Once Upon a Time - Lua de Sangue escrita por log dot com


Capítulo 12
Aurora das Trevas


Notas iniciais do capítulo

Primeiro, desculpa pela demora. Eu tentei adiantar a escrita do capítulo, mas descobri da maneira mais difícil que tentar dar explicações num universo como o de OUAT exige trabalho - e algumas revisões de alguns episódios.
Esse capítulo também é grande. E, sinceramente, o rascunho original é bem maior, tanto que deu um pouco de trabalho para selecionar as partes que ficariam, aquelas que seriam descartadas, e aquelas que seriam embutidas, de alguma maneira, no próximo capítulo.
Enfim, vamos à história...



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A batalha havia terminado.

O Senhor das Trevas estava parado, no meio do campo de batalha. Sangue melava o chão, corpos mortos enfeitavam o gramado… Mas Rumple quase não notou. Estava sentindo nas entranhas um misto de alegria e medo. Medo. O Senhor das Trevas raramente o sentia.

—Ora, ora… Veja quem está aí! - Exclamou alguém, perto de Rumple. Ele olhou para trás, deparando-se com Regina.

—Soube de alguns dos seus feitos… - Disse ela, sorrindo e abraçando-o. Rumple não pôde deixar de retribuir o abraço. Gostava de Regina, apesar de tudo.

—É… Gostaria de saber quem foi que pegou minha adaga dessa vez! - Sussurrou Rumple. Estava lutando por Malévola há alguns minutos: destruindo as pessoas, matando animais e conjurando as Trevas… Em um instante, não estava lutando pelo Mal, mas sim pelo bem: o Senhor das Trevas começou a destruir cada pedacinho de Trevas existente, destruiu todos os seres fantásticos e lutou com Malévola por alguns segundos.

Regina olhou para todo o cenário de guerra após se desprender do abraço de Rumple.

—Malévola sabe ser destrutiva quando quer, isso eu tenho que admitir.

—Rumple? - Disse uma voz atrás dele. Rumple se virou, mas antes que pudesse ao menos ver a figura que dizia ter apanhado sua adaga, viu um vulto correr para cima dele e abraçá-lo.

—Rumple! - Exclamou Belle, abraçando o Senhor das Trevas com força. Rumple colocou a mão naqueles cabelos castanhos escuros e sentiu seu cheiro.

—Belle…

***

Ashley estava despedaçada.

Há algumas horas, havia ido até a Loja de Artefatos do Sr. Gold, numa última tentativa de tentar descobrir o que havia acontecido com Thomas.

—Tarde demais - dissera Belle, que estava atendendo a loja naquele momento. A garota havia procurado em vários e vários livros, até achar um que falava sobre maldições e mortes.

Jogada no canto de um quarto, chorando, Ashley refletia sobre as palavras de Belle, ditas há horas atrás.

“_Ashley… Eu sinto muito, mas creio que Thomas nunca mais relembre sobre…

—Sobre???

—Sobre tudo. Eu sinto muito. - Disse Belle. Ashley não entendeu tudo aquilo. Um ato de amor verdadeiro, essa deveria ser a resposta.

—Toda maldição tem uma contra maldição, assim como toda magia tem um preço. Eu aprendi isso da maneira mais difícil, Belle, e nunca esqueci.

Belle respirou profundamente e olhou para Ashley com pena.

—Há um preço para trazer de volta Thomas. Mas eu creio que você não deva mexer com isso, eu…

—Fale, Belle. Apenas fale. - Ashley carregava uma expressão dura e azeda no rosto. Ela queria Thomas de volta. Ela iria ter Thomas de volta.

Belle esperou alguns segundos, e depois respirou fundo novamente:

—Seja lá quem tenha lançado essa magia, matou Thomas. Literalmente, Ashley, o Thomas que você conhecia está morto. Pense numa linha, extensa, dividida em duas partes. Suponha que Storybrooke esteja de um lado, e o Lado das Sombras esteja do outro.

—Lado do quê…?

