Fogo e Gelo Edward e Bella escrita por Bia Braz


Capítulo 16
Capítulo 16- Perdão




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Capítulo 16 - Perdão

Bella POV

Edward ficou em silêncio, olhando para o nada durante alguns minutos, em seguida, pegou meu rosto em suas mãos e começou a falar.

—Bella, quero que pegue todos os cobertores e lençóis desta casa e ponha-os nos carros para serem levados à mina. Vou me vestir e irei para lá antes de você. Mas quero que vá o mais breve possível, entendeu bem?—Ele me abraçou forte, seu semblante carregado. Eu ainda estava sem ação, mesmo assim, o abracei de volta.

—Estarão precisando de salvadores.— Disse o serviçal.

Edward soltou-me e deu-lhe um rápido olhar, de cima abaixo.

—Então se apronte e vá. Sele um cavalo e siga na frente.—Voltou-se para mim e pegou novamente meu rosto em suas mãos. —Não terminamos nossa conversa... mas quero que pense no que eu falei. Por enquanto, eu preciso que esteja ao meu lado.—Ele dizia muito mais do que eu estava entendendo, mas eu não tinha cabeça para raciocinar. —No momento não consigo pensar em nada. Só não quero perder mais alguém. Vivo ou morto, tirarei Carlisle de lá.—Depois de um abraço apertado e um rápido beijo, subiu correndo as escadas.

Por um instante senti insegurança e tristeza no seu olhar. Ainda continuei parada por um momento, antes que começasse a mover-me. Eu não podia mudar o que acontecera, mas podia ajudar. Voltei-me para as mulheres que estavam paradas perto de mim.

—Ouviram o que ele disse. Quero todos os lençóis e cobertores no meu carro dentro de dez minutos.

Uma das empregadas adiantou-se:

—Meu irmão trabalha na mina Rosalie. Posso ir com a senhora?

—E eu?— Disse Susan. —Já fui voluntária em um desastre tempos atrás.

—Sim.—Respondi, correndo escada acima para trocar meu robe matinal cheio de rendas. —Acho que precisaremos de toda a ajuda que pudermos arranjar.

Edward POV

Eu não tinha nenhuma experiência com desastres. Minhas batalhas, geralmente, tinham sido conflitos com indivíduos, lutas de negócios, e estava despreparado para o que encontrei no local da mina Rosalie. Já de longe, ouvi os gritos das mulheres e pensei que, por mais que vivesse, nunca tiraria aquele som da cabeça.

O portão do campo estava aberto e sem guardas. Havia apenas uma mulher sentada lá, ninando seu bebê. Eu e os quatro homens diminuímos quando entramos no campo, e alguns homens desceram ao ver as mulheres que surgiam no caminho, aos prantos. Uma delas agarrou o meu braço.

—Mate-me.—Gritava em meu rosto. —Ele se foi e não temos nada! Nada!Sem que conseguisse impedi-la, ela me empurrou para dentro do barracão. A cabana de Carlisle era uma mansão comparada com o lugar. Cinco crianças imundas, vestindo pouco mais que trapos, estavam de pé em um canto, agarrando-se umas às outras. Os rostos magros e os grandes olhos tristes falavam de sua fome permanente. Eu não vira essas crianças quando estivera ali na véspera, mas também não me lembrava de ter estado nesta parte do campo, onde as casas eram cabanas de papelão pichado e latas de zinco alisadas.

—Mate-nos a todos.—Gritava a mulher. —Estaremos melhor. Agora morreremos de fome.

Na tábua que parecia servir de mesa, havia metade de um pão velho e este devia ser o único alimento na casa.

—Senhor.— Disse o serviçal que entrara atrás de mim. —Eles precisarão de ajuda com os corpos.

—Sim.—Falei e deixei a cabana com a mulher chorando alto atrás de mim —Quem são essas pessoas?—Perguntei, assim que estávamos fora.

—Elas não têm como pagar o aluguel de dois dólares por quarto, pelas casas da companhia, assim a companhia lhes aluga a terra por um dólar por mês e eles fazem suas próprias casas com o que podem encontrar.—Indicou com a cabeça o cortiço de cabanas de folhas de zinco e latas. Julguei reconhecer pedaços dos engradados que na véspera continham o equipamento de beisebol.

—O que acontecerá com a mulher se seu marido estiver morto?

—Se ela tiver sorte, a companhia lhe pagará o equivalente a seis salários. Depois, ela e as crianças ficarão por conta própria. De qualquer forma, a companhia dirá que a explosão foi causada pelos mineiros.

—Bom, pelo menos podemos ajudar agora. Vá arranjar comida para essa mulher.—Entreguei-lhe notas de cem para que ele pudesse comprar alimentos.

Ele olhou, perdido, para o dinheiro.

—Onde? Quatro anos atrás, houve uma revolta e os mineiros atacaram o armazém da companhia. Desde então, só há um mínimo de mercadorias, incluindo alimentos, em qualquer campo.—Minha boca torceu em desagrado. —E a cidade não ajudará, também. Tentamos pedir ajuda à prefeitura quando a última mina explodiu, mas eles disseram que teríamos que pedir através dos canais burocráticos.

Comecei a dirigir-me ao centro do campo. Em frente à boca da mina, havia três corpos enrolados em lençóis; dois homens carregavam outro corpo para as portas abertas da oficina das máquinas, onde pude ver Annebell e dois homens trabalhando na enfermaria.

Fui até a tenda ao lado de Jacob.

—Muito grave?

—Não podia ser pior. Há tanto gás na mina que os resgatadores desmaiam antes de alcançar os homens. Ainda não podemos dizer exatamente o que aconteceu, ou quantos morreram, porque a explosão foi para dentro e não para fora. Pode haver túneis com homens vivos presos lá embaixo. SEGUREM-NA, POR FAVOR.—Gritou Jacob pulando para o elevador que o levaria para baixo da mina.

Peguei a mulher a que ele se referiu, quando ela corria em direção a um corpo queimado que era retirado da mina.

—Vou levá-la para casa.— Disse para ela, mas a mulher só sacudia a cabeça.

Outra mulher apareceu.

—Tomarei conta dela.

—Vocês têm conhaque?—Perguntei, interessado em oferecer para a mulher que via o marido morto.

—Conhaque?—Falou com desprezo. —Aqui não temos nem água fresca, senhor.

Em choque por tudo, ajudei a controlar a mulher que estava em desespero. Dois minutos mais tarde, descobri a utilidade do meu carro. Ele era mais veloz que qualquer carroça e eu poderia dar quantas voltas quisesse até a cidade. Logo, desci em disparada o morro, em direção à Forks. Passei por Bella e ela chamou-me, mas acenei que depois falaria e não diminui a aceleração.

Uma vez na cidade, continuei correndo velozmente, quase atropelando uma meia dúzia de pedestres. Eu estava bem ansioso, desorientado, sem saber o que fazer. Eu não conseguia fazer nada sob pressão e sem planejamento, logo precisava de uma pessoa que me ajudasse a tomar decisões táticas e calmas. E eu só conhecia uma capaz disso...

Grande parte dos cidadãos de Forks estava nas ruas, olhando em direção à montanha onde estava a mina Rosalie, com caras de abobalhados. Passei pela enfermaria Black, e ela estava cheia de atividade. Atravessei a cidade e subi a Avenida Marc, até chegar, receoso, ao meu destino.

Eu sabia onde ele morava, pois quando ele foi fazer a compra da casa, o gerente do banco me ligou perguntando se podia liberar o pagamento do cheque de compra. Mesmo que o dinheiro fosse dele, o gerente ficou preocupado por saber da nossa eventual briga que se espalhou pela cidade. Na ocasião, eu fiquei chateado que ele não tivesse perguntado minha opinião, uma vez que tudo que eu ia fazer dependia dele, mas dias depois fiquei satisfeito, ao saber que de qualquer maneira ele sempre seria ligado a mim, pois ele ia se casar com minha prima.

Não que ele um dia venha saber disso, nunca, mas considero, aquele patético apaixonado pela vida, meu único irmão. Nos dois últimos meses, passei próximo a casa dele algumas vezes, pensando que talvez pudéssemos nos encontrar casualmente e nos falar, já que eu não me sentia com coragem suficiente para ir me desculpar e ouvir seus sermões. Como não o encontrei nenhuma vez, desde a noite em que nos separamos não nos falávamos. Logo, eu sentia grande falta de meu amigo, principalmente nessas horas em que ele era meu equilíbrio com sua calma extrema.

