Era como se o tempo estivesse parado.

Emma esticou os braços e entrelaçou os dedos afim de dar um descanso para suas juntas, ainda que a moça estivesse em sessão. Nas últimas semanas ela havia trabalhado mais do que em todos seus 22 anos.

Ela continuou a massagear a paciente, pensando no quanto ela própria merecia uma massagem naquele momento.

Emma se aperfeiçoava cada vez mais na massoterapia, correndo do trabalho para a faculdade, da faculdade para casa, da casa para o trabalho. Um ciclo interminável o qual ela só desejava terminar como uma fisioterapeuta de excelência.

Aquele era o único sonho o qual ela teve coragem de perseguir, era o maior de todos. Depois de se experimentar a área da massagem em um curso barato de 5 aulas, ela decidiu se profissionalizar. Fez as malas e partiu para a capital do Maine, sem se importar com o que estava deixando para trás.

Ela não tinha nada que tivesse que dizer adeus.

Claro que ela já trazia as habilidades manuais desde criança. Ainda pequena ela já sabia exatamente os pontos onde tocar para relaxar músculos tensos, colecionando elogios no decorrer de seu crescimento.

Sua nova casa era um pequeno apartamento, o qual ela pagava aos trancos e barrancos em meio ás dívidas da faculdade. Era humanamente impossível conciliar os horários no trabalho com suas aulas e tempo de descanso, ainda mais naquele momento em que ela estava triplicando seus horários no spa para pagar sua universidade. Ela tinha de escolher algo para abrir mão, e imediatamente abriu mão das boas noites de sono para garantir um dinheiro a mais no fim do mês.

Ela gostava de seu trabalho. Buscava estar na área que desejava, e esse emprego lhe caiu como uma luva num momento de aperto. O lugar era completamente chique e caro, considerado o melhor de todo o Maine. Lá os serviços variavam de uma sessão de meia hora de massagem até acupuntura das mais inusitadas técnicas indianas. Com o tempo, ela adquiriu todas as habilidades e muito mais, se tornando uma das melhores do ramo. Senhoras chiques a buscavam pelo nome, exigindo que Emma Swan tomasse conta de suas colunas velhas e cansadas.

Acima de tudo, ela trabalhava sorrindo. Era sua maior virtude. Seus olhos cansados e pesados das noites mal dormidas carregavam o brilho de uma juventude que ela ainda vivia. Emma trabalhava feliz apesar de tudo. Pela primeira vez ela tinha uma base fixa em sua vida.

Ela massageava as costas da garota na maca com habilidade, sorrindo enquanto ouvia os gemidos de satisfação de sua cliente. Infelizmente, era o tipo de trabalho que ocupava apenas as mãos, deixando sua mente vagar para as preocupações com as prestações de seu carro que estava prestes a ser apreendido pela segunda vez em 3 meses. A universidade pesava também, e ela amaldiçoava o governo por cobrar caro em algo que era voltado justamente para a saúde pública. As poucas horas de sono que ela tinha, eram tiradas pelas preocupações com as contas.

Seu maior medo era fracassar outra vez.

O relógio de pulso moderno demais de Emma apitou, tirando-a do transe. Fim de sessão.

"Por hoje é só, Cindy!" ela puxou o roupão para a paciente que se sentou, esticando a coluna em satisfação.

"Você tem mãos de anjo, Emma. Cada vez que você me atende eu tenho mais certeza de que suas mãos são mágicas."
Ela sorriu tímida, pendurando o avental atrás da porta em meio a pressa.

"Obrigada Cindy, acho que é mais questão de treino e habilidade... Fico feliz que possa te ajudar." Ela prendeu o cabelo e pegou sua bolsa. "Sinta-se á vontade para se trocar. Te vejo semana que vem."

Emma correu tropeçando para seu carro. Se conseguisse se apressar um pouco mais, conseguiria um bom lugar no estacionamento da universidade.

"Srta. Swan?" a recepcionista a chamou e ela parou, considerando fingir não ter ouvido. Maldade demais.

"Sim, Ruby?" ela disse impaciente, olhando pro relógio em seu pulso.

"Senhor Gold quer dar uma palavrinha com você..." Emma prendeu a respiração. Nada bom. Entre tantas funcionárias, o chefe havia escolhido ela para conversar. Ela não podia perder aquele emprego, não naquele momento.

"Sabe do que se trata?" ela arriscou perguntar.

"Mmm, não. Mas com certeza é importante. Ele disse que exige que você esteja lá no fim do seu turno."

Emma suspirou e se dirigiu a sala de Gold, se arrastando em seus pés cansados e pensando se as lanchonetes próximas de seu apartamento precisavam de garçonete, porque provavelmente aquele seria seu futuro profissional. Gold tinha a fama de completamente rígido-perfeccionista, e todas as garotas que trabalhavam no spa insistiam em repetir que com ele era tudo devidamente alinhado e perfeitamente esclarecido. Emma engoliu em seco e abriu a porta.

