Anjo da Cara Suja escrita por Celso Innocente


Capítulo 2
Construindo uma nova amizade.


Notas iniciais do capítulo

Uma nova amizade se constrói um pouquinho a cada dia.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/493751/chapter/2

Na segunda feira, Luciano ficou aguardando ansioso, olhando pela janela do quarto. O menino chegou sorrateiramente e como de costume, acomodou-se ali no chão da entrada. O homem foi até ele, abriu o portão e o convidou:

— Vamos entrar!

Em silêncio, o menino entrou consigo até a sala, cumprimentou Sara, que como sempre fazia, para descansar das atividades diárias dentro de casa e esticar as pernas, permanecia deitada no sofá de três lugares; sentou-se, desta feita corretamente sobre a poltrona menor. Imitando-o, Luciano sentou-se no outro sofá e aproveitando o intervalo comercial, resolveu puxar conversa:

— Sábado você não veio assistir a novela. O que aconteceu?

— Sábado?... — Pensou um pouco. — Eu fui ao sítio.

— Que legal! Dormiu por lá?

— Não! Cheguei tarde.

O homem não acreditou muito em sua justificativa. Mas poderia ser verdade; então resolveu insistir na conversa, já que ele quase não falava.

— A que horas você toma banho?

— De noite. Na hora de dormir.

— Por que não toma banho à tarde, antes do jantar?

Ele se espantou um pouco pelo atrevimento daquele quase estranho, se interferindo em sua vidinha infantil. Levantou um pouco o braço direito, de encontra ao rosto e forçou as narinas para sentir seu próprio odor. Fez o mesmo com o braço esquerdo.

— Desculpe-me. — Pediu Luciano, de certa forma arrependido por sua atitude. — Você não está fedido. E sei que não tenho nada com isso.

— É que à noite a gente brinca na rua. — Explicou o menino compassadamente. — Se eu tomar banho antes do jantar, acabo sujando novamente e minha mãe briga.

— Entendi. Então você faz parte daquela turma, que faz a maior algazarra na rua, todas as noites?

— Como!? — Surpreendeu-se.

— A meninada que faz a maior gritaria na rua? — Insistiu Luciano, ironicamente.

— Oh... Oh! — Balbuciou tão engraçado, que Luciano teve que repetir:

— Oh... Oh?!

— Desculpe. — Pediu muito acanhado. — A gente só brinca.

— Não tem nada que me pedir desculpas. Vocês precisam brincar mesmo. E fazer algazarra mesmo.

— Uhmm... — Não lhe entendeu.

— Você é criança, menino! E realmente tem que brincar. Fazer barulho... Bagunça... É claro que não deve fazer arte, que prejudique outras pessoas.

— O que você tá falando?

— Ele tá falando pra você brincar bastante, garoto. — Explicou Sara. — Sua infância é passageira. A fase criança da vida é muito curta e loguinho você já será um jovem e então, só restará às recordações dessa fase de menino.

A novela se iniciou e todos se calaram. Foi aí que Luciano percebeu que todos, meros seres mortais, estavam se transformando em escravos daquele bicho eletrônico. “Lembrei-me... — Meditou Luciano. —... que todas as noites, mesmo antes daquele novo visitante aparecer, eu e minha esposa, ficávamos horas ali naquela sala, diante do televisor, completamente em silêncio. Naquelas horas, ele era o senhor absoluto: só ele falava e nós só ouvíamos. Era como se ele mandasse e a gente obedecia. Até aquele menininho simples, que costuma brincar na rua, com outros moleques de sua faixa etária, estava se transformando em novo escravo. Claro que ele assistia apenas a novela, em torno de quarenta minutos diários, porem é assim mesmo que começa: primeiro uma novela, depois um seriado e então um desenho... Quando ele perceber, vai estar passando grande parte de sua vidinha simples, à mercê daquele senhor eletrônico”.

Assim que voltou os reclames comerciais, Luciano tornou a forçar um assunto com seu visitante.

— Posso saber como você se chama?

— Regis. — Respondeu ele, como se não quisesse conversar muito.

— Quantos anos você tem, Regis? — Perguntou-lhe Sara.

— Nove... Oito!...

— Oito ou nove? — Riu Sara.

— Ainda não fiz nove. Faço nove em oito de março.

— Então tem oito! — Riu Sara.

— Está na escola? — Continuou Luciano prolon-gando o assunto.

