I Miss You escrita por mandyoca


Capítulo 10
Capítulo 10




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  Eu olhei para cima e vi que era Dave, usando uma camiseta preta. Pela primeira vez ele não usava nenhum casaco (sem contar o dia em que ele tirou o blusão e a camiseta. Mas hoje ele estava só com essa camiseta super linda, que caía muito bem em seu corpo escultural), e isso era ótimo porque lhe caía bem. Cof, cof.

  - Que é? – Me joguei na cama e me cobri com o cobertor porque eu estava de pijama ainda. Mas pelo menos salvei o meu cabelo, que estava preso na trança que eu fazia todo glorioso dia (ou noite, por assim dizer).

  - Não se estresse, Kristal. Eu queria ver como você estava. – Sentou na beira da cama. – Como está o seu namoro?

  Peguei o meu travesseiro e bati em Dave uma vez. Depois, coloquei de volta em seu lugar e me tampei completamente com a coberta.

  - Sai daqui. – exigi como uma criança birrenta. Por que ele não me deixa em paz em vez de piorar as coisas? – Eu disse que não tem nada entre eu e ele, por que você também está insistindo?

  - Corta essa, eu vi vocês dois se beijando. – Tentou puxar a minha coberta, mas eu lutei contra isso. – Todo mundo viu. Tem vídeos de vocês no You Tube. Parecia que ele ia... te engolir. E eu tenho minhas duvidas se era isso o que ele estava querendo de verdade, porque se você der uma passada na internet, verá.

  - Você pesquisou de mim? – arfei, cedendo. Ele pode tirar a coberta e eu nem lutei contra isso. – Por que você fez isso?

  - Eu não sou bobo. – Revirou os olhos. – Não dependo só da internet para ficar sabendo das coisas. Só me mandaram um e-mail. Como descobriram o meu? Não faço ideia. Mas me mandaram e eu assisti. Devem ter te mandado também.

  - Ah, meu Deus. Gravaram o meu primeiro bei... – Eu quase falei em voz alta. Na frente do Dave. Mas ele entendeu.

  - É só uma gravação. E olha que bom, você vai sentir a “magia” da mesma sensação sempre que você ver o vídeo. – meio que zombou. – Você não esperava que eles fossem gravar, não é? Mas eles só gravaram depois da metade do beijo. Só que eu tenho o vídeo completinho, completinho.

  - Como assim? – Meu coração começou a bater mais rápido.

  - Não é culpa minha. – Ele ergueu os braços como quem se rende. – Eu simplesmente tenho. Como eu simplesmente falo demais.

  - Fala demais mesmo, mas nunca dá informações suficientes. E eu me decidi. Eu vou pesquisar sobre a sua vidinha até descobrir quem é você.

  - Descubra antes sobre você mesma, Kristal Steven. – Ele colocou a mão em meu rosto e então correu para fora. – Fique bem com o namorado! – gritou enquanto fugia com a sua rapidez.

  - Filho da p... – comecei, mas parei assim que vi que a terceira pilha de fotos tinha diminuído essa noite outra vez. Eu já tentei colocar a cadeira do computador apoiada na porta para que ela não abrisse.

  Ou pelo menos fizesse um barulhinho para me acordar.

  Só então percebi que o rádio ainda estava tocando, porém baixinho... Quase não se dava para ouvir. Era dessa vez era Green Day, um som totalmente diferente de algo como Marjorie Estiano, mas eu gostava. Eu curto bastante qualquer música dessas estações “POPs” – não porque viram moda, mas porque essas sim mostram algum significado, coisa que outras não fazem. São as mais atuais, e isso é ótimo. 21 Guns era o nome da que estava passando.

  Quando você está no fim do caminho
  E você perdeu todo o sentido do controle
  E seus pensamentos aceitaram seus pedágios
  Quando sua mente quebra o espírito de sua alma
b34;

  Essa é a minha parte favorita dessa música. Aumentei o volume do rádio enquanto o primeiro refrão passava. Eu fui até a minha escrivaninha. Faltavam apenas duas simples fotos de três pilhas. Três pilhas de umas vinte fotos! E agora só tem uma pilha, e com duas figuras. Legal. Esse ladrão já deve saber que eu reparei, até mesmo pelo fato da cadeira e tal. Mas por que ele continua se arriscando? Ele quer que eu o pegue por um acaso? O que é isso?

