Maxon me diz que manteremos a Seleção por algumas semanas, para manter as aparências diante do país. Ele também me conta sua pequena história com Daphne, dizendo que ela sempre fora apaixonada por ele e que pediu para que ele abrisse mão da Seleção por ela. Também garante que não sente o mesmo por ela. Ele pede para que eu não comente nada com nenhuma das selecionadas, pois o anúncio sobre esse novo acordo será feito daqui algumas semanas, quando a Seleção terminar.

Volto para meu quarto um pouco surda. Não consigo nem mesmo ver o meu caminho, nem sei como ou quando chego até meu quarto. Minhas criadas estão lá para me aprontar, mas não vejo o que elas colocam em mim, ou como arrumam meu cabelo, ou a cor que elas passam em minha maquiagem. Tudo o que consigo pensar é "por quê?". Por que essas coisas acontecem comigo? Por que logo agora que estou começando a resolver o que se passa em meu coração?

Quando a recepção começa, fico o tempo todo parada ao lado da mesa de bebidas. Encaro Daphne, com um ódio que nem eu mesma sabia que sentia. O ciúmes que sinto vendo-a ao lado de Maxon, sorridente conversando com o Rei é ainda maior do que eu sinto por Kriss, porque não há nada que eu possa fazer para tirá-la dali. Maxon parece entediado com a conversa, então corre seus olhos pelo salão procurando por alguma coisa. Seus olhos param em mim e ele apenas sorri. Sorri como se dissesse que tudo dará certo, embora nós dois saibamos que isso não é verdade.

Algumas pessoas dançam no centro do salão. Celeste e Kriss dançam com guardas, enquanto Elise dança com um dos conselheiros convidados. Logo vejo a imagem de Maxon e Daphne dançando mais ao centro. A minha vontade é de pular em cima dela e tirá-la de perto dele, mas não posso fazer nada. Sei que minha cara não é das melhores, mas não me importo.

– A senhorita me dá o prazer dessa dança?

Dou um pulo de susto quando vejo Aspen atrás de mim, segurando o riso pela minha reação.

– Não foi engraçado - digo, mas também estou tentando não rir - Você me assustou.

–Foi engraçado sim - ele diz, e depois estende a mão para mim. - Quer dançar Meri?

Não tenho muito o que fazer agora, e não tenho motivos o suficiente para negar, então acabo aceitando. Tento não conversar com Aspen durante a dança. Sei que ele está falando comigo, contando alguma coisa, mas não presto atenção. Apenas murmuro um "Hum" de vez em quando pois minha atenção está toda voltada para todo e qualquer movimento que Maxon faz.

– Meri - Aspen chama minha atenção.

– Oi? - digo, olhando para ele com a minha melhor expressão de "eu estava prestando atenção".

– Ele não vai a lugar algum - Aspen diz, um pouco irritado.

– O que? - pergunto, sem entender.

– O príncipe... Ele não vai a lugar algum. Por que fica olhando tão insistentemente pra ele?

– Eu não estava... - Aspen me olha sério. - Tudo bem, eu estava... Mas deixa pra lá...

Aspen suspira.

– Meri... Você não pode ficar se dividindo assim...

Abro a boca para responder, mas a música acaba antes e Aspen faz uma reverência para mim e sai de meu campo de visão. Ele diz as coisas como se eu já não as soubesse. Sei que não posso ficar me dividindo, mas o que ele espera que eu faça? Diga que o amo de todo o coração? Porque não sei se isso é verdade. Permaneço parada no meio do salão, um pouco entorpecida.

Procuro, em meio a pequena multidão no salão, a princesa Daphne e Maxon. Vejo Daphne conversar com a Rainha Amberly, mas não vejo Maxon. Corro meus olhos pelo lugar e vejo no centro do salão, Maxon nos braços de Kriss enquanto dançam. Meu estômago se embrulha enquanto vejo ele sorrir para ela. Kriss acaricia seu braço carinhosamente. Decido ir embora assim que tenho oportunidade. Não consigo ficar ali nem mais um segundo, tendo que suportar Daphne e Kriss juntas com Maxon enquanto eu não posso fazer nada.

Corro até meu quarto, me jogo em minha cama e fecho os olhos. Não posso ficar parada, sem fazer nada, vendo-o ser tirado de mim. Tenho que lutar, mas não há nada que eu posso fazer, e isso me deixa frustrada e com raiva do Rei, com raiva da princesa, com raiva de mim, com raiva de Kriss e até mesmo de Aspen por continuar aparecendo e fazendo meu coração ficar duvidoso com sua presença. Tenho tanta raiva que não consigo nem mesmo chorar, embora essa seja minha vontade.

Ouço alguém entrar no quarto, mas não abro meus olhos. Sinto o peso na cama mudar de lado, indicando que meu visitante se sentou ao lado de minhas pernas.

– Senhorita America - ouço a voz de Lucy ecoando no quarto, enquanto sua mão repousa em meu joelho - Esta tudo bem?

Forço-me para me sentar ao seu lado. Ela me analisa, tentando descobrir o que esta acontecendo. Minahs criadas são minha unica companhia aqui no castelo, e dentre delas, Lucy é a que mais procuro proteger e cuidar devido a sua história. Acho que ela é o mais próximo de amiga que tenho aqui desde que Marlee foi embora. Preciso conversar com alguém, e sei que Lucy é discreta, então acabo contando tudo a ela. Conto tudo que estou passando, tomando cuidado para não falar de Aspen. Conto sobre Daphne, sobre Kriss e Maxon. Conto até mesmo sobre o bilhete rebelde que encontrei em meu quarto, e finalmente desabo em lágrimas. Lucy apenas escuta, e depois me abraça protetoramente.

– Vai dar tudo certo, America - ela diz, enquanto choro em seus braços.

– Como pode ter tanta certeza? Eu sou uma bagunça! Mal consigo pensar no que fazer... É muita responsabilidade pra mim. Não sei o que fazer. Não quero perdê-lo... Mas não há nada que eu possa fazer. E ainda tem esse bilhete pra deixar tudo mais maluco. O que esperam que eu faça? Essa opção foi dada ao Rei e ele escolheu retirar a Seleção. - choro ainda mais.

Lucy me abraça um pouco mais forte e passa as mãos nas minhas costas, me confortando.

– Como eu tenho certeza? Você é America! Você sempre dá um jeito... Você conseguirá pensar em uma saída, algo que dê certo pra todo mundo.

Levanto minha cabeça e olho pra ela. Lucy sorri pra mim.

– Se precisar de algo, pode contar comigo. - ela diz, passando a mão no meu braço.

Ela se levanta, sorri e sai do meu quarto, deixando-me pensativa. Será possível eu conseguir tomar uma decisão agora? Nada faria o Rei mudar de opinião. Levanto-me e abro minha gaveta no criado mudo. Pego o bilhete e leio umas 5 vezes.

"Elimine as castas". Eliminar as castas. Talvez eles tenham deixado o bilhete em meu quarto porque eu sou a única que tem coragem o bastante para desafiar a todos e conseguir o que quero, que tem coragem o bastante para pensar em uma saída, como Lucy havia dito. Ou, pelo menos, sou louca o bastante. Talvez eu consiga pensar em algo, mas não seria capaz de colocar o plano em ação. Não sozinha. Preciso de ajuda. E quanto mais ajuda, melhor.