—Das Sombras. Rumple me ensinou, uma vez, que há vários universos além do nosso, todos derivados do mesmo. Segundo ele, as coisas são invertidas nesse outro universo. Se eu sou uma menina apaixonada pelo Senhor das Trevas nesse lado da “linha”, provavelmente sou uma vilã sem coração que odeia o Senhor das Trevas do outro.

“O que quero dizer é que a pessoa que amaldiçoou Thomas conhecia um ritual que fazia uma espécie de “troca”. Seu marido, Ashley, sofreu uma espécie de troca de mundos. A parte que você conhece foi mandada embora, para o outro lado da linha, e a parte que está aqui, quase casado com a Anastasia, é a Outra Parte, a Parte Inversa. Compreende?"

Ashley assentiu. Sentia-se confusa, e aquilo era um tão realmente confuso, mas entendia na teoria.

—Mas Thomas não parecia se lembrar de nada quando foi levado para o hospital. Como isso é possível?

—O livro diz que há riscos da pessoa que está sofrendo essa “Troca de Mundos” perder as memórias quando cruzar o outro lado. Assim, sobrariam apenas tendências e instintos.

—Como…?

—Suponhamos que o Thomas do Outro Lado, o que você não conhece, tenha se casado com Anastasia e nunca tenha te conhecido. Suponhamos agora que Thomas, seu marido, tenha sido amaldiçoado e levado para o Outro Lado, enquanto o Thomas do Outro Lado veio para o nosso. No caminho, ambos podem ter perdido as memórias ou mesmo sido destruídos. Suponhamos que o Thomas que está conosco tenha apenas perdido as memórias. No passado, enquanto estava do Outro Lado, ele foi casado com Anastasia. Aqui, quando ele reencontrou a mesma, as memórias não falaram nada, mas o instinto dele sim.

A mente de Ashley era uma confusão. Ela ainda estava tentando absorver tudo, até prestar atenção num detalhe.

—Como assim, “destruir”...?

—Há um detalhe na maldição. Quando você envia a consciência de uma pessoa para o Outro Lado da Linha, você pode escolher se quer destruí-la ou se quer mantê-la.

—O que acontece se for destruída? - Ashley sabia a resposta antes mesmo da pergunta. Belle balançou negativamente a cabeça.

—Então, segundo você, Tremaine pode ter tido a chance de destruir completamente a consciência de Thomas, substituindo a mesma por memórias do Outro Lado. Segundo você, esse Thomas nunca vai lembrar de mim, pois no Outro Lado ele nunca me conheceu. Segundo você, talvez haja uma maneira de trazer o Meu Thomas de volta. E agora eu quero saber qual é.

Belle balançou tristemente a cabeça.

—Não vale a pena, Ashley.

—Só eu decido o que vale ou o que não vale.

Belle respirou fundo, e cada segundo antes das palavras saírem da boca da mulher pareciam eternos.

—A única maneira de trazer seu Thomas de volta é com o ritual de Trocas. Eu não estou afirmando nada, são só suposições, mas provavelmente Tremaine destruiu a consciência de Thomas (o Seu Thomas) quando ele atravessou a Linha pro Outro Lado. Ao ser destruída, a consciência dele reverteu-se em magia.

“Portanto, a única maneira de trazê-lo de volta é invocando essa magia e transformando-a novamente numa consciência. Depois, seria necessário tirar a consciência do Outro que está no corpo do Thomas, para enfim mandá-la novamente pro Outro Lado. Por fim, era só colocar a Consciência Verdadeira no corpo de Thomas.”

Ashley tentou absorver o impacto daquelas palavras. Ela poderia ter Thomas de volta. ELA PODERIA TER THOMAS DE VOLTA!!!!!!!!!!!!!!! Logicamente seria necessária alguma ajuda, mas nada impossível.

O estômago de Ashley embrulhou quando ela se lembrou de um mero detalhe.

—Há um preço, não há???

Belle ficou em silêncio.

—Qual é o preço, Belle? Me diga, Belle, por favor.

Os olhares das duas se cruzaram, e antes mesmo de Belle dizer, Ashley sabia.