Ao entrar na sua rua, Jasper estava passando pelo portão da frente, com um cavalo selado aguardando por ele. Entrei desacelerando e forcei uma parada, freando meu carro com tanta força que cantou os pneus. Nem abri a porta do carro, somente a pulei e subi o degrau, tudo em um só movimento.

—Sei que não tem mais ligação comigo, mas não conheço ninguém mais que tenha miolos para me ajudar a organizar o que quero fazer. Assim estou lhe pedindo que esqueça suas queixas no momento e me ajude.—Falei num fôlego só, com os olhos desviados dele.

—Para fazer o quê?—Perguntou Jasper com descaso. —Não tenho tempo. Estou indo ajudar na mina. O pai de Alice está lá e...

—Droga! Acontece que ele é também meu tio!—Explodi, impaciente. —Passei a última hora lá em cima e eles já têm mais resgatadores do que podem precisar, mas não tem comida e nenhuma água, merda!—Passei a mão no cabelo, nervoso, em seguida tomei ar, lutando contra o desespero. Vi de soslaio Alice aparecer no batente com a expressão preocupada. Talvez pensasse que fôssemos rolar no chão em uma briga.

—Não sou seu funcionário, Cullen.—objetou impassível, com os braços cruzados no peito.

—Inferno! Mas você é meu amigo! —Ele descruzou os braços e eu lutei contra mim, escolhendo palavras e tentando me acalmar. —A explosão desmontou uma porção de casas, se é que se pode chamar assim àquelas cabanas. Preciso de sua ajuda para conseguirmos juntos alguma comida e abrigo para as pessoas, para os resgatadores e para as mulheres que estão lá em volta, chorando.—expliquei com frenesi de desespero que eu não conseguia conter. Nunca tinha passado por uma situação daquela e eu me sentia responsável, pois legalmente a mina era minha.

Jasper olhou-me durante um longo e dramático minuto. Enquanto ele me analisava, prendi o ar, ansioso, esperando o seu veredicto.

—Pelo que Alice soube pelo telefone, vai levar muito tempo para retirarem todos os corpos. Teremos que alugar carroças para levarmos tudo para a mina, e devemos tentar conseguir um trem para... para os corpos. Para hoje, precisamos de comida que não precise ser cozinhada.

Respirei fundo, aliviado, e sorri para meu amigo.

—Vamos, bastardo, temos que trabalhar.—Dei um murro em seu ombro.

Alice tinha permanecido no portão, então saiu para beijar o homem sem olhar em minha direção.

—Prima.—chamei. Ela se virou para mim. —Preciso que faça algo também. Quero que você ligue para a Srta. Emilly e diga-lhe que chame todas as irmãs para se encontrarem comigo na mercearia Rafe, assim que puderem chegar lá. Esteja certa de falar com a Srta. Emilly mesmo, e de dizer Irmãs. Alice, isso é muito importante. Entendeu?

—Eu sei como chamá-las, Edward. Esqueceu que eu que as recepcionava na mina? O que você vai fazer com a irmandade?—Ela perguntou, meio desconfiada.

—Confie em mim. Não vou lhes expor ou lhes fazer mal.— Disse e entrei no meu carro, dando partida no motor. Alice me olhou uns minutos, antes de Jasper dar-lhe um rápido beijo e entrar no carro.

Ao chegarmos à cidade, nos separamos e fomos procurar aquelas pessoas que tinham carroças para alugar. A maioria dos donos ofereceu seus serviços como voluntários e, por toda Forks, havia um sentimento de unidade, pois a preocupação com o que acontecera no campo os unira.

Seis jovens senhoras esperavam-nos em frente da Rafe, e levei só alguns segundos para dizer-lhes do que precisava, antes das mulheres começarem a agir, com a pequena Emilly gritando ordens com uma voz de sargento de artilharia.

Sorri e lembrei-me de minha esposa, que agora devia estar dando ordem nas minas. Quando as carroças paravam defronte das portas de trás da loja, as mulheres enchiam caixas de carne enlatada, feijões, leite condensado, biscoitos e centenas de pães. Quando se juntava uma multidão de curiosos, a Srta. Emilly os punha para trabalhar, ajudando a encher as caixas de alimentos. Jasper providenciava uma carroça de água.

Quando carregava meu carro de frutas, vi Rô descer a ladeira com Anthony na sua frente. Na hora senti algo estranho. Era a primeira vez que via o garoto desde que ela tinha me dito que eu não era o pai, e só então, desde que descobri, eu pude sentir o sentimento de perda por não o ser.

—O que podemos fazer?—Perguntou Rô. Ela segurava o chapéu, alheia a tudo em volta.

Olhei para Anthony e raiva picou minha face. Raiva por tudo que ela tinha feito comigo e com o garoto.

—Oi, pai.—Ele me abraçou na cintura, e ela me encarou, longos minutos, com a boca aberta. Provavelmente preocupada se eu iria atirar o menino longe do abraço e renegá-lo. Ela não tinha falado para o menino que eu não era pai dele. Errou duas vezes, melhor, várias vezes. Mas eu não conseguia sentir raiva do garoto. Ele não merecia isso, e era notável que me tinha estima verdadeiramente, independente do meu dinheiro e das minhas atitudes toscas.

Um sentimento estranho se apossou de mim ao olhar para ele e lembrar os garotos que podiam ter morrido lá em cima. Tony podia não ser meu filho de sangue, mas nos poucos meses de convivência ele me considerava e eu o considerava de volta. A raiva que eu sentia da sua mãe não se dirigia a ele. Pelo contrário, eu me sentia bem com o seu abraço em minha cintura. Retribuí ao abraço e o ergui em meu colo.

Agradecimento percorreu meu corpo por ele nunca precisar ser exposto ao perigo constante das minas. Pus a mão na cabeça do menino e virei-me para Rô.

—Quero que arranje quantas amigas puder para ajudá-la a descobrir todas as tendas desta cidade. Vá à minha casa e veja o que Bella fez com aqueles toldos grandes que arranjou para o casamento. Leve-os para a mina. O menino vai ficar comigo.

Eu o desci e caminhávamos para entrar no meu carro.

—Ele não vai, Edward. Não acho que Tony seja suficientemente crescido para ver o que aconteceu lá. Algumas vezes essas explosões podem ser...

O meu temperamento ainda não tinha se manifestado nos acontecimentos do dia, mas agora o deixei soltar-se.

—Foram vocês, inferno!!!—Gritei no rosto dela. —Foram vocês, Newton, que causaram tudo isso. Se as minas não fossem tão perigosas e se seu pai se separasse um pouco de seu precioso dinheiro, nada disso teria acontecido. Esse menino é crescido e, se os meninos lá de cima podem morrer nas minas, ele não é tão delicado que não possa ver as mortes que o seu pai causou. Agora, mulher, mexa-se e faça o que eu disse. Ou me lembrarei quem você é e que, no momento, meu maior desejo é ver seu pai morto.

Quando parei, percebi que muitos dos moradores da cidade, que estavam por ali, tinham parado e olhavam-me perplexos. O primeiro a se mover foi Jasper, que desceu de uma carroça carregada.

—Vocês vão ficar parados aí o dia todo? Você!—Gritou para um menino. —Encha aquela caixa com feijão.

Lentamente, as pessoas começaram a voltar aos seus deveres, mas a minha cabeça estava nas mortes causadas por Joseph Newton e que infelizmente era o avô do menino. Apesar de tudo que tinha dito para Rô, e apesar de saber que o garoto não era meu filho, eu tinha sentimentos pelo garoto e não permitiria que Tony fosse com qualquer pessoa até o local do desastre, até que eu estivesse pronto para levá-lo em meu carro.

Já estava perto do sol se pôr quando tomei lugar e comecei a viagem para a mina Rosalie. Tony estava ao meu lado, e o menino não falou até que já estivéssemos bem adiantados na estrada.

—Meu avô matou realmente aquelas pessoas? Foi realmente culpa dele?