  E quando essas fotos acabarem, o que ele vai tentar pegar? Fios de cabelos meus até eu ficar careca? Não deve ser isso. Mas quer saber? Eu desconfio de um cara, o único que é obcecado por mim de forma que chega a ser rude.

  Luan.

  Ele disse da primeira vez que me viu. Ele pode estar entrando aqui para pegar as minhas coisas, e assim substituir o que ele não pode ter nem por todo o dinheiro do mundo. Eu.

  Eu posso acidentalmente tocar no assunto com ele. Eu tenho certeza de que é Luan que entra aqui! Quem mais entraria? Ele sabe onde é a minha casa. Ele deixou umas cinquenta flores do lado de fora da minha casa. Por que ele não faria algo desse tipo para que tenha coisas da amada e possa continuar a sonhar?

  Então, o que ele vai fazer? Vai ficar vermelho ao ver que eu descobri o culpado? Seu coração vai se acelerar tanto que ele vai passar mal? Ou toda a cor de seu corpo irá sair, fazendo com que ele pareça um fantasma? Eu estou fazendo um palpite. Acho que ele vai admitir tudo e devolver. Assim, se esquecerá de mim porque eu vou provar que não sou uma estúpida qualquer. E ele irá se arrepender.

  Não há como falhar.

  Eu te peguei, seu inútil. Não tem como escapar mais.

  AH! Eu preciso pesquisar sobre Dave. Eu falei para ele que ia descobrir sobre a sua vida, não falei? Por isso liguei o computador de novo, mas não entrei no MSN. Era eu e Google, Google e eu. Ninguém mais.

  Por isso digitei as palavras no site de busca mais famoso: Dave Marcel Loyer.

  Apareceram vários sites nada a ver, como pessoas chamadas Dave, ou gente com sobrenome Loyer. Tinha até povo chamado Marcel. Mas nada de Dave Marcel Loyer junto, exceto na terceira página, onde um site me chamava a atenção. Entrei, feliz, talvez curiosa porque eu havia descoberto o tal site que eu queria tanto saber, onde ele supostamente trabalhava e ganhava bastante dinheiro de doação.

  Mas era o site errado. Acho que davemarcelloyerhaters.com não deve ser um site criado por ele, certo? Mas será que ele tinha algum conhecimento sobre isso? Bem, um quadrado falava um pouco dele.

  Dave Marcel Loyer.

  Um otario qualquer, um garoto esquisito e estupido. Mau educado por nem nos responder quando falamo alguma coisa. Ele é alsente, senpre está sumido nos intervalos das aulas. Isso nao é exemplo de pessoa. Dave Marcel Loyer deve ser odiado por se achar tao superior aos outros a ponto de fazer um ato tao injussto.

  Eu parei de ler. Sabe, com esses erros de ortografia, eu não tinha vontade de continuar lendo mais nada. Mas quem é a pessoa que escreve ausente com l, e injusto com dois s? Os acentos e plurais não colocados, até vai. Mas isso? Por favor, existe a escola. E criar um site para exibir a todos o quanto odeia? Isso é infantil! Por que essas pessoas não se tocam e viram a página à caminho da maturidade?

  Mas no finalzinho do texto cheio de erros impossíveis e sem graça, estava os nomes. Não era apenas um indecente, mas muitos indecentes.

   Luan Scott, Yolanda Monaghan, Gabriele Scott, Cristina Ivanov, Amélia Stern, Melissa Dempsey, Rob Quinlan, Mario Evans, Regina Dunn, Evandra Sussman, Mariana Marks, Evangelina Links.

  Todos eles são pessoas ruins. Todas as pessoas que fazem esse tipo de site são pessoas ruins. Eu me lembrava do rosto de cada um, eu já havia decorado e me acostumado a conhecer todo mundo desse colégio. Luan é mesmo um porco, uma pessoa totalmente boba. Seu nome está em primeiro lugar e deve ser com razão ainda por cima. Ele deve ter criado tudo isso. Não sei quanto tempo faz, mas viajando pelo site eu encontrei uma merda de atualização, e ele usava o meu nome.

  Kristal Steven, mesmo sendo a minha amada namorada, vive protegendo Dave Loyer. Ela diz que ele nao é esquisitinho nem mudo. Claro que o cara esta super afim dela mas eu nem sei se ela sabe. Só que o cara não se toca que ela esta comigo e não com ele. Alguem precisa dar um jeito nesse deshumano que não fala.

  Desumano com h.