—Para que a magia seja vertida na consciência de Thomas, é necessário que alguém ocupe a lacuna que irá ser deixada pelo mesmo quando deixar de ser magia.

“Para ele viver, você tem que morrer”.

***

—Você nos deve algumas explicações, Gold. - Disse Encantado, cabisbaixo. Seus olhos estavam vermelhos, ardentes, de tanto que chorara.

O cadáver de Emma Swan havia sido encontrado há poucos minutos. Branca estava em estado de choque, chorando descontrolada no chão.

—Eu q-quero minha filha. - Falou Branca, aos berros. Encantado a abraçou, sua boca tremendo e seus olhos molhados pela lágrima. Uma filete de sangue escorria por seu rosto, mas ele não parecia se importar com a dor física.

O fato de ter perdido a filha mais uma vez o destruía mais que qualquer metal, mais que qualquer aço, mais que qualquer arma.

Alguns moradores, que ouviram o barulho da batalha, haviam corrido para o campo com a intenção de saber o que estava acontecendo. Por fim, esses mesmos começaram a ajudar, recolhendo os corpos mortos e ajeitando as coisas destruídas.

Após os corpos serem recolhidos, após Regina e Rumplestilstskin terem consertado os locais e monumentos destruídos com magia, e após toda a área ser vasculhada em busca de vestígios de Malévola ou Cruella, eles formaram um tipo de Assembléia.

A maioria dos cidadãos de Storybrooke estava lá, o que não era muito, pois pelo menos três quartos tinham sido mortos em batalha. Todos reunidos, numa espécie de círculo, ouvindo o pronunciamento da Prefeita.

—Nessa noite perdemos muito, se não é que perdemos quase tudo. Eu poderia fazer um discurso extenso sobre a coragem e sobre a maldade, sobre o bem e sobre o mal, sobre o pesar que todos devem estar sentindo agora. Mas não vou.

“Não podemos perder tempo agora. Malévola tem que ser achada. Cruella tem que ser morta. Temos que salvar Storybrooke”.

—Porém, infelizmente, não é possível matar o demônio que te ameaça sem ao menos saber o porque desse mesmo estar te ameaçando.

“Por isso, precisamos primeiro ouvir uma história”.

Regina se virou para o lado, encarando o Senhor das Trevas, que abraçava Belle.

—Eu gostaria que você contasse essa história, meu caro.

Rumple olhou para os lados, parecendo desconfortável.

—O que você pensa estar fazendo? - Perguntou ele em voz baixa para Regina.

—Estou te pedindo, Rumple, para contar uma história, que você sabe muito bem qual é.

O Senhor das Trevas arquejou.

—Há um motivo para eu nunca tê-la contado para você, Regina. Há um…

—E há um motivo maior ainda para contá-la agora. Preciso saber, Rumple. Não há como derrotar Malévola sem saber sua verdadeira história.

—Eu não vou contar nad…

—Ah, não vai? Pois bem, meu caro. Robin Hood, Leroy, Granny, Ruby, Emma… Todos eles morreram em vão? Pois bem, Senhor das Trevas, Malévola não vai parar até todos estarem mortos. Você quer ver sua querida Belle morta? Pois é isso que vai acontecer se Malévola não for impedida.

—É uma história que vocês querem? - Gritou ele.

Ele respirou fundo. Depois, virou-se para frente e olhou para cada rosto ali presente.

“Então terão uma história!”

E por fim, começou.

***

—Inicialmente, havia Escuridão e Magia. Segundo alguns, o mundo foi criado por deuses, e esses deuses criaram a Luz, espantando a Escuridão e criando o mundo. Outros, apostam na teoria de que o mundo simplesmente surgiu, sem nenhum agente para criá-lo. Mas sinceramente, isso não importa. Pelo menos, não agora.

“O que importa é que, há muito tempo, surgiu o mundo que todos nós conhecemos por Floresta Encantada. As árvores, as águas, as florestas, os humanos… A história que contarei se passa alguns anos depois da criação desses, e tem como ponto central as Fadas.”