Pensei contar ao garoto o que pensava de Newton, de como seu amor pelo dinheiro o fizera trapacear e tirar o que eu tinha, mas alguma coisa dentro de mim fez com que desistisse. Fosse o que fosse o velho, era o avô de Anthony, e o menino tinha todo o direito de amá-lo.

—Acho que algumas vezes as pessoas ficam confusas por causa de dinheiro. Pensam que o dinheiro pode dar-lhes tudo que querem na vida e vão atrás dele, de qualquer jeito. Não importa se têm que trapacear ou roubar para consegui-lo. Nem que tiram o dinheiro de outras pessoas. Pensam que conseguir o dinheiro compensa tudo que tenham que fazer.

—Minha mãe disse que você é mais rico que meu avô. Isso significa que você também roubou? Você trapaceou as pessoas?

Eu gargalhei com a esperteza do garoto.

—Não.—Respondi com calma. —Acho que tive sorte. Tudo que tive que fazer foi desistir da minha vida para conseguir ganhar dinheiro.

Ficamos em silêncio durante o resto do caminho para a mina, e passei outra vez pelo horror da primeira entrada na cena da explosão. Na boca da mina, estavam oito corpos, descobertos, esperando para serem levados para a oficina das máquinas, onde Annebell, outra médica e dois médicos estavam trabalhando.

Vi Bella, com o cabelo caindo no rosto, o vestido sujo, em frente a uma carruagem, ela estava descarregando mantimentos. Apressei-me e fui em sua direção. Eu não percebi até que chegasse perto dela que, quando estávamos longe, parecia que o mundo estava fora do lugar, parecia que eu nem estava respirando.

Ela sorriu quando me viu.

—Obrigada. É maravilhoso o que fez.—Ela continuou descarregando uma caixa de sardinhas em lata para uma mulher que esperava. —Você realmente não pertence a isso. Você...

Tirei a caixa pesada de sua mão. Não queria que minha delicada mulher fizesse esforço ou se cansasse.

—Eu também moro aqui, Bella. E, de certa forma, essas minas me pertencem. Talvez se eu tivesse cobrado de Newton, poderia ter evitado que isso acontecesse.—Coloquei a caixa pesada no chão e peguei no seu rosto. —Amor, você parece cansada. Por que não pega seu carro e vai para casa descansar?—Coloquei um fio solto no lugar, beijando sua testa.

—Você sabe que eu não sou frágil, Edward. Eles precisam de todos. Os resgatadores estão sucumbindo com o gás e estão tendo dificuldade em encontrar os homens. Tem muita coisa que eu posso fazer.

Ao ouvir sua teimosia, inclinei para pegar mais caixas, controlando o temperamento para não brigar.

—Aqui! Dê-me um gole disso aí.— Disse uma voz familiar atrás de nós, virei-me e vi meu tio Carlisle tomando uma caneca de água.

Abruptamente, larguei as caixas e fui em direção a ele, sentindo algo que eu nunca tinha sentido em minha vida. Alívio e contentamento.

—Seu velho teimoso! Eu não vou te deixar aqui mais nem que eu tenha que te amarrar com uma camisa de força e te prender em meu porão!—Bati nas costas dele tão forte que a caneca saiu voando pelo chão.

—Ai, seu brutamontes!—Carlisle praguejou, mas eu apenas sorri, dando-lhe um abraço forte. Ele ainda reclamou, mas por fim parou de falar e sorriu.

—Não sou tão fácil assim de morrer.—Resmungou, piscou e voltou para a entrada da mina.

Peguei a mão de Bella e fui para a mina, onde vi Jacob, enegrecido pela fumaça da explosão, saindo. Entreguei a ele uma caneca de água.

—Ainda há muitos?

—Demais.—Jacob bebeu a água avidamente e olhou de novo para mina. —Os corpos estão queimados e, quando você os toca, a pele sai em sua mão.Não havia nada que eu pudesse dizer, mas meus pensamentos foram para o homem que era responsável por tudo isso.

—Obrigado pela comida, Edward. Foi uma ajuda muito maior do que imagina. Amanhã, mais pessoas virão aqui. A imprensa, familiares, os inspetores de minas, pessoas do governo e os curiosos. Alimento é coisa que, às vezes, é esquecido. Estou entrando de novo.— Disse Jacob, afastando-se para dentro da mina.

Afastei-me da boca da mina e voltei para o local onde estava montada a enfermaria, sempre segurando a mão de Bella.

—Pai, tem muita criança lá dentro?—Tony perguntou e Bella me olhou, ternamente, apertando minha mão.

—Não tenho certeza.—Murmurei, sentindo tristeza em imaginar.

—Eu fico tão orgulhoso do senhor estar fazendo coisas boas para ajudar as pessoas.—Me abraçou forte, do lado oposto de Bella.

Ele era uma criança, com coração bom. Ainda tinha nove anos, seria fácil de ser moldado com bons princípios, não como o moleque irresponsável do Mike, superprotegido e gastador. O abracei de volta, decidido a não deixar o futuro dele se estragar. Se ele confiava em mim para ser o seu pai, assim seria, mesmo que eu soubesse que tinha que lhe falar a verdade uma hora. Eu não queria que o menino crescesse sem um pai. Se ele me quisesse como pai, mesmo depois de saber a verdade, assim seria.

Apertei a mão de Bella em um lado, a mão do menino do outro e andei através do número cada vez maior de pessoas, estudando as necessidades primárias para o momento. Ao notar que Bella estava com o semblante cansado, mesmo que tentasse mostrar que não, fiz com que ela e Tony entrasse no meu carro, avisando antes para Jasper nos seguir e que o carro de Bella ficaria a disposição dele.

—Vamos providenciar o resto dos alimentos.—Foi tudo que eu disse a eles, antes de começarmos a descer a montanha.

Tony deitou no banco de trás e Bella encostou a cabeça em meu ombro, entregando-se a exaustão. Jasper nos acompanhou, o farol do carro brilhando logo atrás. Futuramente, eu não poderia esquecer de fazer um pedido de um carro para ele, uma vez que sempre adiei por achar que não precisávamos, já que tinha o meu e o da Bella para ele andar. Mas eu não posso esquecer que ele não é mais um menino. Agora tem sua própria vida: a vida de casado que ele tanto me alertou.

Sorri sozinho e acariciei o cabelo da minha mulher, deitada em meu ombro. Era tão ruim que depois de uma noite regada à paixão tivéssemos um dia todo tenso e agora um começo de noite sem tempo para nós dois.Depois de ontem, se ela ainda quisesse ficar, como eu lhe propus, eu tinha pensado em viajar para Sitka, ou para Paris, e quem sabe assim termos nossa lua de mel que por vários motivos foi sabotada e atrasada. Porém, agora estávamos em uma turbulência que duraria dias e, até que se resolvesse, seria difícil sair da cidade... principalmente com o tanto que eu já tinha me envolvido.

Quando a cabeça de Bella balançou em meu ombro, abracei-a e mantive-a bem junto a mim para que pudesse dormir o resto do caminho, até Forks. Deixei Bella e Tony dormindo no carro, agradecido mentalmente por tê-los. Então eles dormiram algumas horas daquela madrugada, enquanto Jasper e eu acordávamos o pessoal da cidade e comprávamos mercadorias para serem levadas para a mina. Após ter o carro carregado, olhei para os meus dois maiores bens dormindo no carro, me compadeci e resolvei deixá-los em casa.

Ainda que ela lutasse contra, dessa vez ela teria que me obedecer, afinal, eu era ou não era seu marido?

—O que estamos fazendo aqui? Eu não quero ficar.—Resmungou, preguiçosamente, quando acordou, e eu já subia com ela no colo pelas escadas.

—A senhora vai tomar um banho e descansar.

—Não.—Pendurou o braço em meu pescoço, mole. —E não estou cansada. Quero ficar com você.

Rolei os olhos.

—Você vai ficar aqui sim, Sra. Cullen. Pelo menos hoje você vai me obedecer.— Disse beijando sua testa, quando a colocava na cama.

—Só com uma condição.—Ela ficou em pé, ainda com movimentos lentos. Então virou as costas para que eu desabotoasse seu vestido. —Tome banho comigo e depois faça uma refeição.

—Não tenho tempo, Bella.— Disse já abrindo os seus botões.

