Os deuses também amam escrita por Alexandre Loureiro


Capítulo 1
Capítulo 1




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O céu escuro, as ruas vazias, sem movimento algum, a não ser o leve balanço do vento nas árvores e ruídos de pássaros noturnos misturados à neblina branca e fria.

Sim. Foi nesse dia que tudo começou.

Andando vagarosamente dentre duas colunas de ferro, que formavam uma espécie de ponte velha e enferrujada, senti meu corpo estremecer e tive a sensação de estar sendo observada, por algo ou alguém.

Por um instante, ao olhar rapidamente o topo de uma colina à alguns metros dali, pensei ter visto um garoto. Mas tinha um detalhe, ele tinha a expressão sombria e era como se não tivesse vida. E como um garoto normal poderia subir em um lugar tão alto, coberto por neve, rodeada por uma vasta floresta fria e obscura com o ar tão rarefeito que é quase impossível respirar?

Apesar de tantas dúvidas, segui meu caminho com um grande sinal de interrogação na cabeça.

A lua estava tão clara, que eu até podia ver minha própria sombra no asfalto molhado e escorregadio, onde eu mal podia caminhar sem dar um deslize ou outro.

Após alguns minutos de caminhada, estava prestes a chegar em casa, quando o inesperado aconteceu. Fui arrastada por algo que não podia ver, mas podia sentir perfeitamente. É como se fossem mãos humanas, com um aspecto jovem e muito frio por sinal.

Sua velocidade era absurda, que mais parecia uma locomotiva descontrolada, era como se seus pés não tocassem o chão, tinha os passos leves, porém, rápidos, muito rápidos.

A vontade de gritar era enorme, mas temia acontecer algo pior comigo, e mesmo que tentasse, quem poderia me ouvir? Passamos por lugares impressionantes, mas mal podia ver, era tão rápido que as imagens passavam como filmes ao meu redor.

Senti a velocidade sendo reduzida a cada minuto até cessar totalmente.

- Chegamos.

Ouvi claramente uma voz doce e ao mesmo tempo fria, que vinha de cima para baixo, aparentemente de sua boca.

- Chegamos?

- Onde?

-Para que?

Interroguei-o murmurando com muito medo.

- Calma você está em boas mãos agora.

- Em boas mãos?

-Como assim?

- Explique o que está acontecendo.

-Nosso líder lhe explicará tudo, não se preocupe.

Mesmo com muito pavor, eu senti um certo conforto, uma certa segurança nos braços daquele que me carregava.

- E você?

-Por que não posso vê-lo?

- Já disse que tudo será explicado.

Respondeu-me friamente com um tom de insolência, pondo um fim na conversa.

Soltou-me num chão tão frio que me fazia “bater o queixo”, minha respiração estava ficando cada vez mais pesada ao longo do tempo. Olhei para o lado, olhei para o outro e a única coisa que conseguia ver, eram olhos vermelhos e amarelos dentre as árvores que rangiam ao tocar uma à outra.

- Seja bem vinda.

Ecoou uma voz madura e rouca detrás de um pinheiro grande e aparentemente muito antigo, que formava uma espécie de gruta escura.

- Onde estou?

- Você está em um clã, onde estará protegida dos perigos que te rodeiam.

- Perigos?

- Mais que perigos?

- Siga-me, e responderei à todas as suas perguntas.

Desconfiada, mas curiosa, resolvi segui-lo, pois, este eu podia ver, era um velho sombrio que carregava contigo um cajado com a forma de uma serpente com olhos de jade que brilhavam constantemente.

Andei à uma distância de cinquenta metros quando avistei duas colunas de ferro perto dali, as mesmas por onde passei anteriormente. Isso só podia significar uma coisa.

Eu estava no topo da colina onde vi o garoto.

- Por que estou aqui?

Indaguei-o.

- Você é uma descendente direta de nossos antepassados.

- Descendente?

- Antepassados?

- Sim, você é uma lendária “Goddess of Darkness”.

- O que é isso?

- Você é uma de nós, foi a escolhida pelos Deuses para liderar todos que aqui vivem. Isso é um ritual que ocorre século à século, uma espécie de Aurora Boreal. Mas desta vez contamos com você para fazer desta guerra, a última de todas.