Acenou afirmativamente.

— Onde estuda?

— Marcos Trench.

— Ótima escola! Quando criança estudei até o quarto ano por lá.

— E a senhora também estudou lá? — Perguntou ele à Sara.

— Estudei três anos: da segunda à quarta.

— Onde estudou o primeiro?

— No sítio.

— Eu também estudei a metade do primeiro, no sítio. — Aos poucos foi se descontraindo.

— Em qual sítio?

— Córrego dos Pin...tos. — Se encabulou com o nome.

— Então você morou no Córrego dos Pintos? — Insistiu Sara. — Eu morei no Scardovelli.

— E quando você mudou pra cidade, Regis? — Perguntou-lhe Luciano.

— No meio do ano passado.

— Então faz um ano? — Luciano não queria abandonar o assunto, no intuito de conquistá-lo.

— Um pouco mais. — Gesticulou os braços, que até então estava imóvel sobre sua coxa nua, devido a calça curta.

Iniciou a segunda parte da novela e o senhor absoluto da sala, os fez se calarem. O menino achou bom assim. Tímido como era não estava gostando de tanta conversa.

Por dez minutos, a trama de “Vitória Bonelli” ocupava a mente de todos, inclusive de Luciano, que embora também fosse um escravo daquilo, esperava o novo intervalo, para continuar forçando a conversa, com aquele o qual já considerava seu novo amigo. E daí que ele era adulto, enquanto que o outro fosse só uma criança. Talvez sua amizade o fizesse aprender mais sobre esse bichinho, para que no futuro que chegaria em breve, soubesse melhor, como dar carinho e compreensão a seu filho, que estava por nascer.

Assim que voltou os reclames comerciais, Regis se ajeitou melhor na poltrona, sabendo que Luciano não perderia a oportunidade, de bombardeá-lo com tantas perguntas, de adulto querendo puxar assunto.

— De que vocês brincam na rua, todas as noites?

Balançou os ombros como a dizer: “o que importa?”. E explicou:

— De tudo. Salva... Esconde-esconde... Strena varsella... Namoro no escuro... Mãe da rua... Pé na lata... Fita... Bétia... Mês... Carnerinho... Rela-rela... Balança caixão... Pique esconde...

— Qual a diferença entre esconde-esconde e pique esconde?

— Esconde-esconde, a pessoa se esconde até ser encontrada; pique esconde, a pessoa pode se salvar, correndo até o pique antes de ser encontrada.

— Onde vocês brincam?

— Na rua, ué! — Gesticulou como a dizer: “parece burro”!

— Sei que é na rua! O que eu quis dizer é aonde. Em frente à casa de quem?

— Minha casa! — Já estava bem à vontade.

Luciano até acreditava, que na noite seguinte, ele o chamaria no portão.

— Têm outras brincadeiras?

— Claro! — Gesticulou as mãos. — Queima... Futebol...

— Joga bola de noite?

— Claro que não! — Olhou para Sara. — Esse homem não sabe nada? Bola se joga de dia! À noite, só se for queima.

— Você é bom de bola? — Insistiu Luciano.

— Não muito. — Negou ele balançando a cabeça. — Sempre jogo no gol.

— Puxa! Você é bom goleiro?

— Sou bom nas bolas rasteiras. Nas altas sou melhor... Só que às vezes não alcanço... Quando alguém chuta muito alto. No ângulo!

— Nunca joga na linha? De zagueiro!

— Só se for campeonato.

— O que é campeonato?

— Ficam dois no gol, um chuta e o outro parceiro fica na lateral do gol... Se o goleiro rebater a bola, o parceiro que estava na lateral, chuta ela pra quem chutou e assim os dois juntos driblam um dos goleiros que vai pra linha e tentam fazer o gol. É complicado pra explicar. Quando a gente for jogar, te chamo pra assistir.

— Então você gosta de uma peladinha?

— Êh! — Se surpreendeu o menino, olhando para Sara. — Olha sua mulher aí ou!

— O que tem ela? — Riu Luciano. — Não falei nenhuma besteira!

O menino, surpreso permaneceu em silêncio. Luciano explicou:

— Pelada é o nome que se dá ao futebol de crianças. Mesmo de adultos, quando jogado em várzeas.

— O que é várzea?

— Uma planície...

— O que é planície?

— O nome já diz: lugar plano.