—Então eu também vou. Não vou deixar você dirigindo pela madrugada com fome e cansado.

Suspirei impaciente, já sabendo que estava perdendo essa. Ela se virou e enlaçou meu pescoço.

—Tome um banho comigo... Eu perdi você hoje... Eu perdi você dias.—Murmurou abrindo os botões da minha camisa.

—Bella...—Tentei negar, mas não tinha como negar seu convite doce, sabendo quantos dias passamos separados. Meu cérebro inventou uma desculpa dizendo que uma ou duas horas na madrugada não faria muita diferença. Assim, desfiz rápido de nossas roupas e nos lançamos no quarto de banho.

Uma hora mais tarde, depois de fazer amor calmo nas paredes de cerâmica, eu estava jantando na cozinha, com Bella me olhando docemente. Eu não sabia que estava tão faminto até que a mesa estava posta. No momento, podia colocar um boi em minha frente que eu o devoraria, uma vez que não tinha conseguido comer quase nada durante o dia.

Após ter comido, ela sentou em meu colo, cansada, e deitou em meu peito, com um doce perfume e uma convidativa camisola, que só me lembrava cama.

—Vá para cama, porque eu já vou.—Avisei, dando-lhe um beijo no cabelo solto.

—Me deixa ir agora com você.—Pediu em meu pescoço, dando beijos.

—Não. Quando voltar a cidade passo aqui e te pego.

—Durma um pouco. Pelo menos duas horas.— Soprou em meu ouvido.

Ciente de que se ela continuasse pedindo, eu não resistiria, forcei calmamente seu corpo para que ela saísse do meu colo e seguimos para a sala.

—Não me tente, Bella. Você sabe muito bem...—Olhei mais uma vez para a camisola e ela espalmou meu peito, como uma gata manhosa, ciente de que eu estava balançado. —Diabo, mulher! Vai dormir.—Dei um tapa no traseiro dela e a empurrei para que ela subisse a escada. —Obedeça seu marido ao menos uma vez.

Sorri, e ela subiu, jogando um beijo do alto da escada. Com muita determinação da minha parte em não me unir a ela, deixei-a e voltei para a mina, levando os alimentos. O trajeto foi rápido, logo que o sol nasceu eu já tinha descarregado toda a mercadoria.

Fui mais uma vez à boca da mina e vi meu tio e Jacob firmemente lá, cuidando dos feridos, alimentando, dando água. Já tinham encontrado vinte e dois corpos tão queimados, inchados e mutilados que a identificação era quase impossível.

Os resgatadores esperavam encontrar mais vinte e cinco. Até o momento, um resgatador tinha morrido com o gás. Jasper chegou e o chamei para descer novamente para a cidade. Jasper teve a idéia de irmos ao ginásio e pedimos que as crianças fossem dispensadas nesse dia, a fim de que pudessem ajudar a reunir alimentos necessários. Os estudantes pediram às suas mães para que cozinhassem a comida e centenas de ovos. Coletaram roupas, pratos, lenha, e levavam tudo para postos de recolhimento onde ficavam os nossos carros. Ao meio-dia, passei em casa, peguei Bella, Tony e Esme, e levei o carro carregado para a mina. Deixei Bella ajudando Annebell na enfermaria com Tony, e fui descarregar trouxas de cobertas e centenas de roupas, enquanto Esme ia para casa de Carlisle preparar alguma refeição com os mantimentos que ela trouxe de casa.

Mais tarde, Jasper chegou com o carro cheio de comida pronta. Quando eu e meus funcionários terminamos de servir os alimentos para as diversas pessoas que estavam famintas, já era de tarde, então vi os resgatadores vindo para a superfície e mais de um deles vomitava no chão.

—É o cheiro.— Disse um homem ao lado. —Os corpos lá embaixo cheiram tão mal que os homens não agüentam.

Por um momento, fiquei olhando toda aquela cena a minha volta: os olhos perdidos das mulheres que esperavam por notícias; algumas crianças chorando; Jacob todo sujo com mais um moribundo no colo, tentando lhe ressuscitar; meu tio com o olhar angustiado, provavelmente por ter perdido amigos; Annebell toda suja cuidando dos feridos; Bella, minha Bella, dando água para um homem sobre a maca improvisada; Tony sentado no chão, conversando com um garoto que estava chorando por ter perdido o pai; e então, respirei fundo, dominado de raiva, com uma fúria incontrolável, entrei no carro e disparei montanha abaixo, dirigindo-me para a casa do responsável com toda a velocidade que podia conseguir.

Eu nunca mais tinha passado pelo caminho daquela casa desde que a deixara anos antes, mas a familiaridade era tão grande que sentia como se nunca tivesse estado fora. Não esperei para bater na porta, mas chutei com o pé, através do painel de vidro, e entrei pela porta.

—Newton, seu desgraçado!—Gritei enquanto empregados vieram correndo de todas as partes da casa. Dois serviçais agarraram-me pelos ombros para impedir-me, mas com um movimento tirei-os como se não pesassem nada. Eu conhecia a disposição das partes de baixo da casa bem o bastante e logo encontrei a sala de jantar, onde Joseph Newton estava comendo sozinho, na cabeceira da mesa.

Olhamo-nos por um momento, meu rosto explodindo de raiva, corpo arfante. Joseph abanou a mão para dispensar os criados.

—Não acredito que tenha vindo para jantar.— Disse calmamente passando creme em um pãozinho.

—Como pode sentar-se aí quando as pessoas que matou estão naquela montanha?—Apontei o dedo para ele.

—Aí eu discordo de você. Eu não os matei.—Mordeu o pão. —A verdade é que fiz tudo que podia para mantê-los vivos, mas eles parecem ter uma inclinação suicida.—destacou. A minha cabeça estava cheia das visões e sons dos últimos dois dias. Meus ouvidos pareciam tinir com o som do choro das mulheres e não tinha percebido. —Posso lhe oferecer um vinho? É de uma safra muito boa.—ofereceu. Não respondi, admirado com a sua calma. Olhei para a mesa farta. Não comia desde a madrugada e já era cinco da tarde. Agora, o cheiro da comida, a limpeza da sala, o silêncio, tudo junto fez com que me balançasse de vontade de sentar.

Joseph levantou-se, serviu um copo de vinho, e, enquanto puxava uma cadeira para mim, pôs o copo em minha frente. A mão dele tremia quando segurava o vinho, não deixei de notar. Mas em oposição ao nervosismo dele, tudo naquela sala estava me deixando mais calmo, o cheiro antigo em minha memória, o velho à minha frente.

—É muito grave?—Perguntou Joseph, calmo, dirigindo-se para uma mesa lateral e pegando um prato que começou a servir. Não respondi, somente sentei-me na cadeira, me sentindo pesado, olhando tentado para o vinho.

—Por quê?—Murmurei depois de um momento. —Como pôde matá-los? Vale à pena a morte daquelas pessoas? Por que não ficou satisfeito com todo o dinheiro que tirou de mim? Por que tinha que ter mais? Há outras maneiras de se conseguir isso.— Disse mais controlado, respirando fundo vez ou outra.

Joseph pôs um prato cheio de comida em frente a mim, mas não toquei em nada. Ele me olhou longos minutos, então respirou fundo, e exalou lentamente.

—Eu tinha vinte e quatro anos quando você nasceu, e toda minha vida pensava que era o dono daquilo com o qual cresci. Eu amava o homem que pensava ser meu pai... e pensava que ele me queria bem.—Joseph endireitou os ombros, tremendo ainda.