O olhar de Rumple caiu sobre a Fada Azul, que observava tudo com um certo receio. Um sorriso brotou nos lábios do Senhor das Trevas. A Madre Superiora o encarava com um misto de surpresa e medo, o que fez o Senhor das Trevas sorrir para si mesmo.

“O que todos pensarão quando descobrirem a verdade por trás dela? O que farão com ela após saberem seu passado?”, perguntou Rumple a si mesmo antes de começar a contar.

—Quando o mundo foi criado, as Fadas também surgiram. A magia, em primeiro lugar, nada mais é do que várias partículas; e os mágicos nada mais são que pessoas que conseguem enxergar essas partículas e alterá-las. Surgiram sete fadas na criação do mundo, feitas unicamente dessas partículas. É delas que falarei agora.

Uma pausa. Todos estavam em silêncio.

—Essas Fadas são chamadas de Primordiais. As Sete Fadas Primordiais, feitas unicamente de magia, com belas e fortes asas de penas brancas, e sem nenhuma semelhança com os humanos, de pele azul e olhos brancos, eram a personificação da Magia.

“E Malévola foi uma delas”.

***

Floresta Encantada, Reino das Terras Brandas, séculos atrás - Flash

As Sete estavam contentes consigo mesmas.

Elas estavam indo bem em sua missão de guiar os humanos, que já se organizavam em vilas e cidadelas, e já tinham governantes espalhados por todos os lados. Tudo parecia estar bem na Floresta Encantada. Elas também já haviam tentado unir Magia com outras substâncias, assim criando Fadas Menores. Pequenos seres de asas finas com feições humanas que obedeciam às Primordiais.

Naquele dia, Branca estava muito feliz. Mesmo sendo uma Primordial, ela tinha que obedecer as ordens da Irmã, a Fada Vermelha. Na verdade, Seis das Primordiais obedeciam a Vermelha. Ela era a mais sábia, e a Líder de todas as Fadas, fossem Menores ou Primordiais.

E Branca estava contente justamente por ter sido elogiada por Vermelha. Estava contente por simplesmente existir.

Era noite, e Branca voava pelos campos, observando as árvores escuras e sentindo o vento bater em seu corpo e em seu rosto. Suas asas, fortes, resistentes e brancas como as nuvens, ruflavam com um som leve e angelical, e levavam o corpo da Fada a fazer várias e várias manobras no ar.

“O que minhas irmãs pensariam disso?”, pensou ela, imaginando todas as irmãs. Vermelha, Verde, Bela, Rosada, Cinzenta e Amarela; todas elas voavam de maneira comportada, sem tentarem ir um pouco além; sem tentarem explorar o que realmente podiam fazer com asas.

“Preciso voltar logo para minhas Irmãs”, pensou Branca, enquanto olhava para a lua. As Fadas tinham se instalado nas nuvens, e lá passavam a maior parte do tempo.

Foi quando ouviu um barulho por entre as árvores. Gritos que rasgavam a garganta de quem gritava, gritos tão altos para os ouvidos sensíveis de Branca que ela guinchou de dor quando se aproximou do local. De longe, a Fada enxergava fogo entre as árvores. Algo de muito ruim estava acontecendo.

Ela não hesitou nem por um instante. Antes que outros gritos pudessem ser gritados, Branca voava com uma velocidade impressionante para o meio da floresta.

As Fadas tinham a audição, a visão e o olfato muito apurados. Por isso, mesmo quando Branca estava no alto, a quilômetros de distância do acontecido, ela pode enxergar tudo perfeitamente.

Está na estrada uma carruagem, percebeu Branca, olhando com atenção. Dez homens a cercam; homens fortes, brutos, e armados com tochas e espadas. Na carruagem, percebo que uma mulher, trajada em um vestido de seda rosada, grita, enquanto um homem, vestido em vestes de algodão e couro, tenta lutar contra os dez homens brutos.

A Fada não esperou nem por um momento. Num abrir e num piscar de olhos, a Fada Branca estava lá, na frente da carruagem. Com apenas alguns gestos, antes que os dez homens pudessem sentir sua presença, ela fez Magia.