— Ainda não sei tudo.

— Qual brincadeira você mais gosta? — Insistiu Luciano.

— Qual?... — Pensou bastante. — Deixe eu ver.... Salva. Eu acho.

— Como é brincar de namoro no escuro?

— Todos ficam sentados. Menos dois, que ficam em pé na frente. Um tapa o olho do outro e vai perguntando apontando o dedo para os sentados: é esse?... É esse?... É esse? Quando diz que é, pergunta: pera, maçã, uva, abacaxi...[1] A pessoa escolhe a fruta, então o outro manda fazer o que pediu com o escolhido, que então não sabia quem era.

— Como assim? Se eu escolhesse, por exemplo... Abacaxi; o que faria?

— Abacaxi? Daria um abraço na pessoa escolhida. Aí depois era a sua vez de escolher.

— E o que significa as outras frutas?

— Pera é beijo no rosto.... Uva é beijo na boo...ca.... Maçã é dar uma voltinha.... Limão é aperto de mão. Abacaxi é abraço.

— Beijo na boca!? — Fingiu admiração, Luciano — Alguém escolhe uva?

— Claro! — Riu ele. — É o melhor!

— Você já escolheu uva?

— Claro!

— Com menos de nove anos?

Balançou os ombros, como a dizer: “O que tem isso?”

— Você não acha que ainda cheira à mamadeira, pra pensar em beijo na boca? — Ironizou sério, o homem.

— Eu não cheiro à mamadeira! — Negou bravo.

— É apenas modo de falar. — Corrigiu Luciano. — Por exemplo: Você é homem. E se o escolhido for outro menino?

— Não é assim! Quando é um menino que está na frente, o que está perguntando só aponta pras meninas e quando é uma menina, ele só aponta pros meninos. Entendeu?

— Tudo bem! Não precisa me chamar de burro!

A novela se reiniciou, pondo fim àquela conversa.

É claro que Luciano sabia como se brincava de namoro no escuro. Ele também já fora criança. É claro que existia o tal “uva” e que as crianças às vezes escolhiam isso. Só que na maioria das vezes, elas escolhiam mesmo, era a tal maçã ou limão.

Assim que terminou aquela terceira parte da novela, antes das cenas do próximo capítulo, Regis se levantou dizendo:

— Agora eu já vou. Tchau!

Sara respondeu sem se levantar. Luciano o acompa-nhou até o portão e quando ele já se afastava, lhe cobrou:

— Vê se me chama, ao chegar ao portão, amanhã.

Regis olhou para trás, levantou a mão direita e seguiu correndo, sem nada falar. Tinha pressa. Provavelmente, seus amiguinhos já estavam o aguardando, para outra noite de travessuras saudáveis.

Chegou defronte à sua casa, onde, assim como todas as ruas do bairro, não tinha pavimento, nem calçada, sentando-se ao lado de duas outras crianças, que já o aguardavam no banco de tábua, onde caberiam umas quatro delas, tendo à frente, uma bela árvore de folhas pequenas, que chegava quase à altura da comunheira da casa.

Ao lado de sua casa, subindo, tinha uma casa de tamanho semelhante, na cor branca, onde morava Regina, uma de suas principais companhias de brincadeiras e arte, sendo uma das meninas mais bonitas de toda sua turminha, com seus oito anos de idade, poucos meses mais jovem do que ele, branca, de cabelos negros e muito esperta, não tendo nem mesmo medo de aranhas, por mais tenebrosa que fosse, pegando-as todas em suas mãos e deixando que caminhas-sem por seus braços, assustando inclusive a ele, que tinha pavor desses bichinhos de oito patas e oito olhos. Ele e Regina passavam juntos quase o dia todo, com exceção da hora da escola, pois não estudavam juntos, sendo que, enquanto Regis estudava no então Marcos Trench, ela estudava no Yone Dias de Aguiar. Acima da casa de Regina, tinha outra casa semelhante, porem só no reboco, onde moravam Fabinho, nove anos, magro, branco de cabelos negros, que era o pior encrenqueiro da turma, sendo sempre do contra em tudo, sem contudo, nunca conseguir dominar. Exemplo: se ele insistia em brincar de salva, os demais exigiam esconde-esconde, só para contrariá-lo e com isto, tentar fazer com que ele deixasse de ser brigão; Valdir, de sete anos, irmão de Fabinho, tinha as mesmas características físicas do irmão, mas o oposto na índole, sendo bom até demais; Sidnei, outro irmão de Fabinho, semelhante em tudo, inclusive, querendo ser o chefão, devido ser um entre os mais velhos na turma, com seus doze anos de idade, só que também não convencia aquela turma, que de certa forma não aceitava mandões. Abaixo da casa de Regis, havia dois terrenos baldios e no outro, bem em frente à rua transversal, que seguia então para a casa de Luciano, havia a casa do senhor Santo, dona Elvira e os filhos, Sueli de nove anos, Mirto de oito e Marly de seis anos (estas crianças não faziam parte da turminha); vez ou outra, Mirto aparecia.