  Não importa que ele tenha feito esse site há três anos ou sei lá o quê. Mas agora me envolve. E eu não suporto isso! Imprimi essa página ridícula e fiquei nervosinha. Quem não ficaria?

  Dia seguinte uma foto sumiu de novo. Eu não fiquei surpresa, eu já sabia que isso ia acontecer. Mas depois de ter falado com Dave desse site – que no caso ele disse que já sabia – no recreio fui falar com Luan. Nós estávamos no meio daquela pracinha legal que sempre lanchávamos, e parecia até que todo mundo parou para nos olhar quando eu cheguei perto dele. Eu segurava o papel imprimido com força contra a minha cintura enquanto eu me aproximava.

  - Amor! – Luan gritou.

  - Não venha com essa de amor. – falei num alto e bom som. – Você é ridículo, e eu estou acabando agora mesmo o que nunca começou. Se você vai sair espalhando que está namorando comigo, pelo menos faça isso direito. Mas sabe o que é ruim? Você-não-consegue!

  - Por que você está falando isso? – disse mais baixo.

  - Idiota, eu falei para você parar de falar do Dave, e você corre para escrever isso num site. – Ergui a folha que eu havia imprimido noite passada. – “Mesmo sendo a minha amada namorada”, e eu nem namoro com você. “Vive protegendo Dave Loyer”, você tem ciúmes? Ele é muito melhor do que você. “Ela diz que ele não é esquisitinho, nem mudo”. E não é! Porque ele fala comigo. E ele não é qualquer imbecil, porque não cai nas suas. “Alguém precisa dar um jeito nesse desumano que não fala”? Olha, só para a sua informação, desumano não se escreve com h.

  - Poxa, amor, desculpe. Eu não sabia que isso ia ofender tanto. – falou mais alto apenas por causa da palavra “amor”.

  Eu quase podia ouvir a música Superafim, do Cansei De Ser Sexy tocando. Pior que eu não aguentava mesmo esse homem.

  - Não me chame de amor. – retruquei. – Eu disse para você que não te amava e você insistiu! E eu agradeço se você parar de pegar as minhas coisas de noite. – falei mais baixo essa última parte porque ela com certeza não ajudaria.

  - É, eu passo todas as noites com você. – quase berrou. – Mas você dorme como uma pedra, Kristal!

  - Vá se foder. – Amassei o papel e joguei nele, indo para trás. Agora ele não disse nada, e todo mundo olhava para Luan rindo.

  Eu procurei Dave e não o achei. Fiquei sozinha o recreio inteiro, porque apesar de conhecer todo mundo, sempre estavam junto às pessoas que organizaram aquele site ridículo contra um amigo meu.

  E eu não aceito isso.

  O sinal bateu e eu fui para a sala de aula. Desde que eu comecei a passar mais tempo com Luan, Dave voltou a sentar na cadeira do outro lado da sala, bem longe de mim. Ele só vivia me olhando, me encarando, analisando tudo o que eu fazia. Eu estava tão para baixo. E o pior: Eu acho sinceramente que eu estou começando a ficar com peso na consciência. Isso iria fazer efeito mais tarde, a não ser que Luan tire essa cara de cachorro sem dono.

  A professora de inglês havia perguntado para Luan o que houve. Ele respondeu nada mais, nada menos do que um álibi seu.

  - A minha namorada acabou comigo. – murmurou como um coitadinho. – Ela gritou comigo no recreio.

  - Que droga, Luan! Eu nunca namorei com você! – gritei. Imediatamente, todo mundo virou suas caras curiosas para a minha direção e começaram a me encarar profundamente como se eu fosse uma criminosa. – Ele espalhou esse boato ridículo, mas quando me pediu de verdade, eu recusei. Foi isso que aconteceu, só que ele continua negando até para si mesmo. Ele está crente que eu estou apaixonada por ele, mas eu não estou. E eu não vou perder o meu tempo namorando com alguém que eu não amo, me desculpe.

  - Kristal – chamou Stela, a professora de biologia. -, você não acha que deveria dar uma chance pra ele? Luan parece gostar mesmo de você. E, bem, acho que nunca aconteceu – tossiu uma vez -, acho que nunca aconteceu isso antes. – falou mais baixo, virando o rosto, sem graça. Olhei para Yolanda.

  Ela estava tão brava, lançando um olhar muito “dumaw” para a professora, que agora devia estar pensando: “Eu deveria ter ficado quieta.”