—Naquela idade, as pessoas tendem a ser idealistas, você tem vinte e sete, mas ainda é... Na noite em que Marcus se matou, descobri que eu não era nada para ele. O testamento dele declarava que eu poderia permanecer seu guardião até que você tivesse vinte e um anos, e então deveria passar tudo a você. Quando isso acontecesse, eu deveria ir embora com as roupas do corpo e mais nada. Não creio que possa imaginar a profundidade do ódio que senti naquela noite pela criança chorona que arruinara minha vida toda. Eu não podia ter nenhum pensamento racional quando mandei você para uma mulher da fazenda para amamentá-lo e subornei os advogados. Esse ódio acompanhou-me durante anos. Era tudo em que eu podia pensar.—Ele fez uma careta, levando um gole de vinho até os lábios. —Mas toda vez que eu assinava um papel, sabia que em algum lugar havia uma criança de quatro anos que na verdade possuía o que eu estava comprando ou vendendo.—Refletiu amargamente. —Uma vez mandei lhe buscar, você era jovem, a fim de que pudesse ver por mim mesmo que você não valia o que meu pai lhe deixara... —Joseph sentou-se do outro lado da mesa, em frente a mim, com o olhar penoso.—...Bom, o doutor diz que tenho no máximo somente um ou dois meses de vida. Não disse a ninguém, mas de qualquer forma queria contar-lhe a verdade antes de morrer... —Pegou seu copo cheio de vinho e tomou-o todo.—...O ódio dói mais naquele que odeia do que no que é odiado. Todos aqueles anos em que morou aqui, eu o via e tinha certeza de que estava tentando tirar tudo que eu possuía. Vivia com medo que descobrisse a verdade e tirasse o que era meu e de meus filhos. E quando quis Rô para sua esposa, parecia que todos meus medos tinham se tornado realidade. Mais tarde, pensei que devia ter visto seu casamento com minha filha como uma solução, mas na ocasião... não creio que pudesse pensar de forma racional. —Encheu mais seu copo e tomou um bom gole de vinho. ——Mas, aí está, Cullen, a última confissão de um moribundo. É tudo seu. Se quiser pode levar. Hoje pela manhã contei a verdade para meu filho, sobre a quem pertencem minhas propriedades, porque não tenho mais força ou inclinação para lutar com você.

Recostei-me na cadeira e, olhando para Newton e vendo a coloração acinzentada de sua pele, percebi que não mais odiava o homem. Bella dissera que meu ódio por Joseph Newton havia servido de estímulo para conseguir o que tinha, e talvez ela estivesse certa. De fato, era como ela disse: houve injustiça em Marcus ter cortado Joseph de seu testamento, pois tenho como exemplo eu. Convivo com Tony há poucos meses e não seria capaz de negar-lhe o que tenho, isso porque convivemos pouco, imagine se o tivesse criado como filho desde criança, como no caso de Marcus e Joseph.

Enfim, tomei um gole do vinho que estava disposto à minha frente e olhei a comida.

—Por que tem que deixar os mineiros passarem fome para ganhar seu dinheiro?

—Fazer os mineiros passarem fome?—Joseph ofegou, os olhos saltando. —Ninguém no mundo compreende que não tenho lucro com os mineiros? O único dinheiro que ganho é em Seattle, na siderúrgica, mas todos olham o pobre e maltratado mineiro e acusam-me de ser Satã. —Levantou e começou a andar ao redor da sala. —Edward, só eu sei o que eu tenho feito para manter aquelas minas funcionando. Elas não são competitivas o suficiente. O ideal seria fechá-las e comprar carvão de outras minas para as minhas siderúrgicas, assim eu não teria o risco de me envolver com sindicatos. Mas e se eu as fechasse, como acho que seria melhor para mim, quem sairia perdendo mais? Sabe, Edward, eu posso contratar mineiros às centenas, mas não acredito que eles possam encontrar empregos tão facilmente.

Olhei para o homem mais velho durante um momento. Eu entendia de negócios, e sabia que às vezes têm que ser feitas compensações.

—E sobre a segurança da mina? Ouvi dizer que usa madeira estragada e...

—O diabo, que uso! Os mineiros têm seu próprio código de orgulho. Pode perguntar a seu tio se não estou certo. Contam vantagens sobre como são capazes de dizer até onde podem ir antes que o teto desmorone. Tenho sempre inspetores de mina por lá, e eles descobriram que os homens não perdem tempo em escorar conforme avançam.

Peguei o garfo ao lado do prato de comida, que estava à minha frente, e lentamente comecei a comer, mas então descobri que estava faminto e comecei a devorá-la.

—Você não os paga pelo tempo que passam escavando, não é? Eles são pagos pelo peso que retiram, certo?

Joseph pegou uma panela na minha frente e encheu meu prato com comida e carne outra vez.

—Contrato-os como subcontratantes, e depende de cada homem cumprir sua parte no contrato. Sabia que pago homens para inspecionar os chapéus dos mineiros? Os idiotas abrem os capacetes para acender cigarros e mandam o lugar para os ares. O inspetor tem que verificar até se os capacetes estão fechados com solda para evitar que se matem.

Estava tão faminto que nem lembrava dos bons modos que Bella me ensinara. Eu me sentia a vontade em conversar e ele estava se sentindo a vontade em se expor.

—Uma hora, você os trata como crianças e os tranca. Depois, eles têm que ser subcontratantes e assumir a responsabilidade pelo seu próprio... como se chama quando você tem que trabalhar, mas não recebe pelo trabalho?—Com a boca cheia, fazia gestos com o garfo.

—Trabalho morto. Faço o melhor que posso e ainda mantenho os mineiros trabalhando. Gostaria de comprar meu carvão de outra pessoa e só fazer aço, mas não posso pensar em deixar tanta gente sem trabalho. Cada vez que acontece alguma coisa assim...—Indicou a direção de mina Rosalie. —Digo que vou fechar as minas. Há uma grande competição para suprir carvão para as siderúrgicas de Seattle e eu poderia fechar todas as dezessete minas ao redor de Forks e ninguém daria por falta delas. Mas sabe o que aconteceria com esta cidade se eu fechasse as minas? Em dois anos, seria uma cidade-fantasma.

—Portanto, de acordo com você, está só fazendo um favor para a cidade.—Ergui a sobrancelha.

—De certa forma, estou.— Disse Joseph concordando.

—Imagino que esteja pagando seus acionistas, não?

—Não tanto quanto gostaria, mas faço o melhor que posso.—Sem perceber estava limpando o fundo do segundo prato de comida com um pedaço de pão.

—Então é melhor mesmo que comece a fazer o melhor. Acontece que tenho um dinheirinho meu, e posso decidir usá-lo em algumas ações judiciais contra os diretores da Newton Coal and Iron, e penso que toda a produção de aço e carvão possa ser suspensa enquanto essas ações estiverem no tribunal.

—Mas isso arruinaria Forks. Você não poderia...

—Penso que de alguma forma os proprietários da NC&I devam ter bastante interesse para evitar que isso aconteça.

Joseph olhou-me durante um longo tempo.

—Muito bem, o que você quer?

—Se os homens precisam de inspetores para protegê-los deles mesmos, eu quero inspetores, e quero os garotos fora das minas.

—Mas os corpos pequenos das crianças podem fazer coisas que um adulto não pode!—Protestou Joseph.

Limitei a dar-lhe um olhar e continuei com o ponto seguinte, tentando lembrar tudo que Bella me contara sobre os problemas das minas. Joseph protestava contra cada aspecto dos pedidos. Sobre as livrarias, afirmou que ler os torna descontentes... Sobre os serviços religiosos, reclamou sobre ter de pagar a pregadores de várias religiões. Sobre melhores moradias, Joseph disse que morar em cabana era saudável para os mineiros devido ao ar fresco que entrava pelas frestas na parede.

Conversamos e discutimos durante um bom tempo, com Joseph constantemente tornando a encher o meu copo de vinho. Por volta das nove horas, as minhas palavras começaram a ficar enroladas e minha cabeça se apoiava nos braços sobre a mesa. Resolvi fechar os olhos, cansados, por uns segundos, já que estavam ardendo, e comecei a ouvir tudo distante, lembrando que antes estava dizendo a Joseph que talvez os sindicatos não fossem tão maus como pensava.

Tudo que ainda ouvi foi sua voz distante, falando perto do meu ouvido, baixinho.

—Se tivesse um filho como você, poderia ter conquistado o mundo.—Murmurou antes de eu ouvir seus passos saindo da sala e em seguida me senti sendo coberto por algo e o sono me levou. Eu estava cansado demais para não aceitar.

Já era madrugada quando acordei, duro e dolorido por ter dormido na cadeira. Por um momento, não soube onde me encontrava. A sala estava escura, mas pude perceber o contorno de um pacote embrulhado em pano sobre a mesa e soube sem dúvida que o embrulho continha sanduíches.