O homem manco lhe sorriu atrás da mesa. 'Qual o nível de maldade de um predador que sorri para sua presa?'

"Srta. Swan, estava esperando sua visita. Sente-se, por favor." Ela obedeceu imediatamente. "Vamos diretamente ao assunto... Hoje de manhã ocorreu algo maravilhoso. Você conhece uma empresa chamada 'Regal'?" ele não esperou a resposta. "É uma das maiores empresas da América. Ela abastece toda a região dos Estados Unidos com a mais sofisticada madeira que existe." Emma escutou o que o homem tinha a dizer, se perguntando aonde aquilo ia levar. "O mais incrível de tudo é que todo o poder bilionário que circula naquele mercado é comandado por uma mulher. Uma mulher chamada Regina Mills, aposto que já ouviu falar nela." Ela levantou a sobrancelha, sem ter a menor ideia de quem ele estava falando. "Escute só que trágico. Em uma viagem de negócios há 3 meses atrás, á caminho de uma pequena cidade chamada 'Storybrooke', seu carro capotou, causando-lhe uma fratura-não-fatal em sua coluna."

"Sr. Gold, me desculpe, mas não sei no que posso ser útil."

"Ah, você será muito útil, minha querida! Você sabe os adjetivos que acompanham seu nome entre o alto escalão dessa região? Poderia repeti-los para você, mas seria perda de tempo... Tenho bons motivos pra acreditar que você está com pressa." Emma concordou com um sorriso torto, sem querer parecer rude. Ela precisava mesmo ir para a aula. "Bom, nesta manhã a empresária foi liberada do hospital, e se negando a qualquer tipo de fisioterapia, ela optou pela massoterapia como fator para sua recuperação. Ela buscou por todos os spas renomados do Maine para encontrar a pessoa que a salvaria de sua ruína, e hoje de tarde foi o telefone do meu spa que tocou. Ela pediu... Minto. Ela exigiu que lhe enviássemos o melhor par de mãos de toda nossa equipe, e depois de alguns minutos de pesquisa, cheguei até você."

"Você está dizendo que quer que eu trate essa senhora?" Ela ergueu a sobrancelha que pareceu tocar o teto.

"Não estou dizendo, estou comunicando." Ele sorriu novamente, causando um calafrio na coluna da loira. "E ainda não chegou a melhor parte. Você parte amanhã ás 7h para a casa dela."

Emma relutou por um segundo, ainda absorvendo tudo o que o homem estava lhe dizendo.

"Mas, senhor Gold, eu não posso abandonar tudo assim. E meus horários na clínica, e meu apartamento? Não posso abandonar minha faculdade e não sei se posso pagar pela gasolina para viajar a cidade todos os dias."

"Ah, minha querida!" Ele riu sem parecer ter achado algo engraçado. "O seu pagamento será muito mais elevado do que você recebe mensalmente no spa. Estamos falando de uma mulher extremamente relevante e poderosa. Ela vai cobrir todos os seus gastos, sua alimentação e sua estadia na casa dela. Estamos falando de 4 dígitos por semana. Além do mais, ela não mora muito longe de sua universidade, ainda pode ir e voltar todos os dias."

Ela pensou por um segundo. Era uma oportunidade única. Era a oportunidade de poder finalmente dormir em paz, de garantir seu carro e seu fundo da universidade. Ela sorriu.

"Eu topo. Só me explique exatamente o que tenho que fazer."

Gold explicou á Emma todas as coordenadas do novo trabalho. Inicialmente, ela estava contratada por um mês, seu serviço era requisitado a cada três horas, começando ás 8h e finalizando ás 23h, de segunda á sexta. Os finais de semana eram livres. As exigências da senhora Mills eram poucas, porém rígidas. Sem bagunça, sem barulho, sem sujeira, sem música, sem convidados, sem usar o telefone. Emma concordou sem pestanejar, apertando a mão de Gold e correndo para assistir o fim da aula que havia perdido.

No dia seguinte Emma pôde acordar uma hora mais tarde do que de costume, se despedindo de seu pequeno apartamento e colocando a mala pequena demais no porta-malas de seu fusca. Ela seguiu as coordenadas que Gold havia lhe passado, dirigindo por uma estrada coberta por uma floresta densa. No fim do percurso, ela pode avistar um muro colossal, rodeando uma única mansão maior do que qualquer casa que Emma já havia visto na vida.

Ela parou nos portões e buzinou, sem ter certeza no que devia fazer. Depois de alguns minutos, uma voz saiu da caixa eletrônica na portaria. "Quem está aí?" a voz feminina estava aparentemente nervosa.

"Emma Swan... Ermmmm, a massagista."

Os portões se abriram e Emma dirigiu pelo grande jardim em direção á casa colossal.

Ela estava ansiosaa conhecer sua nova paciente.