  - Ele está acostumado a ter tudo que quer. – falei. – Mas eu não vou ser uma propriedade dele, porque dinheiro não me compra.

  - Eu te amo, Kristal. – Ele virou aqueles seus olhos delicados na minha direção. – Por que você não aceita isso?

  - Eu aceito o seu amor por mim. – Revirei os olhos. – Não sou uma bruxa para proibir os seus sentimentos. Mas eu não te amo. Eu prefiro ficar mal na fita e ser alguém que eu não sou a fingir estar sentindo uma coisa que não estou.

  - Me dê uma chance. – pediu.

  - Eu-não-quero. Quer-que-eu-soletre? – falei como se estivesse falando com alguém com problemas mentais sérios.

  - Poxa, Kristal, veja só o rostinho dele. – Stela sorriu. – Não vai nem falar alguma coisa que faça essa expressão tristonha sumir?

  - Claro, vou falar. – Até levantei da cadeira e cheguei mais perto. Inclinei-me e coloquei a mão em seu rosto. Dave me estranhou de verdade. – Você não é quem as pessoas pensam que são, caso contrário você não teria dito o que falou de Yolanda. Você é falso. – Dei um tapinha em seu rosto, não agressivo, mas bem devagar. Então sentei novamente.

  - O que ele falou? – Yolanda se levantou, dessa vez nervosa. – Diga agora mesmo, Kristal Steven, O QUE ELE FALOU DE MIM?

  - Eu não sou dedo-duro, Yolanda. Mas se você perguntar para ele, ele talvez fale. Não se esqueça de que eu tenho o registro no meu computador, Luan. – eu disse num tom diabólico. – Você precisa ser mais sincero. Falar apenas o que não é mentira. Sabe o que você faz? Pense em dizer algo. Se for estúpido, simplesmente não diga. Quem sabe você também fala bem menos?

  - Bem menos quanto o seu mudo? – Luan levantou, e agora todos os outros levantaram também. Professora Stela tentou acalmar as pessoas, sem sucesso. – Você quer que eu seja um esquisito como ele? Assim eu vou ganhar o seu coração, Kristal? Por que você faz isso?

  Dave se levantou assim que Luan começou a chegar mais perto.

  - O quê? – Luan disse ao Dave. – Você vai protegê-la? Eu não sou uma ofensa, seu idiota que nem sabe falar.

 - Se eu fosse você, eu ficava quieto, Luan. – sussurrei.

  - Quieto novamente como ele? Acho que você gosta bastante do silêncio, Kris. – Luan provocou. – Esqueça Dave!

  - Cala a boca, Luan! – Lancei um olhar de sofrimento. – Talvez eu goste mesmo do silêncio! Talvez eu goste que as pessoas prefiram ficar sem falar comigo a correrem contar para todo mundo o quanto eu sou estúpida.

  - Então fica com esse idiota. – Apontou Dave com a cabeça. – Vocês até formam um casal feliz! Ridículos e estranhos.

  - Eu sou estranha e tenho raça para admitir. – Dei um passo na direção de Luan, que me olhava com tentação.

  - Eu sou mesmo um cara acostumado a ter tudo o que quer. – Ele pegou no meu braço. – Eu acho que também tenho ótima raça para admitir. Eu considero uma missão completa, para mim você é minha.

  - Nos seus sonhos. – falei entre dentes. – Me solta.

  - Eu não vou soltar, Kristal, porque você vai ser minha alguma hora.

  - Eu não teria tanta certeza. – Tentei puxar o meu braço, sem sucesso. Dave revirou os olhos e vacilou um passo na nossa direção.

  - Luan, solte-a. – Stela exigiu.

  - Eu não vou soltar. – ele prometeu.

  - Me larga. – ordenei. – Está machucando, seu idiota.

  Dave avançou mais uns passos e empurrou o peito de Luan para longe. Ele me soltou, e ficou de frente para Dave, rindo. Eu, como todo mundo, fui para trás, apavorada. Eu não acredito que está acontecendo outra vez.

  - Vai proteger? Eu nem fiz nada com ela. – Luan gargalhava. – Eu sei que você a ama, mas tire o cavalinho da chuva porque ela já-tem-dono.

  - É, o capeta é meu dono. – falei revirando os olhos.