Na quadra em frente à casa de Regis existiam apenas quatro casas ao todo, sendo todas próximas à de Luciano: de seu lado esquerdo, para quem vai à casa de Regis, era a casa de José Roberto, branco, de cabelos negros, dez anos de idade e bem agitado; do lado direito, um terreno baldio e na esquina, ficava a casa de Neuza, branca de cabelos negros, nove anos, sendo uma das mais sapecas entre as meninas e que tinha o irmãozinho Zezinho, com apenas três anos de idade, o qual, às vezes, por exigência da mãe, aparecia nas brincadeiras com a irmã; acima da casa de Neuza, moravam os irmãos gêmeos, José Carlos e Ademir, dez anos de idade, brancos, talvez descendentes alemães. Como já mencionado, aos fundos de sua casa, morava sua batalhadora tia Amélia, que por obra do destino, ficara viúva muito jovem, ficando com a grande responsabilidade, em criar sozinha, seus seis filhos, todos pequenos, em verdadeira escadinha humana (quando ocorreu este desatino, João tinha apenas oito anos e Zoca, era bebezinho de colo). Em frente à casa de Regina, um grande campo de futebol, em terra batida, com trave e tudo, que atravessava até o outro lado da rua, construído pelos próprios meninos. O resto da quadra era inteiro em terrenos baldios, ideal para uma turminha aventureira e sapeca, como eles.

Entre os dois amigos que já o aguardava: Juan Nogueira, de oito anos, paraguaio, branco, de cabelos lisos negros, falava até bonito, com seu português arrastado, devido ter aprendido após os três anos de idade, quando chegou ao Brasil, vindo com seus pais, que até então, quase nunca os via, pois viviam viajando, sabe-se lá para onde. Deveriam fazer alguma coisa ilegal, enquanto deixava o filho à mercê de estranhos; no caso atual, já que era recém-chegado àquele bairro, ficava aos cuidados de dona Benedita, uma mulher negra, de seus setenta anos, forte, esperta, trabalhadeira e muito gentil com todos, menos com os netos e Juan, que se fizessem muita arte, acabavam levando algumas varadas doídas nas pernas nuas; um de seus netos era Lourival Martins, que já estava ali; sendo negro igual à avó, de seus dez anos de idade, cabelo encaracolado, estatura normal, quieto, de certa forma até tímido e que morava na casa da esquina abaixo, rua em que vai para a casa de Luciano, porem, já fazendo parte da outra quadra.

Aos poucos, outras crianças da mesma faixa etária, iam chegando para a importante reunião noturna: Irineu, branco de cabelos negros encaracolados, oito anos, morava no final daquela rua, para quem está subindo; era um dos meninos mais quietos de toda a turminha, sempre com seu jeitinho assustado, talvez por algum trauma, de ver sua mãe, que apesar de boa mulher, estar sempre chorosa e o chamando a toda hora, com medo de que ele fosse se ferir e que quando Regis o conheceu, pensava que fosse irmão de sua vizinha Regina. Vera, negra, irmã de Lourival, que por ser a mais velha, com seus doze anos, sempre brincava, dizendo que era a mãe de todos, daí a ideia de sempre brincarem de mamãe da rua; ai de quem fosse apanhado por ela: levava alguns tapas verdadeiros na bunda ou pernas, levando às vezes a infeliz criança, ao choro de dor. Leila, nove anos de idade, negra, outra irmã de Lourival, de certa forma bem espoleta, falando e fazendo tudo muito rápido. Cintia, sete anos, negra, também irmã de Lourival, que era gaga, principalmente quando ficava agitada, onde então, ninguém conseguia compreender o que ela falava; Valdecir, também negro e irmão de Lourival, com apenas cinco anos de idade, raríssimas vezes brincava entre eles. Essas crianças tinham também a bisavó mais velha de talvez toda a cidade, se não fosse de todo o Brasil: dona Josefina, com cento e vinte e sete anos de idade. Outras crianças: Maria Lucia, branca, cabelos curtos cheios, de onze anos de idade, que ninguém sabia onde morava e que nunca faltava às reuniões. Alem dos irmãos de Regis, quase todos, cópias perfeitas: Paulinho, o menorzinho entre todos, com apenas cinco anos de idade e que nas brincadeiras, era por todos, considerado café com leite, ou seja, aquele que nunca era pego; Leandro, de onze anos era como o primogênito entre os irmãos nas brincadeiras, já que Luis, de treze anos, nunca participava, já se achando homem para brincar com crianças; Letícia com sete anos, cabelos castanhos compridos e Carlos Henrique, com seis anos.

