Lágrimas Secas escrita por TalesFernandes


Capítulo 3
Capítulo 3




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Uma onda de silêncio de espalhou na sala, e antes de meu corpo ser tomado pelo pânico, minha mãe desaba no chão.

– Mãe! – reúno forças nos meus músculos para poder ajuda-la. Por culpa do desespero, me limitei a dar tapas na cara dela para ver se adiantava algo, óbvio que isso era estúpido.

– Garoto.. – o senhor tentou interromper mas eu não dei bola e corri para a cozinha preparar uma compressa de pano quente molhado. Com as mãos trêmulas, peguei na panela e enchi ela de água. Com a velocidade que meu corpo ousava ir, liguei o fogo e fiquei batendo o pé desesperadamente enquanto via aquela pequena chama lentamente aquecer a água.

Nem esperei a água começar a ferver, apenas coloquei o dedo na água, e quando percebi que estava quente o suficiente, coloquei a panela em cima da pia queimando meu dedo, mas por causa do pânico nem percebi, peguei um pano seco e molhei na água fervente.

Corri para minha mãe, e vi que o médico colocava algo na boca dela.

– O que está fazendo? – minha voz saiu mais alta que eu pretendia, e o senhor me olhou com desprezo.

– Calme, estou apenas dando calmante para ela.

– Mas calmante, porque? – olhei para meu pano quente em minhas mãos, que estava começando a incomodar. – Ela precisa acordar!

O velho, que aparentava ter seus 60 anos, lentamente se virou para mim com seus olhos levemente azuis, e observou meu pano molhado em minhas mãos, com uma leve fumaça subindo neles.

– Nesse estado de choque não seria bom ela acordar, e um pano molhado em água quente não vai fazê-la acordar. – ele explica e logo após dá uma leve tossida como se um fumante.

Então, olho para a garotinha atrás do senhor que observava tudo com um certo desespero em seus olhinhos cor de café, e uma lembrança a minha irmã volta a realidade, e o pânico toma conta de mim de novo.

– E a minha irmã? – pronuncio as palavras calmamente para não saírem alteradas demais.

– Lá na minha casa existe uma pequena sala onde coleciono facas, e sua irmã mais a minha filha entraram lá por curiosidade, mesmo eu avisando que era uma sala restrita. – ele respirou fundo antes de continuar, e uma leve tossida saiu de seus pulmões. – O resultado foi que sua irmã tentou pegar uma faca com o cabo rosa, e ela acabou caindo e fincando bem no ombro dela.

– Mas.. – as palavras não saíam de dentro de mim, minhas cordas vocais não emitiam algum som sequer. A única pergunta que meu corpo e minha mente ansiava em perguntar, era se minha irmã estava bem, ou melhor, viva.

– Ela está bem? – essas palavras saíram como uma navalha em minha garganta, e eu temia pela pior resposta.

– Na verdade, a situação dela não é urgente, mas também não é simples. Pelo o que parece, a dor causada pela faca em seu corpo, fez ela ter um espasmo de dor e logo após desmaiar. Mas felizmente, consegui levar ela ao hospital a tempo.

Quando ele falou a palavra hospital, isso não me ajudou a tranquilizar muito. Nos meus tempos de criança, eu tinha vagas lembranças de mim indo ao precário hospital da cidade ir visitar meu bisavô Hyto. O local era sujo, com as macas onde os pacientes ficavam eram tudo juntas e pouco confortáveis. Os médicos eram apenas pessoas que tinham uma básica noção sobre medicina, e os instrumentos para a realização de algum procedimento cirúrgico era apenas alguns bisturis e tesouras enferrujadas, álcool mesmo raramente tinha no estoque do hospital.

– E minha mãe, como irá ficar? – o pânico era vidente em minha voz, e o senhor percebendo isso pronunciou as palavras com mais calma, escolhendo delicadamente qual termo usar.

– Ela vai ficar bem em algumas horas, mas para que ela acorde sem nenhum outro choque de pânico, é melhor ela poder ver Nathalia. – o médico olhou para a porta do lado de fora, onde um carro Mustang Classic V8 cor preta, estava estacionado com um ar de superioridade. O fraco sol do fim de tarde reluzia em sua coloração preta, e ele se perguntou como conseguiram juntar tantas riquezas, mas no momento tinham outras preocupações.

– Bom, como vejo que sua mãe ficará desabilitada por algumas horas, quer que eu leve você até o hospital? – ele disse isso e olhei de relance para minha mãe, o velho senhor parecer compreender o meu olhar e rapidamente incrementou seu contive. – E claro, iremos levar usa mãe para o hospital também, mas logo aviso que eles irão fazer pouco caso só por causa de um desmaio. O ideal era deixa-la aqui no sofá descansando e ver como está Nathalia.

O pensamento do senhor era coerente, e resolvi obedecer o que ele dizia. Ele me guiou até seu carro, e pequena criancinha loira já estava no branco de trás apertando seus cintos, depois de fechar com cuidado a porta, olhei para a casa da Júlia e decidi fazer uma pergunta.

– Posso levar uma amiga também? É que ela tem muito parentesco com minha irmã – mesmo Júlia não tendo grande afeto com Nathalia, era preciso dizer isso para tornar as coisas mais fáceis.

O velho economizou suas palavras e apenas assentiu levemente com a cabeça. Seus olhos estavam agora refletindo a lua que acabara de subir, fazendo com que um lindo pôr do sol surgisse. Mesmo a paisagem sendo linda, voltei á realidade e fui até a casa de Júlia.