Os gritos pararam assim que os homens caíram, desmaiados, no chão. O homem vestido com algodão e couro a olhou, estupefato. A mulher arquejou, sua respiração sendo o único barulho no meio da noite.

—Oh… Uma Fada! - Exclamou o homem, admirado, tremendo. Suas mãos e sua espada estavam sujas de sangue; sua roupa, anteriormente branca, brilhava com a coloração carmesim.

Branca andou até a mulher, que ainda parecia assustada. Colocou as mãos em sua cabeça e proferiu algumas palavras. A mulher caiu, dormindo.

—O que você fez com minha prometida? - Perguntou o homem, parecendo assustado.

—Ela dormirá por um tempo. Quando acordar, tudo estará bem. - A voz de Branca passava confiança e calma; afinal, era para esse tipo de coisa que ela existia. Ela e suas Seis Irmãs deveriam ajudar os humanos a se organizarem, deveriam fazê-los progredir e estimulá-los a dar o melhor de si.

—Quem é você? - Perguntou o homem.

—Quem é você? - Perguntou a Fada, sorrindo.

—Um príncipe. Prazer, Príncipe Alistair das Terras Brandas, herdeiro do Rei Damácios I, prometido à Princesa Catherine do Reino do Arco, futuro soberano das terras onde pisa.

A Fada sorriu.

—Tenho muitos nomes. Alguns me conhecem por Fada Branca; outros me conhecem por Fada Estrela; mas eu realmente prefiro um nome em especial… Dizem que me deram ele por eu nascer em tal momento do dia…

O homem arqueou as sobrancelhas.

—E qual seria esse terceiro nome?

A Fada sorriu.

“Aurora”.

Floresta Encantada, Reino das Terras Brandas, vários meses depois daquele dia - Flash

As mãos de Alistair causavam arrepios em Branca quando ele a tocava.

—Alistair, você poderia me dizer o motivo de ter me chamado? - Perguntou a Fada. Estava em uma ronda com suas Irmãs quando recebeu o chamado do príncipe. Desde aquele dia, na floresta, ele a tinha chamado várias vezes para conversar. E ela sempre vinha, não importava o que fazia no momento. Várias vezes tinha parado sua ronda para observá-lo, estivesse ele dormindo, estivesse ele andando a cavalo, estivesse ele conversando… Com sua noiva.

Havia leis para as Fadas. Entre elas, existiam várias que proibiam o contato com humanos que ultrapassasse a mera relação entre “um instrutor e seu aluno”.

—O mesmo de sempre. - Disse ele, sorrindo. Branca sorriu também. Alistair era encantador. Seus olhos eram castanhos e seus cabelos eram de um tom escuro; ele era pequeno se comparado à ela, mas sempre se portava de maneira educada.

Era estranho e diferente estar com ele. Branca não convivia com humanos nunca. Sua vida, desde o momento que as partículas de magia se uniram e formaram ela, se resumia a viver com suas Irmãs Fadas, nas nuvens, e a instruir humanos eventualmente, coisa que não durava mais de cinco minutos.

Nunca há um contato de verdade, pensou Branca, enquanto olhava para Alistair. Não há conversas engraçadas, não há aproximações, não há… Nada.

—É bem solitário ser um Príncipe, não é? - Perguntou ela. Ele assentiu.

—Meu pai está sempre ocupado com alguma coisa; minha noiva, Catherine, não consegue conversar sobre outra coisa que não ela e suas roupas.

—Você não gosta dela? - Perguntou a Fada. Era estranho para ela pensar no amor. Quer dizer, Fadas não podiam se dar o luxo desse sentimento. Não que ela soubesse, pelo menos.

—Nem um pouco. - Disse ele, seu olhar cruzando com o de Branca. Suas mãos tremiam quando ele segurou as dela.

—Você é incrível, sabia?

Branca não sabia o que estava acontecendo. Os dois tinham as mãos seladas num aperto, os batimentos cardíacos de Alistair estavam altos, os batimentos cardíacos da própria Branca estavam disparados… O rosto do príncipe se aproximou do rosto da Fada.