Uma vez o grupo reunido, surgiu a ideia de iniciarem as brincadeiras; porem... Qual delas?

— Salva! — Foi a primeira votação, por José Roberto.

De fato era uma das mais requisitadas entre os valentes meninos, mas não daria para isso, devido não ser brincadeira de frágeis meninas.

— Pular corda! — Sugeriu Letícia.

É boa brincadeira, só que estavam em muitos, para algo meio que individual.

— Mamãe da rua! — Foi ideia da mãezona Vera.

— Eu é que não quero apanhar! — Protestou Irineu.

— Esconde-esconde! — Sugeriu o paraguaio Juan Nogueira.

Foi boa ideia: era algo emocionante, brincadeira em grupo e que as meninas poderiam participar.

— Acho melhor pique esconde. — Sugeriu Lourival.

— E quem vai bater cara? — Questionou o primo Moacir.

— Tiramos dois ou um! — Sugeriu Juan Nogueira.

Outra boa ideia. Formou-se uma grande e tumul-tuada roda e lá foram o tal de dois ou um. Na primeira insistência, como muitos mostraram dois dedos e o resto, mostrou um, com exceção de Paulinho, que mostrou cinco. Então para facilitar na escolha, dividiram-se em dois grupos. E assim aos poucos descobriram dois, Leandro e Regina que desempataram no par ou ímpar.

— Par! — Pediu Leandro.

— Ímpar! — Gritou forte Regina, com certo risinho.

Leandro mostrou apenas um dedo. Regina quatro. Perdedor: Leandro.

O menino encostou o rosto sobre o poste de luz e enquanto todos correram a se esconder no meio do mato escuro, começou a contar pausadamente:

— Um... Dois... Três... Quatro... Cinco...

— ...vinte e oito... Vinte e nove... Trinta. Lá vou eu.

Saiu em busca dos amigos escondido.

Regis, praticamente denunciado pelo maninho café com leite, foi o primeiro a ser capturado. Juan Nogueira devido estar quase visível sobre um arbusto rodeado por três meninas: Maria Lúcia, Cintia e Leila, foi o próximo, juntamente com as meninas. Enquanto isso, Fabinho, Ademir e José Roberto se salvaram.

Próxima caçada, como foi o primeiro a ser capturado, foi a vez de Regis bater cara, sendo imitado por seu carrapatinho Paulinho.

A cada número que ele dizia, Paulinho repetia; portanto, talvez no intuito de auxiliar o pequeno no aprendizado, Regis só falava a metade do número:

— Doz... —Falava Regis.

— Doze. — Repetia Paulinho.

— Trez...

— Treze.

— Catorz...

— Catorze.

...

— Vinte e oi...

— Vinte e oito.

— Vinte e Nó...

— Vinte e nove.

— Trinta! Lá vamos nós!

— Já vamos nós! — Repetiu Paulinho.

Os dois saíram em busca dos escondidos.

Adivinhem quem foi o primeiro a ser capturado?

Novamente cercado por três meninas.

O paraguaio Juan era talvez o menino mais bonito e desinibido da turma. Era também o mais paquerado, sem, contudo, causar inveja ou ciúmes nos demais, que nem se importavam ou queriam saber de namoricos com as meninas. Elas sim, às vezes ficavam de olho em algum dos garotos, que geralmente nem sabia de sua sorte romântica.

[1] Hoje em dia a brincadeira foi modernizada para: pera, uva, maçã, salada mista.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!