavra. A única coisa que a fez parar de chorar foi o som estridente de um trovão. As gotas frias da chuva começaram a cair lentamente pela rua, molhando os dois aos poucos.

– Vamos para o meu carro, Alice. – Levantou-se e ajudou-a a ficar de pé, guiando-a para o outro lado da rua, onde o carro, um modelo novo que a garota não conhecia, estava estacionado. – Aí você pode me contar o que aconteceu e vamos para casa para nos secarmos. Vou te dar um chocolate quente também.

– Você sabe que não precisa fazer isso, não sabe? – Fez uma careta, afinal, era raro alguém ajudá-la daquele jeito. Sentou no banco do carona e o viu sentando-se do lado, girando a chave.

– Eu sei, mas eu quero fazer isso. É para isso que servem os amigos. Pode ser?

– Pode. – murmurou, com um pequeno sorriso se formando em seus lábios.

(...)

Sentada no sofazinho marrom do apartamento de Isaac, enrolada em um edredom azul e tomando o chocolate quente prometido. Já estava seca, usando roupas quentes e tinha tomado um banho.

Ainda chovia forte do outro lado da janela, e um raio cortando o céu fez Alice tremer. Isaac sentou ao seu lado e sorriu.

– Odeio tempestades.

– Dá para ver, medrosa. Mas, se ajudar em alguma coisa, isso é só uma tempestadezinha de verão, não vai durar muito.

Alice deu uma risadinha.

– O que foi? – Chapeleiro perguntou, as sobrancelhas arqueadas.

– Meu pai e Catrina te acham um encrenqueiro. – Riu mais um pouco. – E me acham uma rebelde. Acho que foi por isso que me expulsou de casa.

– Mas eu sou um encrenqueiro! – Bateu o punho no peito, rindo. – Picho muros e uso drogas, entendeu?

– É claro que é. E eu sou rebelde só porque pintei meu cabelo de azul.

– Por que você pintou o cabelo, Alice?

– É a cor preferida da minha mãe, e quando ela morreu foi meio que a ideia que eu tive para estar com ela, entende? E você, porque sorri o tempo todo?

– Meu pai sorria o tempo todo. Até quando estava triste. Porque ele disse que é uma forma de ser forte, sempre e em quaisquer circunstâncias.

– Eu não conseguiria sorrir assim. – Colocou a caneca vazia em cima da mesinha de centro, soltando um longo suspiro. – Minha vida é uma droga.

Ele não disse nada, apenas ficou a observando com seus olhos verdes expressivos.

Sem mais nem menos, tocou-lhe o rosto, tirando a franja azul da frente. Fez uma cara confusa ao ver a marca do forte tapa que Alice levara de seu pai. Mas, ao contrário do que qualquer pessoa faria, não perguntou nada, só ficou em silêncio, abraçando-a.

De repente, o som estridente de um trovão invadiu o apartamento, fazendo a garota dar um pulo no sofá. A luz apagou e tudo ficou completamente escuro. Isaac, como se previsse que aquilo iria acontecer, tirou uma caixinha de fósforos de dentro do bolso da calça jeans e acendeu uma vela em cima da mesa.

Juntos, ficaram conversando no sofá até que a luz voltasse, e como Isaac dissera, a tempestade não durou muito. Depois foram dormir separados, Isaac no quarto dele e Alice no quarto de hóspedes. No outro dia, iriam tomar café da manhã e sair para fazer alguma coisa juntos.

Até que ter um amigo não é tão ruim, pensou, aconchegando-se mais no travesseiro do quarto de hóspedes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí?
O que vocês acharam desse capítulo?
Mereço reviews?

Beijos com Nutella!
o/