Passei o recreio inteiro dentro da minha sala , não estava nem um pouco afim de ver a cara do Renê. - Professora, a senhora tá com uma carinha tão triste, o que houve? - perguntou minha aluna Valéria. - Alguns problemas, já já se resolverão, não se preocupe. Obrigada pela preocupação. - respondi fazendo um carinho nela.

– Posso ficar aqui te fazendo companhia?

– Vou adorar mas você não prefere curti o intervalo?

– Não. Estava com saudades sua, passei na sua casa para te visitar mas me disseram que havia se mudado. - falei sentando no colo dela.

– Me mudei sim, depois te passo meu novo endereço. - ficamos conversando até a fim do intervalo. Renê até apareceu na janela mas viu que eu estava acompanhada e se retirou. O restante da aula passou rapidamente. Fui até a sala dos professores peguei meu pertences no armário e fui para o estacionamento pegar meu carro. Dirigi até minha casa peguei minha irmã e nos encaminhamos até a delegacia. Fiquei do lado dela durante todo o depoimento, meu coração doía só de ouvir aquilo tudo novamente, mas o pior ainda estava por vir, depois de tudo que ela passou ainda teria que passar pelo exame de corpo de delito, não queria que ninguém mais a tocasse por mais que fosse necessário era humilhante pra ela, era como se ela se sentisse violada novamente e por ser mulher eu sentia o mesmo. Saímos do delegacia e fomos para clínica San Lorenzo, onde seria realizado o tal exame. Quanto chamado seu nome Paty hesitou em ir e se agarrou a mim. Eu não sabia o que fazer naquele momento, não sei se chorava junto ou evitava que ela o fizesse mas fui forte a abracei passando confiança e caminhamos juntos à sala onde estava os peritos. Eram 3, um homem alto e forte e os outros dois eram mulheres. Pedi para que somente as mulheres colhessem as informações necessárias para o caso, dispensando o rapaz que se sentiu indignado, sei que era trabalho dele, mas minha irmã foi vítima de estupro. Já era ruim demais pra ela estar ali sendo avaliada por mulheres imagina por um homem. Segurei firme a mãos de Patrícia enquanto o o exame era realizado, seus olhos transbordavam de lágrimas e eu também não pude evitar que as minhas rolassem. Ao terminar voltamos para casa, ela foi o caminho todo calada. Preparei um lanche para ela e depois saí, precisava saber onde Júlio estava pois desde sábado não consigo me comunicar com ele, não responde minhas mensagens e nem atende as ligações; e a exatamente 3 dias ele não dorme em casa. Com certeza Júlio estaria com Bruna, não queria ter que ir até lá por causa do Renê mas era pela Paty.

– Helena, entra eu já ia mesmo pra sua casa para conversarmos.

– Eu não vim conversar com você Renê e nem tô com cabeça pra isso. O Júlio está aí?

– Helena, mas nós.......

– Tá ou não tá? - falei ríspida

– Sim, entre! - falei dando espaço para que passasse.

– Não, prefiro esperar aqui fora.

– Tudo bem vou chamá-lo! - Júlio, a helena quer falar com você!

– Cadê ela? - perguntei saindo da piscina.

– Na porta, vai logo.

– Que cara é essa Renê?

– Nada não Bruna.

– Tem certeza?

– Não. Na verdade eu briguei com a Helena e acabei falando coisas sem pensar, ela tá tão chateada comigo que nem quis entrar aqui em casa.

– Que burrice você já fez?

– Insinuei que ela me traía com o Luciano, ele é um professor lá da escola que vive dando em cima dela. E hoje eu o vi com as mãos nela e partir pra biga, e depois falei umas merdas pra ela.

– Você e esse ciúmes bobos, affs!

– Eu tinha prometido acompanhá-la a fazer algumas coisas importantes hoje e nem fui.

– Que coisas?

– Não vem ao caso, são coisas particulares de família.

– Já pediu desculpas a ela?

– Não, ela nem me deixou falar direito.