Com um sorriso, enfiei a comida no bolso e saí da casa. De qualquer modo, sentia-me mais leve do que já tinha me sentido antes, e, ao voltar para a mina, tinha esperança de que, a partir de agora, minha vida iria ser diferente.

Na mina, o advogado Seth Black, irmão de Jacob, estava entrando no elevador para voltar ao túnel a fim de continuar a operação resgate. Resolvido, peguei o homem que estava com ele pelo colarinho, colocando-o para fora do elevador.

—Jacob, vá procurar alguma coisa para comer, agora. Eu vou dessa vez.— Disse incisivamente. Ele ousou retrucar, mas quando viu minha determinação suspirou. Quando a maquinaria começou descer, contei rapidamente para Seth a história de como tudo que Joseph Newton possuía era legalmente meu.

—Só que eu não quero mais que isso fique pesando como uma ameaça sobre ele. Eu não preciso desse dinheiro. Quero que me prepare um papel dizendo que dou de volta tudo para ele e a quem quer deixar, como herança. Quero isso feito logo porque o velho está morrendo.

Seth olhou-me com olhos cansados, aparentemente por ter passado a noite ali e concordou.

—Tenho um escritório cheio de funcionários com pouca coisa para fazer. Quando o sol nascer vou a cidade, peço que eles façam o documento e volto. Está bem assim?—Era madrugada, e eu não fiz mais do que acenar concordando porque, ao chegar ao fundo da mina, meu rosto contorceu-se com o cheiro.

Era o terceiro dia após a explosão, um total de quarenta e oito corpos tinha sido retirado de dentro da mina, e sete ainda não tinham sido achados. Na tarde do segundo dia, enquanto eu estava na casa do Newton, foram encontrados quatro corpos, ajoelhados, com as mãos tapando as bocas. Tinham sobrevivido à explosão maior, mas os gases os mataram.

Na cidade mineira, as casas de comércio estavam com tarja preta e as bandeiras a meio-pau. Jacob e eu, com a ajuda de Jasper, pedimos ao prefeito e recebemos a promessa de um posto de resgate que seria construído em um terreno doado por Joseph Newton. Ninguém ousou perguntar, mas ouvi cochichos de que eu tinha ido à casa de Newton e pedido a doação do terreno.

Isso não era verdade.

Depois que voltei da casa de Joseph na madrugada, nem tive tempo de contar Bella o que aconteceu, uma vez que ela tinha ido para algumas casas de mulher de mineiros assistir funerais, tentando confortar as viúvas e cuidando para que as crianças fossem alimentadas.

—Acho que é isto o que você quer.—Seth Black entregou-me um pedaço de papel, enquanto estávamos em frente da entrada da mina. —Depois disso estar acertado, podemos fazer um documento definitivo, mas acredito que este possa ser apresentado no tribunal.

Atencioso, examinei o documento que declarava que os direitos das propriedades dos Newton passavam a pertencer exclusivamente a Joseph Newton, para dispor dele segundo sua vontade.

—Se você assiná-lo, eu testemunho e arquivo. Tenho uma cópia aqui que pode dar a Newton.

Sorri para Black irmão.

—Obrigado.— Disse, pegando a caneta e assinando o papel. Guardei a cópia de Newton. —Acho que levarei isto para ele agora mesmo. Talvez isso o induza a começar um programa para treinar homens para resgate em minas.Ao descer a montanha em direção a Forks, olhei o campo e pensei no horror dos últimos dias. Ainda havia muito a fazer e eu tinha algumas idéias para prevenir futuras explosões. Planejava conversar com Jasper sobre minhas idéias, e com Jacob também. Mas e por que não com Newton? Sorri para mim mesmo, aliviado. Com sensação de paz.

Quando pensava na morte próxima de Newton, sentia alguma tristeza. Afinal, crescera vendo esse homem a maior parte de minha vida, até que tivesse dezesseis anos. E agora, o dono das minas seria Anthony, isto é, depois de Mike. Por alguma razão, pensei, todos pareciam esquecer-se de Mike.

Quando cheguei ao caminho da velha casa dos Newton, vi que a porta da entrada estava aberta. O pedaço do batente que tinha chutado na véspera já fora consertado, e o vidro recolocado, mas a porta estava totalmente aberta.

Desci do carro e chamei, enquanto entrava na casa, mas não tive resposta. O escritório de Joseph era no fundo da casa, eu lembrava-me claramente que a última vez que estivera nessa sala fora quando Joseph me pusera para fora, por querer casar-me com Rô.

Pus o papel sobre a escrivaninha e imaginei como minha vida teria sido diferente se tivesse me casado com Rô e não tivesse tido oportunidade de fazer minha própria fortuna... Algo doeu em meu peito ao pensar em ter me casado com Rô, pois assim não teria tido a oportunidade de me casar com a minha garota Forks.

Eu estava com uma saudade enorme dela por ter perdido tanto tempo. Desde o meio da tarde do dia anterior que eu não a via. Ao pensar nisso, fiquei imaginando, de novo, se Bella teria se casado comigo caso eu não tivesse alguns milhões no banco.

Chamei outra vez, mas continuei sem resposta. Resolvi sair da casa pela cozinha, um caminho que era bastante familiar para mim. A cozinha também estava vazia e a porta dos fundos aberta. Ao alcançar a porta, vi as estreitas escadas que levavam ao andar superior.

Quando morava lá, sempre quisera ver o andar de cima da casa. Desejava possuir a casa, algum dia. Ri ao pensar na casa que construíra levado pela raiva de nunca ter sido capaz de ver o andar de cima da casa dos Newton.

Com a mão no corrimão, a curiosidade superou o meu bom senso e subi as escadas de dois em dois degraus. Apressadamente, como um ladrão temeroso de ser pego, cheguei até o hall superior e olhei os quartos de dormir. Eles eram bastante comuns, com móveis pesados, enfeitados e escuros, cortinas pesadas e deprimentes, e papel de parede.

—Bella tem um gosto muito melhor.—Resmunguei e ri da minha própria observação.

Ainda estava rindo quando cheguei ao topo da outra escada, a escada da frente, mas meu sorriso se apagou imediatamente. Ao pé das escadas, caído e dobrado sobre si mesmo, Joseph Newton estava desacordado. O primeiro pensamento que nublou minha mente fora que chegara muito tarde e agora Joseph nunca saberia que por fim era o proprietário legal de tudo pelo qual tanto trabalhou. Senti tristeza também.

Durante todos os anos que trabalhara em Nova York e na Califórnia, tudo de que podia me lembrar era de quando engraxava as botas de Newton. Mas agora me lembrava das vezes em que fizera Joseph passar maus momentos ao embaraçá-lo na frente dos convidados, de discutir com ele sobre quando podia e não podia ter seu próprio cavalo. Lembrei-me ainda de como convencia a cozinheira para que botasse cebolas no molho, ambos sabendo que davam indigestão a Joseph.

Lentamente, comecei a descer as escadas, mas tinha dado somente um passo quando Mike Newton e cinco de seus amigos jovens entraram. Pelo estado de suas roupas e suas vozes altas, parecia que estavam voltando de alguma bebedeira na cidade. Parei e olhei para trás novamente, temendo a situação.

—Se Cullen pensa que vai tirar minha herança.—A voz de Mike Newton era pastosa. —Terá que brigar comigo. Ninguém nesta cidade acreditará em Cullen contra mim.

As duas mulheres e os três homens gritaram concordando com Mike.

—Onde está o uísque, amor?—Perguntou uma das mulheres.

Como um todo, as pessoas pararam olhando espantadas para o corpo de Joseph Newton caído ao pé da escada. Foi Mike quem levantou o olhar e me viu parado no alto da escadaria.

—Eu vim ver seu pai.—Comecei, mas Mike não me deu tempo de terminar.

—Assassino!—Mike gritou e subiu as escadas em um pulo.

—Espere um pouco!—Gritei, mas ninguém me deu a mínima atenção, enquanto os outros três homens pularam também sobre mim.

Todos os cinco descemos rolando as escadas e eu pensei que uma vez que era o único sóbrio, provavelmente seria o único ferido. Apesar de serem quatro contra um, eu estava ganhando a briga. Mas então uma das mulheres bateu na minha cabeça com uma pesada estátua de bronze. Fazendo com que eu perdesse os sentidos, ficando entre o acordado e dormindo.

