As Flores de Lata Não Morrem escrita por Kass
Notas iniciais do capítulo
Fic antiga de aniversário pro Afrodite porque ele é um amorzinho. Reparem bem na estética Steampunk da fic.
Saori estava outra vez com o rosto cheio de fuligem. Desde criança, a menina estava sempre enfurnada no porão, rodeada de placas de bronze, pedaços de ferro e fios de cobre e manivelas, sempre criando brinquedos estranhos. Assim que teve idade para agir sem o consentimento do irmão¹, Saori montara ali uma pequena caldeira e, desde então, parecia não haver lugar no mundo mais divertido que aquele porão infernal.
Afrodite sorriu tristemente, coçando o nariz com o toco do braço direito. Pelo menos sua irmãzinha tinha os dois braços para criar e cuidar das coisas que gostava. Ele, por outro lado, nascera defeituoso. Segundo sua própria opinião, aquele braço pela metade arruinara tudo o que poderia haver de perfeito em si. Lady Melena, sua mãe, lhe dera o nome da deusa do amor e da beleza pouco antes de falecer, sem ter tempo de perceber que ele era um menino e, pior ainda, nada tinha de belo. O já falecido Lord Blake, seu pai, acabou respeitando a vontade da esposa e batizando-o com esse nome que era uma contradição tão grande.
– Diiiiiteeee – Saori escondia algo atrás das costas, com uma cara de sapeca que, mesmo aos dezoito anos ainda lhe cabia muito bem. – adivinha o que eu tenho aqui?
– Deixe me veer... uma das suas pessoinhas de lata que soltam vapor pela casa inteira quando vão buscar o chá?
– Nikki foi uma dos boas, não foi?
– Das melhores!
– Mas não é, não. – A menina trocou o peso de um pé para o outro, subitamente nervosa. – Se você aceitar meu presente... err... bem... Feliz aniversário, Dite!
O rapaz loiro franziu a testa, dando certo peso às feições delicadas. Estava confuso, assustado e maravilhado, tudo ao mesmo tempo! Pois ali, diante de si, estava um braço mecânicoperfeitamente talhado!
– Saori? Isso... isso é...
– É o seu braço novo, irmão! – a menina jogou-se nos braços de Afrodite, rindo com ele. – Eu sei o quanto gosta de estar no jardim da Mamãe, e o quanto dói vê-lo tão sem cuidados depois da morte do Papai. Então... pensei no que poderia fazer você feliz, hoje...
– Muito, muito obrigada, irmã!
– Err... não me agradeça ainda...
– Saori... – disse o pisciano no tom mais ameaçador que conseguiu fingir.
– É que... bem, sinta por si mesmo. – Ela colocou o braço numa mão de Afrodite, que vacilou. Erabem pesado.
– Saori, isso vai arrancar o pouco de braço natural que eu tenho!
– Não seja dramático, homem! Arrancar não vai... mas vai doer bastante. Tentei muito encontrar algo mais leve que cobre, mas não consegui nada, e as engrenagens que tornam o braço flexível são pesadinhas. Mas, veja, arranjei um pouco de Beladona² para você, meu irmão! Só precisamos de uma dose forte quando for instalar o braço em você, e algumas gotas todos os dias, para que não sinta tanto a dor. De mais a mais, é sempre melhor que só ter um braço, não acha?
– Eu sempre soube... – com o braço esquerdo, Afrodite aproximou a irmã de si, suspirando. – Sabia que um dia você bancaria a engenheira louca comigo!
– Aah, não reclame, irmão! Temos que começar com os de casa!
Ficaram os dois rindo, felizes, lembrados da hora do chá somente porque Nikki, a mulherzinha de lata de Saori, vinha trazendo o chá.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
1 - Vocês sabem que nessa época, mulher não fazia nada sem consentimento do irmão, ou do pai, né? Mas eu digo que o Dite é um liberal, e pronto!
2 - Beladona é uma planta super venenosa, letal, inclusive, mas que era [e ainda é] usada como anestésico e analgésico em doses apropriadas. No século XVIII (ou XVII, não lembro direito), as mulheres pingavam extrato de beladona nos olhos, para que ficassem dilatados. Era um sinal de beleza!