  Ele me olhou enquanto algumas pessoas começaram a rir. Professora Stela começou a ficar desesperada e saiu da sala, provavelmente procurando ajuda. Então Luan pulou em Dave, e uma série de socos extremamente violentos começaram a surgir. Todo mundo começou a gritar, desesperados, mas ninguém ficou perto demais porque aquilo obviamente ia dar em alguma coisa nada agradável.

  O Dave estava ganhando. Jesus, o Luan estava estourado dessa vez. Cortes em todo o seu rosto. As pessoas em volta diziam: Ai! Credo! Parem! Ui, essa doeu!

  Mas ninguém era corajoso o bastante para se infiltrar no meio desses dois aí. Por isso, advinha quem foi a besta que tentou isso.

  - Para! – Me joguei entre os dois, afastando as mãos que desviavam de mim. Mesmo comigo lá no meio, eles puxavam os cabelos do outro e tentavam se socar. – Vocês querem, por favor, olhar para mim, ou ao menos me ouvir? Vocês vão estar encrencados, a professora Stela saiu da sala e... – De repente, uma senhora de uns cinquenta e cinco anos de idade, com cabelos presos para trás num coque olhou para nós, reprovando. – E pelo visto eu também estou.

  Eles seguiram o meu olhar, e se levantaram. Luan até correu para perto das outras pessoas, tentando se camuflar. Dave me ajudou a levantar, estendendo as mãos. Peguei e fiquei de pé rapidamente.

  - Vocês querem vir comigo? – exigiu a mulher. – Dave e Kristal. Tão nova nessa escola, só duas semanas! E já está arrumando problemas.

  - E Luan? – perguntei. – Ele não vai também?

  - Você me ouviu o chamar, senhorita? – Fez biquinho ao falar. – Então venham logo antes que eu tome providências piores.

  Olhei para Dave, incrédula. Depois, me virei para Luan e balancei a cabeça negativamente enquanto negava e seguia para a sala da coordenação, da qual a mulher, que era a coordenadora – obviamente – nos guiava para lá.

  - Posso saber o que houve? – ela quis saber, naquela voz toda imponente, de queixo erguido e ar nojento.

  - Eu fui a culpada disso, Dave só quis me proteger. – sussurrei. – Luan pegou o meu braço e não quis soltar. Dave se irritou e separou os braços, até que Luan pulou em cima dele e começou a briga.

  - Por que ele chegou a essa conclusão de agarrar o seu braço? – Expressão séria, olhar duro e medonho.

  - Ele pediu para namorar comigo e eu não aceitei. – dei de ombros. – Não é nada sério, ele queria me obrigar a aceitar.

  - Você sabe quem ele é? – Ela se inclinou. Dave estava insatisfeito, segurando a caneta medonha com força em suas mãos. – Filho de um homem que comanda uma das empresas mais famosas do mundo, queridinha. E você o magoa? Quem você está pensando que é?

  - Isso é preconceito. – murmurei. – A senhora está insinuando que eu deveria ter aceitado o pedido só por causa do pai dele? Perdão, eu não ligo para a árvore genealógica dos meus pretendentes, nem o que eles fazem.

  - Você feriu o sentimento de uma pessoa que um dia assumirá o trabalho do pai e ficará famoso. – falou como se isso fosse um absurdo. – Isso abala sua auto-estima, ele pode perder a vontade, e assim, tchau, tchau fama!

  - Eu não estou aqui para ver proteções a quem nem é famoso ainda. – falei num tom grosso. – Se isso acontecer, a senhora acha que ele vai ter consideração com você? Nada disso, ele vai esquecer que a senhora existe.

  - Ou não. Você não é vidente.

  - Nem você.

  - Escute, Kristal, volte lá e faça-o feliz. Ou algo nada legal acontecerá com os dois. – ameaçou na cara de pau.

  - Ah tá. – Revirei os olhos. – Ameaças são educativas. O diretor vai gostar de saber disso, senhora.

  - Mas o diretor não vai saber. – Levantou o queixo. – Não estou correta?

  - Claro, claro. – rumorejei. - Venha, Dave, acho que ela conseguiu todas as informações desejadas por aqui. E eu também.

  Eu virei e saí, voltando para a sala. Lá estava o maior auê. Todos ainda discutiam, e pelo que vi, estavam todos contra Luan.

  - Mas não é culpa minha. – falou ele.

  - Você viu o modo como Dave a ajudou a levantar? - Regina Dunn, uma das garotas daquele site asqueroso, falou. – Você acha que pode competir com isso? Você fugiu da Senhora Joenne, morrendo de medo. Quem você acha que ela deve escolher, babaca? Eu to fora daquele site ridículo.