—Há leis, Alistair… Estaríamos desobedecendo… - Os lábios deles roçaram nos dela, e por um instante ela se perdeu.

—Que leis? - Sussurrou ele no ouvido dela.

Por um instante, Branca se esqueceu. Mas foi apenas quando ela sentiu um certo arrepio na nuca, um certo calafrio pelo corpo, que ela simplesmente ignorou todas as leis.

Quando os lábios daquele homem tocaram os lábios daquela Fada Primordial, daquela que tinha nascido na Aurora do Mundo, tudo mudou.

Floresta Encantada, nas Nuvens, no Reino das Fadas, meses depois do beijo - Flash

A Fada Vermelha estava tendo dias difíceis.

No começo de tudo, quando os humanos não sabiam falar, os animais agiam por instinto, o mundo era simples e praticamente uma folha em branco, as Fadas Primordiais tiveram trabalho.

Na teoria, as coisas deveriam ser simples depois desse início. Os humanos aprenderiam a fazer as coisas de maneira correta, os animais se acostumariam com o ambiente, tudo ficaria bem, e as Fadas só teriam que interferir em um ou outro evento, para auxiliar as pessoas.

Mas coisas estranhas estavam começando a acontecer. Pessoas que deveriam ser boas estavam fazendo coisas ruins. Algumas mortes estavam acontecendo. Coisas estranhas e desconhecidas se agitavam por toda parte, e a Fada Vermelha, como Líder das Sete Fadas Primordiais e Líder de Todas as Fadas Grandes e Pequenas, deveria descobrir o que estava acontecendo.

Sua cabeça estava cheia de pensamentos naquela noite quando Branca foi até ela.

—Vermelha… - Disse a Fada Branca. Vermelha se virou para ver sua irmã, e então assustou-se. As Fadas Primordiais possuíam o azul como cor de pele. Era uma cor serena, parecida com o céu num dia claro e ensolarado. A cor delas era um símbolo de seu poder e de sua antiguidade, algo que as Fadas Menores não possuíam.

—Oh, céus… Branca, você está… Branca!!!! - Vermelha olhou a Irmã de cima a baixo. A coloração azul estava se ausentando de sua pele, que parecia se tornar a cada minuto mais branca.

Lágrimas escorreram pelos olhos da Fada Branca.

—O que aconteceu, Branca? - Perguntou Vermelha, de olhos arregalados. Fadas Primordiais não choravam. Elas não possuíam capacidade para isso.

A Fada balançou a cabeça, sem conseguir falar. Soluços e espasmos saíam da garganta dela, enquanto seu corpo tremia sem parar. Vermelha abraçou-a, sem saber o que fazer ou mesmo o que falar.

Não era preciso pensar muito para saber o que estava acontecendo com a irmã. Ela perdia, aos poucos, toda a Magia.

Em poucos dias, Branca deixaria por completo de ser uma Fada.

Floresta Encantada, Reino das Terras Brandas, Castelo do Rei Damácios I, segundos depois - Flash

As velas que pendiam nos lustres iluminavam todo o salão de festas. Uma grande mesa, disposta de maneira vertical, abrigava várias e várias pessoas, que comiam toda a sorte de guloseimas e quitutes do banquete. Todos conversavam e interagiam; alguns bebiam, outros comiam, outros falavam...

Mas o Rei Damácios não. Ele estava ocupado, conversando com seu filho, o Príncipe Alistair. O Rei não era jovem. Tinha os cabelos grisalhos, e rugas surgiam em sua testa quando ele falava. Suas roupas tinham detalhes dourados, e a coroa em sua cabeça parecia fazê-lo curvar a cabeça em todos os momentos.

—Eu já lhe disse, pai… A Fada é muito tosca para sequer perceber que não a amo. - Disse Alistair, olhando nos olhos do pai. O Rei tinha olhos negros, duas fendas brilhantes que cortavam a branquidão de seus glóbulos.

—Pois bem, garoto… É bom que você esteja certo. É bom mesmo. - O Rei olhou para o filho com frieza, e o filho tentou retribuir o olhar.

