–Lucy, querida! Veja o que lhe comprei.

A pequena suspirou, voltando os olhos castanhos e opacos apara a figura encurvada da mãe. O sorriso em seus lábios parecia querer rasgar os lados do rosto de tão grande, porém, a menina conseguia perceber perfeitamente sua falsidade.

Era sempre assim, “apenas esqueça tudo, Lucy”.

Ela encarou o pequeno boneco de neve nas mãos da matriarca. Os olhos pretos como carvão, e o longo nariz alaranjado em formato de cenoura... Era uma graça, porém, Lucy sabia o que aconteceria quando a hora de contar histórias para dormir chegasse...

Ele ia fugir. Sempre fugiam quando tinham que presenciar aquilo tudo...

Ainda com a cara fechada, Lucy pegou o bichinho de pelúcia e saiu arrastando-o pela casa, indo em direção à seu quarto. Subiu na cama, deixando o boneco de lado, encolhendo-se no centro do colchão...

Lembrou do rosto da mãe no andar de baixo, sorrindo como se nada tivesse acontecido. A mulher temia que a imagem de “família perfeita” lhe escapasse por dentre os dedos, e assim como o irmão do meio, fingia que estava tudo bem...

–Hey, garota! Muito prazer! Quero ser seu amigo! Quer ser minha amiga? Qual seu nome? Quantos anos você tem?- o boneco de neve deu um pulo na cama, agitando os bracinhos brancos e felpudos.

A loirinha não respondeu. Apenas afundou mais no colchão. Os cabelos loiros caíram em seus olhos, enquanto o boneco continuava a pular ao seu redor.

–Ah, vamos brincar de piratas! Você pode ser a capitã, enquanto eu serei seu fiel imediato! Vamos desbravar mares desconhecidos!

E então a porta abriu... Já era hora de contar histórias para dormir.

Lucy sabia que o boneco de neve não ficaria ali para brincar com ela depois de conhecer a estória favorita do pai...

–Lucy! Quer que papai lhe conte uma história para dormir?