– Você merece levar um tapas.

…...

– Que demora em Júlio!

– Tava me trocando!

– Por quê você não atende minhas ligações e nem responde minhas mensagens?

– Por que eu queria ficar um tempo a sós com minha namorada.

– E onde fica sua responsabilidade? - agora deu pra matar serviço e deixar sua mãe preocupada.

– Você veio aqui pra me dar sermão? - se for isso pode ir embora.

– Ainda por cima tá um estúpido. Perda de tempo vir te procurar para pedir ajuda.

– Ajuda pra que? Pra se reconciliar com seu namoradinho?

– Tchau! - dei as costas e fui resolver outra parte do problema da Paty sozinha. - Meu Deus como que vou dizer pra tia Lúcia que a filha dela foi violentada? - Me ajuda Senhor.

….....

– Que cara é essa Júlio?

– A Helena veio pra me encher o saco. - respondi Bruna.

– Como assim?

– Veio reclamar que eu não a atendo e que deixei minha mãe preocupada e tals.

– Não foi por isso que ela veio atrás de você não!

– Por quê então Renê, pra ajudar vocês a se reconciliarem?

– Nossa, você está muito grosso.

– Pow, eu só queria um tempo com minha namorada isso é pedir demais.

– Não é pedir demais não, só que sua família tá precisando de você. Se a Helena veio aqui foi para te pedir ajuda

– Júlio, eu não quero te afastar da sua família e muito menos te tornar um homem irresponsável, você não é assim. Eu amo aquele Júlio que cuida da irmã, que cuida da mãe. É com aquele Júlio que eu quero construir uma família.

– Ajuda em que Renê, fala logo to ficando preocupado.

– Se tivesse tão preocupado, teria atendido sua irmã com educação. Se quiser saber o que aconteceu vá até ela e pergunte, não cabe a mim te dizer. O assunto é grave, só isso que te digo.

– RENÊ FALA PELO AMOR DE DEUS, A HELENA DEVE TAR COM MUITA RAIVA DE MIM E NÃO VAI ME CONTAR.

– Pode ter certeza disso então se vira.

Estou aqui parada diante do portão da casa da tia Lu ainda não tinha ideia por onde começar a contar. Sem descer do carro, pedi que a chamassem pra mim.

– Que surpresa boa!

– Tia é melhor a senhora entrar no carro! - falei e ela desfez o sorriso percebendo meu semblante.

– Aconteceu alguma coisa?

– Aconteceu sim, entra no carro por favor! - assim ela fez e segui em direção a meu apartamento.

– Helena, você está me deixando preocupada, o que aconteceu?

– Tia, tem alguém precisando da senhora.

– Quem?

– Paty.

– Por quê, ela está bem? Onde ela está?

– Helena, me explica direito por ela precisa de mim e o porque dela estar em sua casa se vocês duas não se dão bem.

– Ela..ela...é...chegamos. - estacionei o carro e abri a porta do carro para sair, só que minha tia me segurou pelo braço.

– Me conta tudo sem rodeios pelo amor de Deus, você está me deixando aflita.

– Tudo bem tia. - me ajeitei direito no banco e olhei nos olhos dela. - A Paty sofreu abuso sexual. - falei e ela arregalou os olhos. - Mentira Helena, você está dizendo isso porque você a odeia! - disse ela apertando forte meu braço. - Por mais que eu tivesse desavenças com ela jamais a desejaria mal no entanto ela está nesse momento na minha casa sobre minha proteção, suba logo ela precisa de ti. - tirei meus braços de suas mãos e sai do carro chorando. - era só o que me faltava ter de escutar isso, sei que a tia estava nervosa mas que culpa eu tenho? Fiz de todo coração apoiar e receber minha irmã aqui em casa. Agora só falta o falecido vir aqui e me acusar também. Definitivamente hoje não é meu dia.

….............

– Paty, meu amor! -diz pra mamãe que não é verdade, que a Helena mentiu pra mim!

