O garoto de cabelo loiro percorria pela cidade solitária, iluminada pelo brilho da lua cheia. Mesmo sendo tão tarde, algumas casas pelas quais ele passava, ainda tinham suas luzes acesas, facilitando o garoto na visão do seu caminho, porém o silêncio lhe incomodava, a falta de distrações o fazia cair em pensamentos. Os quais só faziam o caminho parecer mais comprido do que realmente era.

Ele parou seus passos, que estavam cada vez mais lentos, em frente a uma pequena praça que lhe chamou a atenção. Kano seguiu um caminho de pedras que levava até o outro lado e se aproximou de um balanço vazio. Segurou as suas cordas e sentou-se calmamente, então disse encarando uma árvore à sua frente:

—Você não escapa de mim... Danchou... -E o silêncio foi a sua única resposta —Não precisa mais se esconder de mim -Acrescentou, movendo seu olhar por toda a praça.

Como Kano não obteve reações ou palavras, levantou-se espreguiçando e deu alguns passos a diante.

—Parece que eu me enganei. Eh, o jeito é procurar em outro lugar. -Assim que ele deu o primeiro passo para fora da praça, o garoto sentiu algo puxando sua manga pelas suas costas, fazendo-o sorrir de leve. —Ou será que não?

—Sim... Eu estava num banco e escutei você falando. -Sussurrou Kido, com o olhar baixo. —Por que você veio aqui? -Kano ficou parado encarando o chão, com um olhar quieto e inexpressivo.

—Não sei... -Respondeu ele, soltando um riso baixo.

—Você... -A garota virou a sua cabeça para o lado. —Por que fez aquilo? Por quê...? -Sua voz estava mais fraca nas últimas palavras.

Ele abaixou-se lentamente e se ajoelhou no chão, escondendo o seu rosto entre as mãos.

—Eu gostaria de te responder... Mas é mais difícil do que parece... -Respondeu Kano, com a voz um pouco abafada.

—Pensei que me amasse. -Sussurrou a garota, colocando suas mãos sobre os ombros do outro.

—E você dúvida disso? -Suspirou profundamente.

—Eu devo? -Perguntou ela, se abaixando e envolvendo seus braços em volta do garoto.

—Sempre duvide de mim.

—Tch! -Kido fraziu a testa.

—A menos que eu diga que te amo. -E antes que a garota pudesse dizer qualquer coisa, ele levantou a cabeça e virou-se para ela. —Nesse caso pode ter certeza que é mentira. -Disse ele rindo.

—Idiota! -Gritou a garota, não conseguindo esconder muito o seu riso. Depois levantou sua mão para lhe dar um tapa de leve, mas assim que se aproximou de seu rosto, Kano a puxou pela mão fazendo os dois caírem. Ele sentado no chão e ela em seu colo.

—O qu-?

—Eu te amo e você sabe que não é mentira. -Ele a abraçou delicadamente e fechou seus olhos, encostando seu queixo no ombro dela. —Me desculpe pelo que aconteceu mais cedo... Não foi minha intenção te deixar mal.

—Então me explique o que foi aquilo. -Disse ela, se aconchegando da mesma maneira.

—Não agora. -O garoto riu um pouco —Vamos aproveitar a lua cheia.

—Hm, eu concordo... Mas eu ainda lembro de algo.

—Hm? Do quê? -Perguntou ele, meio assustado.

—Aquela noite, você me mostrou uma pequena caixinha. -Ela soltou um riso baixo —O que tinha nela? -Ele a empurrou de leve, apenas para que pudesse se levantar, deu alguns passos e disse virando-se em sua direção:

—Já está muito tarde... Vamos para casa.

—O quê? Me responde! Por que está me escondendo tantas coisas? -Kano levantou seu dedo indicador até os próprios lábios e respondeu-lhe:

—Isto é segredo -Sorria, claramente —Agora, vamos voltar antes que fique mais tarde ainda. -E puxou a mão da garota para que o acompanhasse. Mesmo estando de noite, era notável o rosto levemente avermelhado de Kido, que o seguiu de cabeça baixa, sem dizer uma palavra, segurando firme a mão do outro.
No meio do caminho, Kano virou-se rapidamente e colocou uma flor de cor arroxeada no cabelo da garota, que se espantou com a súbita ação, e ele beijou delicadamente a testa dela.