  - Eu ainda tenho chances, tá? – ele retrucou.

  - No seu mundo! – Dessa vez foi Evandra Sussman, outra pessoa do site. – Você é tão grosso, obrigando-a a fazer o que não quer. Que garota quer passar por isso? Por favor, Luan, se toca.

  - A Yolanda gosta disso. – Ele olhou para ela. – Não gosta, xuxu?

  - Eu não sou segunda opção. – Ela revirou os olhos.

  Aí eles olharam para mim e finalmente notaram a minha presença. Eu cheguei à frente de Luan, todos me analisando.

  - A coordenadora disse que seu pai é famoso. – comentei. – Ela disse que você assumirá o controle da empresa dele. E então, ela me ameaçou. Sim, ameaçou. Disse que se eu não te “fizesse feliz”, algo “nada legal” aconteceria com Dave e comigo. Como você é patético.

  Professora Stela estava tão absurdamente descabelada que parecia que ela estava tentando acalmar essa briguinha faz um bom tempo.

  Eu me sentei no meu lugar, e as pessoas ainda olhavam para mim. Dave me acompanhou, afundou os lábios no meu cabelo e sussurrou:

  - Todos estão contra ele. Você arrasou.

  E todo mundo ainda olhava para mim, para ele, para nós. Nós. Então eu dei um sorriso para ele e todos cochicharam. COMO SE EU FOSSE CEGA, COLEGA! Eu sei que vocês estão falando de mim!

  Mas eu não liguei.

  As outras duas aulas foram a mesma coisa. Não havia professor que conseguisse sossegar a nossa turma. Sinceramente.

  Então, Marie chegou para me buscar.

  Eu entrei no carro e ela perguntou como foi o meu dia.

  - Foi esquisito. – murmurei. – Luan, aquele cara que deixou um monte de flores lá em casa, quis que eu namorasse com ele, eu recusei, ele agarrou meu braço, falou que eu era dele, Dave me defendeu...

 - Dave te defendeu? – Marie até abriu a boca de tão surpresa. – Ele deu socos na pessoa, ou tapas...?

 - Ér... – comecei. Falo ou não falo? – Deu, mas foi só para me defender, nada de mais. Ele não é agressivo nem nada.

  - Ah, meu Deus! – exclamou. – Kristal, ele teve reações agressivas quando se mudou para cá. Ele bateu em sua própria mãe, mas em compensação, apanhava do pai. Ele fez isso porque não queria ter se mudado. Ele só estava com um motivo muito bom para isso. Só que então ele não fez mais isso. E agora está fazendo de novo! Batendo nesse cara para proteger você! Algum motivo deve ter surgido aí no meio.

  - Bem, Luan ficou o chamando de mudo, de esquisito... – comentei. – Ele pode ter se irritado, não é?

  - Ele aguenta isso faz tempo. Não é agora que vai se importar. – informou. – Kris, ele bateu nesse Luan para proteger você. Você pode ser um motivo e tanto, se você quer saber. Precisamos levar em conta que ele é humano e... – hesitou. - pode estar se apaixonando por você.

  Ah, sei. O Dave é um garoto lindo demais para a minha laia. Sabe os modelos que a gente sempre observa nas revistas? Dave é dez vezes melhor do que isso. Seus olhos não são claros. Mas poxa, aquele olhar tranquilo que ele transmite é tão dócil! E seus lábios são tão perfeitos. Aqueles músculos de seus braços e aquele tanque de guerra quase me fazem gritar “Jerônimo!” Eu teria muita sorte se um cara saradão como este estivesse mesmo afim de mim.

  E o que eu estou falando?

  Eu não costumo ter esse tipo de pensamento.

  É, eu estou chocada.

  Eu estou me apaixonando por ele?

  Isso seria possível?

  Estou chocada.

  Os meus pensamentos estão confusos, não sei mais o que eu estou achando da vida, não tenho mais o que explicar.

  Que razão eu teria para não estar afim dele? Eu já disse, ele é melhor do que modelo de revista, certo. E enquanto ele ignora todo mundo, pelo menos conversa comigo, e até me protegeu do cara que quer me obrigar a ser sua namorada.

  Eu não me apaixono desde a era do garotinho quando eu tinha dez anos. E isso está acontecendo! Estou finalmente esquecendo a pessoa que eu queria esquecer há milênios! Eu vou poder sonhar com algo que está ao meu alcance e...