– Infelizmente ela disse a verdade. Mãe, foi naquela madrugada que a senhora me ligou, eu estava voltando pra casa de uma amiga sozinha... - espera deixa eu atender a campainha. - Oi Júlio.

– Cadê a Helena? - perguntei esticando o pescoço a procura dela. E o que você está fazendo aqui?

– Uma pergunta de cada vez, entra!

– Mãe, por quê a senhora está chorando? Que caras são essas gente? Não fiquem caladas me expliquem.

– Como eu estava dizendo a mamãe, eu fui abusada sexualmente.

– Quando isso Patrícia?

– Foi naquela naquele dia que você ofereceu carana na boate, só que eu recusei e fui embora a pé e sozinha.

– Por que não aceitou a carona filha?

– Eu não queria que vocês soubessem do muquifo onde eu estava morando... Não quero entrar em mais entrar em detalhes sofre o que aconteceu.

– O que faz aqui na casa da Helena?

– Porque, eu a procurei naquela madrugada, ela me estendeu a mão e vem me apoiando nesses dois dias. Não sei como ela consegue ser boa comigo depois de tudo que fiz a ela. Hoje ela me acompanhou a delegacia e esteve ao meu lado todo o tempo, no exame de corpo de delito proibiu que um perito do sexo masculino me avaliasse. Não desgrudou de mim um só momento, as vezes chegava a chorar junto comigo. E falando nela, onde está?

– A pouco estava no jardim, quanto ela me contou o que passara contigo eu acabei a insultando sem querer.

– Eu também fui grosseiro com ela quando foi me procurar na casa do Renê.

– Não acredito que vocês fizeram isso com ela, Helena por me ajudar recebe isso em troca, principalmente de vocês dois que são as pessoas que ela mais confia. Vou atras dela.... - Fui até o jardim mas não a vi, então perguntei ao síndico, ele me informou que ela havia saído de carro. Subi de volta para apartamento, minha mãe estava na cozinha preparando um jantar cozinhando o prato preferido da Helena e o folgado do Júlio dormindo no quarto dela. Liguei a TV e fiquei assistindo a um filme.

– Paty, já são 21:00h, onde será que a Helena se meteu?

– Não sei, vou ligar pra ela, tomara que me atenda dessa vez. Antes que eu começasse a discar ela apareceu que nem furacão pela porta indo em direção a seu quarto.

– Sai da minha cama agora, Júlio! - se quiser dormir vai pro sofá.

– Calma Helena. Cê tá muito nervosa!

– Tenho meus motivos, anda logo.

– Me desculpa vai! - tentei abraçá-la mas ela me empurrou.

– Não, sai logo do meu quarto, quero ficar sozinha.

– Ei, eu não quis te magoar!

– Mas você, a tia e o Renê me magoaram hoje, e muito. E eu não tenho mais ninguém além de vocês e quando isso acontece o que me resta é ficar sozinha, fico sem um ombro amigo, sem um colo de mãe, sem nada, sem ninguém.

– Você tem um emocional muito agitado.

– Você acha que a vida tem sido fácil pra mim? - anda sai logo do meu quarto.

– Deix......

– Por favor! - assim que ele saiu tranquei a porta do quarto e fui me banhar em seguida me joguei na cama e fiquei refletindo. Meu celular tocou, me deu uma dor no coração ao ouvir som, eu ainda não havia tirado a batida do coraçãozinho do meu bebê de toque de chamada. Quando a tristeza vem, vem tudo de uma vez. Rejeitei a chamada que era do Renê, abri a galeria do celular e procurei o vídeo da ultrassom para assistir. Deixem mais algumas lágrimas escaparem enquanto assistia. Eu podia brigar com o mundo inteiro mas um filho estaria sempre a meu lado, seria meu, só meu mas nem isso eu tenho, até meu bebê me deixou.

….............

– Ela tá muito chateada com a gente mãe.

– Dia desses disse que ela era como uma filha pra mim e hoje cometo esse erro com ela.

