Tudo era escuro e pesado pra mim, como um sono negro em que eu estivesse inconsciente, mas não exatamente isso. Por isso, quando Ryuko me encontrou, eu me entreguei tão imediatamente e tão intimamente a ela, por isso, quando ela me vestiu, eu fiquei tão contente. Eu não estava mais dormindo, eu já não era um trapo jogado fora, e ser necessário, ter alguém a quem proteger, com todas as minhas forças, me fez feliz.

Por isso que, vê-la daquela forma enfraquecida, me feria tão fundo.

“Ryuko...”

Ela gemeu no fuuton, levantou a cabeça pra olhar pra mim e tirou o pedaço de vermelho no seu cabelo da frente dos olhos. Aquela única mecha vermelha que era o charme dela.

–O que você quer, Senketsu... – ela suspirou, se jogando de cabeça no travesseiro – Eu to meio fraca agora, não é uma boa hora pra tomar meu sangue...

–Não, eu... posso dormir com você hoje?

Ela se jogou sentada quase que de uma vez, e seu rosto, enquanto me fitava, foi ficando mais e mais parecido com aquela mecha no seu cabelo.

–O que você disse?

A expressão dela não parecia exatamente zangada, então não vi mal algum em repetir.

–Posso dormir com você hoje?

–O q-que há com você hoje? Tão de repente...

–Isso é algo constrangedor?

–Pode apostar que é!

–Mas você já me veste o dia todo... Qual a diferença de dormir comigo?

Uma das coisas legais sobre a Ryuko é que, se você a pegasse com um argumento lógico o bastante, ela ia engolir qualquer constrangimento.

–Você não vai ficar amaçado?

Neguei com um aceno, eu não podia me importar menos com isso.

–E não vai... sabe, ser desconfortável?

Neguei novamente. Estar com ela seria a coisa mais confortável do mundo pra mim.

–Bem... não vejo por que não – ela corou, tirando o pijama e o sutiã, logo em seguida – S-Só não pense em nada pervertido...

Assenti obedientemente, apesar de ter corado levemente também, se é que roupas podiam fazer isso. Havia partes do corpo dela que nem eu tinha visto ainda... quem diria.

Após ficar só de calcinha, ela me colocou com cuidado, ajustando os ombros e encaixou a saia pra ficar mais solta do que o normal no seu quadril. Por fim ela deixou a janela entreaberta e se cobriu, deitando de lado no travesseiro e fechando os olhos.

“Ryuko...”

Ela suspirou.

–Você parece estar querendo uma festa do pijama hoje... O que foi?

“Muito obrigado”.

Dessa vez eu não podia ver, mas deu pra sentir o ritmo cardíaco dela aumentar levemente, então supus que ela estava corando de novo.

–N-Não é grande coisa, se você faz tanta questão que eu durma te vestindo, é algo que eu posso fazer facilmente.

“Obrigado, mas não era disso que eu estava falando”

–Então sobre o que?

“Obrigado por me tirar daquele porão, era muito escuro e solitário lá”

–Entendo... Espere, eu pensei que você estivesse dormindo.

“Sim... mas não quer dizer que não estava consciente, quando você apareceu, e me deu seu sangue... eu fiquei tão ansioso que te forcei a me vestir, desculpe por isso”.

Ela não disse nada por alguns momentos, mas pareceu se aconchegar ainda mais no colchão, minhas fibras se alongando melhor às suas curvas.

–Não se preocupe com isso, eu prometo que não vou te deixar sozinho de novo.

Assenti, e abraçando cada curva do corpo dela, com o cheiro dela impregnando no meu tecido, eu acabei adormecendo. Dessa vez sem medo de não acordar novamente.