Alistair então abaixou a cabeça.

—Eu vim pensando, pai… E se a ira das Fadas cair sobre nós? E se…?

O Rei fungou.

—Se as malditas abelhudas vierem, nós teremos o poder delas.

—Elas têm outras Fadas. As Menores. Um exército de Fadas Menores, sim, elas o tem.

O Rei se aproximou do filho e sorriu.

—Não se preocupe, filho. Logo você saberá exatamente como as coisas devem acontecer. Mas eu lhe garanto… No fim, nós seremos os vencedores.

Floresta Encantada, Floresta da Paz, Reino das Terras Brandas, horas depois do jantar - Flash

—Nós ficaremos bem, Branca. - Sussurrou Alistair, enquanto guiava a Fada pela trilha. As árvores se projetavam por todo o lado, produzindo sombras que esfriavam o ambiente.

Branca estava com uma aparência péssima. Quase não se via mais de sua coloração azulada. Olheiras cobriam seus olhos, e a palidez tinha sido aderida em seu corpo. Ela nem ao menos vestia mais o traje das Fadas Primordiais, uma túnica de linho cor-de-caramelo; seu corpo agora era coberto por um pano fino, vagabundo, fácil de rasgar.

Se ao menos passar pela cabeça dela que, aos poucos, eu roubo o poder das Fadas dela…, pensou Alistair. Naquela noite, ele e seu pai haviam planejado exaurir toda a Magia ainda presente na Fada Branca. Isso provavelmente a mataria, mas ainda assim…

Alistair suspirou. Não sabia porque havia concordado em fazer aquilo; mas estava fazendo-o.

Em breve, Branca morreria.

Floresta Encantada, Floresta da Paz, Reino das Terras Brandas, tempo simultâneo à caminhada de Branca e Alistair pelo local - Flash

A Fada Cinzenta tinha medo. Há pouco, sua irmã, a Fada Vermelha, havia convocado todas as Fadas Primordiais para uma missão.

Segundo Vermelha, algo ou alguém poderia estar exaurindo todo o poder da Irmã, a Fada Primordial Branca.

“Eu tentei conversar com Branca sobre isso”, dissera Vermelha. “Alertei-a que alguém poderia estar roubando seus poderes, mas ela não me ouviu. E é por isso que nós, todas nós, vamos seguí-la, e descobrir quem teve a audácia de tentar matar uma Primordial”.

Cinzenta podia ouvir o ruflar das asas das irmãs. Todas as Seis, voando, procurando por Branca.

Floresta Encantada, Floresta da Paz, minutos depois - Flash

Quando as Fadas Primordiais chegaram, a guerra começou.

Branca estava caída no chão, morrendo. Tinha sido apunhalada por Alistair ao chegarem em uma clareira, onde um altar estava montado. Um altar de treze velas, todas acesas, dispostas em um círculo.

Um homem encapuzado estava no meio desse círculo, e foi ele quem recitou as palavras que começaram a tirar o poder restante na Fada.

Alistair ficava apenas observando, temeroso. Branca não era uma pessoa ruim. Pelo contrário, era meiga e adorável. Inocente e bondosa. Não merecia aquele destino.

Então, quando o ritual estava quase completo, e Branca estava quase morrendo, as Fadas apareceram.

O confronto com as Fadas contra um príncipe e um feiticeiro não durou. Foi tempo suficiente apenas para a Fada Vermelha, com raiva do que havia acontecido à irmã, desferir um feitiço em Alistair, que caiu, sangrando. Tempo também para o feiticeiro, que já tinha reunido muito do Poder da Fada, tentar capturar mais algumas Fadas.

Não deu certo. As Seis Primordiais saíram voando dali, a Fada Rosada segurando a Fada Branca, enquanto o feiticeiro corria para socorrer o Príncipe Alistair.

Mas esse não era o fim. Tudo aquilo tinha sido apenas o começo.

***

—Peço o perdão dos senhores se não estão entendendo nada. - Disse Rumple, após ter terminado.