—Me desculpe... -Sussurrou. Kido imediatamente levantou seu olhar, sem saber o que dizer, fazendo o garoto sorrir —Por tudo. -Então ela correspondeu ao seu sorriso.

—Se não for eu... -A garota deu uma pequena pausa- ...quem iria te perdoar por suas bobagens?

—Eh... Que tal um abraço? -Disse Kano, sorrindo de lado, segurando as duas mãos da garota.

—Por quê? -Perguntou-o, suspeitando de suas palavras, porém o abraçou. Ele logo a levantou e segurou-a no colo, como se Kido fosse uma princesa. —O que pensa que está fazendo? -Rapidamente ela mudou seu humor, apenas fazendo com que ele quisesse rir.

—Vou te levar para a cabana, então fique quieta, se não eu posso te derrubar. -Kano a segurou mais firme e continuou seu caminho silenciosamente.

—Boa noite, Tsubomi. Até mais~. -Disse ao chegarem na cabana, acenando para ela. Depois virou-se e seguiu um caminho desconhecido até por si mesmo, deixando a garota sozinha. Kido acenou em resposta, mesmo que ele não tenha visto.

Todos estavam prestes à irem para suas camas, mas Kido preferiu ficar um tempo na varanda para observar a praia. E de lá de dentro perguntaram:

—Onde está a danchou e o Kano?

—Kido está lá fora, dá para vê-la pela janela, mas o Kano deve estar dando por aí. -Respondeu um dos garotos, dando de ombros.

—Foi por minha culpa...? -Sussurrou a garota que estava encostada no parapeito da varanda, com a finalidade de ninguém escutá-la.

Ela pegou a flor em seu cabelo, encarando-a pensativa. E a beijou delicadamente.

—Boa noite... Shuuya. -Sussurrou novamente, encarando-a. Após isso a colocou de volta no topo de sua cabeça e entrou para deitar-se.

—Boa noite, Tsubomi. -Respondeu o garoto, que estava a observando de cima da cabana —Sim, pode-se dizer que a culpá é sua... Mas logo eu voltarei... Eh, onde será que posso encontrá-lo? -Terminou de falar e passou a olhar ao seu redor em busca de algo. Logo saiu para mais uma de suas caminhadas noturnas.

Na cozinha, Kido pegou um copo de água gelado e então olhou pela janela na esperança de vê-lo. Ela sabia que não o veria ainda hoje, mas a garota gostaria de poder vê-lo toda noite, para não precisar deitar-se preocupada com o que ele poderia estar se intrometendo, deixando-a curiosa, impaciente e confusa... "Por que ele sempre faz isso comigo?".

Assim que já havia bebido todo o copo de água, Kido o colocou em cima da pia e foi até o quarto das garotas e teve uma surpresa ao ver que ninguém estava lá. Então ela foi para o quarto dos garotos, que também estava vazio.

Todos os colchões estavam jogados no chão da sala, formando um círculo onde todos estavam sentados e conversando. Ao ver sua líder se aproximando, um dos membros do grupo a chamou para juntar-se a eles. Kido mesmo confusa, não recusou o pedido e se direcionou a um dos colchões que sobraram.

—Por que isso? -Perguntou ela, para Mary, que estava ao seu lado.

—Para podermos ficar todos juntos. -Respondeu sorrindo docemente. —Não é demais? -E Kido sorriu em resposta.

—E esse colchão sobrando ao meu lado? -Indagou.

—Ah, esse é do Kano. Mas parece que ele não voltará hoje... -Disse Seto, se intrometendo na conversa das duas.

—Entendi. -Respondeu, pensando se teria um significado os dois estarem próximos assim.

Após isso, o grupo passou algum tempo conversando. Quando começaram a se sentir cansados, deitaram-se e dormiram, passando a noite juntos.