  Ele não está exatamente ao meu alcance. Ele ficaria com a Yolanda fácil, apesar de ela dizer que ele é esquisito.

  - Não tenho certeza disso. – falei a Marie. Quero dizer, Dave apaixonado por mim? Não... – Eu acho que ele nem pensa muito em ter namoradas, ou um romance que lhe tire o fôlego.

  - Kris, você não viu como era esse garoto antes de vir para cá. Ele era triste, agressivo, travesso. – lembrou. – É como se esse ano fosse uma nova vida para ele. Ele está bem mais contente, está vivendo.

  - É bom saber, mas creio que eu não seja a causa. – comentei. – Dave estava assim antes de falar comigo.

  Certo, não era totalmente uma verdade. Mas da primeira vez que ele falou comigo, já estava com aquele seu ar de cara brincalhão.

  Ao chegarmos em casa, fui ao meu quarto direto pela minha janela-porta. Marie havia movido todos os vasos para o quintal, e eu pude visualizá-los. Só que uma rosa, mais uma vez murcha, estava parada em frente da janela-porta. Peguei, vendo que era diferente da que eu tinha visto.

  “Eu nunca seria capaz de dizer a alguém que a amo. Mas você é a exceção mais perfeita que eu já vi, por isso merece tal sentimento. O tempo é lento para quem aguarda, mas é rápido para quem insiste. Para quem ama o tempo simplesmente não existe.”, estava escrito.

  Luan ainda insistia. Pobre perdedor sem futuro, que continua vivendo essa vida sem graça de correr atrás do que jamais terá.

  Liguei o computador, mantendo o status como invisível.

  Kristal: Oi Augusto. Oi Hayley. Oi Dave.

  Hayley: Por que Dave junto?

  Augusto: Ele só quer saber de você, Kris.

  Dave: Oi para vocês também.

  Kristal: Ele estava aborrecido. Deem uma chance para ele.

  Dave: Deem uma chance para mim. J

  Augusto: Tanto faz. Por que você está tão sumida, Kris? Você não passa mais tanto tempo tagarelando conosco e nem nos conta as novidades.

  Hayley: Apoiado, Augusto.

  Dave: Ela está com os populares agora. Ela contou que está namorando?

  Kristal: Não é verdade. Dave, se você ainda estivesse acreditando nisso, não teria batido no Luan. E eu não ando com popular nenhum.

  Dave: Claro que não.

  Augusto: Você está namorando, Kristal?

  Dave: Ela meio que estava. Ou só ficou com um cara. Que no caso, é um popular, então está sim andando com os populares.

  Hayley: A Kristal tem coisas melhores para fazer. Ela não perderia seu precioso tempo contando novidades importantes para simples normais como nós, Augusto. Acho que estamos ficando em segundo plano.

  Augusto: Ou em último.

  Kristal: Foi só um beijo. Eu não namoro com ninguém, mas ele estava tentando forçar. Dave, não se faça de santinho.

  Dave: Eu bati no cara sim.

  Kristal: Você não precisava.

  Dave: Ele estava te machucando.

  Kristal: Acredite, não foi só por fora.

  Dave: Eu sei disso.

  Hayley: Se eu puder interromper, quero fazer umas perguntas. Por que Dave bateu no cara que supostamente namorava com a Kris?

  Kristal: EU NÃO ESTAVA NAMORANDO COM ELE!

  Hayley: Certo. A garota está envergonhada. Ah, Dave, você não devia ir dizendo essas coisas para os outros.

  Kristal: Vocês podiam desistir daquela chance que eu pedi para vocês.

  Augusto: Nem pensar.

  Hayley: Esquece.

  Augusto: Comece a dizer, eu sempre gostei de algumas fofoquinhas interessantes suas, Kris. Principalmente porque a maioria delas não falava de garotos. (Hayley, isso foi uma indireta para você)

  Hayley: Augusto, essa fofoca dela envolve dois garotos.

  Augusto: Suas fofocas envolvem uns cinco.

  Dave: Se a Kris quiser que eu conte, eu conto. Caso contrário é mancada, desculpem alimentar suas esperanças.

  Kristal: Não, eu não quero que você conte.

  Dave: O momento correto, com a pessoa correta.

  Kristal: Como você sabe disso?

  Dave: Você não vai querer saber.

  Kristal: Vou sair. Tchau, vocês.


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