—Não estamos mesmo. - Alfinetou Gancho, bufando logo em seguida.

—Pois bem… O que contei agora nada mais foi do que o Princípio de algo gigante, do que chamamos de Batalha do Bem e do Mal.

“Sabem o que aconteceu após o Confronto na Floresta da Paz? Branca foi levada e curada pelas Irmãs, mas sua Magia não voltou a ser o que era. Branca deixou de ser azul, ou mesmo de ter asas. Adquiriu a forma e as feições de um humano, e passou a ter um poder inferior ao de uma simples bruxa. A Fada Vermelha então entrou em um dilema. Amava a irmã, mas sabia também que ela não era mais sequer uma Fada Menor para continuar morando junto com as outras Fadas”.

—Foi esse o castigo de Vermelha para Branca: a Fada Aurora caiu dos céus, sem nem um quarto do poder que tinha antigamente, sem suas asas, sem sua Magia Primordial… Dizem que todas as Fadas, Menores e Primordiais, ficaram apenas olhando, receosas, a que um dia tinha sido sua Irmã cair, e se juntar aos mortais.

“Alistair estava rumando em direção à morte a cada dia que passava. Seu pai, mesmo sendo frio, implorou ao feiticeiro que arrumasse um jeito de salvá-lo. Foi então que o feiticeiro concordou, desde que um preço fosse pago. Assim, ele pôde contatar as forças obscuras a quem servia, e “salvar” o príncipe.”

Regina respirou fundo do lado de Rumple.

—Foi assim que o Primeiro Senhor das Trevas nasceu, certo? - Rumple assentiu lentamente.

—E o que ganhamos sabendo disso, Rumplestilstskin? - Perguntou alguém na multidão. Rumple sorriu.

—Acontece que Branca foi corrompida ao se unir aos humanos. Ela buscou… Maneiras de se conservar; maneiras de estar viva até hoje. Ela aliou seu ódio com a Escuridão; ela se tornou a Primeira Fada Negra. - Rumple olhou novamente para a Madre Superiora, a Fada Azul. A coitada parecia estar à beira de um infarto, suando e tremendo.

Por um momento, o Senhor das Trevas pensou seriamente em contar tudo. Poderia fazer o que sempre quis fazer, desde o princípio. Ferrar com a Fada Azul.

Mas então Belle lhe olhou, e ele se envergonhou dos pensamentos sórdidos.

—Pois bem, senhores, não temos tempo a perder. Pois a Fada Branca hoje tem chifres, e não asas; pois a Fada Branca não possui mais esse nome; hoje ela é Malévola.

—Até onde sei, o plano de Malévola pode estar relacionado com a Era das Trevas - e não falo da era medieval.

“Naquela noite, o Mal despertou. Dormiu há muito; mas parece que agora está mais acordado do que nunca. As trevas se levantam; é o despertar da Escuridão. Temo que, se não fizermos qualquer coisa - rápido - não haverá mais luz”.

Ele olhou para Tremaine então, e depois para a Madre Superiora. Depois para Regina, depois para Encantado, que estava desolado. Depois olhou para Belle. A vida inteira Rumplestilskin esteve perdido. Fingindo estar confiante, quando na verdade não sabia o que fazer. Mas, pela primeira vez, ele soube.

O Senhor das Trevas sabia o que precisava ser feito - mas não tinha certeza se estaria disposto a pagar o preço por aquilo.


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Notas finais do capítulo

Pois é, chegando perto do fim. Vou tentar ser um pouco mais rápido na escrita do próximo; e concretizarei a história da Malévola no próximo também. Vocês provavelmente estão às cegas quanto o que será abordado no próximo capítulo - e eu, infelizmente, não posso falar mais nada.
Vou agradecer à Mrs Ruby Jones, que passou a acompanhar a história; e agradeço também à mais dois desconhecidos, que passaram a acompanhar a história. Gostaria de agradecer aos comentários, e também aos leitores anônimos. Essa fic está quase chegando às 600 visualizações, o que para mim é muito.
Muito obrigado, e espero que tenham gostado desse pequeno (ou não) capítulo.



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