O velho observava tudo com curiosidade, analisando as duas casas iguais, mesmo que eu sempre via seu Mustang chamativo passando pela porta de minha casa, aposto que o velho sempre era muito ocupado para prestar atenção nos detalhes das poucas casas da cidade.

– Interessante.. – murmurou o velho.

Abri a boca para falar algo, mas a porta se abriu e nela estava a Júlia, com seus cabelos pretos levemente desarrumados, como sempre.

– Júlia, Nathalia sofreu um acidente grave. – como já disse, mesmo Júlia não tendo afeto por Nathalia, seus olhos se arregalaram e ela rapidamente compreendeu, quando olhou para o carro parado lá fora. Ela se apressou e vestiu um casaco de pele grosso.

Ela passou pelo velho sem falar nada, apenas concentrada em ir até o carro. Seu silêncio era estranho, visto que Júlia era sempre uma mulher de muitas palavras, mesmo em ocasiões especiais.

Quando entramos no carro, eu fiquei no meio do banco traseiro, enquanto ao meu lado esquerdo estava Júlia, que olhava com atenção os detalhes das casas ao lado, e do lado direito estava a pequena menina, que tinha que se esforçar para ver no vidro do carro o redor.

– Júlia? – chamei sua atenção e ela se virou bruscamente para olhar para mim, o que me fez assustar. Júlia era sempre muito calma e serena, paciente como um bicho-preguiça (nota-se que a preguiça também estava inclusa em seu pacote), e sua atitude realmente estava estranha.

– A desculpe, o que foi Frank? – seu tom guardava uma certa amargura, mas era misturado com um pouco de culpa. Uma das minhas habilidades naturais, era poder facilmente reconhecer expressões faciais e vocais das pessoas.

– Apenas pensei que queria saber o que aconteceu com Júlia. – comentei inocente.

– A sim, me desculpe, é que estou pensando longe, quando se trata de pessoas machucadas sempre me comporto estranho. – ela deu um sorriso meio doentio para meu gosto. – Talvez seja pelo fato de que morte me assusta.

– Bom, ela foi na casa do senhor.. – aquela hora me veio o pensamento que nunca tinha perguntado seu nome, por sorte o senhor tinha ouvidos bons para sua idade.

– Meu nome é Pedro. – ele afirmou.

Esse nome era estranho, tinha lido nas minhas aulas de geografias que esse era um nome Brasileiro.

– Então, a Nathalia foi na casa do Senhor Pedro, e ela e essa aqui – apontei para a menina ao meu lado. – entraram em uma sala cheia de armas e facas, e Nathalia por sua curiosidade ficou fascinada por uma de cabo rosa, e sem querer enterrou ela no seu ombro.

Júlia reprimiu um som de susto na sua garganta, e logo depois suas palavras saíram com dificuldade.

– Uma faca.. com cabo r-rosa?- não entedia de fato o porque de sua admiração e confusão por sem uma faca com cabo rosa, apesar do fato de que eu nunca tinha visto facas coloridas.

– Sim, qual o motivo de tanta surpresa? – questionei olhando para ela, mas Júlia fez algo estranho. Seu rosto rapidamente ficou vermelho, e seus olhos começaram a lacrimejar, ela se virou para olhar na janela a cidade, e não falou mais comigo até chegarmos no hospital.

Quando chegamos, tivemos que passar por um hospital quase vazio, apenas com duas salas ocupadas (que inclusive eram as únicas que tinham naquele precário hospital), as paredes eram feitas de tijolos vivos, sem nenhum reboco como o de minha casa, mas esses apresentavam alguns pontos podres de serem tão velhos.

Cheguei a um local onde tinha um balcão ao lado de dois corredores, que eram as duas salas em cada corredor. Quando eu vi a secretária, mesmo estando em uma situação de pânico e urgente, não pude evitar de ficar impressionado. Sempre achei que nessa cidade só tinham velhos quase no final de sua vida, exceto por minha mãe, mas quando vi a mulher que atendia, com seus cabelos ruivos e lisos perfeitamente alinhados, e seu rosto belo, e um corpo que já estava bem formado.

Júlia olhou para mim com uma cara de raiva quando viu eu abrindo a boca para atendente. Olhei de relance para ela, e não entendia o porque de tanta irritação, visto que éramos apenas amigos.

– Nathalia Chase. – disse com dificuldade olhando para as feições da mulher.

– Ela está na sala da direita com o Doutor Jason. – sua voz era bastante bonita, mas quando notei que Júlia segurava ao máximo para não me bater, apenas segui em frente sem dizer nada. O velho e a menininha seguiram logo atrás de mim e Júlia, e quando entramos na sala tive uma visão horrível.

A sala, com as paredes precárias, e o teto rachando, era normal. Vi a cama principal onde minha irmã estava deitada, e a visão que tive me aturdiu. No ombro dela, uma longa e suficientemente grande faca com o cabo rosa estava atravessado perfeitamente em seu ombro esquerdo, e sua afeição era de pura dor.

O doutor Jason pegou um dos poucos remédios que estavam ali guardados, e nele estava escrito algo como Calmante. Ele colocou levemente nos lábios rígidos da minha irmã, seu corpo tão pequeno com o ombro atravessado por uma maligna criação do ser humano, uns 20 centímetros de asso afiado e temperado.

Antes dela poder ter qualquer reação por me ver, o efeito do calmante fez efeito, e ela adormeceu em um sono profundo, com respirações pesadas. O médico pegou uns instrumentos ao lado da mesa, pronto para retirar a faca do ombro de minha irmã.


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