—E agora, o que faremos?—Uma das mulheres murmurou longe.

—Vamos enforcá-lo.—Gritou Mike, começando a me levantar, mas não conseguiu, pois ninguém se ofereceu para ajudar. Eu não sentia minhas pernas, era como se estivesse sido dopado, só ouvia as vozes. —Ele matou meu pai.

—Não há bastante uísque no mundo que me faça ficar bêbado a ponto de enforcar um homem tão rico como ele.— Disse um dos homens. —Enquanto ele está desmaiado, vamos levá-lo para a cadeia. Deixe que o delegado resolva o que fazer.

Mike resmungou, mas estava muito bêbado para começar outra luta. Com grande esforço, ergueram meu corpo para colocar-me em algum lugar. Apaguei de vez.

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.

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—Vamos, tome isto.—Acordei ouvindo a voz de Jasper, ele segurava minha cabeça.

Com um gemido, tentei sentar-me, mas a dor em minha cabeça fez com que me encostasse na fria parede de pedra.

—O que aconteceu?—Olhei e vi Jasper, Jacob e o delegado curvando-se sobre mim.

—Foi tudo um engano.— Disse Jake. —Contei ao delegado sobre o documento e a razão de sua ida à casa de Newton.

—Ele estava morto? A mim pareceu que estava.—Eu queria mesmo saber. Uma parte de mim não conseguia acreditar que ele tinha morrido sem saber que eu tinha... lhe perdoado. Levantei a cabeça repentinamente, causando mais dor. —A última coisa de que me lembro é de Mike Newton e alguns bêbados me puxando para algum lugar.

Jasper sentou-se na cama onde eu estava esticado. À minha direita, estavam as grades da prisão.

—Pelo que soubemos, os criados encontraram Joseph Newton morto, cerca de três minutos antes que você entrasse na casa. Por alguma razão, todos saíram para procurar ajuda e deixaram o corpo sozinho com a casa aberta. Então, Mike e os amigos chegaram e viram você parado no alto da escada. Pensaram que você o tinha empurrado pela escada. Você tem sorte, porque Mike queria enforcá-lo no portão da frente.

Esfreguei o calombo na parte de trás da cabeça.

—Enforcamento não pode doer mais do que isso.—Resmunguei.

Jasper gargalhou.

—Está livre para sair, Sr. Cullen.— Disse o delegado. —E sugiro que vá embora antes que sua esposa saiba. As mulheres sentem muito quando os maridos são presos.

—Bella não. Ela é uma dama de verdade. Ficaria calma se me enforcassem.—Nem bem disse essas palavras, um novo pensamento surgiu. Como Bella reagiria se pensasse que eu era um assassino? Não ouvi certa vez que todas as propriedades dos assassinos são confiscadas pelo Estado? Ou seria que uma pessoa não podia herdar de quem matou?

—Quantas pessoas estão sabendo disso? Os criados de Newton podem testemunhar que sou inocente, mas esse fato já se espalhou pela cidade?—Perguntei, a idéia brilhando em minha mente.

—Chamei Jacob assim que vi o jovem Newton empurrar você para fora da carruagem.— Disse o delegado intrigado com a minha pergunta. —Creio que não deu tempo de se espalhar.

—Todos estão muito preocupados com a explosão da mina para se interessarem por quem é levado para a prisão.— Disse Jacob. —Todos os repórteres estão na mina Rosalie tentando inventar novas maneiras de descrever os corpos.—Acrescentou com uma careta.

Jasper, há algum tempo me olhava em silêncio.

—O que está você planejando?—Perguntou Jasper, com os olhos semicerrados.

Fiquei em silêncio durante um momento.

—Delegado, o senhor se importa se eu ficar aqui por uma noite? Gostaria de fazer uma brincadeira com minha esposa.

—Brincadeira? Mulheres geralmente não apreciam brincadeiras.— Disse o delegado.

Olhei para Jake e Jasper.

—Posso contar com vocês dois para ficarem quietos durante vinte e quatro horas?Jasper levantou-se e, ao ver a expressão perdida de Jake, falou. —Meu palpite é que ele quer ver se Bella ficará ao seu lado, mesmo se lhe disser que poderá ser condenado como assassino. Estou certo?

—É alguma coisa parecida com isso.—Concordei, coçando a barba por fazer.

—Não vou interferir em assuntos de amor.— Disse o delegado. —Sr. Cullen, se quiser fixar residência nesta cadeia, seja meu convidado. Mas a cidade de Forks vai cobrar-lhe como se isto fosse o mais fino hotel de São Francisco.—Ele riu.

—Bastante justo.—Respondi. —Jake? Jasper?—Arquei a sobrancelha indagativo.

Jacob deu de ombros. —Isso é com você. Conheci Bella durante quase toda minha vida e nunca soube nada sobre ela.

Jasper olhou para mim por um longo momento.

—Quando Bella passar neste teste - e ela passará - desistirá de sua obsessão em duvidar dela, a fim de que possamos voltar a trabalhar? Vanderbilt, provavelmente, já comprou aquela região da costa leste.

Respirei profundamente, sorrindo para meu amigo.

—Bem, ele pode nos vendê-la de volta. Trataremos disso logo que sair deste lugar.— Disse com um sorriso malicioso.

Quando os homens saíram, tomei um banho na sala do delegado, vesti roupas listradas, que presos usam, lanchei com o delegado, depois voltei para cela, deitei-me na cama e dormi.

Bella POV

Estava com um bebê de três meses no colo, tentando fazê-lo dormir. Tinha mais um de dois anos e outro de quatro na cama ao seu lado. Eram algumas das muitas crianças que haviam perdido os pais nos últimos dias. A mãe deles estava fora de si, tentando imaginar como iria sustentar-se e a seus filhos pequenos nos próximos anos. Eu era uma das voluntárias para ajudar em um improvisado centro de assistência infantil, uma coisa nova que Annebell vira na Califórnia.

Quando o representante do delegado veio até a pequena tenda e perguntou por mim, não tinha idéia do que ele queria.

—Seu marido foi preso pelo assassinato de Joseph Newton.— Disse o jovem, em tom imponente.

Levei um momento para reagir, e meu primeiro pensamento foi que o temperamento de Edward tinha prevalecido no fim das contas.

—Quando?—Consegui murmurar.

—Hoje meio dia. Eu não estava lá, portanto não sei muito a respeito, mas todos na cidade sabem que ele ameaçou a vida do velho Newton. Não que alguém o condene, porque nós todos sabemos que Newton é tão culpado como o diabo, mas isso não vai ajudar Cullen em nada. Eles enforcam tanto por se matar um homem mau quanto um homem bom.

Lancei-lhe o meu olhar mais gelado.

—Agradeceria se você não julgasse e condenasse meu marido antes de ouvir os fatos.—Pus o bebê nos braços do rapaz. —Pronto, você toma conta dos bebês enquanto vou ver meu marido.

—Não posso fazer isso, Anne-Bella, estou a serviço da cidade. Sou um representante do delegado.

—Tive a impressão que você acreditou que era um juiz.—Ironizei com toda a calma. —Verifique as fraldas dela e veja se precisa trocar. Se os outros acordarem, dê-lhes comida e distraia-os até que a mãe deles volte, dentro de umas duas horas.

—Duas horas!—Ainda ouvi o rapaz reclamar, ao deixar a cabana.

O meu carro estava fora, esperando por mim, uma vez que eu tinha pego mais cedo. Fiz a viagem para a cadeia em tempo recorde. O pequeno edifício estava construído sobre um morro afastado da cidade. A maioria dos presos eram bêbados descansando da noite. E os casos graves eram geralmente levados para Seattle, para serem julgados.

—Bom dia, Srta. Anne-Bella.— Disse o delegado, levantando-se e, apressadamente, abaixando seus papéis.

—Sra. Cullen.—Corrigi. —Gostaria de ver meu marido, imediatamente.— Disse incisivamente.

—Claro, Sra. Black-Cullen.— Disse, retirando as chaves de um gancho na parede.

Edward estava adormecido na cama e vi o sangue seco atrás de sua cabeça. Fui até ele, toquei seu rosto, enquanto ouvia a porta da cela ser trancada atrás de mim.