– Não precisa chorar mãe, a Helena tem um grande coração, se ela me perdoou é claro que irá desculpar vocês, ela só está chateada.

– Vai lá chamá-la pra jantar, Paty!

– Não sei se ela vai querer mas vou tentar. - Helena! - chamei batendo na porta.

– Que?

– Vem jantar, mamãe preparou seu prato favorito.

– Estou sem fome.

– Por favor Helena!

– Não insista Patrícia.

– Então deixa eu dormir com você, daí a mãe dorme no meu quarto e o Júlio na sala.

– Entra! - destravei a porta e voltei a me deitar.

– Helena eu quero....

– Paty, não precisa interceder por eles não, eu até entendo, só fiquei chateada amanhã ou depois isso passa.

– Não gosto de te ver triste, você pode até pensar que é mentira minha, mas vi que nesses dois últimos dias que não é difícil gostar de você. Eu já gostava antes só que não queria admitir, desde de pequena eu pedia pro papai ir te buscar pra gente brincar juntas. Só que quando você chegou eu deixei a inveja falar mais alto e perdi a oportunidade que eu sempre quis de ser sua amiga. Fui tão egoísta com você.

– Esquece isso, podemos ser amigas agora.

– Posso dormir agarradinha com você?

– Pode. Vem cá! - dei um beijo no topo da cabeça dela e dormimos abraçadinhas.

Dia seguinte, Escola Mundial

– Bom dia professor Renê, o que faz hoje na escola? Pelo que eu me lembre você não dá aulas nas terças-feiras.

– Bom dia Firmino! É que amanhã tenho que resolver algumas coisas então transferi minhas atividades para hoje. Sabe se a professora Helena já chegou?

– Sim, e com uma carinha bem triste.

– Obrigado, vou falar com ela com licença. - fui até a sala da Helena mas ao perceber que estava acompanhada do Luciano, fiquei escutando a conversa atrás da porta.

– Ainda não entendi por que o Renê se incomoda tanto quanto estou perto de você.

– Quer saber a verdade, tá vendo esse anel aqui? - estiquei minha mão esquerda pra ele. - É um anel de noivado, eu Renê estamos noivos.

– É proibido relacionamento entre professores nessa escola, sabia?

– Não seja sínico, você sai com a maioria das professoras, e eu não me importo que a diretora descubra, sou profissional dentro dessa escola. A diretora não pode mandar nos sentimentos de ninguém, essa regra é ridícula.

– Vocês estão juntos desde quando?

– Muito antes de começar a dar aula nessa escola.

– E isso quer dizer que eu não tenho nenhuma chance com você?

– Nenhuma.

– Sério gatina?

– Pare de me chamar de gatina por favor Luciano.

– Tá vendo esse sorriso aqui? - esbocei em meu rosto. - Só com ele, já conquistei várias mulheres, tenho certeza que você fica balançada quando o vê.

– Pra mim seu sorriso parece ao do coringa. O Sorriso mais lindo do mundo é do meu amor Renê.

– Nossa gatina, esculachou agora.

– Você é muito convencido.

– Que tal experimentar uma noite de amor comigo, depois disso garanto que nunca mais você vai querer saber desse babaca.

– Primeiramente você me respeita, eu nunca te dei abertura para esse tipo de assunto e segundo, lave essa sua boca nojenta antes de falar do Renê.

– Perdão, eu estava apenas brincando.

– Eu tenho nojo de qualquer outro homem que não seja o Renê.

– Ei, desculpa, não precisa ficar brava comigo não.

– O sinal tocou, tá ouvindo?

– Sim, com licença! - Helena, Helena quando você menos esperar vai estar caidinha por mim implorando por um beijo, pensei e esbocei meu sorriso sarcástico.

Eu fui um completo idiota com minha princesa, tenho que arranjar um jeito de me desculpar com ela ainda hoje porquê amanha é o aniversário dela e eu não quero que ela passe sozinha como está acostumada.