Desnorteada, não sabia o que dizer, estava com uma tremenda vontade de rir. Afinal isso é surreal.

Mas as coisas que haviam ali eram realmente sobrenaturais para todos os que não adentravam aquele lugar.

Enquanto andávamos pela vasta mata, sentia gotas de água extremamente frias tocando a parte superior de meu corpo, provavelmente caindo dos galhos secos e sem vida das árvores que se retorciam tomando vários formatos.

- Quem é aquele que me trouxe até aqui

- Aquele é o Sebastian.

Respondeu-me o velho rouco, tossindo entre as palavras.

- E por que eu não posso vê-lo?

- Por que ele é um “Invisible Lord”.

- Como assim?

- Ele pertence à uma geração em que todos os Lords tomaram essa forma, após a última guerra que ocorreu á cem anos atrás.

- Então o senhor quer dizer que eu nunca posso vê-lo?

- Dificilmente

- Mas...

-Mas o quê?

- Isso pode ser revertido, quando ele encontrar o amor verdadeiro, o que é muito difícil para seres como nós.

- Amor verdadeiro?

- Sim, amor verdadeiro. Essa é a consequência de todos os que usufruem deste feitiço.

- Mas eu posso te ver, como isso é possível?

- Eu encontrei minha amada, mas prefiro não falar sobre ela.

A cada descoberta uma dúvida. Tentava entender o que estava acontecendo, mas era em vão.

- Vamos você precisa descansar para amanha conhecer seus liderados.

Já estava confusa demais para desvendar este mistério. Não havia nada que podia fazer, então resolvi fazer parte desse clã.

Entramos no pinheiro que por fora parecia uma simples árvore, mas por dentro era uma fortaleza. No centro um grandioso castelo em ruínas, em volta pedaços de muros cobertos por arames e com espetaculares e imensas estátuas de Deuses.

Ao adentrar o castelo, o que antes era ruínas, tornou-se uma espécie de escola onde não via ninguém, mas apenas sombras.

- Esse é o seu lugar.

Disse o velho franzindo a testa e com um leve sorriso no rosto.

- Que lugar é este?

- Este é o seu castelo.

- Meu castelo?

- Sim, você é nossa líder, a escolhida.

Estava desesperada, mas é como se eu já soubesse o que tinha que fazer, já me sentia como se fosse uma deles.Entramos naquela imensidão onde a porta era todafeita de aço trabalhada nos mínimos detalhes, seu barulho era insuportável, como se arranhassem um simples quadro negro comas próprias unhas.

Fui levada até um cômodo escuro, porém aconchegante, com uma grande cortina roxa na janela devidro rachada, onde o vento passada tranquilamente dando um leve balanço nos retalhos pendurados na cabeceira de uma pequena cama de madeiraantiga coberta por um lençol preto, onde provavelmente seria o local onde dormiria.

Caminhei lentamente pelo quarto com pisos de madeira até a cama, deitei-me sobre o lençol frio e dirigi meu olhar ao teto, que estava caindo aos pedaços pelo que pude perceber, onde se podia observar pequenas carreiras cupins andando e os grãos de areia caindo sobre mim.

Pôs-me a pensar sobre tudo que estava acontecendo durante toda a noite, afinal o barulho que escutava o tempo inteiro no sótão era insuportável, quando vi, o sol já penetrara a velha janela tocando diretamente meu rosto.

Nesse momento, o silêncio voltou a reinar naquele lugar, mas pude ouvir leves passos vindo em direção ao quarto onde estava, seria ele o que me carregava? Cada vez mais, o barulho ia aumentando até que a fechadura do quarto girou, a porta deu uma pequena rangida e abriu-se lentamente.

- Quem está aí?

- Acalme-se, sou eu.

Era a mesma voz doce que havia escutado à noite anterior.

- O que faz aqui?

- Não se preocupe, estou aqui para te ajudar.

- Ajudar? Não preciso de sua ajuda, aquele senhor já me explicou tudo.

- Não se engane com ele, o Sr. Lúcius não diz tudo à ninguém.

Continua...


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