O telhado dos Mankanshoku foi atirado longe pelo vento, enquanto Ryuko, completamente sincronizada comigo, era atirada pra longe. O poder que aquele homem demonstrava, mesmo sem estar usando o seu Kamui, era terrível.

“Ryuko, você esta bem?”

Ela cuspiu um pouco de sangue, mas se endireitou pra cair de pé.

–Mais ou menos, ele é muito mais forte e mais rápido que a Satsuki.

“Nós temos que ter cuidado, essa não é uma luta que você possa vencer facilmente”.

Saindo dos escombros, o alfaiate ostentava um sorriso malicioso no rosto, os dentes afiados segurando um fino fio vermelho, preso na sua agulha.

–Por que esta resistindo Ryuko-chan? – ele brincou, tirando uma sacola das costas e mostrando um punhado de roupas – Eu te trouxe roupas novas, vamos jogar esse trapo velho fora pra você poder vestir...

–O caralho que vou te deixar matar o Senketsu!

“Ryuko...”

–Não precisa se preocupar – ele disse, e em um segundo, estava a sua direita, segurando seu ombro num aperto de ferro que, eu senti, trincou seus ossos em alguns lugares – Eu posso fazer Kamuis mais poderosos pra você, mais bonitos, por que se prende com essa coisa fraca de nada.

Fiquei em silêncio, apenas enviando mais e mais do meu poder pra ela, mesmo que tivesse tomar mais e mais do meu sangue a cada vez. Seu ombro se remendou quase instantaneamente.

–Eu não quero novas roupas! – ela tentou acerta-lo com a tesoura, mas ele apenas se desviou dela, como se não fosse nada – O Senketsu é a minha roupa!

–Ara... crianças são tão teimosas hoje em dia, é isso que chamam de rebeldia adolescente, baa-chan?

“Vá saber... você tem que mostrar sua autoridade agora querido, ou ela vai continuar a desafia-lo” – seu Kamui, ainda adormecido, disse.

–Você tem razão, como sempre... então, Ryuuko-chan, eu vou pegar pesado com você – ele a puxou por ambos os braços, partindo os músculos e ossos do seu antebraço, e arrancando um grito de dor dela no processo – Não fique ressentida comigo, é pro seu próprio bem.

Mais um chute no estomago, Ryuko foi mandado pro chão com a velocidade de um foguete, partindo várias casas no processo e espalhando terra pra todo lado.

Ryuko vomitou sangue, gritou. Eu senti minhas fibras tremerem. Ele estava vindo.

“Ryuko... você não pode ganhar essa luta”.

–O caralho que não, só fique assistindo... eu vou descer a porrada nele como fiz com todos os nossos inimigos até agora.

O alfaiate caiu ao nosso lado, espalhando terra pra todos os lados. Puxou Ryuko pelo cabelo, e acertou com a canela no seu queixo. Ela foi mandada voando pra cima, deixando um rastro de sangue pelo processo. Senti seu coração falhar, seus pulmões fraquejarem e sua consciência ficar nublada por um segundo. Mais um chute no pescoço, o Alfaiate era muito rápido e já estava acima de nós. Ryuko destruiu mais um par de casas ao ser atirada pro chão.

“Ryuko... eu vou morrer aqui”.

–Não vai!

“Eu sinto muito... – disse, meu olho bom se enchendo de lágrimas – Eu queria ficar com você pra sempre, mas se for pelo seu bem, vou ficar contente em morrer aqui... Obrigado por tudo”.

Cancelei a sincronização, pulei longe do corpo dela.

–Não... Senketsu!

O Alfaiate caiu na nossa frente, dobrando os joelhos pra amortecer o impacto. Seu sorriso ensandecido tinha se esvaído, seus olhos estavam assustadoramente sérios.

“ALFAIATE! Eu sei que você pode me ouvir!”

–Ora... essa roupinha velha e surrada sabe falar, não é uma surpresa, Baa-chan?

–Senketsu... não, Senketsu... – Ryuko tentou rastejar pra mim, ela estava toda machucada e sangrando, seus olhos vertiam lágrimas num fluxo constante – Não se mate seu idiota!

“Desculpe Ryuko... chega uma hora que uniformes de marinheiro ficam pequenos, agora você vai poder vestir roupas feitas por esse homem, roupas muito mais bonitas e poderosas do que eu nunca vou ser...”.

–Eu não quero outras roupas! Eu só quero você!

O alfaiate tirou a agulha-espada, aponto-a na minha direção.

–Vendo como vocês foram amiguinhos por um tempo, eu vou deixa-los se despedir antes de te jogar fora – ele disse – Você tem algo a dizer, Senketsu?

“Sim... só uma coisa”.

Me virei pra Ryuko, seus olhos estavam inacreditavelmente doces. Sorri, aquele sentimento voltou com força total, e eu me peguei achando que tive uma vida muito boa.

“Ryuko... como seres humanos dizem, eu amo você... viva e seja feliz, tá?”

–SENKETSU!

A espada agulha desceu para o chão, com força total. Fechei os olhos, esperando o fim que estava certamente a minha frente.