—Edward, querido, o que fizeram com você?—Comecei a beijar seu rosto e ele começou a acordar.

—Oi, Bella.—Falou Edward esfregando a cabeça. —O que aconteceu?

—Você não se lembra? Eles dizem que você matou Joseph Newton. Você não o matou, não é?—Perguntei, olhando para a roupa que ele vestia.

—Inferno, não.— Disse fazendo careta, então ajoelhei-me, pondo a cabeça em seu colo. —Pelo menos acho que não. Eu... eu realmente não me lembro muito bem.— Disse acariciando meu cabelo.

Com o rosto encostado na perna de Edward, a mão dele em meus cabelos, eu estava determinada a não mostrar o medo que sentia.

—Diga-me do que é que se lembra.—Pedi, meu coração correndo em frenesi.

—Fui ver Newton e não havia ninguém na casa. Então, subi procurando por ele. Quando cheguei à parte da frente, lá estava ele caído ao pé da escada. Morto. Logo depois Mike Newton e alguns outros entraram e começaram a gritar que eu o matara. Houve uma luta e fui ferido na cabeça com alguma coisa dura e acordei aqui. Penso que quiseram me enforcar.Olhei para ele, com medo nos olhos, e, depois de um momento, levantei-me e comecei a andar em volta da cela.

—É uma história muito fraca.

—Fraca!—Edward estava ofegante, mas acalmou-se. —Bella, lindona, é a verdade, juro para você.—Ele olhou suplicante.

—Você era o único na casa? Não há testemunhas de que ele já estava morto quando entrou?

—Não exatamente desse jeito. Quero dizer, ninguém me viu entrar na casa, pelo menos é o que acho. Mas talvez alguém tenha visto Newton morto, antes.

—Isso não importa. Se alguém o viu morrer, isso faria diferença, mas você podia estar escondido em um armário há horas. Alguém o viu morrer?

—Eu... eu não sei, mas, Bella...—questionou triste.

Voltei a sentar-me na cama ao lado dele, sentindo-me como se estivesse em um sonho. Desde que descobrira que Edward casara-se comigo para realizar um plano de vingança, nunca mais me sentira a mesma. Eu admitia que o amava, a despeito do que ele sentia por mim, mas em meu coração sempre soube que alguma parte oculta impediria nosso amor de ser completo.

—Edward, todos na cidade ouviram você dizer que desejava que Joseph estivesse morto. A menos que haja uma testemunha ocular de sua morte, nós nunca provaremos que você é inocente. O que vamos fazer?

—Não sei, mas acho que estou começando a me preocupar... Bella, há uma coisa que quero lhe dizer. É sobre o dinheiro...Ele se aproximou de mim e começou a me beijar no pescoço, de um jeito estranho, olhando com pesar em meu rosto. Seus dedos se prenderam em meus grampos e soltaram meus cabelos. Seus lábios subiram para os meus lábios, mas minha mente estava trabalhando demais para relaxar. Ele estava muito calmo para quem estava em uma cadeia.

—Edward.—Murmurei suavemente, olhando para ele. —Por que estava na casa do Sr. Newton? Não estava realmente planejando matá-lo?

—Droga, lógico que não.—Falou rapidamente, e então deslizou os dedos em minha nuca. —Eu passei o dia longe de você e não pude te contar, mas eu havia pedido ao Sr. Black que fizesse um documento dizendo que eu desistia de todos meus direitos à propriedade de Newton, e estava levando o documento para ele.—Ele pegou meu rosto em suas mãos, encostando as nossas testas. —Mas quero lhe falar sobre o meu dinheiro. Se eles me condenarem, irão confiscar tudo que possuo. Você será não só uma viúva, como ficará sem o meu dinheiro também. Sua única chance de salvar algum dinheiro é deixar-me agora, antes que eu vá a julgamento. Se você fizer isso, Black pode dar um jeito para que tenha alguns milhões.

Disse pausadamente, com os olhos fechados, dor em seu rosto. Ouvi sem atenção a última parte do que ele estava falando. Eu estava muito atordoada para pensar nisso.

—Por que foi à casa de Newton?

—Já lhe disse—Ele se afastou um pouco, com impaciência. —Queria lhe dar um documento dizendo que eu não tinha direito à sua propriedade. Pobre homem, estava morto quando cheguei lá e nunca viu o documento.—Ele pegou meu rosto de novo, parecendo torturado.

—Mas, Bella, o que interessa é que você tem que salvar-se e tem que fazê-lo agora. Se me tirarem daqui e me enforcarem, será muito tarde.

—Você desistiu de sua vingança, não foi?—Perguntei carinhosamente, acariciando seu cabelo. Ele tinha se casado comigo como parte de um estúpido plano de vingança, mas no fim se apaixonara por mim e, por causa desse amor, pôde perdoar o velho homem que o prejudicara.

Agora eu sabia com cada fibra de meu corpo que ele me amava.

Edward POV

—Eu não queria me vingar dele. Por favor, meu amor, vai começar de novo? Já lhe disse que tudo que queria era tê-lo na minha mesa, em uma casa que fosse maior que a dele. Se você considera isso vingança, então era uma vingança, mas se pude fazer isso, o que há de errado?

—Mas você também queria uma dama como esposa na mesa. Você só se casou comigo porque...

—E você casou-se comigo pelo dinheiro, qual o problema disso? Eu não te condeno por isso.— Disse impaciente, afastando-me completamente dela, esperando por um momento que ela negasse. Como ela não negou, olhei firmemente para ela. —E agora vai perder cada centavo dele quando me enforcarem, por um crime que não cometi.—Murmurei baixo.

Ela levantou-se, com o semblante firme, queixo duro e algo cortou minha espinha. Eu tinha ido longe demais. Talvez fosse melhor não ter brincado. A verdade poderia me fazer muito mal.

—Tenho que ir. Tenho muito trabalho para fazer.

No momento minha vontade era abraçá-la e pedir que ela não fosse, que não me deixasse. Mas na mesa da minha casa eu prometi deixá-la livre, caso ela quisesse ir. Por um momento eu pensei que ela me amasse, e que não quisesse meu dinheiro, mas agora que tinha certeza, só restava retribuí-la pelo tempo de felicidade que me deu, dando-lhe o dinheiro que ela tanto queria... depois, o certo era deixá-la seguir o seu caminho.

—Acho que deve ir conversar com Seth Black sobre o dinheiro.—Informei, deitando na cama novamente.

—Alguém...—Murmurou ela, puxando as luvas. —Talvez o Sr. Black não seja a pessoa certa.—Distraidamente, beijou o meu rosto. Eu me segurei para não puxá-la em meu peito, tamanha era a dor que eu sentia, mas me contive. —Não se preocupe com nada. Sei exatamente o que fazer.

Deixei-a, melancólico, na porta, sabendo que eu pegaria o primeiro trem para fora da cidade minutos depois que ela saísse. Não iria nem mesmo passar em casa. Ligaria para Jasper e pediria que ele me mandasse meus documentos.

Ela saiu rapidamente, e eu fiquei no meio da cela por um momento, incapaz de me mover. Certamente ela pulava de alegria com a chance de livrar-se definitivamente de mim. Subi na cama para olhar pela janela e, ao ver Bella disparando em seu carro, tive que piscar os olhos para tirar a umidade deles.

—Droga de cisco.—Limpei os olhos, respirando fundo, impedindo que lágrimas escorressem.

Fácil de conquistar, fácil de perder, disse para mim mesmo, chateado por ter tido certeza. Eu estava mais feliz com a mentira, pois pelo menos podia tê-la. Mas agora ia tentar viver sozinho de novo. Vivi muito tempo sem ninguém, e poderia viver assim de novo.

—Delegado. Pode me deixar sair agora. Descobri o que queria saber.

—De jeito nenhum, Cullen.—Respondeu com um riso. —A cidade de Forks precisa da renda que vou lhe cobrar pela acomodação de uma noite.

Sem uma palavra de protesto, voltei para a cama. O que era mais uma noite ali, perto dos vários dias que passaria longe da cidade?

Realmente não me importava de passar a noite ali.


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Notas finais do capítulo

Oie, já passaram na noca fic Dupla personalidade?Tem capítulo novo lá tb.Bjus